« Página inicial | COMENTÁRIOS - 6 » | COMENTÁRIOS - 5 » | COMENTÁRIOS - 4 » | COMENTÁRIOS - 3 » | COMENTÁRIOS - 2 » | COMENTÁRIOS -1 » | MUDA-SE O PÚBLICO... (EPÍLOGO) » | MUDA-SE O PÚBLICO (III) » | MUDA-SE O PÚBLICO... (II) » | MUDA-SE O PÚBLICO... » 

domingo, março 11, 2007 

COMENTÁRIOS - 7

Ex.mo Senhor Provedor:

Havendo no PÚBLICO quem pretenda saber a opinião dos leitores sobre as mudanças operadas no jornal, eis o meu contributo:

Professor, 38 anos, sou leitor do PÚBLICO desde há mais de uma década. Não leio o PÚBLICO por fidelização de qualquer espécie. Compro e leio diariamente o PÚBLICO porque tem sido o jornal português que mais corresponde àquilo que eu espero de um bom jornal: informação marcadamente objectiva; opinião vasta, diversificada e qualificada; separação clara entre informação, opinião e publicidade; sobriedade gráfica; fotografia criteriosa primordialmente informativa e com elevado sentido estético e apelativo (no sentido de desafiar o leitor); sentido crítico dos textos dos jornalistas naquilo que tem sido um exemplo louvável de metajornalismo, etc, etc.

O anúncio da ‘lavagem’ gráfica do jornal (que ultrapassa em muito a questão gráfica, pelo que tenho constatado) deixou-me muito expectante. Tenho lido pois o jornal com redobrada atenção. E o que tenho visto deixa-me de tal modo irritado que decidi dar-Vos conta da minha opinião de leitor.

Tomo como exemplo das minhas brevíssimas reflexões o jornal de segunda-feira, 19 de Fevereiro. A 1ª p. é um amontoado e títulos. O que corresponderá à manchete tem 4 linhas e onze palavras: uma verdadeira perífrase onde deveria imperar a simplicidade: “Ota – engenheiros querem alternativas”. Começa também nesta 1ª p. uma das marcas do novo PÚBLICO que se está a tornar insuportável (a não ser que o jornal pretenda ser a “Caras” de cada dia): fotografias de rostos de pessoas. É um exagero: são dezenas os caras nas fotos destas últimas edições. Com que objectivo? Que acrescenta o rosto de Jardim (p.6), o de Ferreira Leite, Júdice (p.7) às notícias em que se inserem? Haverá alguma orientação para que todos os textos sejam “ilustrados”? Com que sentido? O jornal assim fica infantilizado.

Se prestarmos atenção às legendas dessas fotos (e mesmo não querendo analisar a pertinência da selecção fotográfica – como por exemplo na p. 8 e na p. 20) maior é ainda a admiração: as legendas perderam a autonomia e estão mal escritas. Exemplos: “Um perigo ‘compreensível’ pois muitas empresas não admitem faltas” (p.6) – Que perigo? A criança da foto? A gripe? A falta ao trabalho? A saúde pública? Outro exemplo na p. 19: “Solução “para as calendas”?”. Mas isto nem sequer é linguagem coloquial. A necessidade de usar aspas nas legendas sem se tratar de citação é já por si um indicador da falta de objectividade do enunciado. Mais, na p. 35: “Portugal tem bons exemplos de projectos industriais na saúde”. A legenda é tão esclarecedora como a fotografia…

Como outros leitores, também eu lamento que a opinião tenha deixado de figurar num espaço que me parecia mais nobre e mais formal. Agora, os textos de opinião parecem-me textos de crónica do quotidiano, “fios do horizonte” com vários estilos. Não confirmei ainda, mas parece-me que o número daqueles que regularmente nos davam opinião crítica deixaram de aparecer. Num caso ou noutro, a opinião está a ser publicada com um tamanho de letra mais pequeno, tornando difícil a leitura, o que é lamentável.

Creio que não é eticamente aceitável dar títulos a secções usando referências publicitárias à mistura, como na p. 18 do P2: “Recomendações PÚBLICO Optimus”. Agradeço e pago as recomendações do Público. Declino as da Optimus (mesmo sendo cliente).

Creio que o P2 é exemplo lapidar do que pretendem com o novo arranjo gráfico a pensar em piscar o olho à 'malta jovem'. Parece-me, no entanto, que estão a seguir pela via errada. Andamos todos, novos e velhos, cheios de imagem. A imagem em excesso ataca a toda a hora e em todo o lugar. E em jornalismo, a imagem raramente nos dá o essencial – dá-nos mil palavras quando esperávamos duas ou três, certeiras; E os jovens que comprar o jornal não o fazem certamente pela imagem, mas pelo conteúdo, pelo que lá se diz e não pelo que se mostra. O jovens que leem jornais como o PÚBLICO tem Internet à mão e já nem perdem tempo com televisão. Se lhe dermos agora no PÚBLICO planos televisivos...

É necessário que o grafismo seja atractivo, arejado, mas isso não significa necessariamente ceder em todas as frentes à imagem e à cor. Em vez do P2, se quiser imagem, fica qualquer leitor mais bem servido ligando a Internet, a televisão ou até lendo outros jornais que há muito optaram por essa via, publicando essas fotos desses artistas dessas mecas desses cinemas nessas páginas nessas formatos enormes para se olhar e pronto, sair na estação de metro seguinte. Neste sentido, a p.4 do P2 é inútil, não informa, não esclarece, não suscita. Está ali depois da p. 3 e antes da p. 5… O mesmo se diga das pp. 8 e 9. Para coisas assim e outras assim-assim não vale a pela comprar o PÚBLICO. Já havia por aí outros jornais e revistas que faziam destas coisas desde há alguns anos, mas os leitores do PÚBLICO não os seguiram…

Com os melhores cumprimentos,

José Campinho, Porto Santo

P.S.: Um nova leitura do «Livro de Estilo» do PÚBLICO fará mais pelo futuro do jornal do que a opinião dos mais iluminados gurus dos jornais modernos europeus e americanos. É que, em se tratando de adoptar modas, terá o jornal de comprar novo fato na próxima estação. Eu pensava que os jornais de valorizam pela longevidade e agora dizem-me do PÚBLICO que isso só se consegue simulando uma eterna juventude. Será…

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

  • Consulte o CV de Rui Araújo

Links

Um blog do PUBLICO.PT