MUDA O DISCO E TOCA O MESMO...
“A propósito da entrevista a Camané publicada no suplemento Ípsilon de dia 27/04 e conduzida por João Bonifácio, gostaria de dizer o seguinte:Numa entrevista profissional, não basta parecer, há que ser.
O Sr. João Bonifácio aparenta uma grande admiração por Jacques Brel, nomeadamente pela música ‘Ne Me Quitte Pas’.
Se assim fosse, deveria ter confirmado algumas coisas antes de escrever o artigo. Desta forma, evitaria escrever erradamente o título da canção (‘Ne Me Quites Pas’, ao invés de ‘Ne Me Quitte Pas’) e, sobretudo, este grande disparate:
‘É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão...’
Meus senhores, no original, a letra diz:
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
‘Ombre’ significa sombra, não ombro, como qualquer dicionário poderia esclarecer. Ao PÚBLICO caberá decidir uma eventual rectificação destes erros e uma chamada de atenção para o futuro”, escreve Carla Feliciano, uma leitora de Forte da Casa.
Os reparos são pertinentes.
A única conclusão plausível é que João Bonifácio faz entrevistas, mas não fala francês.
Há mais erros: “É uma vitória conseguir cantar uma canção como ‘Ne me quites pas’?”, pergunta o entrevistador.
A formulação correcta é (mais uma vez) “Ne me quitte pas”.
Outro erro: “Antes da canção ‘Ne me quites Pas’ Camané está no seu mundo, repetindo e repetindo palavras em francês. É como se estivesse à parte de tudo o resto, como se só interviesse quando tem de cantar. Mas antes, testa cada palavra, verifica o redondo das sílabas, o à-vontade com as palavras de uma língua com que não se sente à vontade.”
É surpreendente o entrevistador dar conta das dificuldades de Camané “com as palavras de uma língua com que não se sente à vontade” quando ele próprio acaba por induzir o cantor em erro com o “ombro” do cão.
JOÃO BONIFÁCIO: “É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: ‘Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão’...”
CAMANÉ: “Ele queria ser o ombro do cão dela porque queria era estar ao pé dela, não queria que ela o deixasse. E nessa fase da canção existe o desespero: nem que seja uma mosca à tua volta, o ombro do teu cão, qualquer coisa, mas que eu possa estar ao pé de ti.”
O entrevistador e o entrevistado passam por ignorantes. E por pessoas pouco credíveis. É no mínimo arreliador...
O provedor considera que João Bonifácio errou, mas não é o único responsável.
Um texto de várias páginas com aquele destaque (incluindo mesmo uma chamada de capa) não foi lido por mais ninguém no jornal antes de ser publicado? Só pode ser essa a explicação. A não ser que a chefia também não se “sinta à vontade” (sic) com a língua de Molière...
“’Plácido Domingo cancelou o conceto por problemas na voz21.04.2007 - 21h54 PUBLICO.PT’Que tristeza um jornal desta dimensão e sempre tão preocupado em mostrar-se tão imaculado no seu prestígio não ter sequer um revisor ortográfico! Um CONCETO, que coisa ridícula! Os erros desta natureza são diários e ficam horas e horas online. Tenham um pouco de brio por favor...”, escreve João Gião.
O leitor tem razão.
As gralhas e os erros sucedem-se...
“Já em várias ocasiões constatei a existência de erros mais ou menos graves na redacção dos vossos artigos (frases ou parágrafos truncados, utilização de expressões menos correctas como ‘ter de fazer’ em vez de ‘ter que fazer’, etc.), no entanto ainda não tinha detectado este tipo de situações em títulos. Hoje aconteceu isso mesmo, pois numa notícia do vosso site publicaram o seguinte titulo ‘Governo afirma que está tudo sobre controlo’ em relação a encontro nacionalista, o que está obviamente errado, pois uma coisa pode encontrar-se ‘sob controlo’ e não ‘sobre controlo’. Dada a gravidade do erro, que aliás se vem generalizando na comunicação verbal entre pessoas ou mesmo por comentadores e jornalistas da TV e rádio, considero que o PUBLICO deverá corrigir este erro publicamente e promover o correcto uso desta e doutras expressões do mesmo tipo”, escreve Paulo Monteiro.
Os erros e as gralhas sucedem-se, decididamente.
O provedor considera que a falta de tempo e de meios humanos (designadamente de copydesks) não pode servir de justificação para tudo. E para mais alguma coisa.
Os jornalistas têm o dever de apresentar textos “limpos”. É uma questão de profissionalismo e de brio. O amadorismo (associado a uma cultura de desresponsabilização em que prevalece o “chuta para o lado” ou o destino, que não tem nome) não é – nunca foi – solução para coisa alguma.
“Acabado de regressar de uma curta visita ao Egipto, onde me cruzei com milhares de simpáticas mulheres e jovens que envergavam os seus lenços tradicionais, fiquei chocado com a gritante e medíocre falta de cuidado, para não dizer participação activa no obscurantismo, que o jornal que eu assino (mas que continuando deste modo, deixarei rapidamente de o fazer) promove ao publicar uma fotografia com duas mulheres árabes com lenço, acompanhada da inacreditável frase: " Cimeira, Terrorismo na agenda de Sócrates em Marrocos, pág. 20".
Com uma Redacção cuidadosa como penso ser a do jornal PÚBLICO, isto é ainda muito mais grave... Será intencional?
Se fosse um pasquim racista qualquer, não ligava.
Gostaria que me respondessem se não tenho razão! Se não responderem também não me importo. Não sou propriamente lírico nem romancista russo (sem desprestígio para qualquer deles)! Mas não poderei esquecer...”, escreve José Manuel Soares, um leitor do Porto.
Os erros sucedem-se, mas não se assemelham.
Solicitei, portanto, um esclarecimento a José Manuel Fernandes.
“O leitor tem toda a razão. Foi uma grande falta de atenção de quem editou o jornal, a qual já tinha sido muito criticada na nossa reunião matinal”, respondeu o director.
Só me resta acrescentar que é importante (e deveras urgente) criar mecanismos para evitar a reprodução de tantos erros e de tantas gralhas.
Para a semana há mais...
O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt
O Sr. João Bonifácio aparenta uma grande admiração por Jacques Brel, nomeadamente pela música ‘Ne Me Quitte Pas’.
Se assim fosse, deveria ter confirmado algumas coisas antes de escrever o artigo. Desta forma, evitaria escrever erradamente o título da canção (‘Ne Me Quites Pas’, ao invés de ‘Ne Me Quitte Pas’) e, sobretudo, este grande disparate:
‘É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão...’
Meus senhores, no original, a letra diz:
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
‘Ombre’ significa sombra, não ombro, como qualquer dicionário poderia esclarecer. Ao PÚBLICO caberá decidir uma eventual rectificação destes erros e uma chamada de atenção para o futuro”, escreve Carla Feliciano, uma leitora de Forte da Casa.
Os reparos são pertinentes.
A única conclusão plausível é que João Bonifácio faz entrevistas, mas não fala francês.
Há mais erros: “É uma vitória conseguir cantar uma canção como ‘Ne me quites pas’?”, pergunta o entrevistador.
A formulação correcta é (mais uma vez) “Ne me quitte pas”.
Outro erro: “Antes da canção ‘Ne me quites Pas’ Camané está no seu mundo, repetindo e repetindo palavras em francês. É como se estivesse à parte de tudo o resto, como se só interviesse quando tem de cantar. Mas antes, testa cada palavra, verifica o redondo das sílabas, o à-vontade com as palavras de uma língua com que não se sente à vontade.”
É surpreendente o entrevistador dar conta das dificuldades de Camané “com as palavras de uma língua com que não se sente à vontade” quando ele próprio acaba por induzir o cantor em erro com o “ombro” do cão.
JOÃO BONIFÁCIO: “É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: ‘Deixa-me ser (...) o ombro do teu cão’...”
CAMANÉ: “Ele queria ser o ombro do cão dela porque queria era estar ao pé dela, não queria que ela o deixasse. E nessa fase da canção existe o desespero: nem que seja uma mosca à tua volta, o ombro do teu cão, qualquer coisa, mas que eu possa estar ao pé de ti.”
O entrevistador e o entrevistado passam por ignorantes. E por pessoas pouco credíveis. É no mínimo arreliador...
O provedor considera que João Bonifácio errou, mas não é o único responsável.
Um texto de várias páginas com aquele destaque (incluindo mesmo uma chamada de capa) não foi lido por mais ninguém no jornal antes de ser publicado? Só pode ser essa a explicação. A não ser que a chefia também não se “sinta à vontade” (sic) com a língua de Molière...
“’Plácido Domingo cancelou o conceto por problemas na voz21.04.2007 - 21h54 PUBLICO.PT’Que tristeza um jornal desta dimensão e sempre tão preocupado em mostrar-se tão imaculado no seu prestígio não ter sequer um revisor ortográfico! Um CONCETO, que coisa ridícula! Os erros desta natureza são diários e ficam horas e horas online. Tenham um pouco de brio por favor...”, escreve João Gião.
O leitor tem razão.
As gralhas e os erros sucedem-se...
“Já em várias ocasiões constatei a existência de erros mais ou menos graves na redacção dos vossos artigos (frases ou parágrafos truncados, utilização de expressões menos correctas como ‘ter de fazer’ em vez de ‘ter que fazer’, etc.), no entanto ainda não tinha detectado este tipo de situações em títulos. Hoje aconteceu isso mesmo, pois numa notícia do vosso site publicaram o seguinte titulo ‘Governo afirma que está tudo sobre controlo’ em relação a encontro nacionalista, o que está obviamente errado, pois uma coisa pode encontrar-se ‘sob controlo’ e não ‘sobre controlo’. Dada a gravidade do erro, que aliás se vem generalizando na comunicação verbal entre pessoas ou mesmo por comentadores e jornalistas da TV e rádio, considero que o PUBLICO deverá corrigir este erro publicamente e promover o correcto uso desta e doutras expressões do mesmo tipo”, escreve Paulo Monteiro.
Os erros e as gralhas sucedem-se, decididamente.
O provedor considera que a falta de tempo e de meios humanos (designadamente de copydesks) não pode servir de justificação para tudo. E para mais alguma coisa.
Os jornalistas têm o dever de apresentar textos “limpos”. É uma questão de profissionalismo e de brio. O amadorismo (associado a uma cultura de desresponsabilização em que prevalece o “chuta para o lado” ou o destino, que não tem nome) não é – nunca foi – solução para coisa alguma.
“Acabado de regressar de uma curta visita ao Egipto, onde me cruzei com milhares de simpáticas mulheres e jovens que envergavam os seus lenços tradicionais, fiquei chocado com a gritante e medíocre falta de cuidado, para não dizer participação activa no obscurantismo, que o jornal que eu assino (mas que continuando deste modo, deixarei rapidamente de o fazer) promove ao publicar uma fotografia com duas mulheres árabes com lenço, acompanhada da inacreditável frase: " Cimeira, Terrorismo na agenda de Sócrates em Marrocos, pág. 20".
Com uma Redacção cuidadosa como penso ser a do jornal PÚBLICO, isto é ainda muito mais grave... Será intencional?
Se fosse um pasquim racista qualquer, não ligava.
Gostaria que me respondessem se não tenho razão! Se não responderem também não me importo. Não sou propriamente lírico nem romancista russo (sem desprestígio para qualquer deles)! Mas não poderei esquecer...”, escreve José Manuel Soares, um leitor do Porto.
Os erros sucedem-se, mas não se assemelham.
Solicitei, portanto, um esclarecimento a José Manuel Fernandes.
“O leitor tem toda a razão. Foi uma grande falta de atenção de quem editou o jornal, a qual já tinha sido muito criticada na nossa reunião matinal”, respondeu o director.
Só me resta acrescentar que é importante (e deveras urgente) criar mecanismos para evitar a reprodução de tantos erros e de tantas gralhas.
Para a semana há mais...
O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt
o ombro do teu cão?! E ambos peroram sobre o significado do ombro do teu cão na perspectiva do desespero do chansonier belga?! Bem. Vistas as coisas desse original ponto de vista anatómico canino bem se pode avaliar um Brel em estado mais comatoso que doloroso. Oh, Camané que foste atrás da pesporrência ignorante de quem assim te entrevistou! Mas deixai que ao seu glorioso tempo a Maria Elisa também achou que em Beirute é que a temporada de ópera estava a dar cartas!
Posted by Anónimo | 1:57 da tarde
Bem aparecido seja provedor... o PÚBLICO nunca mencionou porque não escrevia e durante semanas pensei "bem, de tanto escrever sobre os plágios e as práticas inacreditáveis dos bastidores da redacção o sr. Fernandes saneou-o". Ainda bem que regressa.
Posted by Anónimo | 4:57 da tarde
Santa ignorância a de quem quer à viva força topar erros nas prosas alheias.
Com que então, sr. Paulo Monteiro, é asneira usar ‘ter de fazer’ em vez de ‘ter que fazer’?
Só por acaso, é mais ou menos ao contrário, embora a segunda construção se tenha vindo a impor com esse significado. Pode confirmar tais questões, por exemplo, no Ciberdúvidas, antes de sacar do dedo acusador: http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=16191
Posted by Luis Rainha | 11:40 da manhã
Há já bastante tempo que tenho pensado em lhe escrever.
Na verdade, sendo reformado, não tenho a possibilidade de comprar o Publico todos os dias, mas somente umas duas ou três vezes por semana. Razão ainda mais forte para não me sentir defraudado por fazer uma compra que me custa dinheiro, e receber como contrapartida um produto inferior. Há algum tempo a esta parte, nomeadamente depois da sua última remodelação gráfica, o jornal aparece impresso no que parece ser um papel de inferior qualidade, e com uma tinta gráfica que, passando a impressão de uma folha para a outra, torna algumas vezes a leitura impossível. Em alguns jornais chega a acontecer em seis e mais páginas. Isto, em princípio, denota uma total falta de consideração por quem compra o jornal, e assim contribui para a sua divulgação e prestígio. E se isto já não fosse suficiente, a maioria dos jornais terá prescindido do revisor, como em tempos prescindiu do compositor que, trabalhando debruçado sobre a caixa, compunha penosamente a notícia, antes ainda da litografia com o tipo fundido, que veio revolucionar aquela arte. É óbvio que não apoio o voltarmos a esse passado, mas a verdade é que para um computador, por mais sofisticado que seja, tanto a palavra “ ombro” como “sombra” existem, e na realidade tanto se lhe dá como se lhe deu que um cão faça sombra, ou tenha ombros como o exemplo que é apontado na sua crónica em epígrafe. Agora, um revisor que se preze, nunca permitiria um engano desta natureza. Não podemos pedir que cada entrevistador, cada jornalista, tenham a claridade de escrita de, digamos um Eça de Queiroz, que esse sim, sabia rendilhar a língua portuguesa, com a palavra certa, na medida justa. Mas também, a verdade é que o Eça não tinha que apresentar serviço ao fim de uma ou duas horas do acontecimento e, sobretudo na altura em que escreveu, o tempo tinha a dimensão da perfeição.
Mas ainda sobre o tema da utilidade do revisor, dou-lhe um exemplo: Na página 22/23 do Publico de ontem, cada artigo começa com um ponto vermelho. Curioso é que no canto inferior esquerdo da mesma página 22, um ponto vermelho quer dizer “Mau”. Como não há outra explicação supõe-se que se refira á qualidade do artigo ?
Melhores cumprimentos,
Manuel Castelo Branco
Posted by Anónimo | 5:09 da tarde