COMENTÁRIOS - 13
Exmo. Sr. Provedor do Público
Volto ao contacto consigo após ter analisado a remodelação do jornal durante o ciclo de uma semana completa. As minhas primeiras impressões confirmaram-se, infelizmente. O que vou dizer a seguir não é contra o jornal ou contra a sua equipa. É o meu contributo de avaliação crítica do jornal que diariamente leio e que é o meu jornal. Faço-o porque é do meu interesse ler um jornal que seja cada vez melhor e nesse sentido sinto-me à vontade para fazer a minha apreciação.
Eu penso que o público que tradicionalmente lia o jornal não ambicionava esta mudança nem tão pouco terá ficado agrado com ela. O jornal poderá conquistar outros leitores. Mas mesmo que tal aconteça?
Será bom a nível de performance empresarial? Não significará necessariamente que ficámos com um jornal melhor.
Recordo-me de uma entrevista, feita na rádio há já algum tempo, ao director do Correio da Manhã em que era questionado acerca da conveniência/ seriedade de algumas opções editoriais do jornal que dirige, ao que respondeu sempre que a sua principal função era garantir que o jornal vendesse mais e que apresentasse uma situação financeira estável.
Se foram estas razões que estiveram na base da remodelação do Público entendo-as e pode acontecer que venha a ser uma estratégia com sucesso, podendo conquistar leitores que antes não compravam o Público.
Se no entanto a remodelação se destinava a tornar o jornal melhor, respeitando o histórico que construiu ao longo destas, daqui a pouco, duas décadas, respeitando a posição de referência que tem ocupado no cenário jornalístico português, e essencialmente mantendo os factores de diferenciação que faziam dele o melhor jornal português, então penso que o objectivo não terá sido alcançado.
Destaco:
1. O alinhamento das secções, com a opinião, ou espaço público, (o principal factor de qualidade, diferenciador, em que o Público é claramente melhor que a concorrência) colocado nas catacumbas do jornal.
2. A colocação de imagens gigantescas no meio de duas páginas enche a vista mas prejudica a leitura e é desagradável. Uma página deixa de ser uma página. Uma página passa a ter fronteira aberta para outro sítio (era comum no Expresso mas corrigiu-se) e transforma-se em meia página ou em parte de página.
3. O logótipo (património e imagem de marca do jornal) substituído por um elemento sem identidade e sem qualquer qualidade gráfica ou criativa, assim como os restantes grafismos.
4. Intrusão de uma avalanche de publicidade em páginas inteiras (já se paga o jornal bem caro, comparado com jornais estrangeiros de referência, e paga-se agora para termos acesso a anúncios maiores).
5. Alteração do tamanho da Pública para um tamanho xl injustificado, invadida por imagens gigantescas, títulos gigantescos, grafismos de cor e tipo de letra desagradáveis, seguindo a tendência do jornal, de passar a ser uma revista mais para ver do que para ler.
6. Supressão da lista de suplementos na página principal que era bastante útil para no momento da compra verificar se o jornal estava completo. Não raras vezes quem o vende esquece-se ou engana-se a colocar os suplementos e não foram poucas as vezes que essa lista me foi útil para alertar a falha.
Eu não consigo entender por que é que isto aconteceu e talvez ficasse mais tranquilo se me fosse explicado. A remodelação do Público é comparada a um aristocrata que tivesse passado a usar vestimenta de mendigo.
Proponho o exercício de agora se pegar num exemplar do Público antes da remodelação e comparar-se. Penso que não é difícil perceber o que aconteceu. Ler o Público deixou de ser prático e deixou de ser agradável. O conteúdo é a essência do jornal mas não é só o que conta.
Conta também a forma como é apresentado. E a forma ? amiga? do leitor que existia foi eliminada. Neste aspecto está incomparavelmente pior.
Formulo os meus desejos de que, apesar deste abandono do tradicional estilo arrumado, simples, organizado e fácil de ler que era distinto no Público, ao nível dos conteúdos o jornal continue a privilegiar a qualidade em detrimento do que eventualmente seja mais popular. Confio que assim será.
Os meus melhores cumprimentos,
João Sobral
Volto ao contacto consigo após ter analisado a remodelação do jornal durante o ciclo de uma semana completa. As minhas primeiras impressões confirmaram-se, infelizmente. O que vou dizer a seguir não é contra o jornal ou contra a sua equipa. É o meu contributo de avaliação crítica do jornal que diariamente leio e que é o meu jornal. Faço-o porque é do meu interesse ler um jornal que seja cada vez melhor e nesse sentido sinto-me à vontade para fazer a minha apreciação.
Eu penso que o público que tradicionalmente lia o jornal não ambicionava esta mudança nem tão pouco terá ficado agrado com ela. O jornal poderá conquistar outros leitores. Mas mesmo que tal aconteça?
Será bom a nível de performance empresarial? Não significará necessariamente que ficámos com um jornal melhor.
Recordo-me de uma entrevista, feita na rádio há já algum tempo, ao director do Correio da Manhã em que era questionado acerca da conveniência/ seriedade de algumas opções editoriais do jornal que dirige, ao que respondeu sempre que a sua principal função era garantir que o jornal vendesse mais e que apresentasse uma situação financeira estável.
Se foram estas razões que estiveram na base da remodelação do Público entendo-as e pode acontecer que venha a ser uma estratégia com sucesso, podendo conquistar leitores que antes não compravam o Público.
Se no entanto a remodelação se destinava a tornar o jornal melhor, respeitando o histórico que construiu ao longo destas, daqui a pouco, duas décadas, respeitando a posição de referência que tem ocupado no cenário jornalístico português, e essencialmente mantendo os factores de diferenciação que faziam dele o melhor jornal português, então penso que o objectivo não terá sido alcançado.
Destaco:
1. O alinhamento das secções, com a opinião, ou espaço público, (o principal factor de qualidade, diferenciador, em que o Público é claramente melhor que a concorrência) colocado nas catacumbas do jornal.
2. A colocação de imagens gigantescas no meio de duas páginas enche a vista mas prejudica a leitura e é desagradável. Uma página deixa de ser uma página. Uma página passa a ter fronteira aberta para outro sítio (era comum no Expresso mas corrigiu-se) e transforma-se em meia página ou em parte de página.
3. O logótipo (património e imagem de marca do jornal) substituído por um elemento sem identidade e sem qualquer qualidade gráfica ou criativa, assim como os restantes grafismos.
4. Intrusão de uma avalanche de publicidade em páginas inteiras (já se paga o jornal bem caro, comparado com jornais estrangeiros de referência, e paga-se agora para termos acesso a anúncios maiores).
5. Alteração do tamanho da Pública para um tamanho xl injustificado, invadida por imagens gigantescas, títulos gigantescos, grafismos de cor e tipo de letra desagradáveis, seguindo a tendência do jornal, de passar a ser uma revista mais para ver do que para ler.
6. Supressão da lista de suplementos na página principal que era bastante útil para no momento da compra verificar se o jornal estava completo. Não raras vezes quem o vende esquece-se ou engana-se a colocar os suplementos e não foram poucas as vezes que essa lista me foi útil para alertar a falha.
Eu não consigo entender por que é que isto aconteceu e talvez ficasse mais tranquilo se me fosse explicado. A remodelação do Público é comparada a um aristocrata que tivesse passado a usar vestimenta de mendigo.
Proponho o exercício de agora se pegar num exemplar do Público antes da remodelação e comparar-se. Penso que não é difícil perceber o que aconteceu. Ler o Público deixou de ser prático e deixou de ser agradável. O conteúdo é a essência do jornal mas não é só o que conta.
Conta também a forma como é apresentado. E a forma ? amiga? do leitor que existia foi eliminada. Neste aspecto está incomparavelmente pior.
Formulo os meus desejos de que, apesar deste abandono do tradicional estilo arrumado, simples, organizado e fácil de ler que era distinto no Público, ao nível dos conteúdos o jornal continue a privilegiar a qualidade em detrimento do que eventualmente seja mais popular. Confio que assim será.
Os meus melhores cumprimentos,
João Sobral