O PROVEDOR DOS PORMENORES
“Não sei se é inédito, mas não deixará de ser original: o PÚBLICO tem um artigo, na página 6, onde dá conta da publicação, na mesma edição, de um artigo de opinião de Manuel Alegre, fazendo notícia sobre o mesmo, com citações. Ainda pensei que eram declarações do próprio a justificar ou a acrescentar algo sobre o seu próprio artigo, o que seria aceitável, até para contextualização. Mas não. São meros extractos do artigo que surge na íntegra mais à frente.
Se o modelo pega, teremos no futuro notícias na página 2 sobre uma notícia da página 3 e assim sucessivamente. Uma coisa será dar destaque (estava na capa) ou chamadas no início dos cadernos/secções. Agora, um texto supostamente noticioso?
Aqui parece um texto da agência Lusa, o que até poderia ser, mas para uso externo, não?
Já agora uma questão: o destaque triplo (artigo + texto pág. 6 + capa) ao artigo de Manuel Alegre deve-se apenas a critérios jornalísticos (que existem, obviamente) ou não se deverá tal destaque ao facto de ser um artigo que avaliza a posição do jornal (ou da sua direcção) na ‘luta’ que tem travado contra a ERC e as medidas do ministro Santos Silva/Governo Sócrates?
Isto é, teria o jornal dado igual destaque, caso não estivesse envolvido nessa luta, caso não obviamente concordasse com o teor do artigo? Suponho que não. Mas, não seria então preferível assumir essa posição e, no editorial de hoje, dizer isso mesmo, que o PÚBLICO se congratulava por a sua posição que vem sustentando ao longo dos últimos meses ser sustentada e reforçada por um destacado dirigente socialista como Manuel Alegre, cujos pergaminhos democráticos e de lutador pela liberdade, etc.? Era mais transparente”, escreve Gabriel Silva.
Eis o início do artigo de Sofia Branco, publicado (27/07/2007) na página 6: “’Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.’ Assim termina o artigo de Manuel Alegre hoje publicado na íntegra pelo PÚBLICO, no espaço reservado à opinião.”
A notícia resume o essencial do texto de opinião, necessariamente. Esta repetição faz sentido?
Solicitei, portanto, um esclarecimento ao director.
“Há dois pontos distintos na queixa do leitor. O primeiro, sobre a oportunidade da notícia editada na página 6 dessa edição. O segundo sobre o destaque dado ao texto de Manuel Alegre.
Relativamente ao primeiro houve um erro de edição. A ideia inicial era partir do texto de Alegre para, ou através de reacções de pessoas a quem ele fosse dado a ler, ou enquadrando o seu conteúdo, relacionando-o com a actualidade política, questionar a sua importância. Não devia ser um resumo do texto, mesmo que pudesse citá-lo, antes uma peça jornalística que recordasse aos leitores anteriores posições do deputado, o seu relacionamento com o actual e anteriores primeiro-ministros e onde se fizesse uma antevisão, se possível com testemunhos em discurso directo, do seu impacto no grupo parlamentar e no interior do PS. Não tendo sido possível, naquele dia, fazer um trabalho que era algo complexo, a opção correcta devia ter sido não publicar aquele texto que é, de facto, apenas um resumo do texto de Manuel Alegre.
Já quanto ao destaque dado ao artigo, ele era absolutamente justificado. Manuel Alegre optara pelo silêncio desde que, nas eleições presidenciais, obtivera um resultado surpreendente, que o colocou bem à frente do candidato oficial do PS, que era Mário Soares. Quebrou-o com declarações muito duras sobre algumas políticas do Governo. Como figura histórica do partido, cujo peso na sociedade foi confirmado nessas eleições, havia natural curiosidade em conhecer as suas posições (tanto que o jornal teve, nesse dia, um pico de vendas). Coincidem elas com as do PÚBLICO? Para além da questão de saber se o PÚBLICO tem posições para além daquelas que decorrem do seu Estatuto Editorial (onde se escreve que o jornal ‘considera que a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta’, a razão pela qual temos criticado as recentes medidas legislativas que consideramos afectarem a liberdade de imprensa e dos jornalistas), a verdade é que Manuel Alegre escrevia sobre muitas outras questões da política deste governo, criticando aspectos destas que, no Editorial, um ou mais directores do PÚBLICO haviam apoiado.
O critério para o destaque que damos a um texto de opinião (como a uma entrevista, por exemplo) é o da sua relevância e não o de concordarmos ou discordarmos do seu conteúdo. Recordo mesmo ao leitor que, em Agosto, o PÚBLICO fez uma chamada de véspera para um texto que iria publicar de Mário Soares, a criticar um editorial que eu mesmo escrevi.
Como se escreve também no Estatuto Editorial, o PÚBLICO ‘participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa’, mas ‘sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica’. Foi isso que fizemos, ao dar o destaque que demos ao texto de Manuel Alegre, com a ressalva da edição, no mesmo dia, de uma notícia que nada acrescentava de substancial”, respondeu José Manuel Fernandes.
O provedor não se pronuncia sobre opções editoriais, mas preza a atitude de frontalidade assumida por José Manuel Fernandes.
O director do PÚBLICO reconhece, por outro lado, que houve um erro de edição. É uma explicação plausível. Nada a acrescentar.
Post-scriptum: A penúltima crónica suscitou algumas reacções, incluindo uma crítica ao trabalho do provedor.
“O provedor do leitor do PÚBLICO parece uma rabugenta professora primária, apenas preocupada com erros de ortografia e problemas de concordância. É muito pouco. Onde estão as grandes linhas de orientação do diário? Onde pára a reflexão sobre o trabalho do dia-a-dia? A teorização sobre a relação com as fontes, ou sobre os novos desafios dos media?
Podia ao menos questionar-se sobre a maneira como o jornal é tantas vezes usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação. Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa. Mas nem isso. Tenho pena pela oportunidade perdida.
Votos de continuação de um trabalho medíocre”, escreve Rui Carlos Baptista, um leitor de Telheiras (Lisboa).
A- Os leitores escrevem ao provedor sobretudo por causa de "erros de ortografia e problemas de concordância". É lícito ignorar tais preocupações?
Os "erros de ortografia e os problemas de concordância" são assunto importante porque o seu número me parece excessivo.
Considero, por outro lado, que a imprensa tem uma responsabilidade acrescida na promoção do Português. A TV (principal fonte de informação para muitos portugueses) abdicou da Informação e da língua, ao optar pela reconhecida boçalidade que a caracteriza.
Os leitores e o provedor levantaram outros problemas: a condenação de pessoas na praça pública, o plágio, a confusão entre informação e publicidade, etc.
B- O provedor não pode pronunciar-se (ao contrário do que defende o leitor) sobre as "grandes linhas de orientação do diário". São competências exclusivas da Direcção Editorial.
Eis o estatuto do provedor:
“1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.”
C- O leitor afirma, por outro lado, que o jornal é “usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação”.
1- É uma acusação grave. É importante dissociar a Informação da Opinião, mas o leitor parece meter tudo e todos no mesmo saco. Rui Carlos Baptista considera, portanto, que os jornalistas do PÚBLICO são cúmplices da apregoada manipulação. É um processo de intenções. Discordo, obviamente.
2- A objectividade é um mito (acredito na isenção, no profissionalismo e na honestidade).
D- O leitor propõe: "Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa."
1- Todos os directores do PÚBLICO (sem excepção) assumiram essa dupla função.
2- Apreciei as denúncias de leitores sobre o “corta e cola” e o ‘copianço’ várias vezes: casos relacionados com a agência LUSA, Wikipedia, revistas estrangeiras, etc.
Defendo (à semelhança do que estipula o Livro de Estilo do PÚBLICO) que todos os textos publicados devem indicar o nome do(s) autor(es).
E- O leitor conclui : "Reflectir, por exemplo, sobre as razões do relativo insucesso comercial e editorial do novo modelo. Mas nem isso."
1- O provedor não tem por missão questionar estratégias comerciais.
2- O provedor não pode questionar opções editoriais.
“Votos de continuação de um trabalho medíocre” deseja o leitor. O provedor agradece a amabilidade de Rui Carlos Baptista.
O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt
Se o modelo pega, teremos no futuro notícias na página 2 sobre uma notícia da página 3 e assim sucessivamente. Uma coisa será dar destaque (estava na capa) ou chamadas no início dos cadernos/secções. Agora, um texto supostamente noticioso?
Aqui parece um texto da agência Lusa, o que até poderia ser, mas para uso externo, não?
Já agora uma questão: o destaque triplo (artigo + texto pág. 6 + capa) ao artigo de Manuel Alegre deve-se apenas a critérios jornalísticos (que existem, obviamente) ou não se deverá tal destaque ao facto de ser um artigo que avaliza a posição do jornal (ou da sua direcção) na ‘luta’ que tem travado contra a ERC e as medidas do ministro Santos Silva/Governo Sócrates?
Isto é, teria o jornal dado igual destaque, caso não estivesse envolvido nessa luta, caso não obviamente concordasse com o teor do artigo? Suponho que não. Mas, não seria então preferível assumir essa posição e, no editorial de hoje, dizer isso mesmo, que o PÚBLICO se congratulava por a sua posição que vem sustentando ao longo dos últimos meses ser sustentada e reforçada por um destacado dirigente socialista como Manuel Alegre, cujos pergaminhos democráticos e de lutador pela liberdade, etc.? Era mais transparente”, escreve Gabriel Silva.
Eis o início do artigo de Sofia Branco, publicado (27/07/2007) na página 6: “’Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.’ Assim termina o artigo de Manuel Alegre hoje publicado na íntegra pelo PÚBLICO, no espaço reservado à opinião.”
A notícia resume o essencial do texto de opinião, necessariamente. Esta repetição faz sentido?
Solicitei, portanto, um esclarecimento ao director.
“Há dois pontos distintos na queixa do leitor. O primeiro, sobre a oportunidade da notícia editada na página 6 dessa edição. O segundo sobre o destaque dado ao texto de Manuel Alegre.
Relativamente ao primeiro houve um erro de edição. A ideia inicial era partir do texto de Alegre para, ou através de reacções de pessoas a quem ele fosse dado a ler, ou enquadrando o seu conteúdo, relacionando-o com a actualidade política, questionar a sua importância. Não devia ser um resumo do texto, mesmo que pudesse citá-lo, antes uma peça jornalística que recordasse aos leitores anteriores posições do deputado, o seu relacionamento com o actual e anteriores primeiro-ministros e onde se fizesse uma antevisão, se possível com testemunhos em discurso directo, do seu impacto no grupo parlamentar e no interior do PS. Não tendo sido possível, naquele dia, fazer um trabalho que era algo complexo, a opção correcta devia ter sido não publicar aquele texto que é, de facto, apenas um resumo do texto de Manuel Alegre.
Já quanto ao destaque dado ao artigo, ele era absolutamente justificado. Manuel Alegre optara pelo silêncio desde que, nas eleições presidenciais, obtivera um resultado surpreendente, que o colocou bem à frente do candidato oficial do PS, que era Mário Soares. Quebrou-o com declarações muito duras sobre algumas políticas do Governo. Como figura histórica do partido, cujo peso na sociedade foi confirmado nessas eleições, havia natural curiosidade em conhecer as suas posições (tanto que o jornal teve, nesse dia, um pico de vendas). Coincidem elas com as do PÚBLICO? Para além da questão de saber se o PÚBLICO tem posições para além daquelas que decorrem do seu Estatuto Editorial (onde se escreve que o jornal ‘considera que a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta’, a razão pela qual temos criticado as recentes medidas legislativas que consideramos afectarem a liberdade de imprensa e dos jornalistas), a verdade é que Manuel Alegre escrevia sobre muitas outras questões da política deste governo, criticando aspectos destas que, no Editorial, um ou mais directores do PÚBLICO haviam apoiado.
O critério para o destaque que damos a um texto de opinião (como a uma entrevista, por exemplo) é o da sua relevância e não o de concordarmos ou discordarmos do seu conteúdo. Recordo mesmo ao leitor que, em Agosto, o PÚBLICO fez uma chamada de véspera para um texto que iria publicar de Mário Soares, a criticar um editorial que eu mesmo escrevi.
Como se escreve também no Estatuto Editorial, o PÚBLICO ‘participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa’, mas ‘sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica’. Foi isso que fizemos, ao dar o destaque que demos ao texto de Manuel Alegre, com a ressalva da edição, no mesmo dia, de uma notícia que nada acrescentava de substancial”, respondeu José Manuel Fernandes.
O provedor não se pronuncia sobre opções editoriais, mas preza a atitude de frontalidade assumida por José Manuel Fernandes.
O director do PÚBLICO reconhece, por outro lado, que houve um erro de edição. É uma explicação plausível. Nada a acrescentar.
Post-scriptum: A penúltima crónica suscitou algumas reacções, incluindo uma crítica ao trabalho do provedor.
“O provedor do leitor do PÚBLICO parece uma rabugenta professora primária, apenas preocupada com erros de ortografia e problemas de concordância. É muito pouco. Onde estão as grandes linhas de orientação do diário? Onde pára a reflexão sobre o trabalho do dia-a-dia? A teorização sobre a relação com as fontes, ou sobre os novos desafios dos media?
Podia ao menos questionar-se sobre a maneira como o jornal é tantas vezes usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação. Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa. Mas nem isso. Tenho pena pela oportunidade perdida.
Votos de continuação de um trabalho medíocre”, escreve Rui Carlos Baptista, um leitor de Telheiras (Lisboa).
A- Os leitores escrevem ao provedor sobretudo por causa de "erros de ortografia e problemas de concordância". É lícito ignorar tais preocupações?
Os "erros de ortografia e os problemas de concordância" são assunto importante porque o seu número me parece excessivo.
Considero, por outro lado, que a imprensa tem uma responsabilidade acrescida na promoção do Português. A TV (principal fonte de informação para muitos portugueses) abdicou da Informação e da língua, ao optar pela reconhecida boçalidade que a caracteriza.
Os leitores e o provedor levantaram outros problemas: a condenação de pessoas na praça pública, o plágio, a confusão entre informação e publicidade, etc.
B- O provedor não pode pronunciar-se (ao contrário do que defende o leitor) sobre as "grandes linhas de orientação do diário". São competências exclusivas da Direcção Editorial.
Eis o estatuto do provedor:
“1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.”
C- O leitor afirma, por outro lado, que o jornal é “usado como arma de arremesso político, ou como a opinião vem tantas vezes mascarada de informação”.
1- É uma acusação grave. É importante dissociar a Informação da Opinião, mas o leitor parece meter tudo e todos no mesmo saco. Rui Carlos Baptista considera, portanto, que os jornalistas do PÚBLICO são cúmplices da apregoada manipulação. É um processo de intenções. Discordo, obviamente.
2- A objectividade é um mito (acredito na isenção, no profissionalismo e na honestidade).
D- O leitor propõe: "Podia questionar-se sobre a situação única de o director do jornal ser simultaneamente administrador da Sonae. Sobre a maneira como a maior parte dos jornalistas faz um simples ‘corta e cola’ das notícias da Lusa."
1- Todos os directores do PÚBLICO (sem excepção) assumiram essa dupla função.
2- Apreciei as denúncias de leitores sobre o “corta e cola” e o ‘copianço’ várias vezes: casos relacionados com a agência LUSA, Wikipedia, revistas estrangeiras, etc.
Defendo (à semelhança do que estipula o Livro de Estilo do PÚBLICO) que todos os textos publicados devem indicar o nome do(s) autor(es).
E- O leitor conclui : "Reflectir, por exemplo, sobre as razões do relativo insucesso comercial e editorial do novo modelo. Mas nem isso."
1- O provedor não tem por missão questionar estratégias comerciais.
2- O provedor não pode questionar opções editoriais.
“Votos de continuação de um trabalho medíocre” deseja o leitor. O provedor agradece a amabilidade de Rui Carlos Baptista.
O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt