domingo, março 26, 2006 

CALINADAS

Esta notícia de 16 linhas publicada (27 de Fevereiro) na secção “Sociedade” não passou despercebida: “A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão, em Madrid e em Valência, de 36 romenos suspeitos de estarem por detrás de uma rede de prostituição particularmente violenta. Os detidos forçariam as jovens órfãs da Roménia a prostituir-se em Espanha. As jovens seriam obrigadas a desnudar-se parcialmente em pleno Inverno, não podiam recusar a utilização de preservativo nos actos sexuais, trabalhavam 12 horas por dia sem interrupção. Na sequência da operação policial, 25 prostitutas foram ‘libertadas’. (…)”

Uma leitora de Lisboa ficou indignada com esta “breve” e escreveu ao provedor: Trabalham?
Ser violada sistematicamente é trabalho? Ou uma mulher obrigada a prostituir-se não pode ser considerada como uma mulher violada? Porque a prostituição é uma profissão?!!!!

Que falta de cuidado com as palavras!
Que falta de cuidado com a vida e sofrimento alheios!!!,
diz a leitora que pede o anonimato.

De facto, a notícia (não assinada) do PÚBLICO contém alguns erros. E suscitou-me o seguinte comentário:

1. A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão – escreve o/a jornalista.
E os factos relevantes (a essência da própria notícia) ocorreram quando? – pergunto, mas lemos o texto e ficamos sem saber.

2. A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão.
A Polícia não prende, detém.
Só a autoridade judicial pode transformar uma detenção em prisão.
O rigor é importante.

3. Não podiam recusar a utilização de preservativo.
Os criminosos estavam preocupados com a SIDA (sic)… ou seria precisamente o contrário?

4. Trabalhavam 12 horas por dia.
Jovens órfãs obrigadas a prostituir-se (com recurso à violência) não “trabalhavam”…

5. 25 prostitutas foram ‘libertadas’.
Afinal, foram libertadas ou não? As aspas não fazem, aqui, sentido.

Estou cá, de novo. Desta feita, não por via das vírgulas, assunto a que V. Ex.ª. se referiu na intervenção semanal, na edição do passado Domingo, dando-me razão, o que, desde já, agradeço.
É comum ler-se no PÚBLICO a expressão ‘cerca de’, quanto se expressa determinada quantidade.
Ora, aquela expressão deverá ser usada quando a dita quantidade não está, concreta e objectivamente, determinada.
Todavia, nem sempre assim acontece. Atente-se na notícia da pág. 3 da edição de 15 de Março de 2006
Fusão exige corte de mais de 2000 postos de trabalho’.
No final da 1ª. coluna lê-se: “O
BCP tem actualmente cerca de 909 balcões...”.
Então, terá para aí 908,5; 909,5 (!!!). Não sendo um número ‘redondo’, nunca poderá ser empregue a expressão referida.
E já agora, também a palavra ‘actualmente’ deveria estar entre vírgulas
...,
escreve José Rito.

As críticas do leitor são pertinentes.
É desnecessário complementar os reparos formulados.

Chamou-me a atenção pelo desleixo e aparente ausência de qualquer revisão um texto (publicado no passado Domingo) sobre a visita a Lisboa do dirigente da Aliança Patriótica Iraquiana, Abdul Jaber Al-Kubasi - julgo que seja este o nome.
A dúvida sobre o nome do visitante justifica-se porque ele aparece escrito no artigo de três formas diferentes:
- Abdul Jaber Al-Kubasy (uma vez apenas);
- Abdul Jaber Al-Bukasy (duas vezes, incluindo
na legenda da fotografia);
- Abdul Jaber Al-Busaky (três vezes).
Também de uma das entidades promotoras da visita, o Tribunal Mundial sobre o Iraque, se diz que foi representada por Manuel Barroso, quando o seu representante era, na verdade, Manuel Raposo.
O conteúdo do artigo é, em termos gerais, correcto e é pena que não tenha merecido uma edição mais atenta por parte do PÚBLICO
, diz Elsa Silva.

O provedor reconhece que os reparos da leitora são importantes.
O texto, escrito por uma jornalista estagiária, foi revisto por um responsável da Redacção.

Paulo Ferreira, o subdirector responsável da revisão do texto em causa, explica: “Há, de facto, dúvidas sobre a forma correcta de escrever o nome do dirigente dessa organização, que são reforçadas quando se pretende esclarecê-las cruzando várias fontes. A leitora sugere Abdul Jaber Al-Kubasi. Mas o e-mail do Tribunal Iraque enviado para as redacções a anunciar a sessão escrevia Abdel Jaber Al-Kubaysi, tal como o próprio site da organização. Ainda em português, o Avante tem preferido Abdul Jabbar al-Kubaysi. Mau é, de facto, que versões diferentes apareçam no mesmo texto.
No trabalho de edição, feito por mim, falhou a uniformização gráfica quando parece existir, pelo menos, uma relativa unanimidade em ‘Kubaysi’. Quanto ao nome do representante do Tribunal Iraque, ele foi escrito na convicção de o termos ouvido correctamente, quando os intervenientes foram publicamente apresentados no início da sessão.

Sabemos agora que houve confusão entre Barroso e Raposo. De resto, já depois de ter chegado à redacção, a autora da notícia telefonou a Domingos Lopes, da CGTP-IN e envolvido na organização, com o objectivo de confirmar alguns dados, nomes de intervenientes incluídos.
E se não sentiu necessidade de confirmar esse nome é porque, infelizmente, não teve dúvidas do que ouviu. A proximidade sonora entre as duas palavras é uma boa pista para explicar o erro
”, responde Paulo Ferreira.

O provedor considera que a explicação do subdirector é aceitável.
O provedor considera, por outro lado, que este incidente sublinha a importância que reveste o enquadramento dos jornalistas estagiários. E a revisão dos textos por copydesks.

Perguntei, portanto, ao chefe de Redacção António Granado qual era a política do jornal em matéria de estágios.
O PÚBLICO recebe como estagiários alunos do último ano das principais licenciaturas de Comunicação e Jornalismo do país e também formandos do curso geral do Cenjor.
Estes estágios resultam de protocolos assinados entre o jornal e as instituições de onde provêm os alunos ao longo dos últimos 15 anos.
A selecção dos estagiários é feita pelas instituições, à excepção dos estagiários da fotografia, que são escolhidos após análise de portfolio feita pelo editor da secção.
Durante o tempo que passam no jornal, os estagiários trabalham sob a supervisão de um editor e produzem textos de tamanho e responsabilidade variável, assinando-os com o seu nome.
Os estagiários da fotografia assinam também os seus próprios trabalhos. Como se trata de um estágio curricular, os alunos recebem, durante o período que estão no jornal, um subsídio de alimentação e de transporte.
No PÚBLICO, os estágios curriculares duram três meses e nunca são prolongados. No final, os estagiários produzem normalmente um relatório de estágio que é avaliado pela instituição de onde provêm. Algumas licenciaturas solicitam ao editor responsável pelo estágio uma avaliação do trabalho do seu aluno, o que é feito através de um formulário enviado pelas instituições, onde constam diferentes parâmetros.
A experiência do PÚBLICO com os estagiários que recebe das instituições com quem tem protocolos tem sido bastante positiva. A grande maioria mostra dominar as técnicas básicas de escrita, conhecer os preceitos deontológicos que norteiam a profissão e ter vontade de abraçar a profissão.
Como é evidente, o PÚBLICO não integra nos seus quadros a grande maioria dos alunos que aqui fazem estágio curricular. De qualquer forma, são muitos os nossos actuais jornalistas que aqui começaram por fazer um estágio curricular”, e
xplicou ao provedor o responsável dos estágios.

O provedor constata que inúmeros estágios de jornalismo, por esse país fora, se resumem à exploração dos jovens. É uma vergonha. Há estagiários a trabalhar sem qualquer enquadramento e, por vezes, sem auferir um tostão.
Não é agora o caso do PÚBLICO, mas é o que sucede ainda hoje em muitas empresas portuguesas (incluindo algumas de dimensão nacional), salvo raras e honrosas excepções.
As empresas podem aproveitar o trabalho dos jornalistas estagiários (detentores de carteira profissional), mas têm a obrigação de os pagar.

É uma questão de justiça e de credibilidade.

domingo, março 19, 2006 

(IN)CONFIDÊNCIAS E LAPSOS

Primeiro, um esclarecimento que considero necessário.

Muito boa a ideia deste Domingo, fazendo interagir os leitores!
Espero que o feedback não cause muito ruído nos interesses instalados...
Espero que persista na útil e interessante direcção por que optou!,
escreve Armando Assunção.

A crónica não passou despercebida, motivou uma sugestão…

Depois de ler o artigo da passada semana (sobre a profícua e peculiar correspondência dos leitores) pergunto-me: será que as pessoas sabem qual a função de um provedor do leitor?
E se aceita a minha modesta sugestão, num próximo artigo poderia deixar um pouco mais claro qual a função do provedor, e também a importância do mesmo. Seria especialmente útil para quem se debruça sobre os temas da comunicação…,
propõe João Simão.

A "modesta" proposta é pertinente.
Os leitores continuam a enviar-me denúncias relacionadas com instituições ou empresas, ou simples (sic) desabafos do foro íntimo.
É a constatação de que muitos cidadãos ignoram a que porta bater, mas as mensagens devem ser dirigidas ao director do PÚBLICO.
É isso que acontece nos outros países. Na tradição da grande imprensa europeia, os cidadãos dirigem as suas queixas e reflexões sobre as instituições e a administração pública aos directores dos jornais.

A MISSÃO DO PROVEDOR

1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.

LAPSOS

Lamento que a direcção do PÚBLICO tenha optado por chamar para primeira página (no passado domingo) o Schumacher algures na Europa e na Fórmula 1, em vez de destacar a medalha de bronze nos campeonatos do mundo de uma portuguesa, a Naide Gomes.
Pergunto-me porquê.
Estará o projecto PÚBLICO tão fechado sobre si próprio, no seu mundozinho, esquecendo-se de abrir, de arejar e de informar sobre o que é essencial?
Achará o projecto PÚBLICO que os Campeonatos do Mundo não passam de uns campeonatos de província e a medalha de bronze uma cena qualquer, sem interesse?
Ou sofrerá o PÚBLICO do mesmo mal que sofre o país, que é valorizar o que ‘corre mal cá dentro’, desvalorizando sistematicamente o que corre bem e o que nos faz bem?
Ou sofrerá o PÚBLICO de um qualquer mal português, esse mais recente, de que desporto é futebol (ponto final)?
Não acredito muito, mas... todas as hipóteses são possíveis... Será puro esquecimento? Grave para um projecto jornalístico.
Seria interessante, como leitora, perceber o que estará na base disto...
Até porque a coisa chega a roçar ‘a ofensa’ e o desprezo por anos de trabalho árduo para representar Portugal e ajudar a acabar com o ‘choradinho’ irritante de que Portugal nunca ganha medalhas.
O que torna a cena verdadeiramente insólita é a opção pelo Schumacher na primeira página... a propósito de quê?
, escreve a leitora Delta Sousa e Silva.

Solicitei um esclarecimento a José Manuel Fernandes, o director do jornal.

A leitora tem razão e a omissão da chamada de capa à medalha da Naide Gomes resultou de um lapso.
"A meio da tarde chegou a ser considerada a hipótese de colocar mesmo uma fotografia na capa do jornal com a atleta portuguesa, mas depois fez-se a opção de publicar uma imagem da cerimónia com que o PS assinalou um ano de Governo. Com esta troca, acabou por ficar esquecida a chamada para o feito da atleta portuguesa.
De uma forma geral, o PÚBLICO procura dar destaque a todas as modalidades desportivas e não só ao futebol. Temos a escrever sobre atletismo em concreto aquele que considero ser o melhor especialista português, Luís Lopes.
Ao contrário dos jornais desportivos, não ‘vivemos’ só de futebol e realizamos não só uma cobertura regular de modalidades mais populares e mais elitistas, como em períodos como os dos Jogos Olímpicos, damos por regra mais informação em mais páginas ao que aí se passa do que a imprensa desportiva.
Naquele dia a solução correcta devia ter sido a de incluir duas chamadas – a da Naide e da Fórmula 1 –, tal como, de resto, sucede na falsa capa interior que abre a área dedicada ao desporto nas edições de domingo e segunda-feira, aquelas em que, por regra, dedicamos mais espaço à informação desportiva”, respondeu o director.

A explicação é aceitável.
A proeza de Naide Gomes foi apesar de tudo noticiada com destaque no interior do jornal.

É importante sublinhar que não se pode, em nome do conceito de proximidade, realçar acontecimentos nacionais de somenos importância absoluta em detrimento de outros que são relevantes e mesmo determinantes para os portugueses no plano mundial.

Não tenho propriamente razões de queixa do PÚBLICO, mas angustia-me ver que não seja corrigida uma informação errada, que tem reflexos na disciplina que ensino: História.
Li, com muito interesse, o artigo ‘Homenagem tardia a uma mulher desassombrada’ (publicado no dia 26 de Fevereiro). Arajaryr Campos é a grande esquecida do ‘Caso Humberto Delgado’, um crime que ainda hoje é uma das acusações mais prementes ao regime salazarista.
O que, enquanto estudioso desse indesculpável crime e professor de História, me indignou foi a repetição de um erro que começa já a tornar-se insuportável: o de que o General e Arajaryr foram mortos em Los Malos Pasos, próximo de Villanueva del Fresno. Este erro (pasme-se!) já chegou até a alguns livros de História!
Basta consultar um livro sério de História, ou os livros sobre o tema Delgado que têm saído, desde os relatos do julgamento dos assassinos até a livros da filha, Iva Delgado, passando pelos livros de Jiménez Redondo, espanhol, que consultou os arquivos judiciais espanhóis, para se saber, com provas documentais, que o General foi morto junto à Ribeira de Olivença, em Los Almerines, bem como a sua secretária (Arajaryr, naturalmente). Ao que parece, com talvez alguma ingenuidade, os seus assassinos, que se faziam passar por opositores a Salazar, convenceram Delgado, que era membro do Grupo dos Amigos de Olivença, que o início do derrube do Estado Novo poderia começar em Olivença, o que mais seduziu e convenceu Delgado de que eles representavam importantes sectores oposicionistas.
Depois de abaterem o General e a brasileira, os carrascos levaram os corpos, durante a noite, para Los Malos Pasos, e aí, sim, os enterraram, após os desfigurarem com ácido.
Penso que será importante repor a verdade dos factos, pois os erros, à força de se repetirem, como tem sido o caso, acabam por parecer-se com verdades
, pede Carlos Eduardo da Cruz Luna, professor de Estremoz.

O leitor tem razão.
São José Almeida escreve que Humberto Delgado e a secretária foram assassinados “no lugar de Los Malos Pasos, perto da aldeia espanhola raiana de Vilanueva del Fresno”.
Segundo o livro “Uma Brasileira contra Salazar”(Livros Horizonte, pp. 102,103,104) os homicídios ocorreram “num local conhecido por Los Almerines”.

A Fundação Humberto Delgado (contactada pelo provedor) confirma esta informação.

É certamente um lapso da jornalista. A explicação poderá residir no facto de os corpos terem sido "levados para um local não muito longe, num carreiro chamado Los Malos Pasos, caminho de pastores e contrabandistas, perto da aldeia raiana de Villanueva del Fresno".

O PÚBLICO erra, mas reconhece os erros.

domingo, março 12, 2006 

DEZ SEMANAS E UM DIA

Hoje, revelo uma parte da profícua e peculiar correspondência dos leitores.
Desde que assumi o cargo de provedor do PÚBLICO recebi duas cartas anónimas e 394 mensagens electrónicas com críticas, sugestões e, por vezes, alguns pedidos curiosos ou dramáticos.
É um balanço sumário, mas que retrata de alguma forma o país que somos.

AS AFLIÇÕES

"Está em tribunal, no caso em Odemira, o processo de averiguação para se saber se a minha mãe tem direito a pensão pela morte de meu pai.
Meus pais não eram casados embora tivessem vivido maritalmente quase 60 anos. Um 'casamento' mais sólido de que muitos casamentos. Qualquer vizinho, do mais novo ao mais idoso, pode atestar esta veracidade.

A pensão de meu pai era de, creio eu, 250 euros. O que me aconselha o senhor provedor?", quer saber Maria da Graça Gama.

Transmiti a correspondência à secção Sociedade do PÚBLICO.

As solicitações sucederam-se ao longo destes 71 dias.

"Veio uma senhora solícita explicar-me que a razão de a minha Internet não funcionar se devia ao modem e que o mesmo iria ser substituído.
Fiquei à espera mais duas semanas e, depois de mais reclamações, enviaram-me uma mensagem em que me diziam que tinha de esperar pois não havia modems em stock para substituir. Ora, como pago por transferência bancária, cancelei de imediato o último pagamento, mas pergunto: e tudo aquilo que paguei sem beneficiar do serviço, foram pelo menos três meses, como vai ser?

Sou reformado com uma pensão de 345 euros, tenho 69 anos e seria a primeira vez na vida que me aconteceu pagar para nada", diz José Neves, reformado, 69 anos.

Comuniquei a situação do leitor/consumidor à respectiva empresa.

"Gostaria que me aconselhasse relativamente ao meu futuro profissional.
Estou um pouco preocupado com a actual situação do jornalismo português e receio que a minha chegada a Portugal signifique estar algum tempo parado. Além disso gostaria de saber qual é a melhor forma de passar por outra redacção internacional, de preferência europeia
"
, pergunta Vitorino Coragem, um leitor do PÚBLICO que reside no Brasil.

Outra mensagem enviada ao provedor por… e-mail.

"Recebi, há poucos dias, uma carta 'prioritaire' (leia-se 'em correio azul'), remetida de França. O preço do selo era de espantar: 0,55€.
Dois dias depois, enviei a resposta à referida carta, adoptando o mesmo género de opção: correio azul, remetido ao expedidor, pelo qual paguei 1,75€.
Mesmo serviço mesma distância…
Preço proporcional aos nossos mais elevados salários certamente! Ainda para cúmulo, o documento que enviei, uma certidão de nascimento, pela qual eu pagara, na conservatória, 15€, ter-me-ia sido entregue gratuitamente na França, segundo me informara o consulado.
Não me resta senão perguntar: será lógico ganharmos menos e pagarmos mais pelo mesmo serviço? Isso só se justificaria se os intervenientes portugueses no processo fossem melhor remunerados que os franceses…

Mas então a diferença? Será a tinta do carimbo?",
interroga Adriano Silva (Sever do Vouga), que conclui: "A bem da nação"… para mal dos nossos pecados.

AS PROPOSTAS

"Venho, por este meio, sugerir ao jornal PÚBLICO a continuidade da colecção Mil Folhas.
Após dois anos a ler todos os livros da colecção, sinto já algum vazio depois de semanas a ir comprar o jornal e não ter um livro para trazer.
Devo dizer que a colecção Mil Folhas foi muito importante para mim.

Primeiro porque me deu um leque muito variado de escritores e de estilos de escrita e, segundo, porque o seu baixo preço permitiu-me comprar um livro todas as semanas.
A colecção foi para mim não só um guia, mas um caminho de aprendizagem e prazer.
Perdoem-me estas patéticas intimidades
",
confessa o leitor Ricardo Barros.

A colecção Mil Folhas (cem livros e mais de cinco milhões de exemplares vendidos) foi um sucesso.
Solicitei um esclarecimento à responsável do departamento de Marketing Extensão de Marca do jornal.
"A colecção Mil Folhas acabou, mas o PÚBLICO continua a lançar outros produtos não só na área da literatura como também da arte, música, banda desenhada, cinema, etc. A nível da literatura, por exemplo, lançámos a Colecção Romances Históricos (12 obras de qualidade que podiam ter feito parte da Colecção Mil Folhas), e que recomendamos aos nossos leitores", respondeu Sílvia
Cereja.

"O que se segue são meras sugestões estéticas ou estilísticas:
1. Os títulos das secções usam um tipo de letra ou 'fonte' muito negro e pesado; na minha opinião, não combina com o estilo mais elegante e esguio usado no resto do jornal.
2. Por vezes são feitas citações de textos longos. Apesar de essa porção de texto vir em itálico, seria mais agradável repetir a abertura de aspas no início de cada parágrafo. Ajudaria a lembrar o leitor que ainda está a ler a citação
",
propõe João Ferreira.

O provedor comunicou a observação do leitor a Sónia Matos, directora de arte do PÚBLICO.

"Tomo a liberdade de lhe vir apresentar duas sugestões que, segundo o meu ponto de vista, são de interesse público, pese embora o facto de anteriormente ter apresentado algumas sem que tenha obtido resposta e/ou acolhimento.
Uma refere-se à qualificação como deputado, que o PÚBLICO e outros jornais dão àqueles que a Constituição e a Lei designam como “membros” da Assembleia Municipal.

Na minha opinião, estarão a incorrer em erro.
Outra, esta de muito maior importância e interesse público, prende-se com a proposta de Lei 49 X para alteração da Lei do Acesso aos Documentos Administrativos (LADA).
Parece-me que esta proposta não foi objecto de notícia do PÚBLICO, nem de qualquer análise.
Termino com o pedido de desculpas por esta chatice e com votos de boa e útil investigação
",
conclui António Chaveiro.

O leitor tem parcialmente razão. “O Direito de Acesso aos arquivos e registos administrativos, consagrado no artigo 268.º n.º 2 da Constituição, com o consequente princípio da Administração Aberta, está regulado na Lei de acesso aos documentos administrativos (LADA)” é, obviamente, uma questão importante.
O PÚBLICO noticiou a apresentação do projecto de lei, a constituição da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos — CADA, etc.) e dará aos seus leitores conta dos desenvolvimentos — quando os houver.

AS CRÍTICAS

"Antes de mais, quero apresentar-lhe os meus melhores cumprimentos, manifestando-lhe, ao mesmo tempo, a minha admiração pela forma como atende as questões que os leitores atentos lhe têm colocado.
Se bem escrever obriga, necessariamente, a uma correcta pontuação, nem sempre este jornal, bem como, aliás, toda a concorrência, assim o tem praticado. Atente-se na manchete do PÚBLICO, do passado domingo, 19 de Fevereiro:
O que quererá
dizer:
'... considera em entrevista que Fátima...'?
Não faz qualquer sentido, como o constatará qualquer leigo em matéria de Língua Portuguesa!...
Bem escrito
seria:
'... considera, em entrevista, que Fátima...'", escreve José Rito.

É uma questão de vírgulas, mas o leitor tem razão.

"Este é um excerto do artigo publicado no PÚBLICO de 28 de Fevereiro de 2006 com o título 'Autópsia não determinou causa da morte de transexual': 'Que poderá ir até a um máximo de três anos de reclusão em regime fechado, mas apenas se o crime subjacente prever uma pena superior a oito anos de cadeia (o que apenas se verifica se a autópsia determinar que a intervenção dos jovens foi causa directa da morte da vítima).'
Creio que há alguns erros de português que necessitam de correcção.
Um deles e o seguinte: 'prever' conjuga-se como 'ver' (Dicionário dos Verbos Portugueses da Porto Editora), devendo o seu futuro do conjuntivo escrever-se 'previr' e não 'prever', como está escrito no artigo",
explica Joaquim Manuel Matos.

É uma questão de conjugação, mas o leitor tem razão.

"A edição onde pode encontrar a palavra 'pervenção' em letras garrafais é a de 22 de Fevereiro, caderno Local, pág. 59.
Por hoje, segue apenas mais um reparo a um erro que começa a vulgarizar-se.
Escreve o director do PÚBLICO, no seu editorial de 22/2: '
Ainda para mais um inútil [David Irving] sem qualquer credibilidade que entretanto até já se havia retratado [sic] dos disparates proferidos ainda o Muro de Berlim estava de pé
.'
Ora, está bom de ver que ninguém se '
retrata
' de disparates...
Se se retractarem, vá que não vá
", diz
Fernando Gonçalves, da Praia da Tocha.

É uma questão de gralhas e de erros, mas o leitor tem razão.
Confrontado com os pertinentes reparos, só posso concluir que as gralhas e os erros não poupam nada nem ninguém, nem as “letras garrafais” nem os directores.

POST-SCRIPTUM

"Tenho gostado da sua inflexibilidade perante os jornalistas e o director. Pergunto: O seu emprego de provedor vai durar muito tempo?", escreve Rui G. Moura.

O receio implícito do leitor é injustificado.
“O provedor é nomeado pelo prazo de um ano, renovável por idêntico período, pela Direcção do jornal após parecer favorável do Conselho de Redacção” e o mandato “só cessa antes do período estatuído:
a) por impossibilidade prolongada (superior a 45 dias) do exercício de funções;
b) por vontade expressa do próprio”, estipula o Livro de Estilo.

O meu “emprego de provedor vai durar muito tempo” ou, pelo menos, mais nove meses.

Mas, independentemente dos preceitos legais mencionados, deixo aqui claro que acredito que ao instituir o cargo de provedor, o PÚBLICO — director, coordenadores, editores, jornalistas e Conselho de Redacção — o fez por convicção, e não para salvaguardar as aparências.
O PÚBLICO não parece só ser um jornal independente. É-o de facto. ■

domingo, março 05, 2006 

EM NOME DO PÚBLICO

É a quarta vez que escrevo sobre publicidade. Poderá parecer excessivo, mas não é uma obsessão intelectual ou impulsiva, antes pelo contrário.
A relação entre o jornalismo e a publicidade é talvez a questão mais importante que se coloca aos órgãos de informação contemporâneos.
É certo que a publicidade é essencial para a sobrevivência de qualquer jornal, mas não é menos certo que se o leitor não conseguir dissociar o jornalismo da propaganda comercial é a prática da informação que fica condenada a desaparecer.

Alguns leitores indignados com a publicidade inserida na reportagem sobre Zeca Afonso (publicada no passado Domingo) publicaram comentários em vários blogues ou escreveram ao
provedor.

Esta semana não comprei o PÚBLICO, não li a revista com o café e o pastelinho de nata da ordem, nem da desordem, estava com gripe, não das aves, das dores, no corpo, da febre, e na alma, da saudade, mas agora já sei que posso combater as ditas com ‘um analgésico em pó que o organismo absorve a uma velocidade 4 superior’, a quê? À entrega dos Óscares para publicidade insidiosa e peganhenta, inserida no seio da intertextualidade por um punhado de euro/dólares, como se de um mau ‘remake’ de ‘Inserts’ se tratasse?
Valeu o alerta lançado por uma parceira de vistas, comprei o jornal atrasado, desfolhei a revista e li, vi, o que era impossível não ler, ver, como um terrível filme de terror parasita incrustado na nossa literacia multimediática, multicultural, multifacetada, mas cada vez mais cega de tão pobre de espírito e de tão virada para o olho que cada um se convence ter em terra de cegos (a Pub se encarrega disso mesmo), enquanto o público compra e o PÚBLICO vende.
Contra tal estado de fitas, fica o alerta de Isabel Duarte. E Viva o Zeca, porque na terra dele, quem trepa no coqueiro é o rei.
E o que dirá o Provedor, testado jornalista, disto tudo?
Não se devem perder os próximos episódios
”, escreve Vítor Reia-Baptista (Universidade do Algarve) no blogue “O charme discreto da bloguesia”.

O provedor recebeu, por outro lado, mensagens repletas de críticas.

ABJECTO. Não me enganei. Não queria escrever ‘Objecto’, ainda que isso de pouco me sirva. Na verdade, objectos é o que somos, nas mãos oficialmente impolutas de quem nos fornece ‘informação’.
No domingo passado, dia 26 de Fevereiro, li na PÚBLICA ‘A História do Homem que 'Combateu as Dores’, escrita a corpo destacado, inserida num filete e encimada pelas letras ‘Pub’.
A tal história fora colocada a meio da página 35 da revista. Nessa página finalizava o jornalista Paulo Moura, a história de um concerto de José Afonso. O artigo começara na página 27. Era impossível, portanto, não ler o ‘coração’ daquela página, ímpar, ‘nobre’ em linguagem jornalística, publicitando um medicamento que, entre outras dores, combaterá as ‘dores musculares”. Até porque a tal ‘História do Homem que Combateu as Dores’ começava com o lugar comum ‘É um homem de causas...’.
Impossível não ler. Impossível não ler, porque o José Afonso morrera precisamente num final de Fevereiro, carregado de dor, física, mas, sobretudo, moral, porque sabia ser a sua morte premonitória: ela encerrava a visão baconiana da refocilagem no cadáver de ‘um homem de causas’.
Por isso, com as cores já ténues do mandato moral conferido pelo cantor à minha geração, peço-vos respeito - ou melhor, que o esqueçam definitivamente - porque ele não tinha nada a ver convosco, os que isto fazem, e morreu a tempo de não ver o que nos apresentam no prato, enquanto assobiam para o lado, marcando o ritmo desta procissão, onde asseguraram há muito a nossa presença, anestesiada e abúlica.
Abjecto, pois sirva
”, refere a leitora Isabel Duarte na mensagem electrónica que enviou ao provedor.

Os protestos relacionados com a referida publicidade sucedem-se. E complementam-se.

O PÚBLICO tem sido o meu jornal diário desde o seu lançamento. De vez em quando, e ultimamente com mais frequência, tem tido alguns comportamentos que me desgostam. É o caso de hoje (26 de Fevereiro de 2006) em que, ao ler um artigo da revista PÚBLICA sobre o último concerto do Zeca Afonso antes do ‘25 de Abril’ (da autoria de Paulo Moura) deparei na página 35 com um anúncio (PUB), bem no meio do texto do artigo, em que se fala de ‘A história do homem que combateu as dores’, que seria ‘um homem de causas’...
Fiquei estupefacto...
Será que vale tudo?
Será que o próprio Paulo Moura não fica incomodado com esta situação?
Será que estando o articulista a falar de José Afonso, verdadeiramente um ‘HOMEM de
Causas’ e que sofreu tantas dores, é pura coincidência o Anúncio de um analgésico (!!!) também ter por protagonista um ‘homem de causas’ e que tinha muitas dores?
Será que não há um mínimo de respeito nem pelo alvo do artigo (Zeca Afonso), nem pelo articulista (Paulo Moura) nem pelos leitores do PÚBLICO?

Para um jornal como o PÚBLICO, é uma vergonha e um erro indesculpável”, escreve o leitor José Barros Dias.

Mas há mais…

Gosto muito da vossa revista , e até acho que é uma das melhores mesmo comparando com as publicações com preço de capa, mas aquela publicidade no meio do artigo do Zeca Afonso é claramente um atentado ao bom gosto, se não mesmo às regras deontológicas, revelando uma promiscuidade entre jornalismo e marketing gritante e de todo evitável. Bem sei que está delimitada num quadrado e que lá está escrito ‘Pub’, mas num jornal que se diz e que se quer de referência, aquele título ‘A história do homem que combateu as dores’ a meio de um artigo sobre um homem que de facto combateu tanto as suas dores como as dores de um país é abusivo, e revela falta de bom senso.
O senhor provedor ainda este Domingo se referiu ao já famoso título do BES, e agora?
Se aqui se aplica também aquele título de um artigo do J. M. Fernandes relativamente à OPA da Sonae sobre a PT que era um ‘Viva o mercado’, e que por mais uns trocos vale tudo, eu
respondo na mesma moeda e ou com muita pena mudo de jornal, o que será difícil porque o PÚBLICO ainda continua a ser talvez o único de referência e a dedicar umas páginas à política que eu tanto gosto, ou pura e simplesmente deixo de comprar o jornal, e aqui já não é um ‘Viva o mercado’ porque quando não há alternativas..., mas pronto, vocês é que sabem o que andam a fazer e o caminho que querem tomar, só fico é triste porque ler o PÚBLICO é um dos meus maiores prazeres”,
acrescenta o leitor Marco Daniel Nicola.

Ao pedido de esclarecimento do provedor, Dulce Neto, a editora da revista PÚBLICA, respondeu: “Tratou-se de um lamentável incidente, de um descuido grosseiro da minha parte ao não reparar no devido tempo (o tempo de ser possível corrigir a minha, e apenas minha, decisão de publicação do anúncio naquele espaço) no conteúdo da publicidade em causa.
Resta-me dizer-lhe ainda que a minha decisão se baseou em argumentos puramente gráficos: tratava-se do tema com menos recursos fotográficos e, desconhecendo eu, por negligência, o teor do anúncio, o que melhor suportava a inclusão desta publicidade.
Concordo que se tratou de uma má opção, configurando assim um gesto de indiscutível mau gosto, pelo qual peço hoje publicamente, nas páginas da PÚBLICA, desculpas
”.

De facto, o anúncio contraria não só o Código da Publicidade (parece uma notícia) como o próprio Livro de Estilo do PÚBLICO. Para além de evidenciar um mau gosto inquestionável.

O provedor pediu, entretanto, a José Manuel Fernandes, o director do jornal, para se pronunciar sobre o polémico anúncio.

A publicação de anúncios, devidamente assinalados como tal, no meio de páginas editoriais ocorre há muito, no PÚBLICO e na generalidade de imprensa, em Portugal como em muitos outros países.
Aquele anúncio vinha com a indicação, bem visível, de que se tratava de publicidade. A sua inserção no meio de um texto sobre Zeca Afonso resultou precisamente de o anunciante não escolher onde sai o anúncio e de a publicidade não conhecer o conteúdo editorial das páginas, e vice-versa. Não foi por isso detectado a tempo que o teor do anúncio podia parecer uma
brincadeira de mau gosto.
Mesmo assim, a forma como o anúncio estava elaborado (imitando o formato de uma notícia do
jornal) era incorrecta e o anunciante foi instado a modificá-la, o que já fez, devendo sair hoje mesmo na PÚBLICA um anúncio com o mesmo teor, mas um formato que, mesmo avisando tratar-se de publicidade, podia induzir em erro os leitores menos atentos
”, comunicou o director.

As explicações dos dois responsáveis do jornal são perfeitamente aceitáveis. O PÚBLICO errou, reconheceu e corrigiu o erro. ■

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