A NOVA MÁXIMA
“Nas páginas destacáveis referentes à colecção de BD do Spirou (que aliás é vendida com uma numeração não cronológica e inexplicável!), o texto de Carlos Pessoa tem um plágio objectivo retirado da Larousse de la BD, de Patrick Gaumer (ed. 2004).
A título de exemplo no 7º e 8º parágrafos, que passo a citar um extracto do original: “Sous l’impulsion de Franquin, Spirou et Fantasio conquièrent une véritable stature. (…) Outre le rôle fantaisiste joué par Fantasio, la saga développe une succession de personnages secondaires fabuleux. Ne citons que pour mémoire Pacôme (…), comte et mycologue de son état, l’ignoble Zantafio (le cousin criminel de Fantasio), le non moins mégalomane (et génial) Zorglub, la collant Seccotine… sans oublier l’ineffable Marsupilami (…) En quelques récits, Franquin met en place un univers cohérent (…) , ses architectures futuristes et sa Turbotraccion, (…).”
Não verifiquei o resto do texto porque fiquei chocado… e tenho mais que fazer.
A sucessão de casos já começa a ser assustador para a credibilidade do jornal e parece-me que responsabilidades terão que ser assumidas. (...)”, escreve Nuno Moreira, um leitor de Lisboa.
Os reparos são pertinentes.
CRONOLOGIA
Solicitei um esclarecimento ao Departamento de Marketing do PÚBLICO sobre o critério que presidiu à ordem de publicação da colecção Spirou.
“A numeração/ordenação dos álbuns do Spirou não é cronológica e em nenhum suporte de comunicação efectuamos tal afirmação.
O PÚBLICO e a ASA decidiram editar uma selecção das 20 melhores aventuras do Spirou. Esta selecção é obviamente subjectiva e sujeita a opiniões divergentes.
Os livros desta colecção estão todos numerados de 1 a 20 e são assinadas por diversos artistas que desenvolveram a série. Alguns deles são inéditos em Portugal.
A ordem de saída teve como objectivo iniciar a colecção com 3 álbuns de Franquin que consideramos ser um dos autores de destaque desta BD.
Ao longo da colecção procurámos intercalar álbuns do Spirou desenvolvidos pelos vários autores, não sendo a ordem cronológica o nosso critério”, respondeu João Porto, administrador da área de Marketing e Comercial do PÚBLICO.
É uma opção, nada a acrescentar.
COPIANÇO
Carlos Pessoa reproduziu texto da Larousse sem mencionar a fonte e sem inserir quaisquer aspas.
Eis dois exemplos:
PÚBLICO: “um irreprimível desejo de correr mundo leva-o a pedir ao jovem Franquin (1924-1997) que o substitua”.
LAROUSSE: “une irrésistible envie de voyager, demande au jeune André Franquin de lui succéder ”.
PÚBLICO : “Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas de Champignac, conde e micólogo; o vilão Zantáfio”.
LAROUSSE: “Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas de Champignac, comte et mycologue de son état, l’ignoble Zantafio”.
Pedi, portanto, um esclarecimento ao jornalista.
“Depois de ler a carta do leitor fui verificar. A surpresa deu lugar ao espanto, depois ao estado de choque e por fim, à estupefacção: como é possível que ‘isto’ tenha acontecido?!
Como explicarei mais à frente, a resposta é simples: não sei...
Em quase 30 anos de profissão não têm conta as vezes em que já passei por situações semelhantes, mas sempre do outro lado da equação; ou seja, reconhecendo (ou julgando reconhecer) em textos alheios, assinados ou não, fragmentos ou vestígios do trabalho próprio, aos quais não foi atribuído o legítimo crédito. Não gostei, claro, tal como Patrick Gaumer ou o meu amigo Claude Moliterni (até à presente edição do Larousse de la BD, a autoria do livro era assumida por este último especialista, com a colaboração de Gaumer) não gostariam certamente de saber que me apropriei, sem os citar, de parte da entrada sobre Spirou para o meu próprio artigo.
Não vou ofender a inteligência de ninguém com justificações esfarrapadas. O mal está feito e não há nada que possa apagar o erro. Resta-me, pois, assumir a responsabilidade pelo ocorrido.
Mas devo acrescentar algo em minha defesa.
É prática corrente aquilo que na gíria do meio designamos por ‘reciclagem de informação’ – uma expressão usada para traduzir a reutilização em data posterior de informação produzida num dado momento pelo próprio. Foi o que sucedeu com o texto de apresentação de Spirou no destacável a que o leitor alude, no qual é recuperada parte substancial de um outro artigo meu publicado em 1998 (creio que na revista dominical do PÚBLICO), sobre os 60 anos de existência daquele herói da BD. Nesse texto, e no final da passagem referenciada pelo leitor, é citado expressamente Claude Moliterni, embora não nomeie a obra:
‘Além disso, em poucas aventuras Franquin consegue criar um universo muito coerente, onde não falta uma decoração de interiores que o crítico Claude Moliterni define como ‘em estilo átomo’, arquitecturas futuristas e invenções como a ‘turbotracção', que aplica na construção do turbomóvel em que se deslocam os dois heróis.’
Este bloco de texto constava do texto de 2007 – de facto, desta vez nem sequer recorri ao referido Larousse para elaborar os textos do destacável distribuído com o jornal –, mas limitações de espaço obrigaram-me a fazer cortes no momento da paginação e a referência a Moliterni caiu...
A manutenção dessa referência seria suficiente para afastar a acusação de plágio? Não me compete responder.
Como a infalibilidade não é um dos meus dons, apenas posso garantir aos leitores um aprofundamento, em todas as suas vertentes, do ‘controlo de qualidade’ da escrita – tornado ainda mais imperioso pela recente polémica sobre plágio envolvendo uma camarada da redacção do PÚBLICO. Neste contexto, não posso deixar de agradecer o e-mail do zeloso e diligente leitor Nuno Moreira”, respondeu o jornalista.
As explicações de Carlos Pessoa são (quase) aceitáveis. Mais que não seja quando o jornalista invoca a velha máxima “errare humanum est”, i.e., errar é próprio do homem.
Porém, a questão que começa a colocar-se, à luz dos vários casos submetidos ao Provedor nos últimos meses, é de outra natureza.
Estamos nós, jornalistas, a edificar um princípio peculiar?
Temos sempre tempo e espaço para transcrever os textos de outrem, mas falta-nos sempre espaço e tempo para mencionar as fontes?
Se assim for, espera-se que a nova máxima nunca alcance, à semelhança da locução latina, o estatuto de “velha máxima”...
P.S. – O endereço electrónico do Provedor do Leitor do PÚBLICO é: provedor@publico.pt
A título de exemplo no 7º e 8º parágrafos, que passo a citar um extracto do original: “Sous l’impulsion de Franquin, Spirou et Fantasio conquièrent une véritable stature. (…) Outre le rôle fantaisiste joué par Fantasio, la saga développe une succession de personnages secondaires fabuleux. Ne citons que pour mémoire Pacôme (…), comte et mycologue de son état, l’ignoble Zantafio (le cousin criminel de Fantasio), le non moins mégalomane (et génial) Zorglub, la collant Seccotine… sans oublier l’ineffable Marsupilami (…) En quelques récits, Franquin met en place un univers cohérent (…) , ses architectures futuristes et sa Turbotraccion, (…).”
Não verifiquei o resto do texto porque fiquei chocado… e tenho mais que fazer.
A sucessão de casos já começa a ser assustador para a credibilidade do jornal e parece-me que responsabilidades terão que ser assumidas. (...)”, escreve Nuno Moreira, um leitor de Lisboa.
Os reparos são pertinentes.
CRONOLOGIA
Solicitei um esclarecimento ao Departamento de Marketing do PÚBLICO sobre o critério que presidiu à ordem de publicação da colecção Spirou.
“A numeração/ordenação dos álbuns do Spirou não é cronológica e em nenhum suporte de comunicação efectuamos tal afirmação.
O PÚBLICO e a ASA decidiram editar uma selecção das 20 melhores aventuras do Spirou. Esta selecção é obviamente subjectiva e sujeita a opiniões divergentes.
Os livros desta colecção estão todos numerados de 1 a 20 e são assinadas por diversos artistas que desenvolveram a série. Alguns deles são inéditos em Portugal.
A ordem de saída teve como objectivo iniciar a colecção com 3 álbuns de Franquin que consideramos ser um dos autores de destaque desta BD.
Ao longo da colecção procurámos intercalar álbuns do Spirou desenvolvidos pelos vários autores, não sendo a ordem cronológica o nosso critério”, respondeu João Porto, administrador da área de Marketing e Comercial do PÚBLICO.
É uma opção, nada a acrescentar.
COPIANÇO
Carlos Pessoa reproduziu texto da Larousse sem mencionar a fonte e sem inserir quaisquer aspas.
Eis dois exemplos:
PÚBLICO: “um irreprimível desejo de correr mundo leva-o a pedir ao jovem Franquin (1924-1997) que o substitua”.
LAROUSSE: “une irrésistible envie de voyager, demande au jeune André Franquin de lui succéder ”.
PÚBLICO : “Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas de Champignac, conde e micólogo; o vilão Zantáfio”.
LAROUSSE: “Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas de Champignac, comte et mycologue de son état, l’ignoble Zantafio”.
Pedi, portanto, um esclarecimento ao jornalista.
“Depois de ler a carta do leitor fui verificar. A surpresa deu lugar ao espanto, depois ao estado de choque e por fim, à estupefacção: como é possível que ‘isto’ tenha acontecido?!
Como explicarei mais à frente, a resposta é simples: não sei...
Em quase 30 anos de profissão não têm conta as vezes em que já passei por situações semelhantes, mas sempre do outro lado da equação; ou seja, reconhecendo (ou julgando reconhecer) em textos alheios, assinados ou não, fragmentos ou vestígios do trabalho próprio, aos quais não foi atribuído o legítimo crédito. Não gostei, claro, tal como Patrick Gaumer ou o meu amigo Claude Moliterni (até à presente edição do Larousse de la BD, a autoria do livro era assumida por este último especialista, com a colaboração de Gaumer) não gostariam certamente de saber que me apropriei, sem os citar, de parte da entrada sobre Spirou para o meu próprio artigo.
Não vou ofender a inteligência de ninguém com justificações esfarrapadas. O mal está feito e não há nada que possa apagar o erro. Resta-me, pois, assumir a responsabilidade pelo ocorrido.
Mas devo acrescentar algo em minha defesa.
É prática corrente aquilo que na gíria do meio designamos por ‘reciclagem de informação’ – uma expressão usada para traduzir a reutilização em data posterior de informação produzida num dado momento pelo próprio. Foi o que sucedeu com o texto de apresentação de Spirou no destacável a que o leitor alude, no qual é recuperada parte substancial de um outro artigo meu publicado em 1998 (creio que na revista dominical do PÚBLICO), sobre os 60 anos de existência daquele herói da BD. Nesse texto, e no final da passagem referenciada pelo leitor, é citado expressamente Claude Moliterni, embora não nomeie a obra:
‘Além disso, em poucas aventuras Franquin consegue criar um universo muito coerente, onde não falta uma decoração de interiores que o crítico Claude Moliterni define como ‘em estilo átomo’, arquitecturas futuristas e invenções como a ‘turbotracção', que aplica na construção do turbomóvel em que se deslocam os dois heróis.’
Este bloco de texto constava do texto de 2007 – de facto, desta vez nem sequer recorri ao referido Larousse para elaborar os textos do destacável distribuído com o jornal –, mas limitações de espaço obrigaram-me a fazer cortes no momento da paginação e a referência a Moliterni caiu...
A manutenção dessa referência seria suficiente para afastar a acusação de plágio? Não me compete responder.
Como a infalibilidade não é um dos meus dons, apenas posso garantir aos leitores um aprofundamento, em todas as suas vertentes, do ‘controlo de qualidade’ da escrita – tornado ainda mais imperioso pela recente polémica sobre plágio envolvendo uma camarada da redacção do PÚBLICO. Neste contexto, não posso deixar de agradecer o e-mail do zeloso e diligente leitor Nuno Moreira”, respondeu o jornalista.
As explicações de Carlos Pessoa são (quase) aceitáveis. Mais que não seja quando o jornalista invoca a velha máxima “errare humanum est”, i.e., errar é próprio do homem.
Porém, a questão que começa a colocar-se, à luz dos vários casos submetidos ao Provedor nos últimos meses, é de outra natureza.
Estamos nós, jornalistas, a edificar um princípio peculiar?
Temos sempre tempo e espaço para transcrever os textos de outrem, mas falta-nos sempre espaço e tempo para mencionar as fontes?
Se assim for, espera-se que a nova máxima nunca alcance, à semelhança da locução latina, o estatuto de “velha máxima”...
P.S. – O endereço electrónico do Provedor do Leitor do PÚBLICO é: provedor@publico.pt
Creio que chegou o momento de se ouvir uma palavra da direcção do jornal sobre estes insistentes casos. O que era vergonhoso passou a ridículo, o que suscitava a indignação inspira agora a chacota. É a conivência ou falta de liderança da direcção que não tem mão nesta equipa redactorial que disparata à trela solta? É a falta de qualificação e formação do corpo de jornalistas? É a escassez de recursos ou a incapacidade para os gerir - particularmente o tempo - a que têm acesso os jornalistas do Público na sua actividade profissional? Alguma coisa há-de poder explicar isto.
Posted by Anónimo | 1:31 da tarde
Creio que há duas notas a tirar de todos estes episódios repetidos de denuncias de plágio.
Por um lado, a parte positiva - pela existência de um espaço onde o leitor possa fazer a denuncia do que encontrou e onde o/a jornalista possa vir defender-se (ou não, como também já li por aqui). Se este espaço e o provedor não existissem toda e qualquer crítica cairia decerto em saco roto, arquivada no cesto de papéis mais próximo e os leitores menos atentos nunca se dariam conta da sua existência.
A parte negativa são as repetidas situações de plágio. Copiar textos, usurpando a propriedade intelectual de outrém e apresentando-a como própria, é algo muito grave. Dar a mão à palmatória é muito bonito, mas parece-me claramente de menos.
Se um aluno meu me entrega um trabalho em que existe um plágio leva nota negativa, e pode ser chumbado à cadeira. Que exemplo dão estes senhores que apenas levam um puxão de orelhas de um provedor, que na prática nada mais pode fazer, e a vergonha de ver o seu nome associado a algo do género?
Não entendo para que serviu fazer um livro de estilo, em que se condena, entre outras coisas, o plágio para depois não haver qualquer tipo de consequência para quem o pratica.
O que podemos esperar de um jornal que não se respeita a si mesmo?
Posted by Anónimo | 2:36 da manhã
Uma verificação cuidadosa dos nomes de colunistas e jornalistas de "O Público" apresentará uma percentagem extremamente elevada de nomes com duplas consoantes ou acabados nas mesmas. Estes nomes, em franco declínio durante as épocas de oitenta e noventa voltam hoje à ribalta do nosso jornalismo e arrastam com eles a falta de seriedade.
Não, a desculpa de faltar espaço para referenciar o autor de determinada frase é uma desculpa muito fraca e inaceitável. Errar é humano, verdade... mas, neste caso, empregar um jornalista que plagiou é pura incompetência de quem gere o jornal.
Posted by Anónimo | 12:13 da manhã
Com efeito este jornal tem descido de nível a uma velocidade vertiginosa...perdeu muitos bons jornalistas e mantém pessoas do tipo da 'dama dos afectos kitchs´, que por incrível que pareça,desconhece Fernando Pessoa...não recordo bem , mas a sujeita viveu com MST e também não estou seguro, mas parece que tem livros publicados...
No fundo um jornal ao nível do seu director, JMF...
estou solidário com a indignação geral.
Posted by jjoyce | 11:43 da manhã