domingo, setembro 23, 2007 

O PROVEDOR DOS PORMENORES

“Não sei se é inédito, mas não deixará de ser original: o PÚBLICO tem um artigo, na página 6, onde dá conta da publicação, na mesma edição, de um artigo de opinião de Manuel Alegre, fazendo notícia sobre o mesmo, com citações. Ainda pensei que eram declarações do próprio a justificar ou a acrescentar algo sobre o seu próprio artigo, o que seria aceitável, até para contextualização. Mas não. São meros extractos do artigo que surge na íntegra mais à frente.
Se o modelo pega, teremos no futuro notícias na página 2 sobre uma notícia da página 3 e assim sucessivamente. Uma coisa será dar destaque (estava na capa) ou chamadas no início dos cadernos/secções. Agora, um texto supostamente noticioso?
Aqui parece um texto da agência Lusa, o que até poderia ser, mas para uso externo, não?
Já agora uma questão: o destaque triplo (artigo + texto pág. 6 + capa) ao artigo de Manuel Alegre deve-se apenas a critérios jornalísticos (que existem, obviamente) ou não se deverá tal destaque ao facto de ser um artigo que avaliza a posição do jornal (ou da sua direcção) na ‘luta’ que tem travado contra a ERC e as medidas do ministro Santos Silva/Governo Sócrates?
Isto é, teria o jornal dado igual destaque, caso não estivesse envolvido nessa luta, caso não obviamente concordasse com o teor do artigo? Suponho que não. Mas, não seria então preferível assumir essa posição e, no editorial de hoje, dizer isso mesmo, que o PÚBLICO se congratulava por a sua posição que vem sustentando ao longo dos últimos meses ser sustentada e reforçada por um destacado dirigente socialista como Manuel Alegre, cujos pergaminhos democráticos e de lutador pela liberdade, etc.? Era mais transparente”, escreve Gabriel Silva.

Eis o início do artigo de Sofia Branco, publicado (27/07/2007) na página 6: “’Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.’ Assim termina o artigo de Manuel Alegre hoje publicado na íntegra pelo PÚBLICO, no espaço reservado à opinião.”
A notícia resume o essencial do texto de opinião, necessariamente. Esta repetição faz sentido?
Solicitei, portanto, um esclarecimento ao director.

“Há dois pontos distintos na queixa do leitor. O primeiro, sobre a oportunidade da notícia editada na página 6 dessa edição. O segundo sobre o destaque dado ao texto de Manuel Alegre.
Relativamente ao primeiro houve um erro de edição. A ideia inicial era partir do texto de Alegre para, ou através de reacções de pessoas a quem ele fosse dado a ler, ou enquadrando o seu conteúdo, relacionando-o com a actualidade política, questionar a sua importância. Não devia ser um resumo do texto, mesmo que pudesse citá-lo, antes uma peça jornalística que recordasse aos leitores anteriores posições do deputado, o seu relacionamento com o actual e anteriores primeiro-ministros e onde se fizesse uma antevisão, se possível com testemunhos em discurso directo, do seu impacto no grupo parlamentar e no interior do PS. Não tendo sido possível, naquele dia, fazer um trabalho que era algo complexo, a opção correcta devia ter sido não publicar aquele texto que é, de facto, apenas um resumo do texto de Manuel Alegre.
Já quanto ao destaque dado ao artigo, ele era absolutamente justificado. Manuel Alegre optara pelo silêncio desde que, nas eleições presidenciais, obtivera um resultado surpreendente, que o colocou bem à frente do candidato oficial do PS, que era Mário Soares. Quebrou-o com declarações muito duras sobre algumas políticas do Governo. Como figura histórica do partido, cujo peso na sociedade foi confirmado nessas eleições, havia natural curiosidade em conhecer as suas posições (tanto que o jornal teve, nesse dia, um pico de vendas). Coincidem elas com as do PÚBLICO? Para além da questão de saber se o PÚBLICO tem posições para além daquelas que decorrem do seu Estatuto Editorial (onde se escreve que o jornal ‘considera que a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta’, a razão pela qual temos criticado as recentes medidas legislativas que consideramos afectarem a liberdade de imprensa e dos jornalistas), a verdade é que Manuel Alegre escrevia sobre muitas outras questões da política deste governo, criticando aspectos destas que, no Editorial, um ou mais directores do PÚBLICO haviam apoiado.
O critério para o destaque que damos a um texto de opinião (como a uma entrevista, por exemplo) é o da sua relevância e não o de concordarmos ou discordarmos do seu conteúdo. Recordo mesmo ao leitor que, em Agosto, o PÚBLICO fez uma chamada de véspera para um texto que iria publicar de Mário Soares, a criticar um editorial que eu mesmo escrevi.
Como se escreve também no Estatuto Editorial, o PÚBLICO ‘participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa’, mas ‘sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica’. Foi isso que fizemos, ao dar o destaque que demos ao texto de Manuel Alegre, com a ressalva da edição, no mesmo dia, de uma notícia que nada acrescentava de substancial”, respondeu José Manuel Fernandes.
O provedor não se pronuncia sobre opções editoriais, mas preza a atitude de frontalidade assumida por José Manuel Fernandes.
O director do PÚBLICO reconhece, por outro lado, que houve um erro de edição. É uma explicação plausível. Nada a acrescentar.

Post-scriptum: A penúltima crónica suscitou algumas reacções, incluindo uma crítica ao trabalho do provedor.

“O provedor do leitor do PÚBLICO parece uma rabugenta professora primária, apenas preocupada com erros de ortografia e problemas de concordância. É muito pouco. Onde estão as grandes linhas de orientação do diário? Onde pára a reflexão sobre o trabalho do dia-a-dia? A teorização sobre a relação com as fontes, ou sobre os novos desafios dos media?
Podia ao menos questionar-se sobre a maneira como o jornal é tantas vezes usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação. Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa. Mas nem isso. Tenho pena pela oportunidade perdida.
Votos de continuação de um trabalho medíocre”, escreve Rui Carlos Baptista, um leitor de Telheiras (Lisboa).

A- Os leitores escrevem ao provedor sobretudo por causa de
"erros de ortografia e problemas de concordância". É lícito ignorar tais preocupações?
Os
"erros de ortografia e os problemas de concordância" são assunto importante porque o seu número me parece excessivo.
Considero, por outro lado, que a imprensa tem uma responsabilidade acrescida na promoção do Português. A TV (principal fonte de informação para muitos portugueses) abdicou da Informação e da língua, ao optar pela reconhecida boçalidade que a caracteriza.
Os leitores e o provedor levantaram outros problemas: a condenação de pessoas na praça pública, o plágio, a confusão entre informação e publicidade, etc.
B- O provedor não pode pronunciar-se (ao contrário do que defende o leitor) sobre as
"grandes linhas de orientação do diário". São competências exclusivas da Direcção Editorial.
Eis o estatuto do provedor:
“1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.”
C- O leitor afirma, por outro lado, que o jornal é “usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação”.
1- É uma acusação grave. É importante dissociar a Informação da Opinião, mas o leitor parece meter tudo e todos no mesmo saco. Rui Carlos Baptista considera, portanto, que os jornalistas do PÚBLICO são cúmplices da apregoada manipulação. É um processo de intenções. Discordo, obviamente.
2- A objectividade é um mito (acredito na isenção, no profissionalismo e na honestidade).
D- O leitor propõe:
"Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa."
1- Todos os directores do PÚBLICO (sem excepção) assumiram essa dupla função.
2- Apreciei as denúncias de leitores sobre o “corta e cola” e o ‘copianço’ várias vezes: casos relacionados com a agência LUSA, Wikipedia, revistas estrangeiras, etc.
Defendo (à semelhança do que estipula o Livro de Estilo do PÚBLICO) que todos os textos publicados devem indicar o nome do(s) autor(es).
E- O leitor conclui :
"Reflectir, por exemplo, sobre as razões do relativo insucesso comercial e editorial do novo modelo. Mas nem isso."
1- O provedor não tem por missão questionar estratégias comerciais.
2- O provedor não pode questionar opções editoriais.
“Votos de continuação de um trabalho medíocre” deseja o leitor. O provedor agradece a amabilidade de Rui Carlos Baptista.

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

domingo, setembro 16, 2007 

TRIBUNAL PÚBLICO

"Registei com muito agrado a posição que tomou sobre o tratamento que o PÚBLICO deu ao caso do ex-cabo da GNR acusado de homicídio em Santa Comba Dão. Só posso, portanto, lamentar incomodá-lo outra vez com o mesmo assunto.

Às 16h32 de 31/7/2007 foi publicada no PÚBLICO on-line uma notícia assinada por Graça Barbosa Ribeiro cujo título é ‘Homicida de Santa Comba Dão condenado a 25
anos de prisão
’. O antetítulo da notícia (aliás digno do jornal O Crime) é ‘Matou três jovens’.

No meu anterior e-mail sobre este assunto, talvez ingenuamente, escrevi: ‘Dispenso-me de invocar normas constitucionais e legais para demonstrar que no direito português vigora o princípio segundo o qual todos são considerados inocentes até que transite em julgado uma
decisão judicial condenatória.
’ Pelos vistos não devia ter-me dispensado de fazer tal coisa.

O n.º 2 do artigo 32.º da Constituição determina que ‘todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação’.

A sentença de condenação só transita em julgado quando já não for passível de recurso ordinário. Tendo esta sentença sido proferida por um tribunal de primeira instância, dela cabe obviamente
recurso ordinário (aliás, conforme a notícia refere, a defesa já anunciou que vai recorrer). Como tal, mantém-se a presunção de inocência do arguido, que o PÚBLICO mais uma vez violou grosseiramente ao chamar ‘homicida’ ao arguido e ao afirmar taxativamente que ele ‘matou três jovens’. Infelizmente, mesmo depois dos reparos de vários leitores e, sobretudo, do autorizado reparo do senhor provedor, o PÚBLICO voltou a cometer o mesmo gravíssimo erro, ainda por cima na mesma situação.

Eu compreendo que os jornalistas não têm que ser licenciados em Direito quando escrevem sobre um julgamento (como não têm de ser cientistas quando escrevem sobre Ciência, outro campo em que, a julgar pelo que leio no blogue do provedor, as ‘calinadas’ têm sido mais do que
muitas). Mas francamente! Para se escrever sobre qualquer assunto, é, pelo menos, preciso não se ser totalmente ignorante sobre ele. Ainda para mais, o teor da presunção de inocência está longe de ser um conhecimento jurídico esotérico e só acessível a iniciados. E, mesmo que o fosse,
os jornalistas tinham obrigação de fazer parte desse círculo de iniciados, tal é o risco de violação da presunção de inocência no exercício da profi ssão jornalística. Recuso-me pura e simplesmente a acreditar que não se fale da presunção de inocência nos cursos de jornalismo.

Para mim, este erro é ainda mais grave do que o do esperma do mamute fêmea ou do que o do diâmetro em metros quadrados. Isto porque enquanto estes disparates não têm a virtualidade de alterar as leis da biologia ou da geometria aplicáveis, a violação da presunção de inocência tem implicações éticas gravíssimas e, de certa forma, irremediáveis. Ou seja, a violação já ocorreu e não há nada que a apague, nem mesmo um pedido de desculpas (que o PÚBLICO não formulou no caso anterior, tendo-se limitado a admitir o erro). Isto nada tem que ver com a culpabilidade ou não deste arguido em concreto.

Mesmo que venha a apurar-se que o ex-cabo da GNR é efectivamente culpado, o valor objectivo da presunção de inocência já foi irremediavelmente afectado.

Tenho muito respeito pelos jornalistas sérios e competentes, que desempenham uma função insubstituível num Estado de direito. Mas um jornalista que não seja sério ou competente pode pôr gravemente em causa esse mesmo Estado de direito. Um jornalismo que se dá ao luxo de
cometer e repetir atropelos deste calibre aos princípios do Estado de direito não é sério nem competente, nem tão-pouco tem qualquer legitimidade moral para fazer a apologia, às vezes inflamada para além de qualquer compreensão, de outros valores também sacrossantos do mesmo Estado de direito, como a liberdade de imprensa e o direito à preservação do sigilo das fontes. Pelo contrário: ainda que não intencionalmente, este tipo de jornalismo só pode contribuir para dar cobertura àqueles que, pretextando evitar os desmandos da imprensa, querem na verdade calar a notícia objectiva e a investigação independente, a livre opinião e o livre pensamento.

Já cansado e quase decidido a passar a comprar um jornal assumidamente populista que não tente enganar o público com o rótulo de jornal de referência (o Correio da Manhã, no seu género, é, pelo menos, um jornal competente e em que não se lêem coisas destas), limito-me a fazer as seguintes perguntas:

1.ª Qual é o grau da preparação exigida aos jornalistas do PÚBLICO nos domínios técnicos sobre os quais escrevem?

2.ª Qual é o grau de controlo exercido sobre os textos das notícias publicadas?

3.ª Quais as consequências para os jornalistas que escrevem, ainda por cima reiteradamente e sobre o mesmo assunto, textos objectivamente indefensáveis nos planos técnico, científico ou jurídico? Pergunto isto não por me agradar o policiamento e a repressão dos jornalistas, mas
apenas porque me parece que sem responsabilização efectiva estas coisas continuarão inevitavelmente a acontecer (e, por razões óbvias, é preferível que essa responsabilização
parta dos próprios jornalistas).

4.ª Os jornalistas do PÚBLICO lêem o que o provedor escreve? (A primeira versão desta pergunta era: ‘O provedor serve para alguma coisa?’ Alterei-a porque não quis correr o risco de ser mal interpretado: pelo menos, para mim, o provedor é a última esperança de que ainda
seja possível evitar que o eng.º Belmiro de Azevedo perca definitivamente a paciência com o seu jornal e lhe feche as portas.)

Quero, por último, assinalar três aspectos:
1.º Ao contrário do que sucedia com os textos que anteriormente questionei, o texto acima mencionado está assinado, o que é um importante meio de responsabilização.

2.º Ao contrário dos títulos, o texto da notícia não comete qualquer violação da presunção de inocência, o que me leva a admitir que a jornalista signatária pode estar inocente e que a responsabilidade dos títulos pode caber a outrem. Neste caso, importaria saber quem é responsável.

3.º Quer parecer-me que é eticamente exigível que, tal como faz na edição escrita quando nela erra, o PÚBLICO passe a admitir on-line que errou na edição on-line”, escreve André Matos, um leitor de Lisboa.

Solicitei esclarecimentos ao director.

“Sem poder responder a tudo, meia dúzia de notas:

1. A noção constitucional de presunção de inocência sendo formalmente a mesma até ao trânsito em julgado do processo não tem o mesmo valor quando se é arguido (isto é, se é apenas suspeito sob investigação formal), quando se debate em fase de instrução a acusação do Ministério Público, quando se é réu e quando se é condenado em primeira instância. Nessa altura, o processo já passou pelo menos por dois juízes, o de instrução e o do tribunal. É até esta fase que a prova é feita. Na Relação e do Supremo (e no Constitucional, quando é caso disso) analisa-se a adequação da sentença à prova feita em tribunal.

2. Dito isto, e mesmo sabendo que da mesma forma que alguém condenado em primeira instância pode ser inocentado quando o processo chega a tribunal superior (sendo o inverso igualmente verdadeiro...), não contesto que os jornalistas devem permanecer fiéis ao princípio da presunção de inocência até ao fim, não devendo por isso escrever-se títulos tão taxativos como o referido. Fazê-lo é um erro cuja responsabilidade, devido ao período de férias, não consegui ainda apurar. Mas, de igual forma, a ênfase colocada na presunção de inocência, traduzida no registo das notícias e dos títulos, não deve ser a mesma quando se é apenas suspeito ou quando já se foi condenado em primeira instância, pois nessa altura as dúvidas sobre a culpa já passaram, pelo menos, por três crivos: o do Ministério Público, que acusou, o do juiz de instrução, que levou a julgamento, e o tribunal de primeira instância, que condenou o réu. Por exemplo: continuar a escrever ‘presumível homicida’ é melhor do que escrever ‘suspeito de homicídio’ (expressão recomendável na fase em que se é apenas arguido), mas pior do que escrever ‘condenado pelo Tribunal de Santa Comba Dão por homicídio’.

3. Não considero que o facto de o erro ter sido cometido num título (que deve ser obrigatoriamente sintético) seja desculpa, mesmo sabendo que o exercício de fazer títulos rigorosos com poucas palavras é dos desafi os mais difíceis que um jornalista enfrenta.

4. Ao contrário da edição em papel, a edição on-line está em permanente actualização. Quando um erro é detectado não se mantém notícia com o erro e acrescenta-se um ‘PÚBLICO errou’. Corrige-se é o mais depressa possível o erro. Ainda não encontrámos, e não conheço nenhuma edição on-line que tenha encontrado a solução ideal para assinalar de uma forma tão visível como a do ‘PÚBLICO errou’ um erro numa versão anterior da notícia.
Quando muito, esta refere qualquer coisa do género: ‘Ao contrário do que escrevemos numa versão anterior desta notícia... etc, etc.’ Isto signifi ca que um leitor que contactou com a notícia com um ou mais erros pode não reparar que esse erro foi entretanto corrigido. Trata-se de um problema dos suportes electrónicos de actualização permanente que já vi debatido em diferentes fóruns sem que se chegasse a uma solução ideal.

5. Sem me alongar, digo apenas que no PÚBLICO há instâncias diárias de avaliação do trabalho produzido e que, mais do que medidas disciplinares tomadas como regra, o rigor é um dos critérios de avaliação dos jornalistas (realizada uma vez por ano e com efeitos na sua remuneração variável) e, por maioria de razão, dos editores e directores, cujos lugares estão, por definição e cultura do jornal, permanentemente à disposição dos seus superiores hierárquicos. Erros sucessivos ou muito graves não são ignorados – o que não quer dizer que possam ser todos evitados e que todos tenham consequências imediatas –, até porque a tal nos obriga o Livro de Estilo.

6. Se o provedor não servisse para nada, já o teríamos dispensado quando terminou o primeiro ano do seu mandato. Como não foi isso que sucedeu...”, respondeu José Manuel Fernandes.

O director reconhece o erro. O provedor concorda com o director e, logo e por maioria de razão, com o leitor.

domingo, setembro 09, 2007 

DESCULPEM, ESTOU DE VOLTA...

Nas últimas semanas recebi dezenas de mensagens de leitores que acusam os jornalistas do PÚBLICO de descuidos, despistes, ignorância, preguiça mental e repetições...

1 DESCUIDO
“Descuido, despiste ou ignorância?
Inexperiência pode ter provocado queda de Dromader (03.08.2007 - 22h22 - Cláudia Bancaleiro):
‘... oito aviões Dromadair’;
Conhecido pela cor amarelo forte, é um aerotanque que atinge um máximo de 225 quilómetros/hora e tem um alcance de distância de mil quilómetros’”, cita José Martins, um leitor de Lisboa.

Os reparos são pertinentes. ‘Dromadair’ é uma formulação incorrecta e o parágrafo reproduzido é, no mínimo, controverso (‘
cor amarelo’, ‘atinge um máximo’, ‘alcance de distância?, por exemplo).
O texto da jornalista contém mais erros. ‘
Airtractor’, por exemplo, escreve-se “Air Tractor” (com um espaço no meio), mas isso é um detalhe.

2 DESCUIDOS
“Penso que um jornal como o PÚBLICO devia ter mais cuidado com os títulos.
Página 5 (31 de Julho de 2007): ‘COM A MORTE DO CINEASTA SUECO UMA ESPÉCIE DE FAMÍLIA PERDEU A SUA ESPÉCIE DE PATRIARCA’”, transcreve Augusto Küttner de Magalhães, um leitor do Porto.

Foi certamente um lapso do editor ou do director de fecho (a quem compete dar ou aprovar os títulos). É a única explicação plausível. Quanto a espécies em vias de extinção, a mais gritante é a dos “revisores” ou “copy-desks”. Fazem o que podem, mas podem pouco porque o seu número é insuficiente (e as novas tecnologias não são panaceia para tudo). Deles também depende a qualidade do jornal e a credibilidade da Imprensa.

3 DESCUIDOS
“Gostaria de chamar a atenção para três pontos distintos.
O primeiro é específico e está relacionado com uma peça da jornalista Graça Barbosa Ribeiro no PÚBLICO de hoje (02/08/2007).
A peça, de reportagem, intitulada ‘Fui eu que renasci’, na página 9, tem, a certa altura, a passagem: ‘A questão é que não há placas a assinalar a zona vigiada (...)’, um tudo nada mais à frente: ‘a questão é que não há bóias na albufeira (...)’ e umas palavras mais adiante: ‘A questão é que, oficialmente (...)’.
Temos, portanto, três vezes a formulação ‘A questão é que...’.
Pergunto se a jornalista conhecerá outras formas de apresentar os problemas e até se sabe contar, uma vez que dizer três vezes ‘a questão’ implica a existência de três questões, não apenas de uma, singular.
Eis um outro ponto mais genérico: tenho visto cada vez mais frequentemente, em peças diversas, o uso do termo ‘miúdo’ (ou variações do mesmo) no PÚBLICO. Pessoalmente, sempre considerei a palavra como de uso corrente, essencialmente oral, e pouco ajustada a um jornal, sendo que a palavra ‘criança’ me parece ser a ideal para estes casos. Será que é possível esclarecer esta dúvida?
Último ponto: ontem, 1 de Agosto, o PÚBLICO iniciou a publicação de um conjunto de textos sobre Fátima e o fenómeno de Fátima. Gostaria de saber a motivação editorial para esta opção. Fátima é sem dúvida um símbolo do país mas, sendo o Estado laico, o PÚBLICO um jornal que não se rege por critérios religiosos e sabendo que em 2007 passam 90 anos sobre as ‘aparições’ de Fátima (e não 100, ou 75 ou 50, as datas usualmente mais importantes), pergunto-me o interesse que tem dedicar uma página por dia ao assunto. Especialmente se não passará da transcrição de textos de uma Enciclopédia. Foi esta enciclopédia paga pelo jornal? Porque razão fazê-lo em Agosto e não em Maio ou Outubro, datas mais ligadas à mitologia de Fátima? E porquê terminar a 13 de Agosto quando o dia da ‘aparição’ de Agosto foi 19? Não vejo qualquer lógica para este assunto e pergunto-me se o jornal também dedicará 15 páginas a uma eventual efeméride relacionada, por exemplo, com a expulsão dos judeus de Portugal (acontecimento bem mais marcante para a história do país) ou qualquer outro assunto semelhante. Qual é então o frete que o PÚBLICO tem de pagar?”, pergunta João Sousa André.

A repetição era perfeitamente desnecessária. Nada a acrescentar.
A dúvida: ‘miúdos’ é sobretudo uma questão de estilo e de sinónimos.
Fátima: é uma questão de critérios editoriais sobre os quais o provedor não pode pronunciar-se.

5 DESCUIDOS
“Venho incomodá-lo de novo (e desta vez com algum atraso) pois detectei uma falha na redacção de uma notícia. Com efeito, no suplemento ‘P’ de Sábado, 23 de Junho 07, na pág. 40, secção Desporto, pode ler-se uma notícia, da autoria de Jorge Miguel Matias, com o título ‘Filipe Vieira defende contratação de Cardozo, apesar de ser caro’. Ora, a certa altura, no 6º parágrafo, a partir da 2ª linha, pode ler-se, e cito: ‘SOBRE o que Luís Filipe Vieira não falou foi SOBRE a OPA lançada por Joe Berardo SOBRE a Benfica SAD. Os dois almoçaram ontem no Centro Cultural de Belém mas nenhum comentário foi feito SOBRE a operação.’ E 7 linhas mais à frente: ‘escudou-se nas restrições impostas pela CMVM para não falar SOBRE o tema.’
Ora, apesar de a matemática não ser de facto o meu forte, consegui contar, só neste pequeno excerto, 5 (cinco) vezes a palavra ‘SOBRE’. Portanto: isto cheira-me a preguiça, indigência, ‘silly season’ no seu esplendor. Teria sido mesmo necessário incluir 5 vezes esta palavra? Ou será a língua portuguesa assim tão inflexível que nela não se encontrem alternativas válidas para enriquecer o texto e o tornar numa notícia relevante e interessante de ler, em vez de um ‘exercício’ de preguiça mental?”, conclui José Oliveira, um leitor da Cruz Quebrada.

Pois...

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  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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