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domingo, setembro 23, 2007 

O PROVEDOR DOS PORMENORES

“Não sei se é inédito, mas não deixará de ser original: o PÚBLICO tem um artigo, na página 6, onde dá conta da publicação, na mesma edição, de um artigo de opinião de Manuel Alegre, fazendo notícia sobre o mesmo, com citações. Ainda pensei que eram declarações do próprio a justificar ou a acrescentar algo sobre o seu próprio artigo, o que seria aceitável, até para contextualização. Mas não. São meros extractos do artigo que surge na íntegra mais à frente.
Se o modelo pega, teremos no futuro notícias na página 2 sobre uma notícia da página 3 e assim sucessivamente. Uma coisa será dar destaque (estava na capa) ou chamadas no início dos cadernos/secções. Agora, um texto supostamente noticioso?
Aqui parece um texto da agência Lusa, o que até poderia ser, mas para uso externo, não?
Já agora uma questão: o destaque triplo (artigo + texto pág. 6 + capa) ao artigo de Manuel Alegre deve-se apenas a critérios jornalísticos (que existem, obviamente) ou não se deverá tal destaque ao facto de ser um artigo que avaliza a posição do jornal (ou da sua direcção) na ‘luta’ que tem travado contra a ERC e as medidas do ministro Santos Silva/Governo Sócrates?
Isto é, teria o jornal dado igual destaque, caso não estivesse envolvido nessa luta, caso não obviamente concordasse com o teor do artigo? Suponho que não. Mas, não seria então preferível assumir essa posição e, no editorial de hoje, dizer isso mesmo, que o PÚBLICO se congratulava por a sua posição que vem sustentando ao longo dos últimos meses ser sustentada e reforçada por um destacado dirigente socialista como Manuel Alegre, cujos pergaminhos democráticos e de lutador pela liberdade, etc.? Era mais transparente”, escreve Gabriel Silva.

Eis o início do artigo de Sofia Branco, publicado (27/07/2007) na página 6: “’Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.’ Assim termina o artigo de Manuel Alegre hoje publicado na íntegra pelo PÚBLICO, no espaço reservado à opinião.”
A notícia resume o essencial do texto de opinião, necessariamente. Esta repetição faz sentido?
Solicitei, portanto, um esclarecimento ao director.

“Há dois pontos distintos na queixa do leitor. O primeiro, sobre a oportunidade da notícia editada na página 6 dessa edição. O segundo sobre o destaque dado ao texto de Manuel Alegre.
Relativamente ao primeiro houve um erro de edição. A ideia inicial era partir do texto de Alegre para, ou através de reacções de pessoas a quem ele fosse dado a ler, ou enquadrando o seu conteúdo, relacionando-o com a actualidade política, questionar a sua importância. Não devia ser um resumo do texto, mesmo que pudesse citá-lo, antes uma peça jornalística que recordasse aos leitores anteriores posições do deputado, o seu relacionamento com o actual e anteriores primeiro-ministros e onde se fizesse uma antevisão, se possível com testemunhos em discurso directo, do seu impacto no grupo parlamentar e no interior do PS. Não tendo sido possível, naquele dia, fazer um trabalho que era algo complexo, a opção correcta devia ter sido não publicar aquele texto que é, de facto, apenas um resumo do texto de Manuel Alegre.
Já quanto ao destaque dado ao artigo, ele era absolutamente justificado. Manuel Alegre optara pelo silêncio desde que, nas eleições presidenciais, obtivera um resultado surpreendente, que o colocou bem à frente do candidato oficial do PS, que era Mário Soares. Quebrou-o com declarações muito duras sobre algumas políticas do Governo. Como figura histórica do partido, cujo peso na sociedade foi confirmado nessas eleições, havia natural curiosidade em conhecer as suas posições (tanto que o jornal teve, nesse dia, um pico de vendas). Coincidem elas com as do PÚBLICO? Para além da questão de saber se o PÚBLICO tem posições para além daquelas que decorrem do seu Estatuto Editorial (onde se escreve que o jornal ‘considera que a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta’, a razão pela qual temos criticado as recentes medidas legislativas que consideramos afectarem a liberdade de imprensa e dos jornalistas), a verdade é que Manuel Alegre escrevia sobre muitas outras questões da política deste governo, criticando aspectos destas que, no Editorial, um ou mais directores do PÚBLICO haviam apoiado.
O critério para o destaque que damos a um texto de opinião (como a uma entrevista, por exemplo) é o da sua relevância e não o de concordarmos ou discordarmos do seu conteúdo. Recordo mesmo ao leitor que, em Agosto, o PÚBLICO fez uma chamada de véspera para um texto que iria publicar de Mário Soares, a criticar um editorial que eu mesmo escrevi.
Como se escreve também no Estatuto Editorial, o PÚBLICO ‘participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa’, mas ‘sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica’. Foi isso que fizemos, ao dar o destaque que demos ao texto de Manuel Alegre, com a ressalva da edição, no mesmo dia, de uma notícia que nada acrescentava de substancial”, respondeu José Manuel Fernandes.
O provedor não se pronuncia sobre opções editoriais, mas preza a atitude de frontalidade assumida por José Manuel Fernandes.
O director do PÚBLICO reconhece, por outro lado, que houve um erro de edição. É uma explicação plausível. Nada a acrescentar.

Post-scriptum: A penúltima crónica suscitou algumas reacções, incluindo uma crítica ao trabalho do provedor.

“O provedor do leitor do PÚBLICO parece uma rabugenta professora primária, apenas preocupada com erros de ortografia e problemas de concordância. É muito pouco. Onde estão as grandes linhas de orientação do diário? Onde pára a reflexão sobre o trabalho do dia-a-dia? A teorização sobre a relação com as fontes, ou sobre os novos desafios dos media?
Podia ao menos questionar-se sobre a maneira como o jornal é tantas vezes usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação. Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa. Mas nem isso. Tenho pena pela oportunidade perdida.
Votos de continuação de um trabalho medíocre”, escreve Rui Carlos Baptista, um leitor de Telheiras (Lisboa).

A- Os leitores escrevem ao provedor sobretudo por causa de
"erros de ortografia e problemas de concordância". É lícito ignorar tais preocupações?
Os
"erros de ortografia e os problemas de concordância" são assunto importante porque o seu número me parece excessivo.
Considero, por outro lado, que a imprensa tem uma responsabilidade acrescida na promoção do Português. A TV (principal fonte de informação para muitos portugueses) abdicou da Informação e da língua, ao optar pela reconhecida boçalidade que a caracteriza.
Os leitores e o provedor levantaram outros problemas: a condenação de pessoas na praça pública, o plágio, a confusão entre informação e publicidade, etc.
B- O provedor não pode pronunciar-se (ao contrário do que defende o leitor) sobre as
"grandes linhas de orientação do diário". São competências exclusivas da Direcção Editorial.
Eis o estatuto do provedor:
“1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.”
C- O leitor afirma, por outro lado, que o jornal é “usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação”.
1- É uma acusação grave. É importante dissociar a Informação da Opinião, mas o leitor parece meter tudo e todos no mesmo saco. Rui Carlos Baptista considera, portanto, que os jornalistas do PÚBLICO são cúmplices da apregoada manipulação. É um processo de intenções. Discordo, obviamente.
2- A objectividade é um mito (acredito na isenção, no profissionalismo e na honestidade).
D- O leitor propõe:
"Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa."
1- Todos os directores do PÚBLICO (sem excepção) assumiram essa dupla função.
2- Apreciei as denúncias de leitores sobre o “corta e cola” e o ‘copianço’ várias vezes: casos relacionados com a agência LUSA, Wikipedia, revistas estrangeiras, etc.
Defendo (à semelhança do que estipula o Livro de Estilo do PÚBLICO) que todos os textos publicados devem indicar o nome do(s) autor(es).
E- O leitor conclui :
"Reflectir, por exemplo, sobre as razões do relativo insucesso comercial e editorial do novo modelo. Mas nem isso."
1- O provedor não tem por missão questionar estratégias comerciais.
2- O provedor não pode questionar opções editoriais.
“Votos de continuação de um trabalho medíocre” deseja o leitor. O provedor agradece a amabilidade de Rui Carlos Baptista.

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

Bom dia,

Admito que escrevo depois de ler a habitual crónica do provedor, na edição de hoje, dia 23 de Setembro, na qual é dada voz a uma crítica de um leitor, que qualifica o trabalho do provedor de “medíocre”. Não precisa, o provedor, que eu faça a sua defesa mas, porque discordo da opinião que foi manifestada pelo leitor, resolvi enviar-lhe este e-mail.

Sempre fui apreciador do espaço reservado ao provedor do leitor, ao longo dos muitos anos em que me confesso um leitor atento do Público, jornal que considero, por via dessa familiaridade, “meu” (depois de vários anos a comprar a edição em papel, sou actualmente subscritor da edição PDF). Parece-me claro que o provedor actual tem um estilo diferente dos anteriores (o que é normal e natural). Parece-me, no entanto, igualmente claro que o provedor tem dedicado imensa atenção a aspectos que a mim, enquanto leitor, me parecem efectivamente preocupantes. Um dos aspectos que, em minha opinião, mais distingue o jornalismo de qualidade do grosso do jornalismo que hoje se faz, é precisamente o cuidado no rigor da linguagem, quer em termos da forma, quer em termos do conteúdo. É importante não só que o conteúdo seja correcto, mas que as fontes sejam claras, reconhecidas, de modo a evitar a “boçalidade” referida pelo provedor, diagnóstico que partilho completamente. Sou docente universitário na área de sistemas de informação e costumo usar o jornalismo (nomeadamente a falta de rigor da linguagem usada pelos jornalistas de hoje), como exemplo do que os meus alunos não devem fazer, quando escrevem sobre as áreas tecnológicas e científicas sobre as quais têm formação.

Partilho, por isso, a preocupação evidenciada pelo provedor e louvo-lhe a persistência e a paciência com que, repetidamente, trata estas matérias. Certamente que a necessidade de ser persistente resulta de problemas óbvios na formação de base dos jornalistas, e na “ideia” de desleixo que a prática actual do jornalismo tantas vezes evidencia, como acontece na maior parte do jornalismo televisivo a que temos acesso nas televisões generalistas nacionais. Admiro a paciência do provedor e aprecio a forma clara, sem subterfúgios, que usa para “dissecar” os erros, às vezes explicados de modo perfeitamente patético por quem neles incorreu. Seria fácil adoptar uma atitude desculpabilizadora dos erros que vão sendo cometidos e relatados pelos leitores ao provedor. Essa atitude dificilmente se poderia traduzir em melhorias nos conteúdos do Público, pelo que o ênfase que coloca no tratamento das questões e a persistência que revela, são essenciais para que o Público evolua e os seus jornalistas se distingam dos de outras publicações.

Penso, portanto, que o provedor tem desempenhado muito bem a sua função, e que a forma como o tem feito dá crédito ao Público e faz jus ao carácter de inovação que o jornal teve no panorama da imprensa escrita portuguesa. Quero cumprimentá-lo pelo rigor e exigência que sempre tem relevado em relação aos erros que vão sendo cometidos e espero que continue a desempenhar a função de modo tão empenhado e positivo como até aqui.

Com os melhores cumprimentos.,

Rui Ribeiro

Aveiro

Senhor Provedor do Leitor, Rui Araújo:

Com certa regularidade, leio a secção do Provedor do Leitor, assim como também acompanho as Cartas ao Director, considerando que se trata de um termómetro, embora atribuindo-lhe um valor bastante impreciso.

Nunca, porém, fui levado à escrita de um reparo ou comentário, embora, mais do que uma vez, a vontade germinasse, sem consequências.

Tendo acompanhado o Público desde a nascença, de modo a ser o meu jornal de referência, ao ponto de me fazer falta quando estou por fora, seja no país mais rural, seja no estrangeiro, nos últimos tempos, venho sentindo que milita por causas próprias de grupo empresarial, ao ponto de pressentir que perde a capacidade de ser verdade acima de querelas de facção.

Mas ao dizer deste pressentimento não pretendo acusar, pois seria obrigado a ir ao concreto do caso ou situação.

Vou, antes e apenas, fixar-me em pormenores, por potencialmente reveladores.

Quero referir-me a erros que com frequência encontro em termos de "marés", fases da lua, nível de dificuldade do jogo Su Doku, etc. (antes, por vezes, o diagrama do bridge vinha desconjuntado dos símbolos ou mal recopiado da véspera).

Para dar e me fixar num só exemplo: No Jornal de Domingo, dia 23,de Setembro, anunciava-se o Quarto Minguante para o dia 26, e eu a olhar, em cada dia da semana finda o Quarto Crescente a transformar-se na Lua Cheia de 26 de Setembro.

Sei que são pormenores, e talvez que o jornalista ou o responsável considere que podia e mereceria fazer coisas de um outro patamar.

Em todo o caso, lembro, que, na sociedade complexa dos nossos dias, nada é insignificante, desde a exactidão da morada de uma farmácia de serviço, o horário de exibição de dado filme, a previsão de tempo em determinada região, o cartaz das exposições, o horário de encerramento dos museus, etc..

E fico-me, por aqui, seguro de que é possível dar cor à informação sobre o trânsito, ou ser competente a falar de marés, da lua ou do pôr do sol.

Cumprimentos

Esaú Dinis

Muito Boa Tarde, Caro Provedor

Não me compete e nunca o faria - até porque o próprio não necessita - defender as posições assumidas pelo Provedor do Público, porém começo por elogiar uma vez - dado já o ter feito por várias vezes e por outras razões - por ter inserido no seu espaço semanal, uma carta de um leitor a criticá-lo fortemente. Não concordo de modo algum com o teor das críticas feitas, dado que o Provedor, não é o Director do Público, bem pelo contrário, é um elo de ligação entre os leitores e aquele, e tem cumprido cabalmente as suas funções.
Refiro alguns aspectos:
- apontar erros ortográficos e de composição de textos e até de títulos - algo demasiado grave e excessivamente recorrente, nos nossos "media", para não ser apontado, ainda para mais no Público, que ainda é um diário de qualidade;
- denunciar situações de plágio - graves - ocorridas no Público;
- "obrigar" o Director a vir justificar, perante os leitores os erros, faltas, exageros cometidos pelo, e no Público;
- questionar abertamente o Director , pelo rumo do "actual/novo" Público, não só antes como durante esta última alteração, algo que tem sido motivo de reflexão não só do próprio, como de muitas outras pessoas, entre as quais me incluo;
São tarefas suficientes, bem assumidas e melhor cumpridas pelo Provedor do Público, Rui Araújo.
Quanto a questionar a posição do Director do Público com a de administrador da Sonae- proprietária do Público - feita pelo mesmo leitor, será sem dúvida algo questionável, que por certo já passou pela cabeça de muitos de nós - sendo que se trata de uma situação normal, em todas as grandes empresas, que não só jornais, bem ou menos bem, é uma realidade - porém para quem lê o Público, desde o 1º número, nota muito poucas ou quase nenhumas interferências do Eng. Belmiro de Azevedo na sua linha editorial ou em quaisquer notícias e assim esperemos que continue, pelo que não vejo qualquer objecção em o Director do Público, por inerência ser administrador da Sonae, pelo menos até ao momento. Pelo que, termino felicitando o Provedor , Rui Araújo dado que face ao tem feito,no pleno exercício das suas funções, e por certo, por vezes com alguns amargos de boca, tem conseguido ajudar a que o Público continue o Público, e não outro jornal qualquer.

Melhores cumprimentos de

Augusto Küttner de Magalhães
Porto

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Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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