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domingo, julho 08, 2007 

"7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 45

7 DISPARATES:
O conteúdo desta carta não pretende ser uma crítica sumária a este tipo de concursos, que valem o que valem – veja-se o caso das "novas" sete maravilhas do mundo que absurdamente incluem maravilhas do Mundo Antigo (!?) –, mas sim à confusão de conceitos e enganos que provocam, motivados pela superficialidade com que se elaboram, e de que a lista em causa constitui mais um exemplo.
Será a ampliação da Cinemateca portuguesa, por exemplo, obra de reduzida dimensão e impacte que muitas pessoas desconhecem – até por ser completamente invisível da rua –, um dos horrores de Portugal? E a que propósito (para além do puro capricho) o será o Oceanário ou a faixa do Parque Eduardo VII?! Já agora, porque não incluir a "faixa" do Campo Grande, ou outra "faixa" verde qualquer? O que precisamos é betão e asfalto, correcto?
Podem até valer-se (ou refugiar-se) na subjectividade da escolha pessoal de quem elabora a lista, mas toda a iniciativa como foi pensada – se calhar o problema é que nem o foi, o que é grave num jornal de referência – cai por terra, quando facilmente se demonstra a ligeireza e pouco trabalho com que foi feita, para que seja considerada como válida (nem imagens de todos os exemplos tem, e algumas das existentes estão erradas).
Uma das fragilidades que mais chama a atenção, é o facto de a esmagadora maioria das escolhas se centrarem em Lisboa quando se trata de uma votação (mesmo lúdica) que tem a pretensão de ser "de Portugal". Se tivermos em conta que o painel de críticos é ou está todo em Lisboa, é inevitável que se pense que nada fizeram para conhecer ou saber o que se passa em Cedofeita, Rio Tinto, Matosinhos, Cacém, Amadora etc. ou em muitas cidades algarvias (veja-se Quarteira ou Portimão) e sabemos que são nessas cinturas urbanas que se situam os verdadeiros horrores. Ou então, mais grave ainda, o painel de críticos não conhece Portugal e não está minimamente interessado sobre o que se passa no resto do País.
Depois, são os próprios critérios (ou a ausência deles) que subjazem à escolha dos exemplos em causa, onde reina a total gratuitidade. Confunde-se má arquitectura, que deveria pura e simplesmente ser implodida (houvesse coragem) com meras questões de gosto (sempre muito discutíveis). Ainda por cima estas revelam, à saciedade, fraquezas e mal disfarçados ressentimentos entre arquitectos que, pelo contrário, deveriam exercer uma função pedagógica junto do público, o qual em vez de birras pessoais motivadas por projectos perdidos para fulano ou beltrano, era bom que soubesse, antes de mais, o que é boa ou má arquitectura.
É isso que é fundamental em qualquer país civilizado, pois a formação de uma opinião pública esclarecida é o primeiro garante para se evitarem atropelos arquitectónicos e crimes lesa-património que empobrecem as cidades justamente onde ela não existe ou é inoperante.
Por isso, não se compreende como se colocam a par uma Praça do Areeiro (independentemente do gosto – se fosse assim o Palácio da Pena hoje já não existia) e os centros comerciais do Martim Moniz, de Gaia ou do Porto (o que dizer do Shopping Cidade do Porto ou daquele em frente do Soares dos Reis!) que deveriam pura e simplesmente desaparecer, não só pela confrangedora qualidade arquitectónica e construtiva, mas também pelos danos visuais que provocam na envolvente.
Estes sim, são os verdadeiros horrores, as verdadeiras chagas das nossas cidades e não os edifícios do Cristino da Silva, que fazem efectivamente parte do património da cidade (como muitos outros "português suave", modernistas ou Deco) pois independentemente das questões ideológicas ou de gosto envolvidos (que também pertencem à nossa história) raramente foram má arquitectura. Parece que ainda andamos a discutir o Congresso de 48! Isso é passado! Vejam o erro que foi demolir o Monumental, que noutra cidade europeia teria sido impensável – porque poucas tinham cinema como aquele – para depois o substituírem pela "brilhante" arquitectura que hoje lá se vê. Casos como este acontecem todos os dias nas cidades portuguesas, que vão ficando cada vez mais descaracterizadas (como as cidades do terceiro mundo) por deitarem fora, numa voragem autofágica de inaceitável miséria cultural, tudo aquilo que contribuiu para moldar o seu carácter que, necessariamente, devíamos manter.
Ilustra bem esse completo desnorte a inclusão, na dita lista, de edifícios em que se ultrapassa a discussão do gosto para se entrar de rompante na manifesta falta de cultura artística. É o caso da igreja de Santa Luzia em Viana, um dos mais interessantes exemplos neo-medievais do nosso Romantismo, ainda para mais da autoria de Ventura Terra, seguramente um dos nomes que mais contribuíram para a qualificação da arquitectura portuguesa e cuja obra, sobejamente conhecida cá e lá fora, ajudou a disfarçar a pobreza do ensino e das ideias que aqui campeavam (e que pelos vistos não têm emenda).
É como se passasse pela cabeça dos parisienses porem numa lista equivalente o Sacré Coeur. É também isso que nos separa deles – nós criticamos o acessório, eles valorizam o essencial. Não sejamos tão apressados em julgar a arquitectura do passado quando a nossa época é, nesse aspecto, das mais selvagens, bárbaras e culturalmente pobres que há memória.
E assim vai a nossa arquitectura e os supostos teóricos dela...
R. Sousa; A. Xavier; C. Correia S. Morais (grupo de cidadãos consternados)

Acrescento mais horrores do que aqueles que considerou: como é que é possível votar em "monumentos" onde se assassinaram milhares de pessoas, caso de Machú Pichú e Coliseu de Roma? A imponência, ou seja lá o que for que leva as pessoas a escolher e votar, sobrepõe-se à má memóra? Não me admira de que daqui a 2.000 anos Dachau ou Treblinka, etc, seja também considerado uma maravilha! A jornalista Alexandra Coelho, no P2, levanta a questão da sobrevivência das "maravilhas" após as visitas dos turistas: por mim, bem podem ir abaixo e que ponham fotografias do que restar numa qualquer "Galeria de Horrores da Humanidade"

Este post no Blog do "Provedor do Leitor do Público" é exactamente aquilo que penso sobre o concurso em questão. Gostava que chegasse à direcção d'O Público que a exposição do nosso património arquitectónico nesta vergonhosa lista revela a fraqueza deste jornal. Paga-se a três críticos de arquitectura para isto. Valha-me Deus.

O Areeiro e as avenidas novas de Lisboa são aquilo que de melhor Lisboa tem para mostrar ao país como exemplo de ordenação urbanística e planeamento arquitectónico. Prova disso é que ainda hoje a sua herança arquitectónica é respeitada e continua válida, funcional e central na Lisboa do século XXI.

Como é que é possível que coloquem o "Arranha Céus" da Praça de Londres que marca o estilo característico (desenhado e planeado por arquitectos) daquela zona de Lisboa (coerente com o resto da envolvente: Areeiro, João XXI, Av. de Paris, Av. de Roma, etc) e não colocam o edifício do Ministério do Trabalho e Seg. Social que é exactamente do outro lado da rua, que é verde, num estilo pseudo-moderno e tem o triplo da altura de qualquer edíficio da zona.

Fiquei triste por ver que a nossa classe de arquitectos é, no fundo, um conjunto de artistas arrogantes e frustrados que não revelam nenhuma qualificação profissional e que fazem a crítica fácil do "não gosto". Talvez alguém lhes pudesse explicar que arquitectura é bem mais técnica do que gosto e do que aspecto.

boas

mais uma vez este "concurso" dos 7 horrores vem comprovar a minha teoria de que portugal começa no minho e acava um pouco abaixo de coimbra.... o resto é a mouraria terra onde reinam os espertos-rico-pobres de cultura.... mais uma vez se escolhem "lisboetas" para um juri... mais uma vez se escolhem na esmagadora maioria construçoes "lisboetas"...mais uma vez lisboa ...mais uma vez o sul ....mais uma vez a mouraria ... deixo a questao no ar para quando o porto, aveiro, viana, viseu, bragança, coimbra, vila real e muitas outras cidades do norte e centro do pais? .... como "tripeiro" que tenho o orgulho de ser, fico cada vez mais triste de so se dar valor a uma pequena parte do territorio nacional .... e como cidadao com gosto pela cultura e pelo saber fico triste pela falta de formaçao e sabedoria dos portugueses ....


fiquem bem

ass: Tiago Coelho

Machu Pichu, até hoje, ainda não se sabe ao certo o seu papel, mas crê-se que pela sua localização, fosse um local de refúgio, e não de sacrifícios, até porque é de difícil acesso.
Realmente é estranho que as 7 maravilhas modernas incluam muitas obras antigas, quando existem muitos exemplos de construções contemporâneas, mas possivelmente nenhuma abarca uma simbologia ou um misticismo, ou talvez pelo simples facto de toda a tecnologia de hoje em dia permitir fazer construções fantásticas, e estas construções antigas terem mérito por serem grandiosas e erigidas com menos meios. Acho excessivo o comentário de "ribeiro" por isso mesmo. Galeria de Horrores da Humanidade"? Um edificio vale pelo que vale, e não pelo que fizeram nele/dele. No Coliseu morreu muita gente? O Coliseu tem culpa? não, se fosse assim, então vamos exterminar os habitantes da cidade de Roma, pois de certeza muitos dos seus antepassados participaram nessas carnificinas. é essa a lógica?

Não concordo com o ribeiro quando acha estranho que grande parte das novas maravilhas sejam velhas, por duas razões:
1ª São novas apenas porque são diferentes das antigas e era necessário diferenciar.
2ª Para mim, uma estrutura que já existe há séculos já provou que resiste ao tempo e portanto mais próximo de uma maravilha do que edifícios ultramodernos que ainda não provaram nada.

Não faça dos votadores tolos por votarem em velharias, é aí que reside parte do encanto, o conceito de robustez e durabilidade que todas as pessoas gostam de ver associadas a qualquer estrutura.

Concordo que alguns locais foram palco de acontecimentos muito maus, mas eu culpo as pessoas que autorizaram isso, não o pobre monumento, cujos únicos méritos foram "deixar-se construir" e sobreviver ao tempo. O resto não importa para o concurso em questão.

Mau mau foi eleger o Salazar como melhor português de sempre!

Enfim, também nos pudemos rir dessas idiotices. Como diria o pai de uma das heroínas de Jane Austen, uma pessoa deve rir das outras e dar em troca motivo para elas se rirem de nós, qualquer coisa desse género!

Considero portugal um país mesquinho e que "maltrate" as pessoas do mesmo país... para além de sermos um povo ignorante ( porque queremos).
acho engraçado quando nós vimos passar férias ao algarve a quantidade de gente que entra nos hóteis a reclamar com tudo e com tods, em vez de pensar um bocadinho e tentar relaxar e não dar trabalho desnecessário às outras pessoas que tão honradamente dispõem da sua mão de obra para os acolher bem. Lembrem se quem trabalha para os outros gozarem as férias não merece ser lixado pelos os problemas dos mesmos. Mais respeito, mais cidadania.

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