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domingo, março 11, 2007 

COMENTÁRIOS - 45

Andava com vontade de escrever ao Público (provedor? cartas ao director?) e explicar-lhes que há uma data de coisas que não fazem sentido - para os habituais leitores deste jornal que não são os dos tablóides.

No Domingo li algumas cartas de leitores, concordei com alguns pontos e discordei doutros. Mas não é preciso trabalhar em jornais para perceber as coisas mais elementares, como seja a importância (mesmo que relativa) que tem a última página e onde nos habituámos a ver o Hobbes e uma ou outra crónica. Ou a irritação que dá o facto de esconderem o Bartoon algures, encontrado apenas quando já nos começamos "a cansar" de uma primeira leitura do jornal. E andar à procura dos cinemas "lá para dentro", bem como do Local e outras coisas, tudo muito bem escondido, como se fossem as traseiras de uma antiga casa. E o facto de os artigos de opinião - que intercalavam outras coisas, havendoportanto uma certa variação ao longo de uma leitura - estarem todos lá para dentro de um duvidoso caderno, algo difíceis de se vislumbrar, não me parece também apelativo. Embora haja coisas razoáveis como o Ípsilon, a leitura é, de um modo geral, desagradável. Como o é para mim (para "nós" , os vossos leitores habituais) a leitura impossível do 24 Horas ou do Correio da manhã. E aquelas irritantes "rodapés" (ao alto, ao contrário daquela imbecilidade de certas notícia televisivas mas com a mesma intenção) para chamar a atenção para outros assuntos e outras páginas, também me parecem infelizes. Essas chamadas de atenção devem vir (como vinham) na capa, devidamente hierarquizadas (de acordo com os vossos critérios, é evidente) ou então num sumário da página dois.

O Jornal parece uma revista semanal, com páginas densas, com os "defeitos" das revistas e sem as suas "qualidades". Até porque o que pretende é ser um jornal, continuo a acreditar. E aquela ridícula, provinciana e eventualmente encarecedora ideia das cores em tudo o que é fotografia, acaba por cansar. Claro que há excelentes, boas e algumas de duvidosa qualidade. Não há (boas) fotografias a preto e branco? Lembro-me de uma capa vossa (excelente, aliás) com uma foto fantástica do grande Bresson - a preto e branco, claro, como ele fotografava.

O Público tem excelentes colaboradores, pessoas que escrevem bem, com verve, fotógrafos realmente bons, assuntos variados e adequados ao gosto de cada um – volto a dizê-lo, estes "cada um" não são potenciais leitores dos tablóides, são leitores com outra exigência - dentro da sua evidente diversidade. Muito embora neste novo formato apareçam coisas do género da vida íntima de uma modelo ou de uma actriz qualquer ou a eminente questão da cor das meias do futebolista X, etc. Não se percebe muito bem qual a pretensão com as mudanças efectivadas. Melhorar? Agradar aos seus leitores habituais? Ou captar (acrescentar, diria) "outro género" de leitores? Das duas uma: ou perdem vendas (dos "nós") ou ganham, com novos leitores – os tais do género tablóide e alguma inconsciente juventude. Mas talvez se lixem. A juventude quer é internet e os outros leitores, os tais dos pasquins, continuarão nos pasquins. A não ser que o Público consiga uma adesão, por baixo. Pelo rasca. Com óbvias demissões dos "clássicos"...

Carlos Reis

Gosto imenso do que eu próprio escrevi e só tenho pena que ninguém me tenha querido responder. Fico inconsolável e vou levar com certeza muito tempo a recuperar. Só espero ter dinheiro prós ansiolóticos e outros remédios.
Carlos Reis
Leitor Inconsolável

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