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domingo, março 11, 2007 

COMENTÁRIOS - 31

A pedido vosso, mas também por vontade própria, permito-me fazer alguns comentários sobre esta nova versão.

Antes de começar, gostava de deixar claro que percebo que a condicionante “mercado” é mais importante para a reestruturação de um jornal que os desejos de uma redacção ou mesmo de uma direcção. Gostava também de vos dar os parabéns pelo profundo trabalho de reflexão feito em torno do papel de um jornal nacional português contemporâneo. Considero que o vosso trabalho é deveras salutar e espero que as contribuições dos leitores e a vossa própria experiência vos dêem capital suficiente para avançarem para um jornal ainda melhor. Para terminar as entradas, devo dizer que só agora faço o comentário que tinha previsto desde que vi o número 0 porque estava à espera de deixar passar alguns exemplares de ‘Público’ para conseguir ter uma opinião mais fundamentada sobre o funcionamento da nova maqueta. Dito isto, cá vai então.

A impressão geral
Em primeiro lugar, e como ideia geral, acho que o jornal está mais ‘popular’. O que me parece ser uma das intenções da nova maqueta. E parece-me um objectivo bem alcançado. As páginas todas a cores, as fotografias enormes, o P2, fait-divers como o ‘q.b.’, os cabeçalhos decorados com foto recortadas a animar as páginas, etc. Tenho a certeza que os públicos do DN, Sol, Expresso e mesmo Jornal de Notícias, Correio da Manhã e 24 horas vão apreciar estas novas mudanças do Público. Sem um sentido nem pejorativo nem elogioso, o novo Público faz-me pensar num ‘Sol’ em versão diária. Porquê? Pelo que disse acima neste parágrafo mas também pela aparente vontade de misturar os públicos. Quero dizer, um público que prefere um jornal sério, independente, internacional, sem páginas cor-de-rosa; e um público que prefere um jornal de notícias de proximidade, menos palavra e mais imagem e uns apontamentos de notícias do género ‘people’, ‘cor-de-rosa’ ou ‘socialaite’ (não sei bem como lhes chamar). Dizia então que tenho a impressão que o novo Público foi pensado para os gregos e para os troianos, para o Zé e para o Diogo, para a Maria e para a Constança. Como já dizia o anúncio: ‘o que por um lado é bom, mas por outro é mau’...

A organização da informação
Agora que já passaram alguns dias desde a saída do primeiro número, já me habituei a uma coisa que a princípio tinha estranhado: as chamadas para as secções a que se seguem. As chamadas que estão nos topos das páginas. Acho realmente uma muito boa ideia e que funciona à mil maravilhas. De resto, e excepção feita à supressão dos “assuntos anexos” (dos quais infelizmente a Cultura faz parte...), não me parece que tenha havido grandes alterações no que diz respeito à organização da informação. O que a meu ver, é pena. Sem querer copiar nem comparar o incomparável, parece-me muito interessante o que fez o ‘Le Monde’ quando tratou de reestruturar o seu design e organização da informação: a separação dos assuntos a tratar por tema dá uma unidade aos assuntos e ao jornal que são de louvar, além de ser verdadeiramente inovador (a título de curiosidade e muito resumidamente, separaram o jornal –num só corpo- em três grandes temas: “Actualidade”, onde se tratam todos os assuntos, nacionais e internacionais, da ordem do dia; “Décryptages” (tradução grosseira – Decifragem), onde se aprofundam os temas que se julgam pertinentes com entrevistas, inquéritos, artigos de fundo; e “Rendez-vous” (tradução mais uma vez grosseira – Encontros), onde se falam de assuntos mais ligeiros como viagens e culinária mas também de cultura). Tudo isto para dizer que em relação à organização do novo Público, parece-me então que, além de alguns pequenos detalhes, a grande mudança são as referências a notícias nas secções que se seguem e o P2. O facto de a opinião ter passado para o fim do P1 parece-me de somenos importância, embora coerente com o princípio do novo Público.

Já o P2, parece-me uma ideia bastante interessante e que acredito que traga grandes benefícios ao jornal –em número de leitores e, consequentemente, de euros em publicidade. É leve e é fresco. É sério e é engraçado. É interessante e é fútil. Mas é sem dúvida um prazer ter uma espécie de Públicozinho versão para o adulto urbano. Mas no fim de contas, parece que é mas não é. É mais sério que isso. Às vezes. Bom, acho que preciso de mais uma semana para poder falar do P2. De qualquer forma, o que é certo é que é um suplemento de que gosto. Gosto das reportagens, das fotos de página inteira, das referências à net, do Luís, da Cultura (é impressão minha ou a Cultura tem menos espaço?), da rubrica Media. Gosto de o ler e gosto de o ver.

O design
O novo Público todo a cores. Hmmmm. Mais uma vez, pessoalmente não gosto muito, mas percebo que faça parte da nova estratégia comercial. Ainda assim, as cores fixas que os designers escolheram, parece-me um pouco repetitivas e também me parece que o vermelho e o laranja são cores que vão envelhecer mal. Mas isso só o tempo o dirá.

Já em relação aos tipos de letra escolhidos, parece-me que o tempo não é para aqui chamado. Nos títulos das notícias e no texto, os tipos parecem-me correctos, sem nenhum rasgo de originalidade, mas correctos. Já nos cabeçalhos e nas legendas, ainda que tenha em conta o aspecto ‘popular’ da coisa, não consigo deixar de os ver como sendo grosseiros. Sobretudo nas legendas das fotos que, além de serem gordas e pesadas –a vermelho!- fazem uso de um rectângulo branco que brutaliza as fotos e que transforma cada uma delas praticamente numa fotolegenda. Ainda em relação ao design, os destaques que aparecem no meio dos textos, parecem-me também algo grosseiros. Por várias razões: primeiro porque utilizam o mesmo tipo de letra que as legendas (ainda que em versão ‘regular’); segundo porque se fazem acompanhar de uma foto, mesmo quando ela não faz lá falta; e terceiro, porque têm um fundo a cores que a meu ver também não acrescenta nem em beleza, nem em leveza, nem em leitura. Depois, e de maneira mais geral, parece-me que o novo grafismo do jornal é “velho”. Quero dizer, é um déjà vu que com certeza faz parte da estratégia comercial (não causar estranheza usando um design que o leitor espera). Mas sinceramente, parece-me demasiado vulgar para um jornal como o Público.

O novo logotipo
Uma palavra ainda para o novo logo. Na minha opinião, um jornal com a ambição que eu julgava que o Público tinha, o logotipo deve ser reconhecido com facilidade – que é o caso – também por alguém que não conheça o jornal. E refiro-me aqui à divulgação do Público no estrangeiro. De alguma maneira, Público com o novo logo ganhou em popularidade em Portugal (acho eu...) mas perdeu em seriedade e respeito internacionais (se é que tinha). Oh lá, esta seria uma grande discussão...

Enfim, eu teria gostado de me ter surpreendido com o novo Público como me surpreendi, por exemplo, com o novo Expresso. Um exemplo de renovação bastante bem conseguido, original, sóbrio, com rasgos e com uma grelha suficientemente maleável para variar a paginação de maneira coerente. Mas no novo Público, por enquanto, muito pouco me surpreendeu pela positiva.

Desilusão
Confesso que quando vi que o Público ia mudar pensei poder vir a assistir a um trabalho gráfico excelente. E que fiquei desiludido. Estava também à espera de um papel mais fino, menos absorvente, que desse mais vida e detalhe às cores e à imagens. Olhando para o número mais antigo que tenho comigo, o número 1 desta nova versão, vejo que o jornal envelhece (fisicamente) muito depressa e mal. Ainda no tema design, há uma coisa que me salta aos olhos, ou aliás, não salta, é a falta de variedade gráfica. Quero dizer, folheando o jornal, todo ele é muito igual. Todo ele repete uma mesma grelha gráfica que, além de pouco interessante, não varia ao longo do jornal. Seja no destaque, seja no desporto, seja na economia. E por incrível que pareça, mesmo o ‘ípsilon’, bastião da experimentação gráfica no jornalismo português (ao lado talvez do defunto Dna) repete de alguma maneira a fórmula do jornal. Espero que os próximos números do ‘ípsilon’ sejam mais ousados que o primeiro.


Enfim, espero que com o passar do tempo as maquetes se tornem mais elegantes e originais ou que eu me adapte a elas como elas são, porque espero continuar ver o Público crescer como sendo o melhor jornal diário português.

Cumprimentos e bom trabalho,

João Garcia

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

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