"7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 38
Exmo. Sr.
Eu tenho uma amiga minha que é lindíssima. Isto não é apenas a minha opinião, mas pelo menos a de todas as pessoas com quem já partilhei juízos de valor sobre a beleza desta minha amiga. A unanimidade no atributo é geral, entre homens e mulheres, comunistas ou fascistas, velhos e novos.
O facto de não haver ninguém que a considere feia, ou até medianamente bonita, ou ainda absolutamente normal, levou-me a acreditar que, de cada vez que partilhava um momento e um espaço com ela, eu estava perante uma manifestação de um valor absoluto, i.e., a minha amiga era o próprio conceito de beleza.
Porém, após ter chegado a esta conclusão extremamente empírica, fui levado a reflectir sobre a fealdade absoluta. Se existe a personificação de beleza, existirá também concerteza a personificação de fealdade, seja ela aplicada a uma pessoa, a um animal, a uma planta ou a uma manifestação urbanística, plástica, sonora, artística em geral. É neste ponto que surge o vosso concurso "7 Horrores de Portugal".
Tive a oportunidade de ler, com boa disposição, os comentários existentes no seu blog relativos ao concurso referido. Nessa leitura diagonal saltou-me à vista a indignação com que os adeptos sportinguistas reagiram à simples presença do Estádio Alvalade XXI na lista dos possíveis "7 Horrores de Portugal". À primeira reacção, ainda a frio, pensei "quem ama o feio, bonito lhe parece", contudo, ao constatar que no caso da minha amiga o inverso não se verifica, ou seja, pessoas que a odeiam não a acham horrível, ou pessoas que não têm uma simpatia particular por ela, também não a acham absolutamente normal, tentei perceber o porquê de tanta indignação.
Neste ponto, imaginei-me em plena hora de ponta, preso no viaduto do campo grande, no sentido Aeroporto - Torres de Lisboa, com o sol a subir lentamente para se prestar a Sul, iluminando de bandeja aquela.... manifestação.
É horrível! Dizer que é feio é simpático, o estádio é um excelente candidato a encabeçar os "7 Horrores de Portugal". Aliás, se me abstrair um pouco e recuar ao final de 2003, quando o estádio foi inaugurado, posso concluir que a simples construção deste monstro foi (e ainda é) responsável pela crise em que o nosso país mergulhou.
Se não, reparem: Em Lisboa, área metropolitana entenda-se, vivem e trabalham cerca de 2 milhões de pessoas, talvez um pouco mais. Desses 2 milhões de pessoas, uma fasquia considerável foi já sujeita ao cenário de horror que descrevi num parágrafo acima, i.e., estar preso no viaduto do Campo Grande e invariavelmente o cérebro levar-nos a visão até à ilustração maquiavélica, dantesca, qual Hagar, o viking horrível, que o estádio Alvalade XXI proporciona democraticamente a todos que por lá passam. Retirando os alguns adeptos sportinguistas, que eu acredito mesmo que sofram de uma distorção do belo proporcionada por uma experiência extremamente dolorosa (a visão do estádio) em simbiose com a manifestação de afectos à instituição (daí o "quem ama o feio bonito lhe parece"), e como tal são incapazes de estabelecer um juízo estético imparcial, todos os restantes e infelizes sujeitos sofrem com a experiência. A simples exposição à fealdade extrema do edifício provoca, no comum dos mortais, manifestações violentíssimas que vão da simples enxaqueca ao acidente vascular cerebral. Esta indisposição provoca, na população activa, um período de convalescença que, por sua vez, implica um déficit de produtividade nesses indivíduos que involuntariamente se sujeitam a esta exposição traumática.
De facto, desde que o estádio foi inaugurado, tivemos um primeiro ministro que pediu asilo político em Bruxelas, seguido de um entertainer catastrófico, que por sua vez deu lugar à cortisona da política, que tal como a droga, sabe mal, dói, resolve um problema mas provoca uma infinidade de novos problemas.
Parece-me claro então, o silogismo:O estádio Alvalade XXI é horrível. A exposição ao horror provoca alterações produtivas. Logo o estádio Alvalade XXI provoca o déficit de produtividade no nosso país.Contudo, não podemos generalizar o estádio Alvalade XXI como o conceito de feio. De facto, se a minha amiga é a beleza, a realidade é que há pessoas que não consideram o estádio Alvalade XXI horrível. A esse nível eu colocaria o antigo jogador do Beira-Mar, Lobão, ou ainda o ex-candidato a primeiro ministro de Portugal, Ferro Rodrigues, em competição feroz pela primeira posição com o Mariano Gago. Quanto a estes três indivíduos, posso aferir que na sala onde me encontro, existe total unanimidade em considerável não feios, mas simplesmente horríveis (o que não é difícil, visto encontrar-me sozinho).
É, no entanto, e de acordo com o raciocínio postulado, responsável (o Alvalade XXI) por uma parte dos fracos rendimentos que a generalidade da população aufere. E o problema é que não é o único, se não vejamos a brutalidade bárbara da politica de urbanização das freguesias do Cacém, Massamá, ou na generalidade dos concelhos da Amadora, Vila Franca de Xira, Odivelas, Loures, ou Almada. Parece de facto impossível entrar em Lisboa bem disposto.
Mesmo assim, para quem entrar em Lisboa distraído, tem sempre a oportunidade fantástica de entrar no espírito do país, bastando para isso ligar o rádio ou ler o jornal, empanturrando-se de más notícias.
Serve tudo isto para dizer apenas, que a minha amiga é lindíssima, como estou certo que concordaria caso tivesse a oportunidade de apreciar a figura em causa, e uma vez que não pago nada por partilhar a minha opinião consigo, envio-lhe este texto, com a maior consideração.
Despeço-me com amizade / Aquele abraço (Riscar o que não interessa)
A. Carvalho
Eu tenho uma amiga minha que é lindíssima. Isto não é apenas a minha opinião, mas pelo menos a de todas as pessoas com quem já partilhei juízos de valor sobre a beleza desta minha amiga. A unanimidade no atributo é geral, entre homens e mulheres, comunistas ou fascistas, velhos e novos.
O facto de não haver ninguém que a considere feia, ou até medianamente bonita, ou ainda absolutamente normal, levou-me a acreditar que, de cada vez que partilhava um momento e um espaço com ela, eu estava perante uma manifestação de um valor absoluto, i.e., a minha amiga era o próprio conceito de beleza.
Porém, após ter chegado a esta conclusão extremamente empírica, fui levado a reflectir sobre a fealdade absoluta. Se existe a personificação de beleza, existirá também concerteza a personificação de fealdade, seja ela aplicada a uma pessoa, a um animal, a uma planta ou a uma manifestação urbanística, plástica, sonora, artística em geral. É neste ponto que surge o vosso concurso "7 Horrores de Portugal".
Tive a oportunidade de ler, com boa disposição, os comentários existentes no seu blog relativos ao concurso referido. Nessa leitura diagonal saltou-me à vista a indignação com que os adeptos sportinguistas reagiram à simples presença do Estádio Alvalade XXI na lista dos possíveis "7 Horrores de Portugal". À primeira reacção, ainda a frio, pensei "quem ama o feio, bonito lhe parece", contudo, ao constatar que no caso da minha amiga o inverso não se verifica, ou seja, pessoas que a odeiam não a acham horrível, ou pessoas que não têm uma simpatia particular por ela, também não a acham absolutamente normal, tentei perceber o porquê de tanta indignação.
Neste ponto, imaginei-me em plena hora de ponta, preso no viaduto do campo grande, no sentido Aeroporto - Torres de Lisboa, com o sol a subir lentamente para se prestar a Sul, iluminando de bandeja aquela.... manifestação.
É horrível! Dizer que é feio é simpático, o estádio é um excelente candidato a encabeçar os "7 Horrores de Portugal". Aliás, se me abstrair um pouco e recuar ao final de 2003, quando o estádio foi inaugurado, posso concluir que a simples construção deste monstro foi (e ainda é) responsável pela crise em que o nosso país mergulhou.
Se não, reparem: Em Lisboa, área metropolitana entenda-se, vivem e trabalham cerca de 2 milhões de pessoas, talvez um pouco mais. Desses 2 milhões de pessoas, uma fasquia considerável foi já sujeita ao cenário de horror que descrevi num parágrafo acima, i.e., estar preso no viaduto do Campo Grande e invariavelmente o cérebro levar-nos a visão até à ilustração maquiavélica, dantesca, qual Hagar, o viking horrível, que o estádio Alvalade XXI proporciona democraticamente a todos que por lá passam. Retirando os alguns adeptos sportinguistas, que eu acredito mesmo que sofram de uma distorção do belo proporcionada por uma experiência extremamente dolorosa (a visão do estádio) em simbiose com a manifestação de afectos à instituição (daí o "quem ama o feio bonito lhe parece"), e como tal são incapazes de estabelecer um juízo estético imparcial, todos os restantes e infelizes sujeitos sofrem com a experiência. A simples exposição à fealdade extrema do edifício provoca, no comum dos mortais, manifestações violentíssimas que vão da simples enxaqueca ao acidente vascular cerebral. Esta indisposição provoca, na população activa, um período de convalescença que, por sua vez, implica um déficit de produtividade nesses indivíduos que involuntariamente se sujeitam a esta exposição traumática.
De facto, desde que o estádio foi inaugurado, tivemos um primeiro ministro que pediu asilo político em Bruxelas, seguido de um entertainer catastrófico, que por sua vez deu lugar à cortisona da política, que tal como a droga, sabe mal, dói, resolve um problema mas provoca uma infinidade de novos problemas.
Parece-me claro então, o silogismo:O estádio Alvalade XXI é horrível. A exposição ao horror provoca alterações produtivas. Logo o estádio Alvalade XXI provoca o déficit de produtividade no nosso país.Contudo, não podemos generalizar o estádio Alvalade XXI como o conceito de feio. De facto, se a minha amiga é a beleza, a realidade é que há pessoas que não consideram o estádio Alvalade XXI horrível. A esse nível eu colocaria o antigo jogador do Beira-Mar, Lobão, ou ainda o ex-candidato a primeiro ministro de Portugal, Ferro Rodrigues, em competição feroz pela primeira posição com o Mariano Gago. Quanto a estes três indivíduos, posso aferir que na sala onde me encontro, existe total unanimidade em considerável não feios, mas simplesmente horríveis (o que não é difícil, visto encontrar-me sozinho).
É, no entanto, e de acordo com o raciocínio postulado, responsável (o Alvalade XXI) por uma parte dos fracos rendimentos que a generalidade da população aufere. E o problema é que não é o único, se não vejamos a brutalidade bárbara da politica de urbanização das freguesias do Cacém, Massamá, ou na generalidade dos concelhos da Amadora, Vila Franca de Xira, Odivelas, Loures, ou Almada. Parece de facto impossível entrar em Lisboa bem disposto.
Mesmo assim, para quem entrar em Lisboa distraído, tem sempre a oportunidade fantástica de entrar no espírito do país, bastando para isso ligar o rádio ou ler o jornal, empanturrando-se de más notícias.
Serve tudo isto para dizer apenas, que a minha amiga é lindíssima, como estou certo que concordaria caso tivesse a oportunidade de apreciar a figura em causa, e uma vez que não pago nada por partilhar a minha opinião consigo, envio-lhe este texto, com a maior consideração.
Despeço-me com amizade / Aquele abraço (Riscar o que não interessa)
A. Carvalho
bom, eu no vou para Lisboa de manha, mas esta leitura fez-me dar uma boa gargalhada. Obrigado TP
Posted by Anónimo | 9:18 da manhã
Muitos sportinguistas concordarão consigo. Na minha opinião, o estádio, em termos puramente arquitectónicos, é uma obra bem conseguida. Agora o choque da conjugação das cores, os ajulejos... horrivel demais. Mas bem que podiam ter incluído o estádio da Luz, que arquitectónicamente falando parece uma cesta de pão e que nem acabado está ou o de Aveiro que é muito idêntico ao de Leiria. Mas no geral, a selecção dos Horrores não passa de brincadeira, senão não estaria lá o edificio de Cassiano Branco ou a Capela dos Ossos. São uns brincalhões...
Posted by Anónimo | 12:33 da tarde
Bem, deliciosamente fantástica essa tua observação!Continuas em excelente forma.
FM
Posted by Anónimo | 2:23 da tarde
Excelente texto! A demonstrar que, pese embora a inutilidade do "concurso", estas reacções exageradas de sportinguistas também não têm qualquer valor.
Posted by Anónimo | 2:30 da tarde
Sr. A. Carvalho, as suas palavras são tão discutíveis como aquelas que critica, por isso a sua opinião vale o que vale, mas infelizmente está ferida de facciosismo vermelho pois vê-se claramente o teor provocatório impregnado nas suas palavras, e que o sr. Provedor do Público teve e "gentileza" de dar tempo de antena (muito convenientemente diga-se)!!!
Infelizmente, uma iniciativa ridícula como esta dá um enorme regozijo aos "6 milhões", mas como se espera, há que entreter o povo que à falta de títulos, lá tem passar o tempo com brincadeiras de mau gosto. O que é de estranhar é que seja o Público a promover a palhaçada... ainda se fosse o "Crime" ou o "24 horas"!!!!
Quanto aos seus discutíveis conceitos de "horror", também aqui me dou ao direito de resposta e de contra-argumentação.
Deste modo, só alguém de má fé pode considerar o Estádio José de Alvalade um atentado arquitectónico, baseado explicita ou implicitamente nas cores e nos azulejos, que têm como principal função um funcionalismo de manutenção bastante eficaz e há muito utilizado em construção civil. Eu explico como se fosse muito burro: os azulejos não se pintam, logo reduzem em muito os custos de manutenção e aumentam o tempo de vida da estética exterior do estádio.
Eu compreendo que as cores sejam garridas, que os mastros amarelos ou que a razão para a utilização dos azulejos, façam muita confusão aos adeptos rivais, mas certamente concordará comigo que quem tem um estádio com estendais vermelhos em aço, bancadas pré-fabricadas e um exterior que nem pintado foi, mais parecendo um "elefante branco" embargado, ou ainda quem tem algo mais parecido a um túnel de vento copiado de um estádio alemão, não tem muita moral para criticar seja o que for em termos de estética e arquitectura.
OS melhores cumprimentos
C. Silva
Posted by Anónimo | 3:40 da tarde
Por acaso até me podia fazer passar por «anônimo», aqui nosso vizinho de baixo, mas como sou português fico-me apenas pelo antónio.
Gostei muito de ver que há gente que sabe o que é «intrinsecamente» belo, mas não consegue descrever o feio. Lá está; partidarite. O antónimo de belo é feio, está certo? Então é só olhar atentamente para a sua companheira e idealizar todas as suas características... ao contrário. O problema é que quando começar a fazer isso vai reparar que a sua amiguinha, afinal, não é tão bela como a imaginava nessa sua abordagem global e panorâmica. E mais; vai descobrir que a unanimidade na beleza e no feio acontece não só pelas qualidades estéticas dos objectos ou pessoas avaliadas, mas também pelos interesses pessoais que se perseguem quando se fazem juizos de valor sobre algo, Ambrósio. Na apreciação há duas partes: Uma diz respeito aquilo que é observado(é mais ou menos uma questão técnica). Outra tem a ver com o próprio observador(problema socio-cultural, multifacetado). Só assim se compreende o meu fascínio por aranhas, apesar desse bicho ser sistematicamente conotado com o tal feio padrão de uma sociedade urbanizada.
Bom; de qualquer forma não me importo de dar uma vista de olhos à sua companheira. Até pode ser que concorde com o tal absolutismo que o leva a pensar que todos os homens e mulheres são sinceros quando lhe confidenciam coisas dessas.
Era tão bom chegar ao século XXI e descobrir, aqui neste cantinho da europa, que já tínhamos em mãos o belo absoluto e estavamos a trabalhar árduamente para descobrir o absolutamente feio!!! Chegando ao ponto, imagine-se o avanço, de referenciar algumas pessoas que poderiam personificar o tal e tal!!!
Já agora; o que me diz à ministra da educação? einh!? Não?
É só uma achega.No fundo eu também só quero ajudar.
mario.janeira
Posted by Anónimo | 2:38 da manhã
A resposta/explicação do sr. Director, pretendendo ser convincente e revelar imparcialidade, não convence ninguém! Se, de facto,se trata de uma escolha feita pelas individualidades que refere e dado o "contencioso" existente entre o Público e o SCP, suscita um comentário: "how convenient!!!".
Aliás, seria interessante ver a escolha de cada um deles, talvez ajude a explicar a selecção e a razão da inclusão de uma série de obras do Arqº Taveira (Alvalade XXI incluído)... a inveja é coisa muito feia, não é verdade? Essa, sim, deveria ser incluída na lista dos horrores!
Pessoalmente não me aquece nem arrefece essa lista (assim como a das 7 'maravilhas'), tenho os meus critérios próprios de avaliação.
O comentário do sr. A. Carvalho suscita-me uma pergunta: é a "alma benfiquista" no seu melhor?
E também um comentário final: ainda bem que passa lá todos os dias e que isso contribui para a sua disposição durante todo o dia...
A.M.
Posted by Anónimo | 5:35 da tarde
Evidentemente que este post é e será fantástico para reencaminhar pelos emails de Portugal.
Bem haja pela sua (involuntária) cedência de tão "belo" texto - o seu nome está lá...
Posted by Anónimo | 6:57 da tarde