domingo, novembro 26, 2006 

A FRASE A MAIS (EPÍLOGO)

As jornalistas Joana Gorjão Henriques e Bárbara Reis enviaram um Protesto ao provedor dois dias depois da publicação da primeira crónica.

“Foi com espanto que lemos o seu texto de domingo no PÚBLICO no qual omite o essencial da nossa posição/defesa, enviesando por isso os factos e não contribuindo para o esclarecimento dos leitores.
Independentemente da sua opinião, não deveria o provedor ter dividido o texto de Miguel Sousa Tavares, tal como fez com as nossas respostas? Ou seja, sendo a sua opção a reprodução integral das posições de ambos, não seria mais justo publicar as acusações e respectivas respostas das acusadas dando assim espaço ao “direito ao contraditório”? E sobretudo porque nos fez 9 perguntas?
Como pode Rui Araújo reproduzir – como fez no domingo – todas as acusações de MST e apenas uma parte das respostas das jornalistas? O provedor fez 9 perguntas às jornalistas, e só transcreveu 4 respostas.
Na sua análise deixa que a jornalista Joana Gorjão Henriques seja acusada de não cumprimento de um acordo (logo, de ser desonesta), omitindo o contraditório. A questão número 9 que o provedor nos enviou foi: “Joana Gorjão Henriques confirma os contactos com MST descritos pelo escritor? E o teor dos mesmos?” E a resposta foi “Não", seguida de uma detalhada descrição dos factos.
O título da análise do provedor, “A Frase a mais (Parte I)”, revela que o provedor adoptou como sua a posição de MST. A frase, é óbvio pela presente discussão, pode ser interpretada de forma ambígua. Convidamos os leitores a relê-la no seu contexto.
Queremos no entanto sublinhar que a leitura que está a ser feita desta frase assenta num equívoco: a frase em questão é sobre o que o blogue mostra dos livros, não é sobre os livros. A tese do blogue é que “há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. E é contra essa mesma tese que MST se insurgiu, ao ponto de processar os bloguistas.
E aqui chegamos ao ponto de discórdia: para escrever esta notícia sobre alguém que vai processar outra pessoa, não é necessário ler os dois livros.
Este é, de certa forma, um simples caso de tribunal.
Não foi Dan Brown a tribunal por uma acusação semelhante? Não foi isso notícia em toda a imprensa do mundo? Não foi isso primeira página do “Herald Tribune” e de muitos outros jornais? Porque é que o facto de MST confirmar ao PÚBLICO que vai processar os bloguistas não é notícia? Não nos lembramos de ter lido na imprensa mundial opiniões de jornalistas sobre se havia ou não plágio no “caso Dan Brown”. Houve uma queixa, noticiada, houve a defesa de Dan Brown e o julgamento, tudo noticiado. E houve a absolvição de Dan Brown, noticiada.
O provedor pergunta: “Como explicam terem avançado com a notícia sem terem lido o livro quando consideravam importante consultá-lo?”
Será assim tão difícil compreender que quando MST disse num jornal e depois confirmou ao PÚBLICO que ia processar os bloguistas, ter o livro passou a ser irrelevante?
A partir desse momento, a notícia é que MST, autor que vendeu 270 mil exemplares, vai processar os bloguistas. Se MST tivesse respondido, quando o PÚBLICO lhe telefonou, que não tinha comentários a fazer e que não ia processar ninguém, o PÚBLICO não teria publicado nenhuma notícia sobre o assunto. Não havia notícia.
Mas não foi isso que aconteceu. MST confirmou que ia processar os bloguistas. Uma interessante história de tribunal, que envolve um autor de best-sellers, portanto. Aliás, com claras semelhanças ao caso “Margarida Rebelo Pinto VS João Pedro George”. Como se lembrará, foi num blogue que apareceu a primeiríssima indicação de que MRP tinha apresentado uma providência cautelar para travar a edição do livro de JPG que a acusava de se auto-plagiar; foram contactadas ambas as partes, noticiada a acção judicial de MRP, e mais tarde acompanhado o julgamento.
Porque é que MST é diferente? Porque os bloguistas são anónimos? Sim, são anónimos, mas isso não impediu MST de apresentar uma queixa-crime. Porque não tínhamos os livros para comparar? Sim, não tínhamos, como também ninguém terá lido os 8 livros envolvidos no caso de Margarida Rebelo Pinto para escrever a notícia da acção judicial da escritora.
A queixa é a “causa” da notícia, sim. A prova é que não escrevemos nenhuma notícia antes de MST dizer que ia apresentar queixa.
O “cerne de toda esta questão” (palavras do provedor) – se houve ou não plágio – será julgado em tribunal. Mas o cerne da notícia do PÚBLICO, não sendo nós juízes, é que MST processou os bloguistas.
Mesmo que tivéssemos os dois livros na mão e mesmo que acreditássemos que havia ou não havia plágio, não nos caberia a nós, jornalistas, "defender" ou "acusar" o visado. Repetimos: isso é tarefa dos tribunais, não dos jornalistas, porque o assunto em si – a queixa-crime – é matéria judicial.
Por último, lemos na sua análise que é “amigo há décadas” de MST. Sendo MST quem escreve a acusar-nos de gravíssimos erros, pode um provedor “amigo há décadas” ser juiz neste caso? Acreditamos que não; acreditamos que há, neste caso, um claro conflito de interesses”.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR
Era impossível publicar os dois textos numa só crónica por questões de espaço. A mensagem de MST tem 4.272 caracteres e as respostas das jornalistas 8.198 (ou, mais exactamente, 13.097 com o Protesto).
Dividir os textos era uma hipótese. MST também pode discordar da opção do provedor e invocar as razões das jornalistas porque as crónicas seguintes contemplaram apenas as posições do PÚBLICO. Mas esta questão, mais de forma do que de fundo, é irrelevante.

As jornalistas consideram que o título “A FRASE A MAIS” revela que adoptei a posição de MST”.
Adopto sempre uma posição na medida em que concordo ou discordo de uma das teses em discussão.

As jornalistas reconhecem que a frase (“Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais“) “pode ser interpretada de forma ambígua”.
Na propaganda e na poesia há espaço para a ambiguidade, no jornalismo não.

As jornalistas escrevem “que a leitura que está a ser feita desta frase assenta num equívoco: a frase em questão é sobre o que o blogue mostra dos livros, não é sobre os livros”. É o reconhecimento implícito que consideraram o blogue anónimo credível. Procuraram os livros, mas não os encontraram. A Biblioteca Nacional tem as duas versões do livro, embora as jornalistas não o soubessem.
Não tendo comparado os livros não podem justificar a afirmação. O mínimo exigível seria colocar a frase entre aspas e citar a sua autoria.
As jornalistas limitaram-se a entrevistar MST.
“Mas ir investigar não é ir ter ao directamente visado e confrontá-lo: "Olhe, recebemos uma carta a dizer que o senhor roubou uns dinheiros na sua empresa... É verdade?" Ou então: "Há quem o acuse de ter comprado um apartamento para uma senhora que não é a sua mulher... Que tem a dizer?" Ou ainda: "Há quem diga que o seu livro copia partes de um outro livro e, portanto, o senhor está plagiar... Quer comentar?" Isto não é, propriamente, investigação jornalística - não é investigação, ponto final”, escreveu o ex-provedor Joaquim Fidalgo (PÚBLICO - 1/11/2006). Eu diria, simplesmente, que não é jornalismo.

As jornalistas entram em contradições quando afirmam que “para escrever esta notícia sobre alguém que vai processar outra pessoa, não é necessário ler os dois livros”.
Acompanhando a repetição das jornalistas no seu Protesto, também eu repito:
1- Porque razão procuraram o livro “Esta Noite a Liberdade” se não era necessário ler os livros?
2- Porque razão reproduziram as acusações de plágio cuja única origem é um blogue anónimo?
3- Até que ponto o plágio não é a causa e a queixa a consequência?

Quanto a Dan Brown a questão não é ser ou não ser notícia. Os dois casos não podem ser comparados. Brown não foi acusado num blogue anónimo. Foi acusado em tribunal. As jornalistas consideraram credíveis acusações anónimas, não as investigaram e, roçando a demissão profissional, noticiaram-nas como se de factos se tratasse.
Quanto ao “conflito de interesses” que resultaria da minha amizade com MST quero afirmar apenas uma linha essencial da minha conduta: a amizade implica exigência, honestidade e frontalidade. Tivesse MST plagiado eu seria o primeiro a criticá-lo. Princípios, são princípios.

domingo, novembro 19, 2006 

A FRASE A MAIS (PARTE II)

O leitor Miguel Sousa Tavares escreveu ao provedor por causa de um artigo publicado na edição de 25 de Outubro passado.
O provedor solicitou esclarecimentos às jornalistas Joana Gorjão Henriques e Bárbara Reis.
Eis a continuação da análise do caso.

PROVEDOR: As jornalistas que assinam o texto sobre MST não correm risco de estar a ‘amplificar e difundir uma calúnia’?
RESPOSTA DAS JORNALISTAS: Não. Isso poderia acontecer se tivéssemos publicado uma notícia apenas sobre a acusação no blogue.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: O problema é justamente o “apenas”. A acusação do blogue merecia no mínimo ser confirmada (designadamente através da comparação entre os dois textos). E as jornalistas não recortaram a “informação”. Aceitaram como verídicas as acusações anónimas. É uma atitude que o provedor define como pouco rigorosa e nada isenta.

PROVEDOR: Como justificam as jornalistas do PÚBLICO a afirmação: ‘Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais’?
RESPOSTA: Retirada do contexto como o fez MST na sua crónica no ‘Expresso’, esta frase pode ser usada para o que se quiser. Acontece que ela aparece no contexto da descrição do blogue, não se referindo aos livros, mas ao conteúdo do blogue.
Essa frase é a última de um parágrafo de 12 linhas que descrevem, sucintamente, o conteúdo do blogue. O parágrafo é o seguinte: O blogue, que diz ser não de um único autor mas de vários, abre com a frase: “Nem todos estamos na disposição para ser enganados. Quando compramos um livro, devemos exigir que ele seja autêntico.” E a seguir, faz oito transcrições de excertos de Equador seguidas de oito traduções de ‘Freedom at Midnight’, todos com indicação de páginas mas com muitos parêntesis que indicam que alguma coisa foi cortada, não se sabendo se muitas ou poucas palavras. Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais.
Ou seja, o PÚBLICO descreve o blogue e destaca dois factos:
A. A tese do blogue é a de plágio e, para defender essa tese, há no blogue “ideias parecidas e frases praticamente iguais”,
B. E há também “muitos parêntesis que indicam que alguma coisa foi cortada” pelos autores do blogue, escrevemos nós. Para sublinhar a importância do que estes parêntesis podem ter, acrescentamos ainda que não se sabe se os cortes foram de muitas ou de poucas palavras. “(...) todos com indicação de páginas mas com muitos parêntesis que indicam que alguma coisa foi cortada, não se sabendo se muitas ou poucas palavras.”

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: As palavras são sempre passíveis de múltiplas interpretações, mas no jornalismo os factos continuam a ser sagrados. Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques defendem que a frase “aparece no contexto da descrição do blogue, não se referindo aos livros, mas ao conteúdo do blogue”. Teriam publicitado, portanto, a tese caluniosa do blogue sem confirmar a veracidade das acusações. Seria grave do ponto de vista ético, mas a realidade é mais preocupante porquanto a frase (Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais) não é apresentada como uma citação — não está colocada entre aspas e nem sequer é referido de que se trata de uma afirmação produzida pelo(s) autor(es) do blogue. Antes transparece como um julgamento das jornalistas, o que é inaceitável.
O provedor questiona, por outro lado, o facto de o PÚBLICO ter publicado acusações formuladas num blogue anónimo (sic) sem ter previamente confrontado as mesmas com a realidade dos factos. É uma opção incorrecta do ponto de vista ético e deontológico.

PROVEDOR: Quais são as “muitas ideias parecidas”?
RESPOSTA: As descrições históricas. O que aliás fica dito no nosso texto pelo próprio Sousa Tavares: “Sousa Tavares diz que há coincidências entre as obras, que são três ou quatro personagens históricas e factos históricos, ‘o que é absolutamente banal’ já que ‘Equador’ é um romance histórico e portanto as fontes também o são”.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: A explicação parece — mais uma vez — inaceitável: “descrições históricas” não são “ideias”, são factos, ponto final. O Rei D. Carlos I gostava do mar, de pintar e de caçar perdizes e foi assassinado em Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1908...

PROVEDOR: Quais são as “frases praticamente iguais”?
RESPOSTA: A. — “Todos os dias, despachava vinte quilos de comida, incluindo três frangos com o chá das cinco”.
“His appetite was such that he could consume twenty pounds of food in the course of a strenuous day or a couple of chickens as a tea-time snack”.

B. — “Sua Exaltada Excelência haveria de morrer, prostrado à mais incurável das doenças: o tédio»
(...).“His was a malady that plagued not a few of his surfeited fellow rulers. It was boredom. He died of it» (…).
C. — “Sir Buphinder Sing, O Magnífico, sétimo marajá de Patiala, não era o mais rico, mas era seguramente o mais imponente dos príncipes indianos, com o seu metro e noventa de altura e os seus cento e quarenta quilos de peso.
“Sir Bhupinder Singh, the Magnificent, the seventh Maharaja of Patiala (...). With his six-foot-four-inch frame, his 300 pounds (…).

D. — «(...) matou o seu primeiro tigre aos 8 anos e nunca mais parou – aos 40 tinha morto mil e quatrocentos tigres, cujas peles revestiam por inteiro todas as divisões do seu palácio. (...)»
«(...) bagged his first tiger at eight. By the time he was 35, the skins of the tigers he’d killed, stitched together, provided the reception rooms of his palace with what amounted to wall to wall carpeting. (…) The Maharaja of Gwalior killed over 1400 tigers in his lifetime… (…)».

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: Na medida em que as jornalistas reconhecem que não leram o livro de Lapierre e Collins a fonte das citações só pode provir — mais uma vez — do blogue anónimo (entretanto desaparecido). Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques reconhecem, portanto, que o ex-blogue é uma fonte credível apesar de não terem confirmado a veracidade dos excertos. O provedor exclui peremptoriamente a hipótese de as duas jornalistas partilharem a opinião anónima do(s) autor(es) do blogue sem qualquer base factual que fundamente a mesma.

PROVEDOR: Joana Gorjão Henriques confirma os contactos com MST descritos pelo escritor? E o teor dos mesmos?
RESPOSTA: Não. Miguel Sousa Tavares, quando contactado por nós, não impôs qualquer condição para falar sobre o assunto, nem mesmo quando soube que não tínhamos lido “Freedom at Midnight” por estar fora do mercado. Quando perguntou se tínhamos lido “Freedom...” e lhe dissemos que não, MST emitiu uma opinião e disse que “os jornalistas deviam ler os dois livros e comparar”. Isso não é impor condições.
No fim da conversa telefónica, Miguel Sousa Tavares pediu aliás para ler a notícia antes de ser publicada. Dissemos que tal não era aceitável, mas propusemos voltar a falar mais tarde para lhe ler as citações que viessem a ser usadas no texto, o que foi aceite por MST.
E assim, como combinado, ligámos várias vezes a MST e, durante mais de uma hora, não conseguimos. MST não atendia. Mas esperámos. Passava das 21h quando MST nos telefonou e confirmou, connosco, as declarações que iríamos usar no texto a sair no dia seguinte.
E já agora, neste segundo contacto, o escritor foi informado de que tínhamos Equador à nossa frente.
Conclusão:
A tese de plágio é a tese do blogue, não a do PÚBLICO. A notícia do PÚBLICO não tem tese alguma.
Mas, não tendo a notícia do PÚBLICO tese alguma, faz duas coisas em relação ao conteúdo do blogue:
1. Chama a atenção para os parêntesis introduzidos nas citações reproduzidas no blogue – não se sabendo portanto se foram retiradas duas palavras ou 15 páginas entre uma determinada frase.
2. E coloca o editor de MST a alertar para a ambiguidade do início do blogue (os 2 parágrafos que resumem o início dos dois livros). MST refere-se extensamente – na carta a si enviada e no artigo do “Expresso”, ao facto de o blogue dizer que os dois livros “começam da mesma forma” e que basta ler “Equador” para ver que o seu livro “não começa assim”. É verdade.
Uma frase desse início do blogue vem na primeira pagina de “Equador” e a segunda parte da frase vem na pag. 15. Mas isso não é citação. Esse resumo é da autoria dos bloguistas.
E essa estratégia está desmacarada no nosso texto: “Embora estas frases iniciais do blogue não estejam entre aspas (como citação directa), António Lobato Faria, editor da Oficina do Livro (que publica Equador), diz que a intenção é que o leitor as leia como tal. Mais à frente, o(s) autor(es) põe(m) as citações de um e de outro livro, sendo que no segundo estão em inglês. “Só apresenta as 'provas’ quando as pessoas já foram manipuladas”, diz o editor”.
E por último, e repetindo-nos, a nossa notícia é sobre a acção judicial de MST, assunto que justificou um comunicado de imprensa da própria editora no dia 31.
A notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio – editorialmente, é incontestável que isto é notícia.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: A jornalista Joana Gorjão Henriques agiu correctamente ao recusar facultar a Miguel Sousa Tavares o artigo antes da sua publicação.
A notícia — ao contrário do que afirmam as jornalistas do PÚBLICO —não se resume de forma alguma a um escritor que decidiu processar um anónimo que o acusa de plágio. A notícia contém afirmações não fundamentadas. Ao reproduzirem, por outro lado, as acusações de um anónimo (sem as confirmar!) escamotearam a calúnia e, do mesmo passo, importantizaram-na.
As jornalistas afirmam que “a tese de plágio é a tese do blogue, não a do PÚBLICO. A notícia do PÚBLICO não tem tese alguma”. Pode não ter, mas parece.
O PÚBLICO errou.

PS- Apesar de o site do PÚBLICO não permitir contactos electrónicos com o provedor (provedor@publico.pt) há mais de uma semana o tema do “plágio” suscitou alguns comentários, entre os quais 3 favoráveis à posição do provedor e 5 desfavoráveis.

A análise deste caso continua na próxima semana (já que as jornalistas em causa enviaram um protesto ao provedor).

sexta-feira, novembro 17, 2006 

CONTACTOS DO PROVEDOR

Os leitores podem contactar o provedor através do seguinte endereço electrónico: provedor@publico.pt
Contacto alternativo:
PÚBLICO
Rui Araújo
Provedor do leitor
Rua Viriato, 13 1069-315 Lisboa

A MISSÃO DO PROVEDOR
1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.

domingo, novembro 12, 2006 

A FRASE A MAIS (PARTE I)

O leitor Miguel Sousa Tavares escreveu ao provedor por causa de um artigo de publicado na edição de 25 de Outubro passado.

“No passado dia 24.10.06, fui contactado pela jornalista do PÚBLICO Joana Gorjão Henriques, que pretendia ouvir-me acerca da acusação surgida num blogue anónimo de que eu teria plagiado o meu romance ‘Equador’ do livro ‘Esta noite a liberdade’, de Dominique Lapierre e Larry Collins. Explicou-me que, visto que o assunto já tinha sido tratado em outros órgãos de informação, tinha-se tornado numa notícia incontornável.
Pelo meu lado, disse-lhe que aceitava falar sobre o assunto desde que, à partida, ela reconhecesse que uma afirmação desta gravidade — pondo em causa a honra e a dignidade profissional de uma pessoa — não podia ser tratada reproduzindo simplesmente a afirmação e ouvindo a defesa. Porque o simples facto de se reproduzir a afirmação, sendo ela falsa, equivalia a amplificar e difundir uma calúnia, com consequências e efeitos que, como bem sabemos, jamais podem ser integralmente apagados, contrariados e desarmados. Ou seja, uma coisa era ela reproduzir os meus argumentos em defesa própria — que têm o valor e o alcance que terão — outra coisa era o jornal não se dispensar de fazer, ele próprio, previamente, uma reflexão e análise sobre o fundamento das acusações, para que os leitores pudessem melhor e imparcialmente chegar a uma conclusão. Em particular, disse-lhe que ela deveria, portanto, começar por consultar os dois livros, o que desde logo a habilitaria, por exemplo, a concluir por si que, quando o blogue dizia que ambos começavam da mesma forma, tal era falso. E que as frases de duas páginas do meu livro, que o blogue acusava de serem ‘tradução’ do outro, tinham apenas em comum a reprodução de factos biográficos referentes a figuras históricas, resultando a semelhança narrativa apenas de uma hábil colagem, por parte do autor do blogue, de excertos dispersos do outro livro, de forma a condensá-los numa frase aparentemente contínua que se assemelhava às minhas. Enfim, e sobretudo, uma consulta a ambas as obras concluiria facilmente que elas não tinham rigorosamente nada em comum — quer no género literário, quer na história, quer na localização geográfica e histórica do enredo, quer no estilo literário. De comum têm apenas o facto de serem livros.
A isto respondeu-me a jornalista que não lhe era possível obter o outro livro, o qual estava fora do mercado. Obviamente, não penso que isto seja argumento para dispensar a tal análise critica sobre o conteúdo da acusação, que referi — até porque havia sempre a possibilidade de consultar os exemplares em depósito legal na Biblioteca Nacional — conforme veio a fazer outro órgão de informação, para concluir que o suposto plágio era uma acusação puramente caluniosa. E assim ficámos.
No dia seguinte, a referida jornalista assinou no PÚBLICO um texto, juntamente com a jornalista Bárbara Reis, intitulado ‘Miguel Sousa Tavares faz queixa-crime contra anónimo que o acusa de plágio’. No referido texto, toda a análise sobre a veracidade da acusação reduz-se à reprodução das minhas declarações ou das do meu editor, António Lobato Faria — o que, como é evidente e sendo nós parte interessada, diminui substancialmente o seu valor: acredita quem quiser. Não houve sequer o cuidado de consultar o meu livro para confirmar que ele, de facto, não começa conforme o blogue diz que começa. E uma coisa é ser eu a dizê-lo em minha defesa, outra é ser o jornal a dizê-lo, como informação factual.
Pior ainda, porém. Tendo escrito sem ter consultado o livro supostamente plagiado (e, provavelmente, nem o meu...) as duas jornalistas assinaram, a meio do seu texto, esta frase absolutamente assassina: ‘Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais’. Ora, o que é um livro que contém muitas ideias parecidas com outro e frases praticamente iguais? Um plágio, obviamente.
Gostaria, por seu intermédio, Sr. Provedor, de perguntar às jornalistas quais são as ideias praticamente iguais entre um romance que trata da escravatura em S. Tomé e Príncipe no início do século XX, acompanhado de uma trama amorosa, e outro que é o relato histórico do mandato do último Vice-rei da Índia Inglesa? E quais são as frases praticamente iguais? E a si, Sr. Provedor, gostaria de perguntar se estas são as regras em vigor no livro de estilo do PÚBLICO e as regras de um jornalismo responsável?”, escreveu Miguel Sousa Tavares (de quem sou amigo há décadas).

Inquiri, portanto, as jornalistas.

PROVEDOR: As jornalistas Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques leram o ‘Equador’?
RESPOSTA DAS JORNALISTAS: Sim.

PROVEDOR: Leram o livro de Lapierre e Collins intitulado ‘Freedom at Midnight’ (‘Esta Noite a Liberdade’)?
RESPOSTA: Não.

PROVEDOR: As jornalistas do PÚBLICO confrontaram o conteúdo do blogue anónimo sobre MST com os dois livros?
RESPOSTA: Apenas com ‘Equador’.
COMENTÁRIO DO PROVEDOR: Confrontar significa “comparar”. E aquilo que estava essencialmente em causa era comparação entre o “Equador” e “Esta noite a Liberdade”. As jornalistas não leram uma das obras, mas reproduziram as acusações. Consideraram, portanto, que o blogue anónimo era credível. Independente de o ser ou não, o jornalismo tem regras: recortar a informação é uma delas.

PROVEDOR: Até que ponto a reprodução de uma afirmação formulada num blogue anónimo é deontologicamente aceitável em jornalismo, sem haver qualquer investigação?
RESPOSTA: Qualquer informação, anónima ou não, pode ser investigada e pode vir a resultar numa notícia. Essa informação pode chegar ao jornalista através de uma carta, um telefonema ou um blogue — anónimo ou não.
O PÚBLICO não publicou uma notícia sobre uma acusação feita num blogue anónimo. O PÚBLICO publicou uma notícia sobre o facto de MST confirmar que ia apresentar uma queixa-crime contra o autor do blogue.
O título da nossa notícia era ‘Miguel Sousa Tavares faz queixa-crime contra anónimo que o acusa de plágio’.
O PÚBLICO — e por certo muitas das milhares de pessoas que consultam blogues diariamente — leram o blogue na sexta-feira, dia 20 de Outubro. Não publicámos nada na sexta, nem no sábado, nem no domingo, nem na segunda-feira. Nesses dias, tentámos encontrar um exemplar do livro de Lapierre e Collins ‘Freedom at Midnight’, editado em Portugal em 1976 e hoje fora de circulação.
Foi apenas na terça-feira, dia 24, que a situação mudou. Nesse dia, um jornal tablóide tinha na primeira página uma fotografia de MST que ocupava toda a página e era acompanhada do título ‘Isto vai ser resolvido em tribunal e à paulada’. E assim foi decidido que devíamos telefonar a MST e perguntar se era verdade que ia processar o autor do blogue. Só após a conversa com MST decidimos que devíamos publicar uma notícia.
A notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio — editorialmente, é incontestável que isto é notícia. O centro da notícia não é o plágio, mas a queixa.
E já agora, esta semana, 31 de Outubro, a editora de Sousa Tavares emitiu um comunicado de imprensa cujo conteúdo passamos a transcrever:
COMUNICADO DE IMPRENSA
Equador de Miguel Sousa Tavares
Conforme anunciado previamente, o autor Miguel Sousa Tavares, representado por advogado, entregou hoje na Directoria de Lisboa da Polícia Judiciária queixa e participação criminal por difamação e violação de direito moral de autor, contra o responsável do blogue www.freedomtocopy.blogspot.com e contra o autor do post de 20 de Outubro de 2006 que usou o pseudónimo ‘Lapierre e Collins’. A queixa seguirá os seus trâmites legais, decorrendo a investigação sob segredo de justiça.
Cruz Quebrada, 31 de Outubro de 2006
A Gerência
Oficina do Livro
”.
COMENTÁRIO DO PROVEDOR: É óbvio que “qualquer informação, anónima ou não, pode ser investigada e pode vir a resultar numa notícia”. O problema é que as jornalistas (e até contrariamente ao que elas próprias defendem na sua resposta) não cuidaram de investigar o cerne de toda esta questão, isto é: se sim ou não houve plágio.
As jornalistas dizem, por outro lado, que tentaram “encontrar um exemplar do livro de Lapierre e Collins ‘Freedom at Midnight’” e logo a seguir que “a notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio — editorialmente, é incontestável que isto é notícia. O centro da notícia não é o plágio, mas a queixa.”
Se a notícia era de facto a queixa e não o plágio — como pretendem — qual a justificação para procurar o livro? Não será esta uma forma de reconhecer implicitamente que a queixa é uma consequência e não a causa? E como explicam terem avançado com a notícia sem terem lido o livro quando consideravam importante consultá-lo?
O Comunicado de Imprensa da Oficina do Livro (uma das editoras do provedor) é irrelevante na medida em que só foi emitido seis dias depois da publicação da referida notícia.

A análise desta caso continua na próxima semana.

quinta-feira, novembro 09, 2006 

CONTACTOS DO PROVEDOR

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Contacto alternativo:

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A MISSÃO DO PROVEDOR
1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.

domingo, novembro 05, 2006 

VISÃO DO MUNDO E DISCURSO IDEOLÓGICO (2)

A crónica sobre editoriais da semana passada suscitou algumas reacções.
Vicente Jorge Silva, primeiro director do PÚBLICO, escreveu ao provedor.

Para caucionar o impudor com que, nos seus editoriais, usa e abusa do seu estatuto numa obsessiva doutrinação neo-conservadora, José Manuel Fernandes socorre-se de um editorial meu, quando era director desse jornal, e que para mal dos meus pecados terá ficado na história por razões mais folclóricas do que substanciais (‘Geração rasca?’).
Uma vez que é suposto o PÚBLICO estar em processo de ‘refundação’, a invocação de um texto do seu primeiro director não é apenas obviamente disparatada como uma forma intelectualmente desonesta de tentar reescrever a história do jornal. Além disso, uma coisa é um editorial polémico, outra coisa é utilizar
sistematicamente os editoriais do PÚBLICO como pretexto para cruzadas ideológicas, o que nem eu nem os meus colegas editorialistas da altura – incluindo José Manuel Fernandes – se permitiam fazer.
Nesses tempos antigos, tínhamos o hábito salutar de discutir uns com os outros, democrática e colegialmente, os textos que escrevíamos, no sentido de respeitar a pluralidade dos pontos de vista, mas sem prejuízo da coerência e consistência do rumo editorial do jornal, um capital que muito prezávamos. Basta aliás comparar os editoriais de agora com os editoriais da altura em que eu era director do PÚBLICO para se perceber a infinita distância que separa os dois tempos. Não vivíamos então em clima esquizofrénico de guerrilha ideológica entre directores e entre o director e as secções do jornal, cada qual
puxando a brasa à sua sardinha. E o PÚBLICO era bem mais respeitado do que é hoje
”, afirma Vicente Jorge Silva.

Dei conta do teor da mensagem a José Manuel Fernandes.
Eis a resposta do actual director:


“O meu amigo Vicente Jorge Silva (VJS) pode, naturalmente, ter a pior das opiniões sobre o PÚBLICO de hoje e sobre as minhas opiniões em particular, que diz determinadas por uma cruzada em nome de uma corrente política que, nas páginas do PÚBLICO, o ex-líder do partido por que foi deputado, Mário Soares, afirmou já nem sequer existir.
Convém porém recordar o que se manteve da sua herança e o que foi alterado com um pouco mais de rigor. Manteve-se da sua herança a tradição dos editoriais assinados, tradição nascida no Expresso, em que ambos trabalhámos, porque VJS, director-adjunto, não se entendia com o seu director de então, José António Saraiva. Quando VJS, eu e os outros fundadores do PÚBLICO saímos do Expresso, os editoriais deste voltaram a não ser assinados. No PÚBLICO sempre foram porque, mesmo podendo ser lidos e discutidos, não eram a mediana das opiniões da redacção ou mesmo da direcção. VJS sabe que escreveu muitos editoriais com que eu não concordei (não foi o caso do ‘Geração rasca?’, em que fui dos raros a apoiá-lo), tal como eu sei que escrevi muitos com que ele não concordava. Também se manteve o hábito salutar de discutir uns com os outros sempre que possível, com a diferença que o director (eu) não impõe as suas opiniões e aprecia um
pluralismo em que VJS vê apenas guerrilha ideológica. Daí que tenha de facto havido uma alteração na política editorial, não nas regras dos editoriais, mas no que respeita ao pluralismo das opiniões, que passou a ser maior.
VJS entendia, por exemplo, que os colunistas não podiam polemizar entre si, opinião com que nunca concordei, como ele sabe, mas que foi vertida em regra impositiva na primeira versão do Livro de Estilo. A aplicação de tal princípio levou-o mesmo a ter uma discussão homérica com Vasco Pulido Valente logo no primeiro mês do jornal, discussão que levaria VPV a deixar o jornal meses depois, no final de 1990. Eu, em contrapartida, entendo que todas as opiniões são susceptíveis de ser contraditadas no próprio jornal e não remetendo os discordantes para outras publicações. Por isso o Livro de Estilo, com o acordo do Conselho de Redacção, foi alterado nesse ponto. No fundo, que mal há em que cada um puxe à brasa à sua sardinha? Se a sociedade é plural, porque há-de um jornal ser monolítico? Se vivemos em liberdade, por graça de quem havemos de reprimir o que pensamos e impor aos outros que façam o mesmo? Para continuar sem discutir ideias, velha desgraça portuguesa? Até VJS concordará que isso não seria saudável. Tal como sabe que o conceito de cruzada ideológica rima mal com pluralismo e que pluralismo assumido não é sinónimo de guerrilha nem resulta em qualquer clima esquizofrénico”, respondeu José Manuel Fernandes.

Não compete ao provedor pronunciar-se sobre os argumentos invocados pelos dois jornalistas. Apenas aceitei reproduzir os dois textos por uma questão de equidade e de transparência.
O leitor António Fernandes também reagiu às declarações do actual director do PÚBLICO ao seu comentário.


Registo com agrado a prontidão da resposta do Director do jornal. É instrutiva e documentada, mas baseia-se num equívoco: o de que eu pretendo ‘impor’ um tipo definido de ‘editorial’ (neutro, médio, baço, etc.), de entre os vários que se encontram na experiência jornalística comparada. Nada disso. O que eu questiono é, justamente, se o ‘editorial’ é um objecto distinto, ou se pode ser, simplesmente, uma ‘forma superior’ de opinião, reservada a um conjunto de pessoas da redacção, sendo particularmente frequente a aparição do director. Porque, num jornal em que avultam tão amplos espaços de opinião (plural), esta segunda hipótese transforma o ‘editorial’ numa espécie de púlpito ou de ‘Hide Park corner’ susceptível de gerar interpretações equívocas.
Eu não o teria incomodado se, por exemplo, o ‘editorial’ fosse exclusivamente assinado pelo director. Na medida em que é escolhido pelo dono do jornal e aceite pela redacção para desempenhar esse cargo unipessoal, teria suficiente legitimidade para exprimir, no lugar próprio, uma opinião distinta e própria, que, sem dificuldade nem escândalo, se consideraria corresponder à tendência do jornal, enquanto ‘instituição’. Certamente por falta de lucidez — mas não por falta de dados, pois frequento diariamente muita imprensa internacional — , não tenho ideia de nenhum jornal em cujo ‘editorial’ se possa, num dia, ler uma coisa, e, no dia seguinte, o seu contrário. Confesso que não vejo senão uma semelhança formal entre o caso do PÚBLICO e o do Libération.
Já agora, o Director do PÚBLICO empata comigo em equívocos. Julgo ter deixado claro que não pretendo ‘
editoriais’ médios, neutros, etc., plebiscitados pela redacção. E também que só me merece aplauso o pluralismo (e a qualidade intrínseca) das páginas de opinião que o jornal contém diariamente. Há nisso uma
evidente singularidade, mesmo no contexto da imprensa nacional. O PÚBLICO é o meu jornal diário principal e o único que leio integralmente.
Interessa-me muito a escola de pluralismo que diariamente se abre nas suas páginas. O que eu pretendo é simples: clareza. Se há uma coisa chamada ‘
editorial’, que ela corresponda a uma ‘opinião autorizada’ porque imputável à instituição-jornal — e que as opiniões individuais sejam publicadas onde aparecem as outras do mesmo cariz. Se a diferenciação do ‘editorial’ não for possível ou politicamente sustentável — então é melhor que deixe de existir.
Peço-lhe desculpa por ter voltado a incomodá-lo com o mesmo assunto. Agradeço profundamente a atenção que lhe dedicou e a extrema correcção com que o tratou. Mas — já agora — confesso que gostaria de conhecer a opinião do Provedor do Leitor. Porque a do Director, não era difícil imaginar qual fosse
”,
retorquiu o leitor.

Solicitei, necessariamente, mais um comentário ao director.

“1. No Livro de Estilo estabelece-se que os editoriais são escritos pelos directores e por eles assinados. Nos períodos em que não fiz parte da direcção do jornal (como subdirector, director adjunto e depois director), quando os responsáveis me pediam para escrever textos de comentário e/ou opinião, eles vieram sempre assinalados como ‘comentários’, como também prevê desde sempre o Livro de Estilo.
2. Quando sinto que uma opinião minha é demasiado diferente ou, se se preferir, demasiado minoritária, prefiro publicá-la sob a forma de opinião. Verifico contudo que muitos leitores a vêem como se fosse um editorial, como de resto via suceder com a coluna de José António Saraiva no Expresso ou, até, com colunas regulares como a de Eduardo Prado Coelho. É um assunto que não posso resolver. A minha intervenção só pode ser a de garantir pluralismo e equilíbrio”, acrescentou José Manuel Fernandes.

As explicações estão dadas, com ou sem equívocos.
De um modo geral a imprensa portuguesa só começou a ter editoriais assinados depois de 25 de Abril de 1974. Vera Lagoa e Francisco Sousa Tavares, por exemplo, marcaram esses anos com editoriais deveras excepcionais.

O leitor interpelou o provedor:Mas — já agora — confesso que gostaria de conhecer a opinião do Provedor do Leitor.”
O provedor considera que a principal função de um editorial é reforçar a coesão (na medida em que propõe uma “perspectiva central única, uma definição homogénea da realidade de acordo com os critérios socioculturais, ideológicos e económicos (ou mesmo mercantis) preestabelecidos — e a ideologia dominante através de um discurso de auto-justificação pseudo-argumentativa”).
O modelo adoptado pelo PÚBLICO é inovador, plural e ao mesmo tempo assaz controverso (na medida em que os editoriais são interpretados, por vezes, como uma “forma superior” de opinião nem sempre autorizada e acabam por “gerar interpretações equívocas”).
É por isso que subscrevo a opção da imprensa anglo-saxónica (os editoriais exprimem a orientação geral do jornal, da rádio ou do canal de televisão — enquanto instituições — sobre um acontecimento e não são assinados), mas é apenas a minha opinião. É um parecer somme
toute
, irrelevante.

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