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domingo, março 11, 2007 

COMENTÁRIOS - 6

O Público, o povo e a nossa bolsa

Um tipo põe-se a olhar e pergunta-se: quem raio serão os leitores da Pública?

A ideia antiga de que existia um jornal com um magazine diferente, capaz de assegurar uma certa resistência ao fútil e à idiotice, deixou hoje dois buracos na parede da modernidade — no exacto lugar onde deu com os ingénuos cornos.

De toda a remodelação do Público, a nova revista do jornal de Belmiro é a coisa mais imbecil que podia lembrar a um cristão. E assinale-se que os destacáveis precursores da reforma prometiam não só uma nova revista como uma revista inovadora!... Não seria mais simples e barato o “P” encaminhar envergonhadamente os leitores para a Notícias Magazine? Ou para a revista do Correio da Manhã? A quem pode interessar esta duplicação de serviços? Ou pensa o Público disputar leitores no mercado dos jornais populares? Agradecemos que nos mantenham a par dos planos para podermos saltar fora do barco a tempo e com a dignidade intacta.

Alguns dias depois do número um da nova vida do Público há coisas que devo acrescentar ao meu anterior post. O jornal, concedo, continua minimamente distinto. Aligeirou alguns conteúdos, manteve outros, esforça-se agora em certos artigos a meio caminho da reportagem e da curiosidade. O grafismo sobrevive e distingue-se, menos por mérito próprio do que por ausência de concorrência no segmento. A aproximação ao estilo TV é absurda. Como absurda era a justificação do designer para a escolha do novo logótipo (que se entranha mas não convence). Dizia o homem que o Público já é um jornal e um site na Web e pode bem vir a ser uma rádio ou uma televisão. Ora, a menos que sejam de facto esses os planos de Belmiro de Azevedo e José Manuel Fernandes, parece-me que a ideia assentou em devaneios — coisa, aliás, muito comum entre designers e gente da informática, gurus usualmente sobrestimados.

No seu artigo de sábado, Pacheco Pereira, depois da habitual apologia da bondade popular (que, na verdade e muito bem, não preza para lá da retórica), condescendia em lembrar que há uma “elite das elites” que não prescinde de jornais de referência, precisa mesmo deles como de pão para a boca. Mas que fazer quando a modernidade e o mercado não transigem com os caprichos desta gente rara?

Para animar a festa, o preclaro Joaquim Oliveira resolveu acabar com o Diário de Notícias, anunciando com invulgar perspicácia que os jornais de referência não são rentáveis.

O actual estado de sítio da imprensa nacional tem raízes velhas, anteriores ao fim inglório de O Independente e da Grande Reportagem e ao encolhimento táctico do Expresso. Mas, juntando todas estas baixas num molho apertado com um mesmo baraço, talvez seja altura de fazer a pergunta que se impõe e que ainda ninguém teve coragem de formular. Estará a “elite das elites” disposta a pagar o dobro daquilo que paga hoje por um jornal decente, permitindo que ele simplesmente exista? É que, meus amigos, não há outro caminho. Os jornais de referência só existirão no futuro enquanto artigos de relativo e imprescindível luxo. Não há empresários filantrópicos, nem se prevê que o povo que Pacheco tanto refere venha a exigir tal produto.

Resta-nos esperar que, em vez de recorrer a operações de lifting e aligeiramento da carga, um qualquer Público resolva perceber que não é seu destino procurar clientes nas hostes que debicam a net ou bovinam nos pasquins, mas sim exigir-nos a bolsa em troca da sua vida. Coisa que, declaro já, cederei alegremente — na condição inegociável de ser ignorada a vontade do povo na próxima remodelação.

Rui Ângelo Araújo, Vila Real

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