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domingo, novembro 12, 2006 

A FRASE A MAIS (PARTE I)

O leitor Miguel Sousa Tavares escreveu ao provedor por causa de um artigo de publicado na edição de 25 de Outubro passado.

“No passado dia 24.10.06, fui contactado pela jornalista do PÚBLICO Joana Gorjão Henriques, que pretendia ouvir-me acerca da acusação surgida num blogue anónimo de que eu teria plagiado o meu romance ‘Equador’ do livro ‘Esta noite a liberdade’, de Dominique Lapierre e Larry Collins. Explicou-me que, visto que o assunto já tinha sido tratado em outros órgãos de informação, tinha-se tornado numa notícia incontornável.
Pelo meu lado, disse-lhe que aceitava falar sobre o assunto desde que, à partida, ela reconhecesse que uma afirmação desta gravidade — pondo em causa a honra e a dignidade profissional de uma pessoa — não podia ser tratada reproduzindo simplesmente a afirmação e ouvindo a defesa. Porque o simples facto de se reproduzir a afirmação, sendo ela falsa, equivalia a amplificar e difundir uma calúnia, com consequências e efeitos que, como bem sabemos, jamais podem ser integralmente apagados, contrariados e desarmados. Ou seja, uma coisa era ela reproduzir os meus argumentos em defesa própria — que têm o valor e o alcance que terão — outra coisa era o jornal não se dispensar de fazer, ele próprio, previamente, uma reflexão e análise sobre o fundamento das acusações, para que os leitores pudessem melhor e imparcialmente chegar a uma conclusão. Em particular, disse-lhe que ela deveria, portanto, começar por consultar os dois livros, o que desde logo a habilitaria, por exemplo, a concluir por si que, quando o blogue dizia que ambos começavam da mesma forma, tal era falso. E que as frases de duas páginas do meu livro, que o blogue acusava de serem ‘tradução’ do outro, tinham apenas em comum a reprodução de factos biográficos referentes a figuras históricas, resultando a semelhança narrativa apenas de uma hábil colagem, por parte do autor do blogue, de excertos dispersos do outro livro, de forma a condensá-los numa frase aparentemente contínua que se assemelhava às minhas. Enfim, e sobretudo, uma consulta a ambas as obras concluiria facilmente que elas não tinham rigorosamente nada em comum — quer no género literário, quer na história, quer na localização geográfica e histórica do enredo, quer no estilo literário. De comum têm apenas o facto de serem livros.
A isto respondeu-me a jornalista que não lhe era possível obter o outro livro, o qual estava fora do mercado. Obviamente, não penso que isto seja argumento para dispensar a tal análise critica sobre o conteúdo da acusação, que referi — até porque havia sempre a possibilidade de consultar os exemplares em depósito legal na Biblioteca Nacional — conforme veio a fazer outro órgão de informação, para concluir que o suposto plágio era uma acusação puramente caluniosa. E assim ficámos.
No dia seguinte, a referida jornalista assinou no PÚBLICO um texto, juntamente com a jornalista Bárbara Reis, intitulado ‘Miguel Sousa Tavares faz queixa-crime contra anónimo que o acusa de plágio’. No referido texto, toda a análise sobre a veracidade da acusação reduz-se à reprodução das minhas declarações ou das do meu editor, António Lobato Faria — o que, como é evidente e sendo nós parte interessada, diminui substancialmente o seu valor: acredita quem quiser. Não houve sequer o cuidado de consultar o meu livro para confirmar que ele, de facto, não começa conforme o blogue diz que começa. E uma coisa é ser eu a dizê-lo em minha defesa, outra é ser o jornal a dizê-lo, como informação factual.
Pior ainda, porém. Tendo escrito sem ter consultado o livro supostamente plagiado (e, provavelmente, nem o meu...) as duas jornalistas assinaram, a meio do seu texto, esta frase absolutamente assassina: ‘Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais’. Ora, o que é um livro que contém muitas ideias parecidas com outro e frases praticamente iguais? Um plágio, obviamente.
Gostaria, por seu intermédio, Sr. Provedor, de perguntar às jornalistas quais são as ideias praticamente iguais entre um romance que trata da escravatura em S. Tomé e Príncipe no início do século XX, acompanhado de uma trama amorosa, e outro que é o relato histórico do mandato do último Vice-rei da Índia Inglesa? E quais são as frases praticamente iguais? E a si, Sr. Provedor, gostaria de perguntar se estas são as regras em vigor no livro de estilo do PÚBLICO e as regras de um jornalismo responsável?”, escreveu Miguel Sousa Tavares (de quem sou amigo há décadas).

Inquiri, portanto, as jornalistas.

PROVEDOR: As jornalistas Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques leram o ‘Equador’?
RESPOSTA DAS JORNALISTAS: Sim.

PROVEDOR: Leram o livro de Lapierre e Collins intitulado ‘Freedom at Midnight’ (‘Esta Noite a Liberdade’)?
RESPOSTA: Não.

PROVEDOR: As jornalistas do PÚBLICO confrontaram o conteúdo do blogue anónimo sobre MST com os dois livros?
RESPOSTA: Apenas com ‘Equador’.
COMENTÁRIO DO PROVEDOR: Confrontar significa “comparar”. E aquilo que estava essencialmente em causa era comparação entre o “Equador” e “Esta noite a Liberdade”. As jornalistas não leram uma das obras, mas reproduziram as acusações. Consideraram, portanto, que o blogue anónimo era credível. Independente de o ser ou não, o jornalismo tem regras: recortar a informação é uma delas.

PROVEDOR: Até que ponto a reprodução de uma afirmação formulada num blogue anónimo é deontologicamente aceitável em jornalismo, sem haver qualquer investigação?
RESPOSTA: Qualquer informação, anónima ou não, pode ser investigada e pode vir a resultar numa notícia. Essa informação pode chegar ao jornalista através de uma carta, um telefonema ou um blogue — anónimo ou não.
O PÚBLICO não publicou uma notícia sobre uma acusação feita num blogue anónimo. O PÚBLICO publicou uma notícia sobre o facto de MST confirmar que ia apresentar uma queixa-crime contra o autor do blogue.
O título da nossa notícia era ‘Miguel Sousa Tavares faz queixa-crime contra anónimo que o acusa de plágio’.
O PÚBLICO — e por certo muitas das milhares de pessoas que consultam blogues diariamente — leram o blogue na sexta-feira, dia 20 de Outubro. Não publicámos nada na sexta, nem no sábado, nem no domingo, nem na segunda-feira. Nesses dias, tentámos encontrar um exemplar do livro de Lapierre e Collins ‘Freedom at Midnight’, editado em Portugal em 1976 e hoje fora de circulação.
Foi apenas na terça-feira, dia 24, que a situação mudou. Nesse dia, um jornal tablóide tinha na primeira página uma fotografia de MST que ocupava toda a página e era acompanhada do título ‘Isto vai ser resolvido em tribunal e à paulada’. E assim foi decidido que devíamos telefonar a MST e perguntar se era verdade que ia processar o autor do blogue. Só após a conversa com MST decidimos que devíamos publicar uma notícia.
A notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio — editorialmente, é incontestável que isto é notícia. O centro da notícia não é o plágio, mas a queixa.
E já agora, esta semana, 31 de Outubro, a editora de Sousa Tavares emitiu um comunicado de imprensa cujo conteúdo passamos a transcrever:
COMUNICADO DE IMPRENSA
Equador de Miguel Sousa Tavares
Conforme anunciado previamente, o autor Miguel Sousa Tavares, representado por advogado, entregou hoje na Directoria de Lisboa da Polícia Judiciária queixa e participação criminal por difamação e violação de direito moral de autor, contra o responsável do blogue www.freedomtocopy.blogspot.com e contra o autor do post de 20 de Outubro de 2006 que usou o pseudónimo ‘Lapierre e Collins’. A queixa seguirá os seus trâmites legais, decorrendo a investigação sob segredo de justiça.
Cruz Quebrada, 31 de Outubro de 2006
A Gerência
Oficina do Livro
”.
COMENTÁRIO DO PROVEDOR: É óbvio que “qualquer informação, anónima ou não, pode ser investigada e pode vir a resultar numa notícia”. O problema é que as jornalistas (e até contrariamente ao que elas próprias defendem na sua resposta) não cuidaram de investigar o cerne de toda esta questão, isto é: se sim ou não houve plágio.
As jornalistas dizem, por outro lado, que tentaram “encontrar um exemplar do livro de Lapierre e Collins ‘Freedom at Midnight’” e logo a seguir que “a notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio — editorialmente, é incontestável que isto é notícia. O centro da notícia não é o plágio, mas a queixa.”
Se a notícia era de facto a queixa e não o plágio — como pretendem — qual a justificação para procurar o livro? Não será esta uma forma de reconhecer implicitamente que a queixa é uma consequência e não a causa? E como explicam terem avançado com a notícia sem terem lido o livro quando consideravam importante consultá-lo?
O Comunicado de Imprensa da Oficina do Livro (uma das editoras do provedor) é irrelevante na medida em que só foi emitido seis dias depois da publicação da referida notícia.

A análise desta caso continua na próxima semana.

Não entendo: MST tem todo o direito de estar enfurecido com quem escreveu num blog que ele plagiou (não sei se plagiou, mal li "Equador", nunca pus os olhos em cima do livro de que se diz que copiou frases), e as jornalistas em questão têm todo o direito de escreve um notícia sobre esse blog. Fosse anónimo ou não. Uma coisa seria elas terem recebido uma carta ou um mail ou telefonema anónimos e publicarem a informação sem a confirmarem. Outra coisa, bem diferente, é haver um blog anónimo com certas acusações (anónimas) que servem de base a um telefonema ao visado, que resulta numa notícia. MST é acusado de plágio, confirma que vai à polícia queixar-se contra desconhecidos que o acusam de plágio. Que mais querem? Que as jornalistas ignorem o facto?

RESPOSTA DO PROVEDOR
O leitor (anónimo) afirma que "uma coisa seria elas terem recebido uma carta ou um mail ou telefonema anónimos" e "outra coisa, bem diferente, é haver um blogue anónimo com certas acusações (anónimas)".
Permita-me dizer-lhe que não vejo a diferença entre as duas coisas.
Também não entendo que alguém se esconda atrás do anonimato quando pretende estar a descrever apenas factos...
Repito: Aquilo que estava essencialmente em causa era comparação entre o “Equador” e “Esta noite a Liberdade”. As jornalistas não leram uma das obras, mas reproduziram as acusações. Consideraram, portanto, que o blogue anónimo era credível. Independente de o ser ou não, o jornalismo tem regras: recortar a informação é uma delas.
CONCLUSÃO
As notícias publicam-se.
Os boatos confirmam-se.

Claramente, quem escreve ao provedor não é o leitor (nem amigo) Miguel Sousa Tavares, mas sim o escritor visado na notícia. Porquê a confusão?

Ao Sr. Provedor:
Contra quem deveria ter sido, então, dirigida a queixa-crime? Contra um anónimo que por o ser não é credível, devendo por isso ser ignorado, ou contra quem lhe deu credibilidade, isto é, as sras. jornalistas e o jornal que representam e que publicou a notícia?
Obrigado.

"O leitor Miguel Sousa Tavares..."?
Sr. Provedor, com o devido respeito, coisa que o Sr. Miguel Sousa Tavares não se apresenta neste caso é como leitor. Parece ser, isso sim, uma das partes. Lamento que se afaste de mais válidas tarefas de provedoria para arbitrar conflitos de personalidades públicas, no caso um fazedor de opinião por excelência e com grande capacidade reivindicativa, quando talvez fosse mais conveniente velar pelas preocupações do leitor anónimo. MST tem meios para defender os seus legítimos interesses, aliás como o tem feito nas últimas semanas, que bem dispensariam que o Sr. Provedor sentisse a necessidade de intervir. Facilmente poderia reencaminhar a carta do "pseudo-leitor" MST para o Director do Jornal, em virtude de o cronista vir contestar a actuação de duas jornalistas enquanto entrevistado e não enquanto leitor. MST na carta mostra uma distância relativamente ao “Público” bem diferente da qual deveria até ser oportunamente esclarecida na sua coluna deste domingo. Preferiu ignorar as figuras de "Carta ao Director" ou "Direito de Resposta". Arrisca-se assim a receber cartas relativamente à qualidade da sua actuação como provedor. Deixe-me acrescentar que o estilo com que confronta as duas jornalistas respinga algum autoritarismo na forma: as perguntas curtas de resposta automática não costumam ser o estilo de um provedor, limitam a defesa dos jornalistas que deverão justificar-se ao leitor e não ao provedor. Porém, neste caso está tudo trocado. O provedor defende um entrevistado, por acaso que lhe é próximo e ex-colaborador do jornal, o que pode levantar questões, e age como um inquisidor. Na semana que vem ainda há uma segunda parte? Sinceramente, o leitor, este leitor, pensa que não deveria sequer ter ido a jogo...

José Sá - Lisboa

O blogue www.freedomtocopy.blogspot.com já foi apagado há cerca de 3 semanas (está em branco). Conclusão: o(s) seu(s) autores são duplamente cobardes (por acusarem anonimamente e depois, qdo ameaçados de processo e pauladas, apagarem os posts e fugirem).

Mais um episódio interessante:

De acordo com http://www.garfos.letrascomgarfos.net/archives/2006/11/02/o-escandalo-compensa/

«O último post, guardado em cache pelo Bloglines foi o seguinte, e passo a transcrever:

Toda a Verdade

By freedomtocopy

Por mais simples que pareça:

1. O anterior blog alojado neste mesmo endereço não foi censurado;
2. Este espaço não foi “tomado”;
3. O endereço estava, à altura da sua mais recente reutilização, disponível;
4. O novo “dono” deste espaço não faz a mais pequena ideia da razão pela qual este espaço, outrora ocupado, tenha ficado, de um momento para o outro, completamente disponível para reutilização;
5. O novo “dono” deste espaço não tem rigorosamente nenhuma ligação com o “dono” anterior;
6. O novo “dono” deste espaço declina qualquer responsabilidade por todo e qualquer conteúdo publicado previamente à mais recente apropriação deste endereço;
7. O novo “dono” deste espaço reserva-se ao direito de publicar todo o qualquer conteúdo que julgue pertinente, respeitando a Lei Portuguesa, o seu próprio código de conduta e ainda as directrizes de publicação da Blogger / Google;
8. O novo “dono” deste espaço abomina qualquer forma de censura e é um acérrimo defensor da utilização da blogosfera / Internet como ferramenta privilegiada de comunicação, partilha e desenvolvimento colectivo;
9. O novo “dono” deste espaço não faz qualquer juízo sobre a qualidade de “Equador” - limita-se a citar a fonte oficial de promoção do livro, deixando esse julgamento - positivo ou negativo - aos leitores que o façam de forma digna e não insultuosa.
10. Sendo “Equador” uma obra de evidente notoriedade, julga o novo “dono” deste espaço ser pertinente o seu debate, plural e vertical.»

Nota final: repare-se que o "novo dono" deve estar a promover um novo detergente na blogosfera, pois "branco mais branco"...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

RESPOSTA DO PROVEDOR
1- Miguel Sousa Tavares (MST) pode não ler o PÚBLICO, mas é incontestavelmente uma das partes (enquanto entrevistado).
Permita-me formular a seguinte pergunta: É por isso que MST deixa de ter o direito de contestar uma notícia que considera ofensiva dos seus direitos?
Discordo do leitor.
2- O leitor afirma, por outro lado, que “MST tem meios para defender os seus legítimos interesses, aliás como o tem feito nas últimas semanas, que bem dispensariam que o Sr. Provedor sentisse a necessidade de intervir.”
Considero que o facto de MST ter meios para se defender não significa que o provedor não responda à sua mensagem.
3- A mensagem foi enviada ao provedor. Compete, portanto, ao provedor avaliar a pertinência da queixa (MST questiona um problema ético relevante), investigar as condições que levaram à publicação do artigo e esclarecer os leitores sobre os métodos usados: o rigor, a exactidão e a equidade da notícia.
4- O leitor escreve: “Deixe-me acrescentar que o estilo com que confronta as duas jornalistas respinga algum autoritarismo na forma: as perguntas curtas de resposta automática não costumam ser o estilo de um provedor, limitam a defesa dos jornalistas que deverão justificar-se ao leitor e não ao provedor.”
Permita-me discordar. Não se trata de autoritarismo, mas de profissionalismo. As perguntas devem ser sempre curtas. As respostas podem ser longas. E o provedor não limita a defesa das jornalistas porquanto não corta respostas a ninguém. Em 11 meses nunca cortei uma palavra a ninguém.
5- Mais uma afirmação não fundamentada do leitor: “O provedor defende um entrevistado, por acaso que lhe é próximo e ex-colaborador do jornal, o que pode levantar questões, e age como um inquisidor”.
O provedor não defende ninguém.
O provedor formula um parecer sobre a queixa e as respostas – baseado no Código Ético dos Jornalistas, Livro de Estilo do PÚBLICO e demais textos pertinentes (Constituição, etc.).
O facto de MST ser meu amigo e um ex-colaborador do jornal é irrelevante.
O provedor indaga opções e procedimentos. O jornalismo tem regras.
A notícia publica-se.
O boato investiga-se.
As jornalistas do PÚBLICO reproduziram acusações (de um blogue anónimo) sem ler uma das obras. É só isso que questiono. Não me parece que seja uma postura menos honesta ou de inquisidor…
Também escrevi que MST não tinha o direito de pedir à jornalista para ler o artigo antes da publicação...
6- A análise do caso continua na próxima semana porque não censurei ninguém.É é um caso importante, mais não seja a nível da ética.

Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

Senhor Provedor:
Tomo a liberdade de lhe chamar a atenção para uma discussão entre pessoas do direito no meu modestíssimo blog que - apesar de se chamar O Anónimo, é bem identificado - sobre a questão MST, que abordou no último Domingo.
Com os meus melhores cumprimentos
Coutinho Ribeiro
www.oanonimoanonimo.blogspot.com

Caro Senhor,

Talvez tenha revelado um tom demasiadamente assertivo nas linhas que lhe escrevi e que, desde já, lamento. Em momento algum questiono a sua honestidade. Simplesmente acho que a acção de provedoria deveria ser dirigida àqueles que têm menor facilidade em fazer ouvir as suas"queixas".

Procede mal quando retoricamente me questiona dos direitos de MST, querendo reproduzir uma afirmação que não lhe dirigi. Claro que MST pode e deve contestar a notícia. O que lhe perguntei era se o espaço para o fazer era o do provedor dos leitores, a carta ao director ou o direito de resposta. Ao dirigir-se a si, MST não estará a instrumentalizar um espaço do leitor (escasso) para, mais que obter a resposta do provedor, repetir a mesma defesa já exercida noutros jornais, particularmente no “Expresso”?

Se uso a palavra "defende" é por entender a acção do provedor como a de defesa de quem a ele recorre e não ao caso concreto. Aceito a sua correcção.

Quanto a autoritarismo VS profissionalismo, entendo que não é a sua coluna um espaço de interrogatório, pelo que talvez seja mais adequado apresentar às jornalistas a interpelação do "leitor/entrevistado" para que as mesmas comentem. Conceder o benefício da dúvida e dar a oportunidade de resposta dificilmente se conseguem com perguntas tipo "Fizeram aquilo que deveriam ter feito?". Acaba por sobrar a resposta defensiva e a faltar a reflexão. Repare, não estou a dizer que assim seja, mas só tendo de si o tom da coisa escrita, transparece o que vulgarmente se chama de "entrada a matar", coisa que não lhe tem sido habitual noutras ocasiões. Interrogo-me.

"- O provedor formula um parecer sobre a queixa e as respostas."
Talvez o seu parecer, talvez, deva ser formulado, em igualdade de circunstâncias, sobre a queixa do "leitor/entrevistado" e a resposta das jornalistas a essas mesmas queixas, que não às suas perguntas. Não correrá certamente o risco de se desviar da queixa ou de antecipar o parecer.

Sem mais a acrescentar.

Sinceros Cumprimentos
José Sá

RESPOSTA DO PROVEDOR
Caro Leitor,
Agradeço a afável resposta.
São raros os leitores que me escreveram sobre questões importantes (ética e deontologia) cujas mensagens não foram publicadas no espaço do provedor.
Devo ser um dos provedores que menos escreve porque não corto as declarações de ninguém (ao contrário do que faço sempre quando escrevo notícias ou transcrevo entrevistas.
MST tem o direito de questionar o provedor porque considera que as jornalistas do Público não respeitaram uma regra essencial do jornalismo: confirmar a veracidade dos factos.
MST estará a instrumentalizar o espaço do provedor? Não creio. O provedor só tratou o caso porque considerou que era uma questão importante. Acho que na medida em que a notícia foi publicada no PÚBLICO é natural que a mesma seja debatida no mesmo jornal.
Jornalistas - a resposta das jornalistas do Público ocupa 8.198 caracteres nas 2 crónicas (e a mensagem de MST 4.272). As jornalistas têm quase o dobro do espaço de MST...
Permita-me discordar da forma de interpelar as referidas jornalistas. Tentei ser factual: "Leram o primeiro livro? Leram o segundo? Compararam as duas obras?"... Não será uma "entrada a matar". (...)
O leitor escreve: "Talvez o seu parecer, talvez, deva ser formulado, em igualdade de circunstâncias, sobre a queixa do "leitor/entrevistado" e a resposta das jornalistas a essas mesmas queixas, que não às suas perguntas. Não correrá certamente o risco de se desviar da queixa ou de antecipar o parecer."
As minhas perguntas têm por objectivo salientar aquilo que está em causa porque nem sempre as queixas traduzem isso explicitamente e as respostas podem ser formuladas de forma ambígua. E, por outro lado, nem todos os leitores conhecem as regras do jornalismo e a obrigações éticas dos profissionais da Informação. É uma opção, posso estar enganado.
Penso que este caso ilustra um caso de mau jornalismo.
(...)
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo

Caro Provedor do Leitor,

Foi com espanto que lemos o seu texto de domingo no PÚBLICO no qual omite o essencial da nossa posição/defesa, enviesando por isso os factos e não contribuindo para o esclarecimento dos leitores.

Independentemente da sua opinião, não deveria o provedor ter dividido o texto de Miguel Sousa Tavares, tal como fez com as nossas respostas? Ou seja, sendo a sua opção a reprodução integral das posições de ambos, não seria mais justo publicar as acusações e respectivas respostas das acusadas dando assim espaço ao “direito ao contraditório”? E sobretudo porque nos fez 9 perguntas?

Como pode Rui Araújo reproduzir – como fez no domingo – todas as acusações de MST e apenas uma parte das respostas das jornalistas? O provedor fez 9 perguntas às jornalistas, e só transcreveu 4 respostas.

Na sua análise deixa que a jornalista Joana Gorjão Henriques seja acusada de não cumprimento de um acordo (logo, de ser desonesta), omitindo o contraditório. A questão número 9 que o provedor nos enviou foi: “Joana Gorjão Henriques confirma os contactos com MST descritos pelo escritor? E o teor dos mesmos?” E a resposta foi “Não", seguida de uma detalhada descrição dos factos.

O título da análise do provedor, “A Frase a mais (Parte I)”, revela que o provedor adoptou como sua a posição de MST. A frase, é óbvio pela presente discussão, pode ser interpretada de forma ambígua. Convidamos os leitores a relê-la no seu contexto.

Queremos no entanto sublinhar que a leitura que está a ser feita desta frase assenta num equívoco: a frase em questão é sobre o que o blogue mostra dos livros, não é sobre os livros. A tese do blogue é que “há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. E é contra essa mesma tese que MST se insurgiu, ao ponto de processar os bloguistas.

E aqui chegamos ao ponto de discórdia: para escrever esta notícia sobre alguém que vai processar outra pessoa, não é necessário ler os dois livros.

Este é, de certa forma, um simples caso de tribunal.

Não foi Dan Brown a tribunal por uma acusação semelhante? Não foi isso notícia em toda a imprensa do mundo? Não foi isso primeira página do “Herald Tribune” e de muitos outros jornais? Porque é que o facto de MST confirmar ao PÚBLICO que vai processar os bloguistas não é notícia? Não nos lembramos de ter lido na imprensa mundial opiniões de jornalistas sobre se havia ou não plágio no “caso Dan Brown”. Houve uma queixa, noticiada, houve a defesa de Dan Brown e o julgamento, tudo noticiado. E houve a absolvição de Dan Brown, noticiada.

O provedor pergunta: “Como explicam terem avançado com a notícia sem terem lido o livro quando consideravam importante consultá-lo?”

Será assim tão difícil compreender que quando MST disse num jornal e depois confirmou ao PÚBLICO que ia processar os bloguistas, ter o livro passou a ser irrelevante?

A partir desse momento, a notícia é que MST, autor que vendeu 270 mil exemplares, vai processar os bloguistas. Se MST tivesse respondido, quando o PÚBLICO lhe telefonou, que não tinha comentários a fazer e que não ia processar ninguém, o PÚBLICO não teria publicado nenhuma notícia sobre o assunto. Não havia notícia.

Mas não foi isso que aconteceu. MST confirmou que ia processar os bloguistas. Uma interessante história de tribunal, que envolve um autor de best-sellers, portanto. Aliás, com claras semelhanças ao caso “Margarida Rebelo Pinto VS João Pedro George”. Como se lembrará, foi num blogue que apareceu a primeiríssima indicação de que MRP tinha apresentado uma providência cautelar para travar a edição do livro de JPG que a acusava de se auto-plagiar; foram contactadas ambas as partes, noticiada a acção judicial de MRP, e mais tarde acompanhado o julgamento.

Porque é que MST é diferente? Porque os bloguistas são anónimos? Sim, são anónimos, mas isso não impediu MST de apresentar uma queixa-crime. Porque não tínhamos os livros para comparar? Sim, não tínhamos, como também ninguém terá lido os 8 livros envolvidos no caso de Margarida Rebelo Pinto para escrever a notícia da acção judicial da escritora.

A queixa é a “causa” da notícia, sim. A prova é que não escrevemos nenhuma notícia antes de MST dizer que ia apresentar queixa.

O “cerne de toda esta questão” (palavras do provedor) – se houve ou não plágio – será julgado em tribunal. Mas o cerne da notícia do PÚBLICO, não sendo nós juízes, é que MST processou os bloguistas.

Mesmo que tivéssemos os dois livros na mão e mesmo que acreditássemos que havia ou não havia plágio, não nos caberia a nós, jornalistas, "defender" ou "acusar" o visado. Repetimos: isso é tarefa dos tribunais, não dos jornalistas, porque o assunto em si – a queixa-crime – é matéria judicial.

Por último, lemos na sua análise que é “amigo há décadas” de MST. Sendo MST quem escreve a acusar-nos de gravíssimos erros, pode um provedor “amigo há décadas” ser juiz neste caso? Acreditamos que não; acreditamos que há, neste caso, um claro conflito de interesses.

Obrigada
Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques
14 Novembro 2006

Ficheiros "apagados", ligações, notícias e referências: http://apdeites.cedilha.com/?p=251

Cronologia: http://apdeites.cedilha.com/?p=250

Ponto da situação: http://apdeites.cedilha.com/?p=248

RESPOSTA DO PROVEDOR ÀS JORNALISTAS DO PÚBLICO
A crónica "A FRASE A MAIS" continua no próximo domingo. Isso foi comunicado aos leitores no final do primeiro texto (publicado no passado domingo). Era impossível publicar tudo numa página.
A resposta das jornalistas do PÚBLICO ocupa 8.198 caracteres nas 2 crónicas (e a mensagem de MST 4.272). As jornalistas têm quase o dobro do espaço de MST... Responderei a este comentário das jornalistas do PÚBLICO no espaço semanal do provedor. É uma solução que me parece pertinente porquanto se trata de um caso significativo. E este blogue não é consultado por todos os leitores do PÚBLICO.
O provedor vai, portanto, escrever uma terceira crónica sobre o caso - "A FRASE A MAIS (Parte 3)" - algo que não tinha inicialmente previsto.
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo

Boa tarde.

Terá reparado que não incluímos o título da nossa carta. Chama-se "Protesto". Pelo lapso, as nossas desculpas.

No seu blogue fala de caracteres nossos e de MST, mas como está claro no nosso Protesto, a nossa queixa não tem nada a ver com número de caracteres, mas sim com equilíbrio.

Obrigada,

Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques

Rui Araújo:
Chamo-me José, escrevo num blog ( GLQL) e o que lá escrevo tem a ver apenas com o facto de me chamar José. Tal como "Rui Araújo", se escrevesse num blog sem menção à profissão ou ocupação profissional.
Assim, no blog oanónimoanónimo do comentador Coutinho Ribeiro, deixei lá estes comentários que ponho agora aqui, sobre o assunto.

"Não concordo com o Provedor.
A notícia do Público foi até muito bem apresentada pelas duas jornalistas, a meu ver.
Do que MST não gostou foi da apreciação pessoal (e quanto a mim perfeitamente objectiva) acerca das frases e "passagens" do livro de PST em comparação com o de DL e LC.

Quem quiser apreciar melhor essas "passagens" e fazer comparações basta ir ao blog www.paramimtantofaz.blogspot.com, de Frederico Duarte de Carvalho ( um não anónimo...) e ler o que precisa para tirar conclusões. Até cópias dos dois livros lá estão.
Mas sobre isso, ninguém fala, curiosamente.

Assim, se faltou a análise ao conteúdo de ambos os livros, como pretende o Provedor, não seriam as jornalistas que o teriam que fazer, como também parece exigir o Provedor.
Para essa análise, nomeadamente para se ver e concluir se houve plágio, terá que se equacionar:
A noção de plágio literário que não vi em lado alguma a ser equacionada.
A noção de plágio parcial e o que significa a cópia de frases, "passagens", "narrações coloridas"( como lhe chamou o crítico Fernando Venãncio).
Qual a ética a seguir nestes casos e se há casos parecidos e como foram apreciados.
Esss trabalho ninguém o quer fazer.
Pela minha parte, tentei, copiando uma apreciação de plágios literários que apareceu na revista francesa Lire de 1992( nos blogs GLQL e Portadaloja).
Parece-me que a situação de MST cabe lá inteirinha.
mas..parece ser muito mais simples tomar partido..."
"Além disso, a "verdade" de uma notícia como aquela, era, como disseram as jornalistas, o alegado plágio e em primeiro lugar a reacção de MST que prometeu pauladas e processos.

O resto da notícia, glosa esse tema principal.
A partir do momento em que o Provedor acha relevante a notícia sobre o alegado plágio, entra em contradição ao escrever que as jornalistas teriam que verificar se existia plágio.
Como se fossem elas as juízas da causa.

Além disso, ainda, se fôssemos a exigir o conhecimento da "vedade" em todas as notícias, estou certo que haveria dias em que não poderiam sair jornais.

Uma coisa que o Provedor terá razão, indirecta, é ao criticar directamente a falta de qualidade de algumas notícias.
Se isto se passasse com alguns jornais estrangeiros, para além da notícia, haveria ainda recolha de dados e informação sobre o assunto, para informar melhor.

Se as jornalistas seguissem a recomendação do Provedor, teriam que concluir que não tinha havido plágio, pois é isso que se depreende do que ele escreve.
E assim, a notícia ficaria no tinteiro, como muitas.

Mas isso seria precisamente "quod erat demonstrandum". "

RESPOSTA DO PROVEDOR

Caro Leitor,
Permita-me esclarecer o seguinte:

1- "Não concordo com o Provedor”.

O leitor tem todo o direito de discordar.

2- “A notícia do Público foi até muito bem apresentada pelas duas jornalistas, a meu ver”.

A notícia não respeita uma regra essencial do jornalismo: a confirmação da veracidade dos factos.

3- “Do que MST não gostou foi da apreciação pessoal (e quanto a mim perfeitamente objectiva) acerca das frases e "passagens" do livro de PST em comparação com o de DL e LC”.

MST tem todo o direito de não gostar “da apreciação pessoal”, mas isso é irrelevante. Aquilo que está em causa – repito – é o facto de as jornalistas fazerem afirmações não fundamentadas.

4- “Quem quiser apreciar melhor essas ‘passagens’ e fazer comparações basta ir ao blog www.paramimtantofaz.blogspot.com, de Frederico Duarte de Carvalho ( um não anónimo...) e ler o que precisa para tirar conclusões. Até cópias dos dois livros lá estão.
Mas sobre isso, ninguém fala, curiosamente”.

As jornalistas afirmam que a notícia não é sobre o alegado plágio. Em que ficamos? De qualquer modo o blogue que menciona não significa de forma alguma que as jornalistas não devam confirmar a veracidade dos factos – comparando os dois livros. São as únicas fontes credíveis neste caso. E as jornalistas não o fizeram.

5- “Assim, se faltou a análise ao conteúdo de ambos os livros, como pretende o Provedor, não seriam as jornalistas que o teriam que fazer, como também parece exigir o Provedor”.

O provedor defende que um jornalista não pode fazer afirmações gratuitas (baseadas em blogues anónimos, não baseadas em factos).
As notícias publicam-se.
Os boatos confirmam-se.

6- “Para essa análise, nomeadamente para se ver e concluir se houve plágio, terá que se equacionar:
A noção de plágio literário que não vi em lado alguma a ser equacionada.
A noção de plágio parcial e o que significa a cópia de frases, "passagens", "narrações coloridas"( como lhe chamou o crítico Fernando Venãncio)”.

As jornalistas excluem peremptoriamente que a notícia seja sobre o plágio, mas ao mesmo tempo afirmam que o livro de MST tem “muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais” com a obra “Esta noite a Liberdade”. Em que ficamos?

7- “Qual a ética a seguir nestes casos e se há casos parecidos e como foram apreciados.
Esse trabalho ninguém o quer fazer.”

As jornalistas tinham o dever de confirmar os factos. É isso que está em causa.

8- “Pela minha parte, tentei, copiando uma apreciação de plágios literários que apareceu na revista francesa Lire de 1992( nos blogs GLQL e Portadaloja).
Parece-me que a situação de MST cabe lá inteirinha.
mas..parece ser muito mais simples tomar partido..."

As jornalistas não compararam as duas obras.

9- “"Além disso, a "verdade" de uma notícia como aquela, era, como disseram as jornalistas, o alegado plágio e em primeiro lugar a reacção de MST que prometeu pauladas e processos.

É falso. Eis a afirmação exacta das jornalistas: “A notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio — editorialmente, é incontestável que isto é notícia. O centro da notícia não é o plágio, mas a queixa.”

10- “O resto da notícia, glosa esse tema principal. A partir do momento em que o Provedor acha relevante a notícia sobre o alegado plágio, entra em contradição ao escrever que as jornalistas teriam que verificar se existia plágio. Como se fossem elas as juízas da causa.”

O problema é justamente as jornalistas afirmarem que a notícia não é sobre plágio e tentarem arranjar um exemplar do livro “Esta noite a Liberdade”. Se a notícia – como pretendem – não era o plágio qual a justificação para procurar o livro? Questiono, por outro lado, o facto de terem publicado a notícia apesar de não terem conseguido arranjar o livro (que consideravam importante – na medida em que o procuraram).

11- “Além disso, ainda, se fôssemos a exigir o conhecimento da "verdade" em todas as notícias, estou certo que haveria dias em que não poderiam sair jornais”.

O provedor discorda do leitor, por razões óbvias. O jornalismo tem regras e um código ético.

12- “Uma coisa que o Provedor terá razão, indirecta, é ao criticar directamente a falta de qualidade de algumas notícias.
Se isto se passasse com alguns jornais estrangeiros, para além da notícia, haveria ainda recolha de dados e informação sobre o assunto, para informar melhor.”

Depende dos jornais. A imprensa portuguesa não detém o exclusivo do mau jornalismo.

13- “Se as jornalistas seguissem a recomendação do Provedor, teriam que concluir que não tinha havido plágio, pois é isso que se depreende do que ele escreve.
E assim, a notícia ficaria no tinteiro, como muitas.
Mas isso seria precisamente "quod erat demonstrandum". "

Discordo. Se as jornalistas seguissem a recomendação do provedor tinham respeitado as regras da profissão e o código ético. Tinham confirmado a veracidade dos factos. E não o fizeram. Para o provedor aquilo que está em causa são as afirmações não fundamentadas.

Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo

Caro Provedor do leitor do Público ( que também sou desde o primeiro número):
Vou cingir-me a poucos aspectos da sua argumentação que repisa uma afirmação que me parece sofismada.
Diz: “A notícia não respeita uma regra essencial do jornalismo: a confirmação da veracidade dos factos.” E ainda diz que as jornalistas “ excluem peremptoriamente que a notícia seja sobre o plágio, mas ao mesmo tempo afirmam que o livro de MST tem “muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais” com a obra “Esta noite a Liberdade”. Em que ficamos?”
A afirmação sofismada, a meu ver, é a que refere terem as jornalistas negado que a notícia seja sobre o plágio. A meu ver, como as mesmas não afirmam ter existido plágio, citando um blog anónimo que referiu a sua existência, torna-se “incontournable”, dizer que a notícia é mesmo sobre o alegado plágio. Alegado plágio, caro Provedor! Uma variação de conceito, muito na moda, mas que não pode iludir o essencial: a notícia, objectivamente, é sobre a acusação de plágio ao autor do livro, tomando como base noticiosa a reacção destemperada deste ( pauladas). Assim, para o Provedor a garrafa está meio cheia e para as jornalistas, meio vazia. Ambos terão razão. Mas…terão?

Quando o distinto Provedor, afirma que as jornalistas deveriam ter certificado a existência de plágio, antes de dar a notícia assumindo , como outros, aliás, que notícia, notícia, seria mesmo e plágio real, está a desviar o thema decidendum para uma lateralidade.
A um jornalista, segundo creio, não se exige um julgamento de mérito sobre uma questão da vida real que se lhe apresente como de validade noticiosa.
Se assim, fosse, e tal como afirmei no que escrevi, muitas vezes não haveria notícias.
Imagine o distinto Provedor que se exigiria aos jornalistas judiciários do Público e à directora da secção Sociedade, o apuramento prévio da verdade do que se passa nas questões de fundo, nos processos de que vão dando notícias…

Assim, tal como um jornalista pode muito bem noticiar que determinado fulano foi preso por suspeitas graves de cometimento de malfeitorias, sem apurar se tal corresponde à realidade e se o mesmo é responsável pela sua prática, deixando assim de respeitar integralmente o princípio processual de presunção de inocência de quem é indiciado, também agora será legítimo noticiar que alguém acusa, mesmo de modo anónimo, mas com indicações concretas e com fundamentos que se podem ler, um autor de ser plagiador de outra obra alheia.
É essa a questão de fundo e a essa as jornalistas deram resposta adequada e proporcional no artigo em causa.
Um artigo de jornal , sobre factos, deverá ser o mais objectivo possível.
Tratando-se de uma notícia sobre um alegado plágio, é certo que as jornalistas poderiam ir mais longe. Poderiam até pedir opinões a “especialistas”, mostrando e esclarecendo o que deve entender-se por plágio e quais as suas cambiantes. Poderiam citar por exemplo, o escritor Luís Pacheco e o que ele disse de Fernando Namora em relação a Virgílio Ferreira. Poderiam repescar artigos de opinião sobre o alegado plágio de Clara Pinto Correia na Visão ( e que a mesma começou por dizer que não, sim, nem sei, talvez, foi com muito orgulho…)
Poderiam até citar Jorge Luís Borges e o seu conto ( que conto por na portadaloja)sobre o plágio do D. Quijote que vem escrito nas Ficções. Poderiam glosar, comparar, discutir, como se pode fazer num blog. Mas isso seria pedir o óptimo. E será que o Público comporta esse óptimo?
É essa questão que deixo ao ilustre Provedor.

Com cumprimentos também, que sendo anónimo ( com muito gosto), não quero passar por mal educado e muito menos libertino.

RESPOSTA DO PROVEDOR AO LEITOR ANÓNIMO

Escreve o leitor: “A meu ver, como as mesmas não afirmam ter existido plágio, citando um blog anónimo que referiu a sua existência, torna-se “incontournable”, dizer que a notícia é mesmo sobre o alegado plágio”.

As jornalistas afirmam que o livro de MST tem “muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. Em jornalismo isso é considerado plágio.
Citar, por outro lado, um blogue anónimo sem confirmar as acusações é propagandear boatos.
Os boatos – repito – investigam-se. E as notícias publicam-se.


O leitor considera que “a notícia, objectivamente, é sobre a acusação de plágio ao autor do livro, tomando como base noticiosa a reacção destemperada deste ( pauladas). Assim, para o Provedor a garrafa está meio cheia e para as jornalistas, meio vazia. Ambos terão razão. Mas…terão?”

Não comento a reacção de MST.
As jornalistas afirmam que “a notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio – editorialmente, é incontestável que isto é notícia”, mas reconhecem que tentaram arranjar um exemplar de “Esta noite a Liberdade”. E apesar de não terem encontrado o livro reproduziram, parágrafos do blogue anónimo...
As jornalistas consideraram, portanto, que o blogue anónimo era credível. E isso – repito – é uma opção errada em jornalismo. Os jornalistas têm a obrigação de confirmar a informação.


Mais uma afirmação do leitor: “A um jornalista, segundo creio, não se exige um julgamento de mérito sobre uma questão da vida real que se lhe apresente como de validade noticiosa. Se assim, fosse, e tal como afirmei no que escrevi, muitas vezes não haveria notícias.
Imagine o distinto Provedor que se exigiria aos jornalistas judiciários do Público e à directora da secção Sociedade, o apuramento prévio da verdade do que se passa nas questões de fundo, nos processos de que vão dando notícias…”

Discordo do leitor.
Defendo que nem tudo é notícia. E que não vale tudo no jornalismo, a começar por publicitar passivamente meros boatos. O jornalismo é um serviço (não é uma mercadoria). E obedece a algumas regras – apesar de não ser uma ciência exacta, obviamente. Uma das regras é a confirmação dos factos.
O leitor menciona uma questão importante: “Imagine o distinto Provedor que se exigiria aos jornalistas judiciários do Público e à directora da secção Sociedade, o apuramento prévio da verdade do que se passa nas questões de fundo, nos processos de que vão dando notícias…”
A resposta seria necessariamente longa. O apuramento prévio da verdade? As questões de fundo? Os processos? E as fontes? E a investigação (ou a ausência de investigação, ou os recados)? Etc.
Permita-me formular apenas um reparo: a secção Sociedade do Público é chefiada por uma editora, não por uma directora. É só um detalhe, mas os detalhes também são importantes.


Diz o leitor: “Assim, tal como um jornalista pode muito bem noticiar que determinado fulano foi preso por suspeitas graves de cometimento de malfeitorias, sem apurar se tal corresponde à realidade e se o mesmo é responsável pela sua prática, deixando assim de respeitar integralmente o princípio processual de presunção de inocência de quem é indiciado, também agora será legítimo noticiar que alguém acusa, mesmo de modo anónimo, mas com indicações concretas e com fundamentos que se podem ler, um autor de ser plagiador de outra obra alheia.
É essa a questão de fundo e a essa as jornalistas deram resposta adequada e proporcional no artigo em causa.”

Discordo.
O leitor considera que “será legítimo noticiar que alguém acusa, mesmo de modo anónimo, mas com indicações concretas e com fundamentos que se podem ler, um autor de ser plagiador de outra obra alheia”.
Pergunto: como é que um jornalista pode chegar à conclusão que uma acusação anónima é factual (“indicações concretas e com fundamentos que se podem ler “???) sem consultar as obras em causa? Sem confirmar minimamente a informação? E foi isso que aconteceu.


Outra afirmação do leitor: “Um artigo de jornal , sobre factos, deverá ser o mais objectivo possível.”

Discordo.
A objectividade não existe, mas isso não impede que os jornalistas devam ser rigorosos, exactos, etc. E respeitem o Código Deontológico que rege a profissão. E o princípio da equidade. E o...
É outra questão interessante que merece ser desenvolvida.


Escreve o leitor: “Tratando-se de uma notícia sobre um alegado plágio, é certo que as jornalistas poderiam ir mais longe. Poderiam até pedir opinões a “especialistas”, mostrando e esclarecendo o que deve entender-se por plágio e quais as suas cambiantes.”

Discordo novamente. As próprias jornalistas defendem que a notícia é sobre a queixa e não sobre o plágio (apesar de terem procurado o livro “Esta noite a liberdade” (para quê se o tema não era o plágio? - e de terem facultado – na sua resposta ao provedor – exemplos de frases do blogue).
O provedor considera que se trata de uma atitude deveras contraditória.


Conclui o leitor: “Com cumprimentos também, que sendo anónimo (com muito gosto), não quero passar por mal educado e muito menos libertino.”

Os meus cumprimentos.
Rui Araújo

Responde o "leitor anónimo", ao Provedor:
Como há muitas razões de discordância, concorda-se que de facto discordamos em muita coisa, mas não no essencial: o jornalismo do Público deixa muito a desejar.E até neste caso, mas por motivos diversos.

Concedo, porém, uma coisa, na sua argumentação: que as jornalistas aceitaram as citações vindas a público num blog anónimo, sobre duas obras literárias, como expressão de factos, sem os confirmar realmente.
Poderiam tê-lo feito, nas circunstâncias em causa? Podiam, comparando as duas obras e vendo( lendo) se não haveria gato escondido.
Mas...não é esse exactamente o papel do fact checker?
O Público tem algum fact checker? Ou as notícias são dadas como chek mate, em alguns casos importantes?
Por falar nisso, porque é que o Provedor ataca impiedosamente as jornalistas e deixa de fora, piedosamente, a "editora"?
Não é a esta que compete o fact-checking, na ausência da "real thing"?

Continuando:
Hoje, o Público, titula na segunda página- "José Veiga suspeito de ter ficado com 3,3 milhões do Sporting".
Esta notícia foi investigada quanto ao seu fundamento real e material? Não foi nem podia. E no entanto, ela aí está. Se for verdadeira, terá razão o anónimo que enviou uma carta assim assinada, a denunciar a situação. Se não for, José Veiga está mesmo quilhado, muito mais do que no alegado plágio do Sousa Tavares.

A situação é paralela e foi por isso que apontei os casos de jornalismo judiciário.

Continuando ainda:

Se o Provedor acha que em jornalismo, um plágio significa a detecção numa obra de “muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais” a outra, então deverá, em coerência, verificar o que se escreve no blog para mim tanto fazque apontei como tendo registado passagens de ambos os livros e que foram publicadas na revista Focus, pelo seu autor que não é anónimo e até reclama que ninguém lhe liga...

Por aí se pode ler ( fazendo fé no autor, claro, mas isso depende das pessoas de boa fé, e isso também me parece claro), excertos dos dois livros e por aí se pode inferir e até concluir se as jornalistas erraram na frase que escreveram, por terem feito fé no que o blogger anónimo, apontado como difamador, escreveu.
Quanto a mim não erraram e sendo essa a questão que incomoda o Provedor, aqui lhe deixo o repto que fiz a mim mesmo, no início deste assunto: comparar efectivamente os textos. Procurar saber o que é um plágio literário e concluir, (em termos pessoais, claro) se existiu ou não.
Quanto a mim, as jornalistas não concluiram. Mas o Provedor, por seu turno, concluiu e já disse que não existe...

Mais uma vez, q.e.d., ilustre Rui Araújo.
É essa a questão principal e agora iniludível. Mas ninguém lhe quer tocar. Até parece que o problema do plágio é tabu, por estas bandas.

O crítico Fernando Venâncio que pelos vistos até aprecia o livrito em causa ( O Equador), não foi assim tão peremptório, como quase todos os próceres do comentário em jornal. Disse que detectava no livro uma semelhança com o outro, em termos de "colorido narrativo".
Eufemismos...
Sabe uma coisa, aqui entre nós,- leitor anónimo e Provedor do Público-?
Estou farto de detectar plágios nas páginas do jornal em que o ilustre Provedor desempenha essa função nobre.
Uma das últimas em que tal aconteceu, foi numa reportagem desenvolvida sobre a música "reggae", há uns meses.
A net é, actualmente, um manancial de informação. Mas é sempre preciso ter alguma formação, para lhe dar letra de forma original.
Se assim não acontece, a cópia torna-se infantil.Primária, entenda-se.

RESPOSTA DO PROVEDOR AO LEITOR ANÓNIMO (DA “GRANDE LOJA DO QUEIJO LIMIANO”?)

Caro Leitor,

Permita-me responder a três perguntas :

LEITOR: "Concedo, porém, uma coisa, na sua argumentação: que as jornalistas aceitaram as citações vindas a público num blog anónimo, sobre duas obras literárias, como expressão de factos, sem os confirmar realmente.
Poderiam tê-lo feito, nas circunstâncias em causa? Podiam, comparando as duas obras e vendo(lendo) se não haveria gato escondido.
Mas...não é esse exactamente o papel do fact checker?
O Público tem algum fact checker? Ou as notícias são dadas como chek mate, em alguns casos importantes?

RESPOSTA DO PROVEDOR: O jornalista tem o dever de confirmar a realidade dos factos - é o jornalista quem escreve a notícia.
As jornalistas em causa deviam ter comparado as duas obras antes de formularem acusações. É essencialmente isso que está em causa.
É evidente que tinham a possibilidade de arranjar o livro estrangeiro.
O PÚBLICO não dispõe de "fact checkers".


LEITOR: "Por falar nisso, porque é que o Provedor ataca impiedosamente as jornalistas e deixa de fora, piedosamente, a "editora"?
Não é a esta que compete o fact-checking, na ausência da "real thing"?".

RESPOSTA DO PROVEDOR:
1- O provedor não ataca "impiedosamente" as jornalistas. O provedor constata um erro. E não sempre desculpa para tudo e para todos...
2- O provedor não deixa de fora "piedosamente a editora".
Bárbara Reis, uma das jornalistas questionadas neste caso, é editora da Secção CULTURA.
Em que ficamos?


LEITOR: "Quanto a mim, as jornalistas não concluiram. Mas o Provedor, por seu turno, concluiu e já disse que não existe...
Mais uma vez, q.e.d., ilustre Rui Araújo.
É essa a questão principal e agora iniludível. Mas ninguém lhe quer tocar. Até parece que o problema do plágio é tabu, por estas bandas."

RESPOSTA DO PROVEDOR: O provedor apenas concluiu que as jornalistas não respeitaram uma regra importante em matéria de jornalismo: a confirmação dos factos.
As jornalistas proferem acusações não fundamentadas porquanto não compararam as duas obras. É essa a conclusão factual do provedor.
Permita-me outro esclarecimento: não compete ao provedor escrever notícias.
Se considera que o problema do plágio é tabu deve questionar a Redacção, nunca o provedor.

Os meus cumprimentos,
Rui Araújo

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Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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