domingo, janeiro 28, 2007 

O PÚBLICO NA INTERNET – EPÍLOGO

Eis os últimos comentários sobre o PUBLICO.PT:

PUBLICIDADE
Não parece ao jornal PÚBLICO ser já suficientemente vil que as pessoas não possam ler o conteúdo sem pagar, quanto mais terem que suportar pop-ups sem ter forma de os desligar, como o que aparece quando se entra no site? Querem difundir que língua? que cultura?”, pergunta Ivo Peres.

A equipa de gestão do PUBLICO.PT respondeu: “O PUBLICO não aceita ‘pop-ups’ e o que temos é, de vez em quando, alguns formatos de ‘interstitials’ ou ‘layers’ que aparecem no arranque do ‘site’. Estes formatos têm uma duração máxima de 5 a 10 segundos e o utilizador tem sempre a possibilidade de os fechar antes do limite do tempo.
Há o cuidado, por outro lado, de estabelecer um limite de visualizações do anúncio ao mesmo utilizador. É uma forma de evitar incomodar os nossos leitores.
A ‘pop-up’ clássica abre uma nova janela no ‘browser’ e não desaparece automaticamente, obrigando o leitor a clicar sempre no canto da janela. É um formato intrusivo que o PUBLICO recusa.
Os ‘interstitials’ ou ‘layers’, pelo contrário, ainda que o leitor nada faça, desaparecem automaticamente ao fim de um tempo pré-determinado (5 a 10 segundos, depende do tipo de campanha).
É importante referir que o PUBLICO.PT recusa campanhas baseadas em ‘pop-ups’ dado que não cumprem os critérios definidos pelo jornal”.

A explicação parece aceitável.

COMENTÁRIOS
De uma forma regular vejo a edição on-line do jornal PÚBLICO e, volta e meia, sinto-me tentada a comentar alguns dos artigos que publicam de modo que acabo por ler o que outros leitores lá deixaram. Desde que foi anunciada a realização do referendo sobre a despenalização do aborto têm surgido, como é natural, diversas notícias sobre os vários movimentos Pró e Contra a despenalização. O que não é normal é que os comentários feitos a essas notícias não sejam mais do que propaganda ou mesmo ‘comentários a comentários’ de outros leitores. Se bem me lembro das normas do PÚBLICO, o comentário deve ser feito sobre a própria notícia sob pena de não ser publicado! E o que tenho visto é justamente o contrário. A triagem não está a ser feita? Os critérios foram alterados? Mais, é curioso verificar que a maioria dos comentários ‘autorizados’ para publicação são de partidários do Não o que me deixa preocupada: estará o PÚBLICO a ser tendencioso e a seleccionar esses comentários propositadamente?”, escreve a leitora Vânia Paiva, do Porto.

As perguntas são pertinentes. Solicitei, necessariamente, explicações ao director do PUBLICO.PT.

“Tem toda a razão quando diz que os comentários devem dizer respeito às notícias e não a outros comentários. Essa regra não pretende evitar debate entre leitores, mas sim evitar que a discussão se desvie do tema em foco e que as trocas de impressões ou de ideias se transformem em trocas de piropos – o que é, infelizmente, acontece por vezes.
Tem também razão quando diz que os comentários a comentários têm aumentado. É de facto uma falha da nossa triagem, que se deve à nossa vontade de ser tão inclusivos e tão permissivos quanto possível. Por vezes há excessos nessa permissividade. Vamos tentar corrigi-los.
Quando pergunta se o Público estará a ser tendencioso, não lhe devo responder. Essa é uma avaliação que cabe aos leitores fazer. O que lhe posso garantir é que a selecção que fazemos dos comentários tem a ver com a sua pertinência e interesse e nunca tem a ver com o sentido das opiniões expressas. Lamento que possa pensar que as coisas se passam de forma diferente”, respondeu José Vítor Malheiros.

A explicação é aceitável, mas seria importante criar mecanismos para que as falhas não se repitam.

POESIA
Pela segunda vez escrevo (não tendo obtido qualquer resposta à minha primeira missiva) acerca de ‘Um poema por semana’. Era minha primeira crítica o facto de, por demasiadas vezes, o poema escolhido ser castelhano. Das vezes que verifiquei, tal acontecia mais frequentemente que ser em português. Não descarto a hipótese de coincidência.
No entanto, verifico, hoje, que o poema escolhido está em catalão! Quantos dos leitores falam catalão? Qual o objectivo de ‘um poema por semana’? Interessar a globalidade dos leitores por poesia, ou reservá-la a um pequeno grupo de eruditos?
”, indaga António Macedo.

Pedi mais um esclarecimento a José Vítor Malheiros.

“A secção ‘Um poema por semana’ publicou até hoje 54 poemas, dos quais 36 em língua portuguesa (sendo quatro de poetas brasileiros e um de um poeta cabo-verdiano), 15 em castelhano (sendo um de autor chileno, outro peruano e outro nicaraguano), um poema em inglês, outro em francês e outro em catalão.
Todos eles estão acessíveis no site do PÚBLICO. O objectivo da secção? Dar prazer aos leitores através da poesia, divulgar poesia, proporcionar um momento de pausa no quotidiano. A filosofia da secção consiste em publicar a poesia na sua língua original. Isso restringe o seu âmbito? Talvez. Mas é mais fiel à poesia. É correcto publicar poemas em línguas estrangeiras num site de um jornal português? Penso que é certamente admissível, tanto mais que algum domínio de algumas línguas estrangeiras (e uma abertura em relação a elas) continua a ser um dos traços simpáticos da cultura portuguesa – para além de uma conveniência e uma vantagem em era de globalização.
Os poemas em castelhanos são ‘demasiados’? É uma opinião respeitável, que registo, mas que não acolho. O castelhano e o português são línguas irmãs, que se lêem uma à outra sem dificuldade e devemos estimular essa proximidade e não acentuar a distância. A poesia é apenas uma boa forma de o fazer. Será o inglês e o francês e o castelhano aceitável mas não o catalão? É outra opinião respeitável, que registo, mas que também não acolho. Repare-se que não se trata de uma notícia ou de uma citação fundamental para a leitura da realidade que é fornecida aos leitores numa língua desconhecida mas de um poema que, por importante que seja, não é imprescindível. A experiência do encontro com esta língua, só por si, pode despertar uma curiosidade – e despertar curiosidade é algo que um jornal só pode almejar fazer nos melhores casos. E pode ser até que alguém descubra com prazer que consegue ler mais do que pensava e que consegue perceber com os versos de Espriu ‘com és llarg d'esperar un alçament de llum en la tenebra’ (‘como é longa a espera pelo aparecimento da luz nas trevas’)”, explicou o director do PUBLICO.PT.

É uma opção.

ENSINO
Vi no vosso serviço RSS que não é permitida a utilização do canal em páginas Web.
Sou professor do ensino secundário (nocturno) e tenho a plataforma Moodle a funcionar para os meus alunos e gostaria de colocar o vosso feed-educação na página de entrada, devidamente identificado com o título NOTÍCIAS PUBLICO.PT.
Será possível?
”, pergunta F. Ventura

Solicitei um esclarecimento ao director do PUBLICO.PT.

“Actualmente essa utilização não é permitida. Os ‘feeds’ RSS são oferecidos aos leitores apenas para uso nos seus computadores pessoais e não é permitida a sua redistribuição – em plataformas Web ou outras. Esse critério está porém a ser objecto de discussão e poderá ser alterado. Se isso acontecer, será dada a devida publicidade à decisão, informando os nossos leitores que a disponibilização dos ‘feeds’ RSS nos seus sites passou a ser permitida”, respondeu José Vítor Malheiros.

O provedor toma nota.

WINDOWS e MAC
Queria aqui deixar a minha crítica e o meu lamento por, sendo o PÚBLICO construído sobre a plataforma Mac, ser privilegiada a plataforma Windows, vulgo "caixotes", em particular a aplicação de ‘Os alertas PÚBLICO’”, comenta o leitor Rafael Coelho.

Eis a resposta da equipa de gestão do PUBLICO.PT: “A equipa do PUBLICO.PT iniciou em Julho de 2006 um projecto abrangente – com epílogo em 30 de Setembro –, que previa o lançamento de uma série de novas funcionalidades e produtos. Entre as funcionalidades lançadas em 2 de Outubro, destacaram-se a nova versão do PÚBLICO On-line e os ‘Alertas PÚBLICO’ (aplicação objecto do comentário do leitor). O ‘timing’ definido para o projecto, bem como a necessidade (não prevista) de a aplicação ‘Alertas PÚBLICO’ ter sido criada pela nossa equipa de Desenvolvimento (já que a consulta ao mercado se revelou infrutífera) não permitiu que a aplicação fosse desenvolvida de forma a ‘correr’ na plataforma Mac. No entanto, é uma solução que iremos ponderar, se possível, no futuro. Inicialmente o nosso objectivo era abarcar as plataformas Windows e Mac, mas infelizmente não foi possível”.

A explicação parece aceitável.

domingo, janeiro 21, 2007 

O PÚBLICO NA INTERNET – PARTE II

O PUBLICO.PT continua a suscitar inúmeros comentários e perguntas.

INQUÉRITOS

“Achou este artigo interessante? ‘Sim’.
Para o PÚBLICO, é a única resposta possível.... sem mais comentários
...”, escreve a leitora cibernauta silviar...

“’Achou este artigo interessante?’ A meu ver, após esta frase, deviam indicar:
Sim – O
Não – O. Deseja justificar?”,
sugere Adelino Azevedo.

Solicitei um comentário a José Vítor Malheiros, director do PUBLICO.PT.

“Quando se pergunta ao leitor se achou um texto interessante há duas respostas possíveis: responder Sim ou não responder. Se déssemos a hipótese aos leitores de responder Sim ou Não ou não responder, teríamos três respostas possíveis.
O que quisemos fazer com esta opção binária foi simplificar a escolha ao máximo e não colocar os leitores perante um dilema. Ninguém é obrigado a dizer que achou interessante se não achou.
Deve tomar-se em conta o objectivo deste tipo de feedback: ter uma ideia (quantitativa mas não científica) do interesse despertado por um artigo. Esse indicador é gerado da forma mais simples possível com o sistema actual.
Repare-se na dificuldade operacional se tivéssemos as três hipóteses Sim/Não/não responder: como se calcularia o ‘índice de interesse’ de um artigo que 100 pessoas tivessem considerado ‘interessante’ e 101 tivessem considerado ‘não interessante’? Seria justo classificá-lo com uma ‘nota negativa’ em interesse? É evidente que não.
Não contesto que a declaração do interesse despertado por um artigo poderia ser mais rigorosa, só que o objectivo procurado por nós foi a simplicidade e não o rigor – que, diga-se de passagem, num processo deste tipo seria sempre ilusório.
Quanto à justificação da avaliação (ou qualquer outro comentário) o leitor o deseje, pode fazê-lo através do botão ‘Comente’ que está lá mesmo ao lado. Não vale a pena duplicar funcionalidades”, respondeu o director do PUBLICO.PT.

A explicação é aceitável apesar de o provedor ignorar a utilidade de tais inquéritos.

ARQUIVO

Não deverá existir, nos jornais que fazem a diferença, um arquivo bem ordenado e completo sobre os assuntos de maior interesse, nomeadamente nacional?
O PÚBLICO podia ser uma fonte de informação temática dos leitores e disponibilizar, ainda que mediante um preço, informação tratada ao longo dos anos nas suas colunas sobre assuntos de relevante interesse público.
Considera, em resumo, o Provedor do PÚBLICO que um jornal que se preze deve ter (ou não) uma relação continuada e especial de informação com os seus leitores que vá para além da que é fornecida diariamente?”
pergunta António Cândido de Oliveira, um leitor de Vila Nova de Famalicão."

Pedi mais um esclarecimento ao director do PUBLICO.PT.

“Quando o leitor fala de um arquivo dos ‘assuntos de maior interesse’ suponho que se referirá ao que os jornalistas chamam ‘dossiers’. O serviço ‘Última Hora’ do PUBLICO.PT organiza dossiers sobre os temas nacionais e internacionais de maior importância e mantém-nos disponíveis em permanência através da Internet, ainda que, a partir de uma determinada data, deixem de ser actualizados (a data da última actualização vem assinalada no dossier) e deixem de ser destacados na página inicial do site. Mantêm-se porém sempre acessíveis a partir da página índice http://dossiers.publico.pt.
Se por arquivo se entende o acesso aos artigos antigos, esse acesso é possível através da Internet, num serviço disponível para assinantes. Neste momento estão disponíveis:
a) O acesso à versão on-line da Edição Impressa do PÚBLICO, em formato HTML, desde 2005;
b) O acesso à mesma edição em formato PDF desde 2001 (os suplementos apenas estão disponíveis desde 2003).
O PÚBLICO está a disponibilizar progressivamente edições mais antigas, o que significa que esta data de início irá recuando progressivamente até chegar ao início da publicação do Jornal, em 5 de Março de 1990.
Naturalmente que é também possível consultar gratuitamente o jornal nas instalações do PÚBLICO em Lisboa e no Porto”, respondeu José Vítor Malheiros.

A explicação do director do PUBLICO.PT é aceitável, nada a acrescentar.

POESIA

Relativamente à rubrica ‘Um poema por Semana’, que classifico como sendo de grande interesse cultural, permito-me colocar a seguinte questão: tendo nós, na língua portuguesa, tantos e tão bons poetas, porquê inserir tantas vezes nessa rubrica poemas de poetas estrangeiros, nomeadamente em língua espanhola?
Penso que seria de mais interesse divulgar aquilo que de tão bom temos nessa área? Não será?”,
pergunta Amélia Pinto.

Eis a resposta do director do PUBLICO.PT.

“Uma das qualidades que os portugueses genericamente possuem é o gosto pelas línguas estrangeiras – ainda que esse gosto e o conhecimento que lhe está associado sejam em grande parte fruto da necessidade. Aproveitar esse gosto para difundir poesia escrita noutras línguas próximas do universo cultural português parece-me razoável. Não há problema em expandir um pouco o universo dos leitores”, respondeu José Vítor Malheiros.

É uma explicação...

ANÚNCIOS

Nem sei se os anúncios que aparecem no alto do PÚBLICO on-line são matéria da sua alçada, se não. Mas, quando o anúncio impede a leitura da matéria, e um leitor faz clique na cruz que supostamente deveria fechar o anúncio, mas o anúncio volta, e volta, e volta, das duas, uma: ou o jornal está mais preocupado com os anunciantes do que com os leitores ou... o jornal está mais preocupado com os anunciantes do que com os leitores.
A relação entre a imprensa e quem paga a conta, sei-o bem, é incontornável nesta sociedade capitalista.
Mas, nos jornais impressos, ao menos os anúncios não se sobrepõem às matérias, impedindo a sua leitura
”, escreve o leitor Libermatt.

A equipa de gestão do PUBLICO.PT responde
: “O PUBLICO reafirma que as campanhas publicitárias no seu site respeitam os standards definidos internacionalmente, sendo o PUBLICO.PT particularmente exigente em matéria de aprovação de campanhas. As mesmas são analisadas criteriosamente, existindo a preocupação de as avaliar na perspectiva do impacto que terão nos leitores.”

A resposta parece aceitável.

quinta-feira, janeiro 18, 2007 

Nota da Direcção sobre o caso "Uma forma de plágio"

Considerações prévias


Como responsável máxima pela informação produzida e publicada pelo PÚBLICO e pela orientação da sua redacção, a Direcção Editorial do PÚBLICO assume total responsabilidade por todos os erros, lacunas e insuficiências verificados no trabalho da redacção.


Esta posição decorre do facto de competir à Direcção Editorial definir as normas, critérios e procedimentos técnicos e éticos que regem o trabalho dos profissionais que produzem essa informação, assim como zelar pelo seu cumprimento e garantir a sua discussão, actualização e adequação aos diferentes contextos de trabalho.


Decorre também de ser a Direcção que nomeia e responsabiliza as chefias e acompanha, mesmo que de mais longe, o trabalho de todos os jornalistas.


A Direcção considera que o presente caso ilustra que determinadas regras não se encontram suficientemente clarificadas ou interiorizadas, comprometendo-se perante os leitores a esclarecê-las e a fazê-las cumprir por toda a Redacção e a apurar e aplicar regras de controlo de qualidade mais apertadas.


Para além da responsabilidade institucional que assume, a Direcção entende que o caso vertente demonstrou erros e responsabilidades por parte de outros intervenientes no processo que considerou necessário identificar e explicitar publicamente, extraindo daí as devidas conclusões. É isso que se faz neste documento.


Antes de tomar qualquer posição, a Direcção analisou os factos, pediu um parecer ao Conselho de Redacção e ouviu as pessoas envolvidas no caso "Uma forma de plágio", tornado público pela crónica do Provedor do Leitor de 7 de Janeiro passado.


1. Em relação à caixa " Os efeitos de UVA e UVB"


1.1. A Direcção considera que não constitui má prática o recurso a uma ou mais obras de referência idóneas para recolha de informação factual destinada a incluir num texto jornalístico ou mesmo destinada a reprodução num texto acessório (vulgo "caixa") sem qualquer adição ou enriquecimento. Essa prática é mesmo recomendada.


No entanto, com excepção dos casos onde tal utilização é marginal (uso de uma simples definição, por exemplo) essa reprodução deve ser atribuída à fonte.


A identificação da obra de referência como fonte é imperativa quando uma parte substancial do texto provém dessa obra (ou obras).


Nos casos onde a totalidade (ou a quase totalidade de um texto) provém de uma obra de referência, a identificação da obra no corpo do texto não é suficiente: o texto deve ser assinado com a menção "Fontes: Obra X e Obra Y".


1.2. A Direcção considera que a jornalista Clara Barata errou ao não identificar claramente no texto ou na sua assinatura (o que teria sido preferível) a fonte usada na caixa " Os efeitos de UVA e UVB".


Esse erro não deve ser considerado, porém, uma tentativa de apropriação indevida da autoria do texto, já que a informação constante dessa caixa não é uma criação da jornalista mas uma recolha de informação de cariz técnico, compilada a partir de uma obra de referência.


O erro não está na recolha e utilização da informação colhida em obras de referência mas na ausência de assinatura que identifique a fonte.


A assinatura é fundamental porque:


- permite que o leitor possa avaliar da idoneidade da fonte, possa verificar o rigor da selecção e citação da informação e possa mesmo aprofundar por sua iniciativa uma pesquisa de informação sobre o tema


- responsabiliza os reais autores da informação pelas afirmações produzidas (que, por factuais que sejam, podem ser objecto de louvor ou contestação)


- permite que o jornalista torne claro de quem é a responsabilidade de eventuais incorrecções que esses dados contenham.


1.3. A Direcção sublinha que, apesar da distinção entre um artigo e uma caixa com dados técnicos ser evidente para um jornalista, não o é (nem tem de ser) para o leitor comum. Estas caixas são usadas cada vez com mais frequência, por se considerar que contêm dados úteis para o leitor. Elas tanto podem incluir informações sobre os transportes para um dado país (a acompanhar uma reportagem sobre esse país), como as características técnicas de um carro ou de um computador (a acompanhar críticas ou artigos de fundo sobre esses produtos). É frequente que este tipo de dados seja obtido junto de obras de referência ou de outras fontes (uma agência de viagens, no primeiro exemplo; os fabricantes, no segundo exemplo) e reproduzidos pelo jornalista. Trata-se, no fundo, daquilo que pode ser considerado "informação branca", ou "informação genérica", sem marca. No entanto, como o seu estatuto específico não é evidente para o leitor, é indispensável identificar o seu autor ou fonte.


1.4. Neste caso particular, a Direcção considera que a jornalista Clara Barata errou ainda ao utilizar como fonte a Wikipedia. Esta enciclopédia online, apesar da qualidade de muitas das suas entradas, não pode ser usada como fonte devido a dois factores:


- é possível a qualquer pessoa alterar o seu conteúdo e há, por essa razão, o risco de colher uma citação após uma alteração incompetente, um acto de vandalismo ou uma brincadeira de um dos seus autores.


- os autores da Wikipedia são anónimos, não sendo por isso possível avaliar a sua idoneidade, independência ou competência.


A Wikipedia pode ser usada como ferramenta de pesquisa de informação pelos jornalistas (como directório ou apontador), mas apenas porque cita outras fontes, muitas delas idóneas, que podem ser consultadas directamente.


1.5. Quanto ao uso abusivo da Wikipedia como fonte, uma prática pouco recomendável difundida entre muitos jornalistas, a Direcção irá dirigir uma recomendação à Redacção no sentido da sua utilização dentro de parâmetros prudentes.


1.6. A Direcção considera que o trabalho de edição da caixa " Os efeitos de UVA e UVB" foi negligente ou inexistente, pois não foram detectadas no seu texto quatro linhas em inglês que teriam permitido perceber que o texto era uma tradução e que a sua origem não era referida.


2. Em relação ao texto " Em busca do autobronzeador ideal"


2.1. A Direcção considera que a jornalista Clara Barata errou ao utilizar no seu artigo parágrafos adaptados ou traduzidos de um artigo da revista "New Scientist" sem identificar claramente a sua fonte e sem identificar claramente os excertos usados.


É um facto que a revista "New Scientist" é expressamente referida pela jornalista, mas apenas como fonte de um depoimento citado no mesmo artigo. Existem dois outros parágrafos onde o recurso literal a material do "New Scientist" é evidente e onde não se fazem citações nem se refere a revista. Este procedimento constitui um exemplo de má prática jornalística que, de acordo com o Livro de Estilo do PÚBLICO, pode ser considerada uma forma de plágio.


2.2. A Direcção sublinha que um jornalista deve esforçar-se por obter informação de fontes primárias de informação e por citar essas fontes e não fontes secundárias. Neste caso, a fonte primária do artigo da Pública era um artigo da revista "Nature" a que a jornalista Clara Barata teve aliás acesso e que usou na redacção do seu artigo. O recurso a citações da "New Scientist" (que é uma revista especializada idónea, mas não uma fonte primária, neste caso) parece por isso neste caso dispensável. A sua leitura pode ser útil ao jornalista como informação de "background", mas o uso de excertos não parece necessário.


Mesmo que essas citações fossem consideradas necessárias ou convenientes, elas deveriam ser feitas tanto quanto possível "ipsis verbis", entre aspas e com atribuição da fonte. A citação sem aspas e no discurso indirecto seria admissível desde que não houvesse ambiguidade quanto aos limites da parte citada, o que não era o caso.


2.3. A Direcção sublinha que o dever de citação de uma fonte se sobrepõe a quaisquer preocupações formais sobre a construção do texto. Se forem usados num texto várias citações de uma dada fonte, as várias citações devem ser claramente atribuídas a essa fonte. O receio de desfear um texto pelo uso exagerado de aspas não pode servir de justificação para a sua supressão.


3. Reacção da jornalista Clara Barata às solicitações do Provedor


3.1. A Direcção considera que a jornalista Clara Barata errou ao não assumir imediata e cabalmente os seus erros logo após o primeiro contacto do Provedor e ao menorizar os erros que admitiu ter cometido.


Os jornalistas erram, não são excepção. O reconhecimento dos seus erros e a disponibilidade para discutir as suas acções e para alterar as práticas erradas são obrigações centrais dos jornalistas e uma exigência absoluta de comportamento na Redacção do PÚBLICO – que se orgulha de ter sido o criador, na imprensa portuguesa, de uma secção para reconhecer e corrigir os seus erros.


A assunção de um erro constitui o primeiro passo para a sua correcção e uma prova do desejo de melhorar.


Isto não significa que o jornalista que é objecto da crítica não possa e não deva defender os seus pontos de vista, discutir as críticas que lhe são feitas e apresentar as justificações que entender para as suas acções.


3.2. A Direcção considera inaceitável que a jornalista Clara Barata tenha sido incapaz de referir a fonte ou fontes onde colheu a informação que usou nos seus textos.


Um jornalista tem de ser capaz de identificar todas as fontes usadas num artigo, nomeadamente as fontes escritas, incluindo aquelas a que acedeu online, devendo guardar as notas usadas para a escrita dos seus textos.


O Livro de Estilo é omisso sobre esta questão, mas esta norma deverá aí ser incluída, de forma a evitar situações onde a falta de memória do jornalista impeça uma revisão do processo de recolha de informação e até a recuperação das fontes da informação usadas num artigo.


4. Acção do Provedor


4.1. A Direcção não se pronuncia por princípio sobre a actuação do Provedor em exercício.


A Direcção sempre considerou e continua a considerar que esta posição é a única que permite um livre exercício da magistratura do Provedor e considera essa liberdade de acção essencial à independência de que se deve revestir o seu trabalho.


5. Conclusões e acções


5.1. Pelas razões expostas, a Direcção considera censurável o comportamento da jornalista Clara Barata neste caso.


5.2. A Direcção discutiu o levantamento de um processo disciplinar à jornalista Clara Barata e decidiu não o fazer.


5.2.1. A Direcção considerou que, perante a insuficiente clarificação de algumas das regras que foram agora quebradas e perante a existência, que admite, de práticas erradas do mesmo tipo – ainda que de menor gravidade –, seria injusto fazer deste "um caso exemplar", por muito rentável que isso pudesse ser em termos de exposição mediática.


5.2.2. A Direcção considera que a definição e adopção de regras éticas e técnicas mais exigentes e, principalmente, a identificação e erradicação das más práticas numa redacção exigem um clima de cooperação e um empenhamento generalizado na discussão dos erros que seriam mal servidos pela crispação que seria a consequência de uma atitude disciplinar.


5.2.3. A Direcção considera que, no caso vertente, a exposição pública do caso e esta censura que entendeu também tornar pública, constituem instância suficiente de consciencialização do erro, de sanção e uma forte motivação para a sua correcção – que são os seus objectivos fundamentais, em prol dos leitores.


5.3. A Direcção não pode deixar de considerar injustificadas algumas apreciações negativas que foram abusivamente feitas de forma generalizada em relação ao trabalho da Redacção do PÚBLICO com base neste único episódio.


Reconhecendo as suas falhas – o que nem todos fazem – o PÚBLICO orgulha-se de se reger pelos mais rigorosos princípios de isenção e rigor e pode garantir aos seus leitores que este caso se traduzirá num aprofundamento ainda maior dos seus padrões de exigência.


5.4. A Direcção entende que, apesar dos princípios genéricos que constam do Livro de Estilo já abordarem a questão das fontes a usar, das formas de citação e das assinaturas dos textos, há necessidade de actualizar, aprofundar e explicitar de forma mais detalhada estes princípios e de os colocar em discussão no seio da redacção, melhorando as práticas actuais.


5.5. Nos próximos dias serão dados a conhecer e submetidos a discussão da Redacção, e dos seus representantes no Conselho de Redacção, princípios e procedimentos mais claros nestes domínios. Esses princípios e procedimentos, uma vez adoptados, passarão a ser considerados parte integrante do Livro de Estilo do PÚBLICO.


5.6. A Direcção faz notar que o acréscimo de concorrência, nem sempre leal, e o difícil contexto financeiro que afecta a imprensa mundial e portuguesa e que também se faz sentir no PÚBLICO, que se traduzem numa exigência crescente de produtividade e redução de custos e no encurtamento do tempo disponível para pesquisar, escrever e editar cada texto, não podem de forma alguma servir de justificação para um afrouxamento das regras de boa prática jornalística.


Sem a manutenção das regras que garantem a sua qualidade, o jornalismo perde a sua razão de ser e nenhum ganho de produtividade o poderá salvar. Este é o desafio que hoje enfrentam os jornais de referência em todo o mundo.


Lisboa, 18 de Janeiro de 2007

domingo, janeiro 14, 2007 

UMA FORMA DE PLÁGIO (EPÍLOGO)

Clara Barata enviou ao provedor duas mensagens (“com cópia para o director”).

“Acabei de ler o seu artigo. Vejo que queria chegar à Wikipedia. Muito bem, posso ter usado a informação de lá, mas não me lembro minimamente disso, como já lhe disse. E não me costumo ficar pela Wikipedia para verificar os dados básicos – mas como também já disse, não vou citar todos os sítios que consultei, porque isso faz parte do trabalho do jornalista ou de quem está a procurar apurar os factos. A não ser que passemos a publicar uma bibliografia no final dos artigos.
Agora o que me irrita muito, e considero ser um trabalho preguiçoso e faltoso à verdade, é comparar-me com o Jayson Blair, que inventou reportagens, e dizer que copiei parágrafos da New Scientist sem citar as fontes.
Como lhe disse, naquela pequena peça, citava três fontes: a New Scientist, a Wired e a Nature. Desde que não esteja a tentar forçar um tema para escrever a sua crónica e arranjar um exemplo forçado, qualquer pessoa normal depreende que eu li os artigos publicados por aqueles meios, e que os cito e que usei o seu conteúdo para os escrever.
Não preciso é de dizer o sítio de onde retirei cada palavra a cada passo, o que seria não só estúpido como atrapalharia a comunicação. E também não preciso de falar em todas as fontes que consultei, que foram mais que as mencionadas – como os comunicados de imprensa e o artigo científico publicado na Nature. No decorrer de um trabalho podem-se falar e consultar inúmeras fontes que não serão citadas a não ser que seja relevante para o trabalho final.
Se o conteúdo da caixa está demasiado próximo da Wikipedia e isso não foi mencionado, lamento, mas, ao contrário da imagem que faz passar de mim, não ando a copiar o conteúdo de outros sítios e assumi-lo como meu. Até porque seria bastante estúpido, no caso de informação que pouca gente terá de cor na sua memória. Isso posso reconhecer que foi um erro que aconteceu e não devia ter acontecido. Mas se mo tivesse dito em vez de me massacrar com as citações em inglês, certamente poderia ter tido uma resposta mais adequada.
Agora quanto ao tom e ao usar-me como exemplo de plágio e desleixo, só posso dizer-lhe que o mau trabalho é seu, porque só me enviou as duas frases que cita depois de uma troca de várias mensagens, à noite, quando me disse que estava a acabar o artigo. Nunca teve a hombridade de me falar nisso antes. E ainda por cima escreve como se eu nunca citasse a New Scientist – ou qualquer outra fonte, já agora – durante todo o artigo.
Trabalho incompetente e deliberadamente enganoso é o seu, lamento dizer-lhe. E espero que na próxima crónica se corrija, nem que seja numa nota de rodapé”, escreve Clara Barata.

Eis a outra mensagem da jornalista: “O que o provedor do PÚBLICO faz nesta última crónica é um exemplo de excepção do que um jornalista nunca deve fazer: não confrontar as fontes com a informação necessária para poder dar uma resposta adequada à solicitação, e manipular a informação que detém, doseá-la, para escrever a história que tem na cabeça, sem a preocupação de a fazer corresponder aos factos/vivência de cada uma das fontes. Isto é péssimo jornalismo, aquele tipo de jornalismo que faz com que os consumidores de informação desconfiam da comunicação social. E sendo o provedor jornalista, além do rosto de ligação do jornal aos leitores, é especialmente grave”.

RESPOSTA DO PROVEDOR

Clara Barata optou por continuar a debater o acessório quando o cerne da questão é o plágio.

1 – A jornalista reconhece que pode ter usado a informação da Wikipedia, mas não se recordaminimamente disso”. É pena (na medida em que a sua “caixa” reproduz (à excepção de oito palavras) o texto da Wikipedia.

2 – A jornalista escreve:Considero ser um trabalho preguiçoso e faltoso à verdade é comparar-me com o Jayson Blair, que inventou reportagens, e dizer que copiei parágrafos da New Scientist sem citar as fontes .”
Foi Clara Barata quem se socorreu inicialmente do New York Times. O que o provedor escreveu é que “Jayson Blair foi obrigado a demitir-se (designadamente) por causa do plágio”. É um facto inquestionável.
A jornalista reproduziu textos da Wikipedia e da New Scientist sem mencionar a fonte e sem inserir quaisquer aspas. É outro facto inquestionável.


3 – Clara Barata escreve:Como lhe disse, naquela pequena peça, citava rês fontes: a New Scientist, a Wired e a Nature.”
A Wikipedia não é citada uma única vez.
E a New Scientist só é mencionada no último parágrafo do artigo a propósito de uma declaração de John D’Orazio (depois de a jornalista ter reproduzido vários parágrafos sem indicar a fonte e sem colocar aspas na prosa alheia). O provedor considera que a fonte devia ter sido indicada em todos os parágrafos (anteriores) copiados (à semelhança do que devia ser feito com a Wikipedia, obviamente).

4 – A jornalista escreve: “(...) qualquer pessoa normal depreende que eu li os artigos publicados por aqueles meios, e que os cito e que usei o seu conteúdo para os escrever.”
Os leitores e o provedor não são, portanto, pessoas normais porque não depreenderam, nem no caso da “caixa” (copiada na íntegra) nem no resto do texto, que a autoria devia ser atribuída a fontes que a jornalista não menciona. É mais um argumento inaceitável.

5 – A afirmaçãoNo decorrer de um trabalho podem-se falar e consultar inúmeras fontes que não serão citadas a não ser que seja relevante para o trabalho finalé controversa. Consultar é uma coisa (legítima). Plagiar é um erro. O artigo contém parágrafos copiados na íntegra de apenas duas fontes (não sãoinúmeras”!, como pretende Clara Barata): Wikipedia e New Scientist...

6 – A jornalista escreve, por outro lado:se o conteúdo da caixa está demasiado próximo da Wikipedia e isso não foi mencionado, lamento, mas, ao contrário da imagem que faz passar de mim, não ando a copiar o conteúdo de outros sítios e assumi-lo como meu.”
O conteúdo da caixa não estádemasiado próximo”: é a reprodução fiel e na ordem exacta do original.

7 – Clara Barata afirma:Agora quanto ao tom e ao usar-me como exemplo de plágio e desleixo, só posso dizer-lhe que o mau trabalho é seu, porque só me enviou as duas frases que cita depois de uma troca de várias mensagens, à noite, quando me disse que estava a acabar o artigo. Nunca teve a hombridade de me falar nisso antes.”
É grave uma jornalista recorrer à mentira e à ofensa para defender o indefensável.
O provedor não enviou à jornalista duas frases, mas 13 (a quase totalidade do texto em causa). E não o fez depois de ter dito
que estava a acabar o artigo”, é outro argumento falso. Foi antes. E mais: o provedor propôs à jornalista a reformulação da sua resposta inicial e comunicou-lhe que o podia fazer até às 16h30 do dia seguinte. Não era obrigado a fazer nem uma coisa nem outra...

CRONOLOGIA

O provedor contactou a jornalista no dia 4 (10h56): “Tomo a liberdade de lhe comunicar que os elementos de que disponho apontam para a reprodução de frases e parágrafos sem indicação das fontes e sem aspas. Permita-me formular a seguinte sugestão: não quer reformular a sua resposta?”

Nessa mesma noite (20h51) o provedor contactou novamente a jornalista: “Como não respondeu à mensagem que lhe enviei esta tarde, tomo a liberdade de lhe dizer que – caso pretenda – pode enviar-me as respostas reformuladas (proposta minha) sobre os artigos "Em busca do autobronzeador ideal" + "Os efeitos de UVA e UVB" até amanhã, sexta-feira – posso esperar até às 16h30 [do dia seguinte, nota do provedor]”.
Caso opte por não o fazer, as respostas iniciais que teve a amabilidade de me enviar serão publicadas na próxima crónica do provedor do leitor do PÚBLICO”.

Clara Barata respondeu pouco depois (21h12): “Tudo o que disse antes se mantém; quando se procura informação básica consultam-se várias fontes e comparam-se para fazer a aferição dos dados. É informação repetida de sítio para sítio, o que se procuram são os factos. Não me lembro dos sites que consultei para fazer essa caixinha mas acho completamente louco que alguém possa considerar isso plágio, como a Dulce Neto me disse que lhe falou. Não é propriamente preciso comparar citações de vários canhenhos para explicar uma escala ou uma fórmula química, que são matérias assentes em termos científicos.”

PROVEDOR – (21h15): “Publicarei então as respostas iniciais, já que tudo o que disse antes ‘se mantém’.
Permita-me formular então mais um pedido de comentário seu: quais as fontes do artigo (Em busca do autobronzeador ideal) e a razão que a levou a não as explicitar na totalidade e a não colocar as aspas nos textos alheios?”

PROVEDOR – (21h18): “Por uma questão de honestidade, permita-me comunicar-lhe o seguinte: Os dois textos seus já referidos nas anteriores mensagens contêm inúmeras frases de fontes não mencionadas.
Essas mesmas frases também não estão entre aspas. Caso pretenda complementar as suas respostas iniciais, eu aceito.”

CLARA BARATA – 21h23: “Sinceramente, não faço a menor ideia daquilo a que se refere.”

PROVEDOR – 21h29: “Eis alguns exemplos de frases polémicas:

‘Faz com que os melanócitos libertem melanina que já está produzida.’
causes release of preexisting melanin from the melanocytes (…).

[NOTA: o provedor cita 13 frases e não duas como pretende erradamente a jornalista]

Acho que dá para entender. Estas frases assinadas por si não contêm a indicação da autoria e não estão colocadas entre aspas... Não posso ajudar mais.”

PROVEDOR – 21h33: “Enviei-lhe apenas algumas frases. Há mais texto nessas condições... Caso pretenda reformular a sua resposta em relação aos dois textos, repito, aceito.
Diga-me só o que pretende fazer pf para eu dar por finda a escrita da próxima crónica do provedor com as suas respostas iniciais ou as suas respostas reformuladas.”

CLARA BARATA – 21h38: “E porque raio haviam de estar colocadas entre aspas, pergunto-lhe eu? Não me lembro minimamente de onde tirei os dados da caixa, podem ter vindo em grande parte de um sítio, não faço a mais pequena ideia, mas duvido que seja de algum autor que se sinta espoliado (porque são dados factuais, como já disse várias vezes). E as últimas frases devem estar repetidas em todas as notícias escritas sobre o assunto, mais ou menos da mesma
forma, porque são provenientes de um comunicado de imprensa. Quem quiser procurar frases e expressões iguais ou semelhantes a outras em inglês ou português encontrá-las há muito no PÚBLICO ou até no New York Times.”

PROVEDOR – 21h41: “Respeito a sua opinião, mas discordo. Esta última resposta que me facultou é o complemento da sua resposta inicial ou não prefere que não seja publicada na crónica do provedor? Caso seja o complemento de resposta, não prefere reformulá-lo? Diga-me só pf o que pretende.”

CLARA BARATA – 21h45: “E o facto de citar três fontes diferentes no texto, já agora...”

CLARA BARATA – 21h46: “Já lhe enviei o complemento reformulado, sem o ‘raio’ e uns advérbios.”

PROVEDOR – 21h47: “Se bem percebi, damos por concluídas as respostas. As respostas (incluindo este complemento) serão publicadas na próxima crónica do provedor do leitor.”

PROVEDOR – 21h49: “O problema não está nas fontes que cita, mas nas que omite.”

Na segunda mensagem a jornalista acusa o provedor de manipulador, de praticarpéssimo jornalismo”, etc. – depois de o ter tratado deincompetente.”

Todos nós cometemos erros. É pena Clara Barata não ter reconhecido os seus, porque não tenhamos dúvidas: a honestidade e a humildade só nos enobrecem.

PS – Clara Barata indicou-me, entretanto, que as suas mensagens reproduzidas no início desta crónicasão para ignorarpor terem sido escritasa quentee enviou-me um documento com mais de 30.000 caracteres (praticamente o triplo do espaço desta página). Considero que a jornalista não pode invocar, por um lado, ter sido pressionada pelo provedor para responder e logo a seguir dar o dito por não dito por causa da sua alegada precipitação. O referido documento foi publicado no blogue do provedor pela direcção.


sexta-feira, janeiro 12, 2007 

Publicados os documentos relativos ao caso "Uma forma de plágio"

NOTA DA DIRECÇÃO DO PÚBLICO

De acordo com o que tinha sido anunciado pela Direcção do PÚBLICO na Nota da Direcção publicada a 10 de Janeiro de 2007, foi criada no nosso site uma área onde se encontram publicados todos os documentos relevantes relativos ao caso "Uma forma de plágio", desencadeado pela crónica do Provedor do Leitor com o mesmo nome.

Esperamos que estes documentos possam ajudar o leitor a formar a sua opinião.

A Direcção do PÚBLICO está a apreciar os factos e tornará pública a sua avaliação deste caso assim como as decisões que derivem dessa apreciação.

Se quiser enviar-nos o seu comentário, pode fazê-lo:
- publicando um comentário neste blogue
- enviando um mail ao Provedor do Leitor
- enviando um mail ao Director do PÚBLICO, José Manuel Fernandes

quinta-feira, janeiro 11, 2007 

NOTA DA DIRECÇÃO DO PÚBLICO

O caso relatado pelo provedor dos Leitores do PÚBLICO na coluna publicada na edição do passado domingo não deixou indiferente a Direcção Editorial.

Em causa está uma suspeita de plágio por parte de uma jornalista da redacção do PÚBLICO num artigo editado na revista Pública de 22 de Outubro de 2006.

O provedor dos Leitores já fez, na referida coluna, a análise e julgamentos que considerou pertinentes dentro do pleno exercício das funções que o seu estatuto lhe confere.

Essa exposição pública constitui já, e só por si, uma dura crítica aos métodos que são atribuídos à referida profissional para a realização do trabalho em causa.

Poderíamos, por isso, dar o caso por encerrado aqui mesmo, confortados pela consciência de ser o PÚBLICO o órgão da comunicação social portuguesa que vai mais longe na prática regular da auto-análise e autocrítica e de as partilhar com os leitores.

No entanto, a Direcção Editorial considera que a suspeita em causa exige que o assunto não seja encerrado e que os padrões de exigência, transparência e auto-regulação devem aumentar e não diminuir.

Nesse sentido, foi solicitada uma reunião urgente ao Conselho de Redacção (CR) do jornal, órgão que tem como principal função a avaliação das condutas éticas e deontológicas dos jornalistas. O mesmo fez, de resto, a profissional em causa. Essa reunião vai realizar-se esta manhã e o director do jornal, que preside ao CR por inerência, vai solicitar uma tomada de posição tão rápida quanto possível.

Entretanto a Direcção Editorial do PÚBLICO compromete-se a tornar públicos todos os documentos que já foram e venham a ser elaborados sobre este caso, criando para tal um espaço especial no nosso site na internet (www.publico.pt).

A Direcção Editorial


In Público - 10/01/2007 - página 6

domingo, janeiro 07, 2007 

UMA FORMA DE PLÁGIO

Embora o assunto que aqui abordo não me pareça ser novo (lembro-me de já ter lido uma crítica idêntica em anteriores cartas ao provedor) dado o lado caricato da situação penso que devo fazer uma breve crítica ou pelo menos comentário.Penso ser do código de conduta de um jornalista a citação das fontes bibliográficas do seu texto. Em especial quando esse texto é quase todo baseado num artigo ou trabalho de outro(s).
Na passada edição da PÚBLICA (22/10/2006) na secção ‘
Ciência Louca’ de Clara Barata ‘Em busca do autobronzeador ideal’ percebe-se pela leitura do texto que este teve a sua origem numa tradução de um texto de uma revista anglo-saxónica (estaria tentado a dizer qual mas não o faço).
No entanto, por alguma razão de edição (ou esquecimento da autora...) parece mesmo que é efectuado um ‘copy & paste’ do inglês que depois é traduzido por cima. Um resquício de tal procedimento parece ser evidente na coluna da direita no final do parágrafo ‘
Efeitos da UVA’ onde o texto aparece ainda em inglês!!
Admito que dada a natureza da secção ser de âmbito de divulgação, o jornalista pode basear-se noutros trabalhos. Mas deve citá-los e evitar erros grosseiros como o que aconteceu nesta edição
”, escreve J. Sérgio Seixas de Melo, de Coimbra.

O texto “Efeitos da UVA” termina da seguinte forma:
“is present more uniformly throughout the day, and throughout the seasons than UVB.”

Pedi um esclarecimento a Dulce Neto, editora da Pública, sobre a parte em inglês.
“Tratou-se de um lamentável lapso de edição”, explicou.
O provedor não diria melhor...

Solicitei, portanto, explicações a Clara Barata, editora da secção “Ciência” e autora do artigo em questão.

“É de facto lamentável que o texto tenha saído assim; não tinha reparado que saiu com um extracto da frase em inglês. Sobrou de um local de onde tirei a informação, obviamente. Não está citado porque consultei vários sítios na Internet, para recolher informação e compará-la. Nem sempre esse trabalho de pesquisa é citável, porque podem ser mais as citações do que o próprio texto, como era o caso dessa caixa. Sei que algumas pessoas gostam de dizer que copiámos tudo e traduzimos, mas fazemos o mesmo que qualquer pessoa que esteja a estudar um determinado tema faz, que é procurar informação, compará-la e trabalhá-la, sobretudo quando se procura fazer passar uma informação útil, como é o caso dessa caixa. As citações são essenciais, mas devem-se fazer quando se utiliza de facto um naco de informação único de precioso para compor o trabalho (por exemplo, podem-se consultar vários jornais e todos reproduzem um mesmo telex, com pequenas afinações; da mesma forma, uma informação de saúde pode ser apresentada em vários “sites”, livros e outras fontes, na íntegra ou com pequenos ajustes, e não se devem citar todos os sítios consultados). Para fazer a caixa, não me lembro que sítios citei, mas sei que andei por vários sítios para coligir informação. O que não devia ter acontecido era sair um extracto em inglês - até porque o texto passou por várias mãos até sair –, isso com toda a certeza...”, respondeu a autora do texto.

As justificações são inaceitáveis.
Clara Barata não se recorda dos sítios que citou na “caixa” porque não mencionou nem um.
E o texto (apesar de a jornalista garantir “
sei que andei por vários sítios para coligir informação”) resume-se (à excepção de oito palavras) a uma única fonte (http://en.wikipedia.org/wiki/Sun_tanning).

Eis a prosa da revista Pública e a da Wikipedia na internet:

“Faz com que os melanócitos libertem melanina que já está produzida.”
causes release of preexisting melanin from the melanocytes

“Faz com que a melanina se combine com oxigénio, o que produz o escurecimento da pele”
causes the melanin to combine with oxygen (oxidize), which creates the actual tan color in the skin

“Parece ser menos cancerígena que a UVB, mas causa melanoma, que é uma forma perigosa de cancro da pele”
seems to cause cancer less than UVB, but causes melanoma, a far more dangerous type of skin cancer than other types

“Não é bloqueada pela maior parte dos protectores solares, mas pode ser travada, em boa parte, pela roupa”
is not blocked by many sunscreens but is blocked to some degree by clothing

“Desencadeia a produção de mais melanina na pele”
triggers creation and secretion of new melanin into the skin

“Causa o crescimento de sinais e algumas formas de cancro da pele (mas não melanoma)”
is thought to cause the formation of moles and some types of skin cancer (but not melanoma)

“Envelhece a pele (menos que a UVA)”
causes skin aging (but at a far slower rate than UVA.)

“Estimula a produção de vitamina D, que é essencial ao organismo e diminui os riscos de outros cancros”
stimulates the production of Vitamin D, which promotes lower rates of disease, and ironically lower rates of skin and other types of cancer

“Queima mais facilmente que a UVA se houver sobreexposição; em pequenas quantidades é benéfica”
is more likely to cause a sunburn than UVA as a result of overexposure, however moderate exposure can be healthy

“Pode ser quase completamente bloqueada pelos protectores solares”
is almost completely blocked by virtually all sunscreens

Os dois textos são, praticamente (sic), idênticos.
Clara Barata não “comparou” nem “trabalhou a informação”, ao contrário do que afirma. Limitou-se a copiar frases na íntegra (na ordem exacta do original) sem inserir aspas e sem indicar a autoria.

A jornalista responde:
“E porque haviam de estar colocadas entre aspas essas frases, pergunto eu? Não me lembro de onde tirei os dados da caixa, podem ter vindo em grande parte de um sítio, não faço a mais pequena ideia, mas duvido que seja de algum autor que se sinta espoliado (porque são dados factuais, como já disse várias vezes). E as últimas frases devem estar repetidas em todas as notícias escritas sobre o assunto, mais ou menos da mesma forma, porque são provenientes de um comunicado de imprensa. Quem quiser procurar frases e expressões iguais ou semelhantes a outras em inglês ou português encontrá-las-à muito no PÚBLICO ou até no New York Times”.

O provedor contesta mais uma vez a argumentação.
A jornalista pergunta:
(“E porque haviam de estar colocadas entre aspas essas frases, pergunto eu?”).
A resposta parece óbvia: por causa dos princípios éticos e do próprio Livro de Estilo do PÚBLICO: “A assinatura de um texto deve reflectir de forma rigorosa a sua autoria”.

Acompanhando o exemplo do New York Times mencionado por Clara Barata, também eu cito um caso ocorrido nesse jornal no ano passado: o repórter Jayson Blair foi obrigado a demitir-se (designadamente) por causa do plágio. E esta semana (3/1/2007) uma jornalista do San Antonio Express-News demitiu-se depois de ter sido acusada de reproduzir informação do mesmo sítio na internet (Wikipedia) que Clara Barata, sem identificar a fonte.

Poderá parecer excessivo, mas os leitores precisam de poder confiar no jornal que compram.

O problema, por outro lado, não é um autor sentir-se espoliado. É o princípio. E a argumentação sobre a reprodução de
dados factuaistambém não colhe. A Wikipedia só por si não pode ser considerada uma fonte credível...

A jornalista afirma que
as últimas frases devem estar repetidas em todas as notícias escritas sobre o assunto”.
Devem estarnão é jornalismo, é um palpite. E, por outro lado, as transgressões alheias não servem de justificação.
O provedor questiona os métodos e o desleixo (publicação de uma frase em inglês).


O artigo principal da jornalista também é questionável, do ponto de vista deontológico: Clara Barata revela as fontes das citações (discurso directo) que reproduz, mas omite outras (as de discurso indirecto!). Copiou literalmente – ou quase – inúmeros parágrafos da New Scientist, sem mencionar a fonte e sem colocar o texto entre aspas.


Exemplos:

“A chave deste novo autobronzeador está num extracto de plantas chamado forskolina que, nas experiências da equipa, protegeu ratinhos sem pêlo de radiação ultravioleta e permitiu-lhes desenvolver um bronzeado natural, estimulando os seus melanócitos (...)”.
The key chemical, a plant extract called forskolin, protected mice against UV rays and allowed them to develop a natural tan by stimulating pigment-producing cells called melanocytes.”

“A capacidade de se bronzear – (...) – é controlada pela hormona de estimulação dos melanócitos, que se liga a uma proteína que existe no exterior destas células. Esta proteína, que se chama receptor de melanocortina 1, funciona mal em muitas pessoas que têm a pele clara e o cabelo ruivo. É por isso que não se conseguem bronzear, e ainda por cima correm maiores riscos de desenvolver cancro da pele.”
The ability to tan is largely controlled by a hormone called melanocyte-stimulating hormone, which binds to the melanocortin 1 receptor (MC1R) on the outside of melanocytes. Many people with with red hair and fair skin have a defect in this receptor, meaning they find it almost impossible to tan and are prone to skin cancer”.

“Numa segunda série de experiências os cientistas usaram ratinhos susceptíveis ao cancro, expondo-os ao equivalente a uma a duas horas de Sol na altura do meio-dia solar, diariamente, durante 20 semanas.”
In a second experiment, a particularly cancer-prone strain of mice, also bred to lack effective MC1Rs, were exposed to the equivalent of 1 to 2 hours of midday Florida sunlight each day for 20 weeks.”
Fonte do texto em inglês: www.newscientist.com/channel/health/mg19125704.100-tan-stimulant-may-bronze-even-the-fairest-skins.html.


O corta e cola (“copy & paste”) extensivo é uma forma de plágio (sobretudo quando as fontes são omitidas). E isso é inadmissível no jornalismo.
O Livro de Estilo é peremptório:
“O PÚBLICO considera o plágio uma conduta absolutamente inaceitável. Todas as informações recolhidas em qualquer documento ou noutros órgãos de comunicação devem ser sempre devidamente atribuídas”.

Serge Halimi, jornalista do Le Monde Diplomatique, chegou a alertar os leitores para estas práticas, denunciando, do mesmo modo, a indulgência e a conivência generalizadas: “Aviso ao leitor: o plágio, que constitui uma forma de roubo intelectual, é raramente sancionado pela profissão. Pior, os autores confrontados com esse processo continuam a beneficiar dos favores mediáticos. Em França, a técnica mais comum consiste em pilhar o artigo de um colega, a sua análise e os seus dados, citando-o uma única vez, por regra num ponto assaz acessório. Quando é confrontado com a prova da rapina, o malfeitor, apanhado em flagrante delito, chega, por vezes, a ter a audácia de retorquir: ‘Viram que os homenageei’. Na imprensa americana, uma prática deste género significa o descrédito profissional do culpado; nas universidades, a exclusão definitiva do estudante ou do professor. Mas também podem, apesar de este aviso se destinar ao leitor (ou de não o terem lido), defender-se de qualquer acusação de pilhagem ou de plágio, citando abundante, precisa e constantemente as suas fontes.”
(in ACRIMED, Observatório dos Media, (www.acrimed.org/article847.html?var_recherche=plagiat).

A ausência de princípios éticos, a demissão e a resignação dos jornalistas acabarão, inevitavelmente, por destruir a frágil relação de confiança com os leitores.
A credibilidade passa pelo profissionalismo e a ética. E a humildade de reconhecer os erros. É bom não o esquecermos, independentemente do resto.

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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