QUEM DÁ MAIS...
O sócio-gerente da firma Partis Serviços Lda, Gonçalo Sequeira Braga, comunicou ao director e ao provedor do PÚBLICO “o comportamento incorrecto dum jornalista”.
“1. A minha empresa de consultoria elaborou um Relatório sobre ‘O Mercado
do Transporte Ferroviário – Portugal 2006’, o qual contou com a colaboração de dezenas de personalidades e colaboradores consultores especializados em diversas áreas. Este Market Survey será comercializado a partir de Setembro.
2. Dado que o Relatório contém informação e conclusões que podem ser
do interesse público, contactei diversos jornalistas ligados a vários jornais,
para acordar a divulgação noticiosa do lançamento do Relatório. Com todos
os jornalistas referi que poderia dar exclusividade jornalística à divulgação
noticiosa do Relatório, tudo dependendo da cobertura que fosse dada ao
lançamento do referido documento. A todos informei da data do lançamento
comercial e disse ainda que a divulgação noticiosa deveria ocorrer por volta de 7 ou 16 de Setembro.
3. Nas diversas conversas que tive com os jornalistas apresentei o Relatório e as suas principais informações e conclusões, de forma a que os referidos jornalistas pudessem avaliar do interesse jornalístico do Relatório e, assim, pudessem apresentar as condições de divulgação no seu jornal. Em relação a todos ficou acordado que nada seria publicado, enquanto não tivéssemos chegado a acordo sobre as condições da divulgação.
4. Tive informações de que no PÚBLICO o especialista em matéria ferroviária era o senhor Carlos Cipriano, tendo-o contactado para promover uma reunião. Desde logo na conversa telefónica lhe expliquei o que pretendia. Em 17 de Agosto passado tive no meu escritório uma reunião com o senhor Carlos Cipriano, durante cerca de uma hora e meia, em que lhe fiz uma profunda apresentação do Relatório. No termo da reunião insisti com a ideia de que estava em conversações com vários jornais e de que nada poderia ser publicado sem chegarmos a acordo sobre as condições de
divulgação, até porque poderia decidir dar a exclusividade do lançamento a um jornal. Só depois deste é que seria emitido um ‘press release’ (comunicado de imprensa, nota do provedor) com alguma informação geral sobre o Relatório para a generalidade dos órgãos de informação. Ficou ainda dito que entraria em contacto com o senhor Carlos Cipriano durante a semana seguinte, para definir uma posição, o que não aconteceu por
impossibilidade minha.
5. Hoje, logo ao princípio da manhã, falei ao senhor Carlos Cipriano para o
informar que iria dar a exclusividade da divulgação a outro jornal e referi
que, assim, nada se publicaria no PÚBLICO, antes como é óbvio da saída do
‘press release’ geral. Não me foi possível falar com ele, mas deixei mensagem no seu telemóvel.
6. Ao fim da manhã sou informado por um amigo meu que a edição de domingo do PÚBLICO publicara uma notícia sobre o Relatório assinada pelo
senhor Carlos Cipriano. Fui comprar imediatamente o jornal e não quis acreditar no que estava a ler.!?!
7. (...) O comportamento do senhor Carlos Cipriano viola as mais elementares regras da deontologia jornalística, quebrando um ‘gentleman
agreement’ (acordo de cavalheiros, nota do provedor) entre nós acordado
sobre a publicação ou não publicação das informações e das conclusões do
referido Relatório. Em dezenas de anos de actividade profissional, com intenso contacto com a imprensa, é a primeira vez que um jornalista acorda comigo uma coisa e depois falta à palavra dada.
Estou profundamente magoado com esta atitude do senhor Carlos Cipriano,
jornalista do PÚBLICO, atitude essa que de forma alguma o dignifica, antes
pelo contrário. E penso que tal atitude também prejudica gravemente a credibilidade e respeitabilidade dum órgão de informação como o PÚBLICO.
8. Desejo ainda acrescentar que a notícia contém erros grosseiros.
Não é verdade que o Relatório conclua que não há dinheiro para os investimentos anunciados.
Não é verdade que Sequeira Braga não vislumbre rentabilidade para o
projecto Alta velocidade.
Tais afirmações não foram feitas por mim. Tais afirmações não encontram
fundamento no texto do Relatório.”
O provedor solicitou um esclarecimento ao jornalista.
“Confirmo que fui contactado por Sequeira Braga para este me apresentar
um estudo por ele elaborado sobre o mercado do transporte ferroviário
em Portugal.
Durante hora e meia falou-me do seu trabalho, tendo eu feito inúmeras
perguntas e preenchido 5 folhas A4 com apontamentos. Consultei algumas vezes o documento (constituído por umas boas centenas de páginas) e dele retirei também algumas notas.
Ao contrário do que afirma, nem antes nem durante a entrevista, me pediu
para nada escrever sobre o assunto.
No final da conversa, e quando estava já prestes a sair, perguntou-me qual
o destaque que eu poderia dar ao seu livro na minha peça. Expliquei-lhe que
tal passaria pelo crivo do editor, que ajuizaria do interesse da matéria, mas
que não tinha dúvidas de que haveria ali notícia. E resumi-lhe até três ideias-força que tinha retirado da conversa e sobre as quais tencionaria escrever:
– A dificuldade no financiamento dos investimentos na alta velocidade;
– A pouca expressão do transporte de mercadorias por caminho-de-ferro em Portugal e o papel da CP nesse segmento;
– A semelhança entre a liberalização do mercado das telecomunicações e a do mercado do transporte ferroviário.
Expliquei-lhe que seguramente abriria o texto com uma destas ideias, mas quanto ao destaque a dar à peça, nada lhe poderia (nem quereria) prometer.
Sequeira Braga voltou a insistir sobre a importância que o PÚBLICO daria à notícia, tendo-lhe voltado a explicar que isso dependia de várias factores, entre eles os critérios do jornalista e os do editor, bem como da actualidade do dia e do espaço disponível no jornal. E acrescentei, meio a brincar, que estando em pleno Agosto, e dada a escassez de notícias relacionadas com a Economia (secção à qual se destinava o artigo) na época de Verão, até era provável que o artigo tivesse um destaque razoável.
Foi então – só no final da conversa – que me pediu para não escrever nada ‘para já’, prometendo ligar-me ‘no início da próxima semana’. Respondi-lhe, mostrando-lhe os apontamentos, que tencionava escrever sobre o assunto uma vez que já investira a manhã naquela entrevista, mas que não me importava de esperar alguns dias, até porque ficara no ar a promessa de que
me faria chegar uma cópia integral do seu trabalho se o PÚBLICO ficasse com o exclusivo.
Despedimo-nos amavelmente. Durante toda a conversa houve sempre cortesia, não tendo havido qualquer momento de tensão.
Durante a semana seguinte não tive nenhum contacto de Sequeira Braga (como o próprio confirma na sua carta) pelo que, após ter exposto o assunto ao editor, este acertou comigo que eu faria uma peça de 3500 caracteres sobre os dois primeiros pontos acima descritos.
A mesma foi inserta na edição do PÚBLICO de 27/08/2006, embora em formato muito reduzido porque se cortou uma caixa em que se falava no transporte ferroviário de mercadorias (provavelmente por falta de espaço), ficando a peça reduzida a 2500 caracteres.
No dia seguinte tinha uma mensagem de Sequeira Braga no telemóvel a dizer que não queria que publicasse nada sobre o seu livro porque tinha ‘chegado a acordo’ com outro jornalista.
Era tarde. Sequeira Braga dissera que me telefonaria no início da semana seguinte, mas só estava a fazê-lo na semana posterior.
Mas ainda que fosse a tempo, eu não deixaria de publicar o artigo porque nunca assumi nenhum compromisso nesse sentido. E ter-lhe-ia explicado que ele teria todo o direito de tentar ‘vender’ o seu livro ao jornal ou jornalista que lhe prometesse mais destaque, mas que na imprensa séria a publicação de uma peça e o relevo que se lhe dará não devem ser negociados com a fonte, mas
dependem de critério editoriais. Ainda por cima, no caso em apreço, tratava-se de uma matéria que, além do seu interesse noticioso, era também um produto comercial que Sequeira Braga queria promover e vender.
Ao jornalista interessava-lhe o resultado do trabalho do investigador Sequeira Braga, do ex-secretário de Estado de um governo da República, que publicara um trabalho sobre o mercado do transporte ferroviário; não lhe interessava a mercadoria produzida pelo empresário Sequeira Braga.
São abordagens diferentes para um mesmo ‘objecto’. O jornalista procura num livro de 800 páginas aquilo que é notícia; o empresário quer promover nos jornais o seu produto.
Na tarde desse dia recebi um telefonema de Sequeira Braga que me surpreendeu pela sua violência, tendo-me dirigido uma série de insultos porque alegadamente eu falhara um acordo que – repito – não me havia sido proposto nem eu nunca teria aceite.
E foi isso que lhe recordei, tendo aproveitado para lhe perguntar se havia algo no conteúdo da peça que ele não subscrevesse e/ou que não tivesse a ver com o conteúdo do seu trabalho, ao que ele respondeu que quanto a isso o artigo estava correcto e correspondia ao sentido da nossa conversa.
E é aqui que Sequeira Braga me desilude profundamente: no ponto 8. refere erros grosseiros na minha peça e desmente as afirmações que proferiu, quando, antes, apesar de visivelmente contrariado, tivera a hombridade de me afirmar que o conteúdo da peça correspondia grosso modo aquilo que nós conversáramos.
Em suma:
1.Sequeira Braga não fez com o jornalista nenhum acordo sobre a não publicação da peça (se o tivesse proposto de forma clara e inequívoca, o jornalista ter-lhe-ia dito que não)
2. A peça relata fielmente as informações por ele transmitidas sobre o seu relatório referente ao mercado do transporte ferroviário em Portugal, como o próprio admitiu quando me telefonou”, respondeu Carlos Cipriano.
CONCLUSÃO
O provedor considera que a Partis Serviços devia ter indicado (logo no
início da conversa) ao jornalista de que se tratava de uma conversa “off the record”. Uma informação revelada em “off” não pode ser reproduzida.
A firma não invocou o “off” no início do encontro e comprometeu-se, por
outro lado, a entrar em contacto com Carlos Cipriano na semana seguinte,
mas não o fez.
A credibilidade da imprensa (à semelhança da credibilidade das fontes) passa pela transparência. A Partis Serviços optou por leiloar o relatório. É uma opção comercialmente legítima, mas a firma não pode obrigar os jornalistas a participar no leilão. As empresas têm interesses que defendem e o jornalismo tem regras. A informação ainda não é uma mercadoria, é um serviço.
Quanto ao conteúdo do relatório o provedor não tem competência para se pronunciar porquanto não teve acesso ao mesmo – e a sua missão não contempla essa pesquisa.
O jornalista Carlos Cipriano actuou, portanto, de forma legítima.
“1. A minha empresa de consultoria elaborou um Relatório sobre ‘O Mercado
do Transporte Ferroviário – Portugal 2006’, o qual contou com a colaboração de dezenas de personalidades e colaboradores consultores especializados em diversas áreas. Este Market Survey será comercializado a partir de Setembro.
2. Dado que o Relatório contém informação e conclusões que podem ser
do interesse público, contactei diversos jornalistas ligados a vários jornais,
para acordar a divulgação noticiosa do lançamento do Relatório. Com todos
os jornalistas referi que poderia dar exclusividade jornalística à divulgação
noticiosa do Relatório, tudo dependendo da cobertura que fosse dada ao
lançamento do referido documento. A todos informei da data do lançamento
comercial e disse ainda que a divulgação noticiosa deveria ocorrer por volta de 7 ou 16 de Setembro.
3. Nas diversas conversas que tive com os jornalistas apresentei o Relatório e as suas principais informações e conclusões, de forma a que os referidos jornalistas pudessem avaliar do interesse jornalístico do Relatório e, assim, pudessem apresentar as condições de divulgação no seu jornal. Em relação a todos ficou acordado que nada seria publicado, enquanto não tivéssemos chegado a acordo sobre as condições da divulgação.
4. Tive informações de que no PÚBLICO o especialista em matéria ferroviária era o senhor Carlos Cipriano, tendo-o contactado para promover uma reunião. Desde logo na conversa telefónica lhe expliquei o que pretendia. Em 17 de Agosto passado tive no meu escritório uma reunião com o senhor Carlos Cipriano, durante cerca de uma hora e meia, em que lhe fiz uma profunda apresentação do Relatório. No termo da reunião insisti com a ideia de que estava em conversações com vários jornais e de que nada poderia ser publicado sem chegarmos a acordo sobre as condições de
divulgação, até porque poderia decidir dar a exclusividade do lançamento a um jornal. Só depois deste é que seria emitido um ‘press release’ (comunicado de imprensa, nota do provedor) com alguma informação geral sobre o Relatório para a generalidade dos órgãos de informação. Ficou ainda dito que entraria em contacto com o senhor Carlos Cipriano durante a semana seguinte, para definir uma posição, o que não aconteceu por
impossibilidade minha.
5. Hoje, logo ao princípio da manhã, falei ao senhor Carlos Cipriano para o
informar que iria dar a exclusividade da divulgação a outro jornal e referi
que, assim, nada se publicaria no PÚBLICO, antes como é óbvio da saída do
‘press release’ geral. Não me foi possível falar com ele, mas deixei mensagem no seu telemóvel.
6. Ao fim da manhã sou informado por um amigo meu que a edição de domingo do PÚBLICO publicara uma notícia sobre o Relatório assinada pelo
senhor Carlos Cipriano. Fui comprar imediatamente o jornal e não quis acreditar no que estava a ler.!?!
7. (...) O comportamento do senhor Carlos Cipriano viola as mais elementares regras da deontologia jornalística, quebrando um ‘gentleman
agreement’ (acordo de cavalheiros, nota do provedor) entre nós acordado
sobre a publicação ou não publicação das informações e das conclusões do
referido Relatório. Em dezenas de anos de actividade profissional, com intenso contacto com a imprensa, é a primeira vez que um jornalista acorda comigo uma coisa e depois falta à palavra dada.
Estou profundamente magoado com esta atitude do senhor Carlos Cipriano,
jornalista do PÚBLICO, atitude essa que de forma alguma o dignifica, antes
pelo contrário. E penso que tal atitude também prejudica gravemente a credibilidade e respeitabilidade dum órgão de informação como o PÚBLICO.
8. Desejo ainda acrescentar que a notícia contém erros grosseiros.
Não é verdade que o Relatório conclua que não há dinheiro para os investimentos anunciados.
Não é verdade que Sequeira Braga não vislumbre rentabilidade para o
projecto Alta velocidade.
Tais afirmações não foram feitas por mim. Tais afirmações não encontram
fundamento no texto do Relatório.”
O provedor solicitou um esclarecimento ao jornalista.
“Confirmo que fui contactado por Sequeira Braga para este me apresentar
um estudo por ele elaborado sobre o mercado do transporte ferroviário
em Portugal.
Durante hora e meia falou-me do seu trabalho, tendo eu feito inúmeras
perguntas e preenchido 5 folhas A4 com apontamentos. Consultei algumas vezes o documento (constituído por umas boas centenas de páginas) e dele retirei também algumas notas.
Ao contrário do que afirma, nem antes nem durante a entrevista, me pediu
para nada escrever sobre o assunto.
No final da conversa, e quando estava já prestes a sair, perguntou-me qual
o destaque que eu poderia dar ao seu livro na minha peça. Expliquei-lhe que
tal passaria pelo crivo do editor, que ajuizaria do interesse da matéria, mas
que não tinha dúvidas de que haveria ali notícia. E resumi-lhe até três ideias-força que tinha retirado da conversa e sobre as quais tencionaria escrever:
– A dificuldade no financiamento dos investimentos na alta velocidade;
– A pouca expressão do transporte de mercadorias por caminho-de-ferro em Portugal e o papel da CP nesse segmento;
– A semelhança entre a liberalização do mercado das telecomunicações e a do mercado do transporte ferroviário.
Expliquei-lhe que seguramente abriria o texto com uma destas ideias, mas quanto ao destaque a dar à peça, nada lhe poderia (nem quereria) prometer.
Sequeira Braga voltou a insistir sobre a importância que o PÚBLICO daria à notícia, tendo-lhe voltado a explicar que isso dependia de várias factores, entre eles os critérios do jornalista e os do editor, bem como da actualidade do dia e do espaço disponível no jornal. E acrescentei, meio a brincar, que estando em pleno Agosto, e dada a escassez de notícias relacionadas com a Economia (secção à qual se destinava o artigo) na época de Verão, até era provável que o artigo tivesse um destaque razoável.
Foi então – só no final da conversa – que me pediu para não escrever nada ‘para já’, prometendo ligar-me ‘no início da próxima semana’. Respondi-lhe, mostrando-lhe os apontamentos, que tencionava escrever sobre o assunto uma vez que já investira a manhã naquela entrevista, mas que não me importava de esperar alguns dias, até porque ficara no ar a promessa de que
me faria chegar uma cópia integral do seu trabalho se o PÚBLICO ficasse com o exclusivo.
Despedimo-nos amavelmente. Durante toda a conversa houve sempre cortesia, não tendo havido qualquer momento de tensão.
Durante a semana seguinte não tive nenhum contacto de Sequeira Braga (como o próprio confirma na sua carta) pelo que, após ter exposto o assunto ao editor, este acertou comigo que eu faria uma peça de 3500 caracteres sobre os dois primeiros pontos acima descritos.
A mesma foi inserta na edição do PÚBLICO de 27/08/2006, embora em formato muito reduzido porque se cortou uma caixa em que se falava no transporte ferroviário de mercadorias (provavelmente por falta de espaço), ficando a peça reduzida a 2500 caracteres.
No dia seguinte tinha uma mensagem de Sequeira Braga no telemóvel a dizer que não queria que publicasse nada sobre o seu livro porque tinha ‘chegado a acordo’ com outro jornalista.
Era tarde. Sequeira Braga dissera que me telefonaria no início da semana seguinte, mas só estava a fazê-lo na semana posterior.
Mas ainda que fosse a tempo, eu não deixaria de publicar o artigo porque nunca assumi nenhum compromisso nesse sentido. E ter-lhe-ia explicado que ele teria todo o direito de tentar ‘vender’ o seu livro ao jornal ou jornalista que lhe prometesse mais destaque, mas que na imprensa séria a publicação de uma peça e o relevo que se lhe dará não devem ser negociados com a fonte, mas
dependem de critério editoriais. Ainda por cima, no caso em apreço, tratava-se de uma matéria que, além do seu interesse noticioso, era também um produto comercial que Sequeira Braga queria promover e vender.
Ao jornalista interessava-lhe o resultado do trabalho do investigador Sequeira Braga, do ex-secretário de Estado de um governo da República, que publicara um trabalho sobre o mercado do transporte ferroviário; não lhe interessava a mercadoria produzida pelo empresário Sequeira Braga.
São abordagens diferentes para um mesmo ‘objecto’. O jornalista procura num livro de 800 páginas aquilo que é notícia; o empresário quer promover nos jornais o seu produto.
Na tarde desse dia recebi um telefonema de Sequeira Braga que me surpreendeu pela sua violência, tendo-me dirigido uma série de insultos porque alegadamente eu falhara um acordo que – repito – não me havia sido proposto nem eu nunca teria aceite.
E foi isso que lhe recordei, tendo aproveitado para lhe perguntar se havia algo no conteúdo da peça que ele não subscrevesse e/ou que não tivesse a ver com o conteúdo do seu trabalho, ao que ele respondeu que quanto a isso o artigo estava correcto e correspondia ao sentido da nossa conversa.
E é aqui que Sequeira Braga me desilude profundamente: no ponto 8. refere erros grosseiros na minha peça e desmente as afirmações que proferiu, quando, antes, apesar de visivelmente contrariado, tivera a hombridade de me afirmar que o conteúdo da peça correspondia grosso modo aquilo que nós conversáramos.
Em suma:
1.Sequeira Braga não fez com o jornalista nenhum acordo sobre a não publicação da peça (se o tivesse proposto de forma clara e inequívoca, o jornalista ter-lhe-ia dito que não)
2. A peça relata fielmente as informações por ele transmitidas sobre o seu relatório referente ao mercado do transporte ferroviário em Portugal, como o próprio admitiu quando me telefonou”, respondeu Carlos Cipriano.
CONCLUSÃO
O provedor considera que a Partis Serviços devia ter indicado (logo no
início da conversa) ao jornalista de que se tratava de uma conversa “off the record”. Uma informação revelada em “off” não pode ser reproduzida.
A firma não invocou o “off” no início do encontro e comprometeu-se, por
outro lado, a entrar em contacto com Carlos Cipriano na semana seguinte,
mas não o fez.
A credibilidade da imprensa (à semelhança da credibilidade das fontes) passa pela transparência. A Partis Serviços optou por leiloar o relatório. É uma opção comercialmente legítima, mas a firma não pode obrigar os jornalistas a participar no leilão. As empresas têm interesses que defendem e o jornalismo tem regras. A informação ainda não é uma mercadoria, é um serviço.
Quanto ao conteúdo do relatório o provedor não tem competência para se pronunciar porquanto não teve acesso ao mesmo – e a sua missão não contempla essa pesquisa.
O jornalista Carlos Cipriano actuou, portanto, de forma legítima.
Concordo por inteiro com a decisão do Provedor. Gonçalo Sequeira Braga, político e ex-membro do Governo, devia:
a) falar mais directo - mencionar o tal "off-the-record" no início - e falar menos "politiquês" - com os seus inuendos e subentendidos, que permitem que simultaneamente ele diga que disse e o jornalista diga que não ouviu. É a ideia que me dá que aconteceu.
b) saber avaliar previamente este notável passo em falso de revelar publicamente com total candura uma estratégia de manipulação de notícias com o intuito de promover um produto comercial.
Ai como eu gostava de continuar a ser um leitor "ingénuo", a gostar de acreditar "ingenuamente" que cada notícia valia por si e não era de todo "sugerida" por partes interessadas... Mas esta carta é mais um passo para cair na real. Parabéns ao jornalista por não "ter percebido" a intenção de GSB e parabéns ao Público por defender a posição do seu jornalista.
Paulo Lopes
Posted by Anónimo | 12:55 da tarde