domingo, abril 29, 2007 

MUDA O DISCO E TOCA O MESMO...

“A propósito da entrevista a Camané publicada no suplemento Ípsilon de dia 27/04 e conduzida por João Bonifácio, gostaria de dizer o seguinte:Numa entrevista profissional, não basta parecer, há que ser.
O Sr. João Bonifácio aparenta uma grande admiração por Jacques Brel, nomeadamente pela música ‘Ne Me Quitte Pas’.
Se assim fosse, deveria ter confirmado algumas coisas antes de escrever o artigo. Desta forma, evitaria escrever erradamente o título da canção (‘Ne Me Quites Pas’, ao invés de ‘Ne Me Quitte Pas’) e, sobretudo, este grande disparate:
É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão...’
Meus senhores, no original, a letra diz:
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
‘Ombre’ significa sombra, não ombro, como qualquer dicionário poderia esclarecer. Ao PÚBLICO caberá decidir uma eventual rectificação destes erros e uma chamada de atenção para o futuro”, escreve Carla Feliciano, uma leitora de Forte da Casa.

Os reparos são pertinentes.
A única conclusão plausível é que João Bonifácio faz entrevistas, mas não fala francês.
Há mais erros:
É uma vitória conseguir cantar uma canção como ‘Ne me quites pas’?”, pergunta o entrevistador.
A formulação correcta é (mais uma vez) “Ne me quitte pas”.
Outro erro:
“Antes da canção ‘Ne me quites Pas’ Camané está no seu mundo, repetindo e repetindo palavras em francês. É como se estivesse à parte de tudo o resto, como se só interviesse quando tem de cantar. Mas antes, testa cada palavra, verifica o redondo das sílabas, o à-vontade com as palavras de uma língua com que não se sente à vontade.”
É surpreendente o entrevistador dar conta das dificuldades de Camané “com as palavras de uma língua com que não se sente à vontade” quando ele próprio acaba por induzir o cantor em erro com o “ombro” do cão.

JOÃO BONIFÁCIO: “É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: ‘Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão’...”
CAMANÉ: “Ele queria ser o ombro do cão dela porque queria era estar ao pé dela, não queria que ela o deixasse. E nessa fase da canção existe o desespero: nem que seja uma mosca à tua volta, o ombro do teu cão, qualquer coisa, mas que eu possa estar ao pé de ti.”

O entrevistador e o entrevistado passam por ignorantes. E por pessoas pouco credíveis. É no mínimo arreliador...
O provedor considera que João Bonifácio errou, mas não é o único responsável.
Um texto de várias páginas com aquele destaque (incluindo mesmo uma chamada de capa) não foi lido por mais ninguém no jornal antes de ser publicado? Só pode ser essa a explicação. A não ser que a chefia também não se “sinta à vontade” (sic) com a língua de Molière...

“’Plácido Domingo cancelou o conceto por problemas na voz21.04.2007 - 21h54 PUBLICO.PT’Que tristeza um jornal desta dimensão e sempre tão preocupado em mostrar-se tão imaculado no seu prestígio não ter sequer um revisor ortográfico! Um CONCETO, que coisa ridícula! Os erros desta natureza são diários e ficam horas e horas online. Tenham um pouco de brio por favor...”, escreve João Gião.

O leitor tem razão.
As gralhas e os erros sucedem-se
...

“Já em várias ocasiões constatei a existência de erros mais ou menos graves na redacção dos vossos artigos (frases ou parágrafos truncados, utilização de expressões menos correctas como ‘ter de fazer’ em vez de ‘ter que fazer’, etc.), no entanto ainda não tinha detectado este tipo de situações em títulos. Hoje aconteceu isso mesmo, pois numa notícia do vosso site publicaram o seguinte titulo ‘Governo afirma que está tudo sobre controlo’ em relação a encontro nacionalista, o que está obviamente errado, pois uma coisa pode encontrar-se ‘sob controlo’ e não ‘sobre controlo’. Dada a gravidade do erro, que aliás se vem generalizando na comunicação verbal entre pessoas ou mesmo por comentadores e jornalistas da TV e rádio, considero que o PUBLICO deverá corrigir este erro publicamente e promover o correcto uso desta e doutras expressões do mesmo tipo”, escreve Paulo Monteiro.

Os erros e as gralhas sucedem-se, decididamente.
O provedor considera que a falta de tempo e de meios humanos (designadamente de copydesks) não pode servir de justificação para tudo. E para mais alguma coisa.
Os jornalistas têm o dever de apresentar textos “limpos”. É uma questão de profissionalismo e de brio. O amadorismo (associado a uma cultura de desresponsabilização em que prevalece o “chuta para o lado” ou o destino, que não tem nome) não é – nunca foi – solução para coisa alguma.

“Acabado de regressar de uma curta visita ao Egipto, onde me cruzei com milhares de simpáticas mulheres e jovens que envergavam os seus lenços tradicionais, fiquei chocado com a gritante e medíocre falta de cuidado, para não dizer participação activa no obscurantismo, que o jornal que eu assino (mas que continuando deste modo, deixarei rapidamente de o fazer) promove ao publicar uma fotografia com duas mulheres árabes com lenço, acompanhada da inacreditável frase: " Cimeira, Terrorismo na agenda de Sócrates em Marrocos, pág. 20".
Com uma Redacção cuidadosa como penso ser a do jornal PÚBLICO, isto é ainda muito mais grave... Será intencional?
Se fosse um pasquim racista qualquer, não ligava.
Gostaria que me respondessem se não tenho razão! Se não responderem também não me importo. Não sou propriamente lírico nem romancista russo (sem desprestígio para qualquer deles)! Mas não poderei esquecer...”, escreve José Manuel Soares, um leitor do Porto.

Os erros sucedem-se, mas não se assemelham.
Solicitei, portanto, um esclarecimento a José Manuel Fernandes.
“O leitor tem toda a razão. Foi uma grande falta de atenção de quem editou o jornal, a qual já tinha sido muito criticada na nossa reunião matinal”, respondeu o director.
Só me resta acrescentar que é importante (e deveras urgente) criar mecanismos para evitar a reprodução de tantos erros e de tantas gralhas.
Para a semana há mais...

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

sexta-feira, abril 13, 2007 

O PROVEDOR

O Provedor vai estar ausente durante as próximas 3 semanas, mas os leitores podem continuar a contactá-lo através do seguinte endereço electrónico: provedor@publico.pt

Contacto alternativo:
PÚBLICO
Rui Araújo
Provedor do Leitor
Rua Viriato, 13
1069-315 Lisboa

A MISSÃO DO PROVEDOR
1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.

domingo, abril 08, 2007 

RALAÇÕES PÚBLICAS

“O PÚBLICO noticiou no passado sábado (10/03/2007) os planos para o futuro da Universidade de Évora.
Confesso ter ficado boquiaberto pelo facto da notícia ser assinada por uma jornalista que, pelo menos uma semana antes, ainda estava a fazer assessoria para a mesma Universidade de Évora.
Nada me move contra a senhora.
Mas face a este caso, que conheço, que garantias posso ter, leitor assíduo do jornal desde a sua fundação, que por exemplo uma notícia sobre o ministro X não é feita por alguém que dois dias antes o estava a assessorar?
Não seria de ponderar um período temporal de algum afastamento entre a assessoria e a prática do jornalismo?”, escreve José António Oliveira, um leitor de Évora.

Maria Antónia Zacarias escreveu um texto sobre a Universidade de Évora (onde prestara serviços de assessoria no Gabinete de Relações Públicas).
Os reparos e as perguntas do leitor são, portanto, pertinentes.
Solicitei esclarecimentos à correspondente do PÚBLICO.


“Respondendo às suas questões, quero esclarecer que fui eu quem propôs o trabalho ao editor Carlos Filipe. No que concerne ao facto do editor saber ou não que eu estava no Gabinete de Relações Públicas da Universidade de Évora, esclareço que o meu primeiro contacto foi com o jornalista Tiago Luz, até então editor do local, a quem enviei o meu curriculum em Junho ou Julho de 2006. Quando o jornalista Carlos Filipe assumiu o lugar de editor do local, o jornalista Tiago Luz disse-me que tinha passado o meu processo para o jornalista Carlos Filipe. No meu curriculum, mais precisamente no item Desempenho de Funções, está escrito o meu percurso profissional, no qual faço referência ao gabinete onde desempenhava funções. Gostaria ainda de recordar que a lei é omissa no que concerne à existência de um período de tempo em que um assessor, deixando de o ser, e voltando ao jornalismo, deve ou não estar sem escrever sobre a instituição que estava a assessorar”, respondeu.

O provedor considera que Maria Antónia Zacarias não devia ter proposto o artigo – para evitar quaisquer dúvidas e ambiguidades.
Maria Antónia Zacarias refugia-se na ausência de legislação quando o problema, aqui, é de ordem ética.
O jornalista Tiago Luz devia, por outro lado, ter comunicado o percurso da correspondente ao novo editor.


Pedi explicações ao editor Carlos Filipe.
Como explica o facto de uma ex-assessora de Relações Públicas escrever notícias sobre a instituição onde colaborara?
“Pelo simples facto de se ter procedido a uma reestruturação nas chefias das editorais do PÚBLICO quando estava em curso um processo de ‘contratação’ da correspondente. Na passagem de testemunho não foi acautelada a situação – o facto de a correspondente ter colaborado com a instituição, ainda que já tivesse terminado esse vínculo há já algum tempo. Se essa coordenação tivesse sido feita de outra forma, a correspondente não teria sido escalada para esse serviço. Lamento, porém, o sucedido, se tenha dado a entender a utilização de métodos pouco claros no PÚBLICO. Todavia, não foi detectado o mais pequeno indício de falta de lisura por parte da jornalista. Foram cumpridos os critérios que norteiam a profissão. De outra forma, o texto não teria sido editado”, respondeu.

As explicações do editor do PÚBLICO não são aceitáveis.
Carlos Filipe reconhece que
“não foi acautelada a situação – o facto de a correspondente ter colaborado com a instituição, ainda que já tivesse terminado esse vínculo há já algum tempo”.
A formulação “há já algum tempo” significa dez dias.
Maria Antónia Zacarias não foi, por outro lado,
“escalada” para esse “serviço”. Foi ela quem tomou a iniciativa de propor o “serviço”. É diferente.
O editor afirma ainda que
“não foi detectado o mais pequeno indício de falta de lisura por parte da jornalista. Foram cumpridos os critérios que norteiam a profissão. De outra forma, o texto não teria sido editado.”
O editor Carlos Filipe não contesta, portanto, o facto de uma ex-relações públicas escrever notícias sobre a instituição onde colaborava dez dias antes.
O provedor discorda mais uma vez da argumentação.
A correspondente só reproduz no texto
(“Évora vira-se para o Sul e para cursos da terceira geração – Universidade cria a Academia do Sul, novos cursos e fomenta pioneirismo nas parcerias com o mundo empresarial”) declarações do reitor da universidade onde foi assessora e não questiona nada nem ninguém.
É uma opção que contraria os
“os critérios que norteiam a profissão”, a começar pelos princípios definidos no próprio Livro de Estilo do PÚBLICO (páginas 22 e 23): “princípio do contraditório” e eventualmente “independência a poderes particulares”.

Perguntei ao editor Carlos Filipe qual a prática adoptada pelo PÚBLICO relativamente a ex-assessores de imprensa e a ex-relações públicas.
“É assunto que (se não estou em erro) não consta de forma clara e inequívoca no Livro de Estilo. E só tenho uma palavra para descrever o comportamento jornalístico da correspondente: irrepreensível!”
O Livro de Estilo apenas refere (pág. 31, artigo 58) que “o jornalista do PÚBLICO não deve tratar de temas sobre os quais tenha interesses particulares. Um envolvimento pessoal (partidário, clubístico, artístico, cultural ou qualquer outro) nos assuntos e matérias tratados contra-indicam a atribuição de um serviço sobre esses mesmos temas.”

O provedor considera que o Livro de Estilo do PÚBLICO não é suficientemente esclarecedor nesta matéria.
O Código Deontológico do semanário francês Le Point (de que o provedor é colaborador, nota do provedor), por exemplo, estipula que
“quando (o jornalista) cessou de pertencer à empresa ou à instituição, continua a estar proibido de tratar temas relacionados com a sua ex-actividade”. É uma formulação clara, simples e precisa.

Solicitei esclarecimentos a José Manuel Fernandes.

PROVEDOR: Há ex-assessores de gabinetes de Relações Públicas a escrever notícias sobre as instituições onde trabalharam. Qual é a política editorial do PÚBLICO?
DIRECTOR:
A política do PÚBLICO é clara: não podem fazê-lo. Não podem fazê-lo nunca? Não podem pelo menos durante um período suficientemente largo de tempo para que deixe de haver qualquer potencial conflito de interesses, o que pode significar vários anos. Por princípio o jornal não aceita conceder licenças sem vencimento a jornalistas para irem desempenhar cargos de assessoria: quem opta por aceitar um convite desse tipo tem de pedir a rescisão do seu contrato de trabalho. A única vez em que um jornalista do quadro do jornal, depois de ter sido assessor num partido político, pode regressar ao jornal foi colocado numa secção sem qualquer relação com a secção de Política. Mesmo assim a experiência não foi boa e não tencionamos repeti-la.

Das duas uma: Maria Antónia Zacarias ignora as regras ou considerou (à semelhança do editor) que dez dias é um “período suficiente largo de tempo”.

PROVEDOR: Como explica o facto de Maria Antónia Zacarias escrever sobre a instituição onde era assessora menos de duas semanas antes?
DIRECTOR: O que apurei sobre o caso em concreto foi o seguinte: Maria Antónia Zacarias é correspondente do jornal em Évora em regime de colaboração à peça. É, portanto, uma colaboradora ocasional. Tinha começado a escrever para o PÚBLICO pouco tempo antes da saída do texto referido sendo que, entretanto, o editor da secção Local Lisboa, Carlos Filipe, onde o texto foi publicado, acabara de entrar em funções. O acordo de colaboração tinha sido iniciado pelo anterior editor, Tiago Luz Pedro. Na “passagem de testemunho”, que coincidiu com a reformulação do jornal, o anterior editor não informou o novo editor das funções de assessoria que a jornalista tinha desempenhado. A peça em causa, uma pequena notícia factual e neutra, não levantou ao editor qualquer dúvida. Quando fomos alertados para a situação por via do Provedor e da queixa que lhe chegou, foi considerado que tínhamos cometido um erro. Verificámos que Maria Antónia Zacarias não actuara de má fé, não só por ter considerado que a notícia era inócua e neutra relativamente à Universidade de Évora, quer por desconhecer as regras do jornal, onde acabara de começar a colaborar. Ficou estabelecido que não voltaria a escrever qualquer notícia que envolvesse a instituição onde havia sido assessora, podendo alertar a redacção para matérias noticiosas eventualmente relevantes as quais seriam, depois, tratadas por outro jornalista se a avaliação do editor fosse a de que mereciam mesmo ser tratadas no jornal.

As explicações de José Manuel Fernandes são claras, apesar de o provedor considerar que as notícias não são “inócuas” e muito menos “neutras”.
A melhor forma de lidar com casos como este é a transparência.
Em última análise o PÚBLICO devia ter indicado aos leitores que a correspondente tinha exercido funções de assessora na instituição sobre a qual escrevia.
Um dos princípios do jornalismo (e não só) é a transparência, definitivamente.

domingo, abril 01, 2007 

A NOVA MÁXIMA

“Nas páginas destacáveis referentes à colecção de BD do Spirou (que aliás é vendida com uma numeração não cronológica e inexplicável!), o texto de Carlos Pessoa tem um plágio objectivo retirado da Larousse de la BD, de Patrick Gaumer (ed. 2004).

A título de exemplo no 7º e 8º parágrafos, que passo a citar um extracto do original: “Sous l’impulsion de Franquin, Spirou et Fantasio conquièrent une véritable stature. (…) Outre le rôle fantaisiste joué par Fantasio, la saga développe une succession de personnages secondaires fabuleux. Ne citons que pour mémoire Pacôme (…), comte et mycologue de son état, l’ignoble Zantafio (le cousin criminel de Fantasio), le non moins mégalomane (et génial) Zorglub, la collant Seccotine… sans oublier l’ineffable Marsupilami (…) En quelques récits, Franquin met en place un univers cohérent (…) , ses architectures futuristes et sa Turbotraccion, (…).”

Não verifiquei o resto do texto porque fiquei chocado… e tenho mais que fazer.

A sucessão de casos já começa a ser assustador para a credibilidade do jornal e parece-me que responsabilidades terão que ser assumidas. (...)”, escreve Nuno Moreira, um leitor de Lisboa.

Os reparos são pertinentes.

CRONOLOGIA

Solicitei um esclarecimento ao Departamento de Marketing do PÚBLICO sobre o critério que presidiu à ordem de publicação da colecção Spirou.

“A numeração/ordenação dos álbuns do Spirou não é cronológica e em nenhum suporte de comunicação efectuamos tal afirmação.
O PÚBLICO e a ASA decidiram editar uma selecção das 20 melhores aventuras do Spirou. Esta selecção é obviamente subjectiva e sujeita a opiniões divergentes.
Os livros desta colecção estão todos numerados de 1 a 20 e são assinadas por diversos artistas que desenvolveram a série. Alguns deles são inéditos em Portugal.
A ordem de saída teve como objectivo iniciar a colecção com 3 álbuns de Franquin que consideramos ser um dos autores de destaque desta BD.
Ao longo da colecção procurámos intercalar álbuns do Spirou desenvolvidos pelos vários autores, não sendo a ordem cronológica o nosso critério”, respondeu João Porto, administrador da área de Marketing e Comercial do PÚBLICO.

É uma opção, nada a acrescentar.

COPIANÇO

Carlos Pessoa reproduziu texto da Larousse sem mencionar a fonte e sem inserir quaisquer aspas.

Eis dois exemplos:


PÚBLICO: “um irreprimível desejo de correr mundo leva-o a pedir ao jovem Franquin (1924-1997) que o substitua”.
LAROUSSE:une irrésistible envie de voyager, demande au jeune André Franquin de lui succéder ”.

PÚBLICO : “Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas de Champignac, conde e micólogo; o vilão Zantáfio”.
LAROUSSE:Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas de Champignac, comte et mycologue de son état, l’ignoble Zantafio”.

Pedi, portanto, um esclarecimento ao jornalista.

“Depois de ler a carta do leitor fui verificar. A surpresa deu lugar ao espanto, depois ao estado de choque e por fim, à estupefacção: como é possível que ‘isto’ tenha acontecido?!
Como explicarei mais à frente, a resposta é simples: não sei...

Em quase 30 anos de profissão não têm conta as vezes em que já passei por situações semelhantes, mas sempre do outro lado da equação; ou seja, reconhecendo (ou julgando reconhecer) em textos alheios, assinados ou não, fragmentos ou vestígios do trabalho próprio, aos quais não foi atribuído o legítimo crédito. Não gostei, claro, tal como Patrick Gaumer ou o meu amigo Claude Moliterni (até à presente edição do Larousse de la BD, a autoria do livro era assumida por este último especialista, com a colaboração de Gaumer) não gostariam certamente de saber que me apropriei, sem os citar, de parte da entrada sobre Spirou para o meu próprio artigo.

Não vou ofender a inteligência de ninguém com justificações esfarrapadas. O mal está feito e não há nada que possa apagar o erro. Resta-me, pois, assumir a responsabilidade pelo ocorrido.
Mas devo acrescentar algo em minha defesa.

É prática corrente aquilo que na gíria do meio designamos por ‘reciclagem de informação’ – uma expressão usada para traduzir a reutilização em data posterior de informação produzida num dado momento pelo próprio. Foi o que sucedeu com o texto de apresentação de Spirou no destacável a que o leitor alude, no qual é recuperada parte substancial de um outro artigo meu publicado em 1998 (creio que na revista dominical do PÚBLICO), sobre os 60 anos de existência daquele herói da BD. Nesse texto, e no final da passagem referenciada pelo leitor, é citado expressamente Claude Moliterni, embora não nomeie a obra:
Além disso, em poucas aventuras Franquin consegue criar um universo muito coerente, onde não falta uma decoração de interiores que o crítico Claude Moliterni define como ‘em estilo átomo’, arquitecturas futuristas e invenções como a ‘turbotracção', que aplica na construção do turbomóvel em que se deslocam os dois heróis.’
Este bloco de texto constava do texto de 2007 – de facto, desta vez nem sequer recorri ao referido Larousse para elaborar os textos do destacável distribuído com o jornal –, mas limitações de espaço obrigaram-me a fazer cortes no momento da paginação e a referência a Moliterni caiu...

A manutenção dessa referência seria suficiente para afastar a acusação de plágio? Não me compete responder.

Como a infalibilidade não é um dos meus dons, apenas posso garantir aos leitores um aprofundamento, em todas as suas vertentes, do ‘controlo de qualidade’ da escrita – tornado ainda mais imperioso pela recente polémica sobre plágio envolvendo uma camarada da redacção do PÚBLICO. Neste contexto, não posso deixar de agradecer o e-mail do zeloso e diligente leitor Nuno Moreira”, respondeu o jornalista.

As explicações de Carlos Pessoa são (quase) aceitáveis. Mais que não seja quando o jornalista invoca a velha máxima “errare humanum est”, i.e., errar é próprio do homem.
Porém, a questão que começa a colocar-se, à luz dos vários casos submetidos ao Provedor nos últimos meses, é de outra natureza.
Estamos nós, jornalistas, a edificar um princípio peculiar?
Temos sempre tempo e espaço para transcrever os textos de outrem, mas falta-nos sempre espaço e tempo para mencionar as fontes?
Se assim for, espera-se que a nova máxima nunca alcance, à semelhança da locução latina, o estatuto de “velha máxima”...

P.S. – O endereço electrónico do Provedor do Leitor do PÚBLICO é: provedor@publico.pt

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

  • Consulte o CV de Rui Araújo

Links

Um blog do PUBLICO.PT