COMENTÁRIOS - 43
Balanço Crítico das Três Primeiras Semanas
Nuno Marques Mendes, Designer gráfico, 40 anos, Carcavelos
Ponto de Vista Gráfico
Devo dizer que graficamente o projecto me desiludiu. Não me parece muito atraente. A primeira página não é bonita, é, na maior parte das vezes, uma confusão de imagens, publicidade, texto, títulos, chamadas. O título do jornal, transformado em logótipo, parece-me um achado. Mas fica encostadinho a um canto, submergido pela informação. Precisava de mais espaço para respirar e dar-lhe força (apesar de gostar da ideia da faixa de cor com informação). Daí que com a primeira página só tenha tido uma experiência estética valorosa no dia 1 de Março, com a fotografia do touro e o título "Nuestros maestros" (se bem que editorialmente me pareça abusiva esta abordagem, em relação ao tema).
O miolo do primeiro caderno parece-me pouco interessante, plano e monótono e, estranhamente, faz-me lembrar o Diário de Notícias. Também não me parece resultar muito bem o novo modelo de fotografias dos colunistas, com aquele azulinho, além de que a maior parte das fotografias desfavorece notoriamente os retratados. Muitos deles são sinistros (Vasco Pulido Valente, São José Almeida, João Benard da Costa). Ficam bonitas as páginas que têm a risquinha amarela em cima e são bonitas as páginas inteiras em amarelo. Também gosto dos destaques e chamadas na parte superior da página.
Devo dizer em relação ao projecto gráfico anterior que não o achava cinzentão, como se tem agora vincado. As páginas eram muito ritmadas, com larguras de colunas muito variadas, o mesmo em relação aos tipos de letra e títulos. Eram páginas bastante contrastadas e dinâmicas, compondo um claro-escuro e não um cinzento.
Em relação à utilização da cor total há vários problemas: o resultado pode ser uma confusão de página onde não se percebe o que é notícias, fotografias ou publicidade; a impressão tem sido má, o que não é agradável e torna as fotografias muito encarnadas e gera um borrão pelo jornal todo, não deixando um único espaço limpo, nenhum fundo é branco (e obriga a lavar as mãos diversas vezes ao longo da leitura de um exemplar).
Do corpo de letra, mais pequenito, já se falou o suficiente.
Os suplementos, acho-os todos muito feios, a Pública horrível mesmo (a capa safa-se se tiver uma fotografia muito boa)(perdoem-me a franqueza). A única excepção é a capa do Digital (pelo menos o primeiro número), achei-a bonita.
Esta é a opinião de designer e leitor de jornais e revistas. E a desilusão é maior ainda se se tiver em comparação o jornal The Guardian, que é um êxtase gráfico.
Ponto de Vista Editorial
Aqui o que salta mais à vista é a maior importância atribuída às notícias de sociedade. O tom geral do jornal parece ser mais ligeiro, mas não consigo perceber bem se diminuiu a quantidade de informação. Ou o interesse das notícias. A verdade é que se lê mais depressa. Mas parece não se ter perdido o carácter reflexivo, aprofundado (por exemplo com inserção de recensões a livros no corpo do primeiro caderno), que tinha medo que acontecesse. E espero que isso não aconteça no Local, onde havia óptimos artigos de opinião sobre arquitectura e urbanismo. O Internacional parece-me melhor (mas o Ponto de Vista de Jorge Almeida Fernandes parece-me perdido no meio do P2).
O P2 desiludiu-me, mas é um caso pessoal, porque pensava que iria ser um local de informação alternativa, menos comercial, mais arriscada e afinal é uma espécie de magazine ligeiro, tomando as notícias de cultura também um carácter ligeiro e a puxar para o divertido: parece aproximar-se da abordagem televisiva da cultura, apresentada como uma coisa curiosa ou bizarra (no entanto gosto das páginas 2 e 3, exceptuando os colunistas, que são inócuos). (Domingo 4-3-2007 foi um bom dia, José Diogo Quintela estava com graça e o alinhamento bastante superior à média.)
Sobre o Economia e o Digital não me pronuncio porque demasiado recentes.
Em relação ao Ípsilon acho que se perdeu muito. O Y e o Mil Folhas juntos traziam a mais completa informação da imprensa nacional sobre música e livros (e também cinema e artes plásticas). A soma dos dois não produz o mesmo resultado. Perde-se em quantidade de informação e portanto em escolha (não desce à mediocridade do 6ª do DN, nem à mediania do Cartaz do Expresso). Faz-me falta mais recensões de discos e livros, mesmo que pequenas. Ganha-se em reportagens, boas, como o exemplo da arquitectura em Los Angeles, do BesPhoto, dos artistas a residir em Berlim ou o debate sobre Crítica a propósito de Babel.
Em relação à Pública pouco há a dizer. Transformou-se definitivamente no que é suposto ser uma revista para senhoras (é menos convencional porque abre logo com os signos, a maquilhagem e as receitas), com uma ou duas sugestões de política nacional ou internacional para disfarçar e mais uns restos da Xis.
Resumindo
O Público não está mais bonito, suja muito as mãos, está mais ligeiro mas continua a ser o melhor jornal nacional.
E qualquer coisa lhe dá um ar mais contemporâneo, mais cosmopolita. Provavelmente vou continuar a comprar com o mesmo prazer.
Lê-se mais depressa, o que acaba por ser bom, sobra tempo para outras leituras mais completas ou alternativas em livros ou revistas. É uma mudança. São novos tempos. Só pode ser bom.
Nuno Manuel Marques Mendes
Nuno Marques Mendes, Designer gráfico, 40 anos, Carcavelos
Ponto de Vista Gráfico
Devo dizer que graficamente o projecto me desiludiu. Não me parece muito atraente. A primeira página não é bonita, é, na maior parte das vezes, uma confusão de imagens, publicidade, texto, títulos, chamadas. O título do jornal, transformado em logótipo, parece-me um achado. Mas fica encostadinho a um canto, submergido pela informação. Precisava de mais espaço para respirar e dar-lhe força (apesar de gostar da ideia da faixa de cor com informação). Daí que com a primeira página só tenha tido uma experiência estética valorosa no dia 1 de Março, com a fotografia do touro e o título "Nuestros maestros" (se bem que editorialmente me pareça abusiva esta abordagem, em relação ao tema).
O miolo do primeiro caderno parece-me pouco interessante, plano e monótono e, estranhamente, faz-me lembrar o Diário de Notícias. Também não me parece resultar muito bem o novo modelo de fotografias dos colunistas, com aquele azulinho, além de que a maior parte das fotografias desfavorece notoriamente os retratados. Muitos deles são sinistros (Vasco Pulido Valente, São José Almeida, João Benard da Costa). Ficam bonitas as páginas que têm a risquinha amarela em cima e são bonitas as páginas inteiras em amarelo. Também gosto dos destaques e chamadas na parte superior da página.
Devo dizer em relação ao projecto gráfico anterior que não o achava cinzentão, como se tem agora vincado. As páginas eram muito ritmadas, com larguras de colunas muito variadas, o mesmo em relação aos tipos de letra e títulos. Eram páginas bastante contrastadas e dinâmicas, compondo um claro-escuro e não um cinzento.
Em relação à utilização da cor total há vários problemas: o resultado pode ser uma confusão de página onde não se percebe o que é notícias, fotografias ou publicidade; a impressão tem sido má, o que não é agradável e torna as fotografias muito encarnadas e gera um borrão pelo jornal todo, não deixando um único espaço limpo, nenhum fundo é branco (e obriga a lavar as mãos diversas vezes ao longo da leitura de um exemplar).
Do corpo de letra, mais pequenito, já se falou o suficiente.
Os suplementos, acho-os todos muito feios, a Pública horrível mesmo (a capa safa-se se tiver uma fotografia muito boa)(perdoem-me a franqueza). A única excepção é a capa do Digital (pelo menos o primeiro número), achei-a bonita.
Esta é a opinião de designer e leitor de jornais e revistas. E a desilusão é maior ainda se se tiver em comparação o jornal The Guardian, que é um êxtase gráfico.
Ponto de Vista Editorial
Aqui o que salta mais à vista é a maior importância atribuída às notícias de sociedade. O tom geral do jornal parece ser mais ligeiro, mas não consigo perceber bem se diminuiu a quantidade de informação. Ou o interesse das notícias. A verdade é que se lê mais depressa. Mas parece não se ter perdido o carácter reflexivo, aprofundado (por exemplo com inserção de recensões a livros no corpo do primeiro caderno), que tinha medo que acontecesse. E espero que isso não aconteça no Local, onde havia óptimos artigos de opinião sobre arquitectura e urbanismo. O Internacional parece-me melhor (mas o Ponto de Vista de Jorge Almeida Fernandes parece-me perdido no meio do P2).
O P2 desiludiu-me, mas é um caso pessoal, porque pensava que iria ser um local de informação alternativa, menos comercial, mais arriscada e afinal é uma espécie de magazine ligeiro, tomando as notícias de cultura também um carácter ligeiro e a puxar para o divertido: parece aproximar-se da abordagem televisiva da cultura, apresentada como uma coisa curiosa ou bizarra (no entanto gosto das páginas 2 e 3, exceptuando os colunistas, que são inócuos). (Domingo 4-3-2007 foi um bom dia, José Diogo Quintela estava com graça e o alinhamento bastante superior à média.)
Sobre o Economia e o Digital não me pronuncio porque demasiado recentes.
Em relação ao Ípsilon acho que se perdeu muito. O Y e o Mil Folhas juntos traziam a mais completa informação da imprensa nacional sobre música e livros (e também cinema e artes plásticas). A soma dos dois não produz o mesmo resultado. Perde-se em quantidade de informação e portanto em escolha (não desce à mediocridade do 6ª do DN, nem à mediania do Cartaz do Expresso). Faz-me falta mais recensões de discos e livros, mesmo que pequenas. Ganha-se em reportagens, boas, como o exemplo da arquitectura em Los Angeles, do BesPhoto, dos artistas a residir em Berlim ou o debate sobre Crítica a propósito de Babel.
Em relação à Pública pouco há a dizer. Transformou-se definitivamente no que é suposto ser uma revista para senhoras (é menos convencional porque abre logo com os signos, a maquilhagem e as receitas), com uma ou duas sugestões de política nacional ou internacional para disfarçar e mais uns restos da Xis.
Resumindo
O Público não está mais bonito, suja muito as mãos, está mais ligeiro mas continua a ser o melhor jornal nacional.
E qualquer coisa lhe dá um ar mais contemporâneo, mais cosmopolita. Provavelmente vou continuar a comprar com o mesmo prazer.
Lê-se mais depressa, o que acaba por ser bom, sobra tempo para outras leituras mais completas ou alternativas em livros ou revistas. É uma mudança. São novos tempos. Só pode ser bom.
Nuno Manuel Marques Mendes