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domingo, outubro 08, 2006 

OS PORMENORES E A "AMÉRICA LATRINA"

"Na PÚBLICA de 17/09/06, a propósito de um artigo ‘Birmânia A destruição dos templos dourados’.
Este texto encontra-se (pelo menos na versão online) cheio de gralhas de ortografia:
em vez de por
arquológicos
divívas
arquiológica
pretenção
E estes são apenas alguns dos erros que encontrei!
Se vemos erros destes numa simples tradução, nem quero imaginar como seria um artigo original escrito por esta pessoa!
Sou leitora assídua do PÚBLICO e francamente estes erros de ortografia num jornal tão lido... sinceramente... ficam muito mal!”, considera Cláudia Campos.

Os reparos da leitora são pertinentes.

Inquiri, portanto, o director do PÚBLICO.PT.

“A versão online da edição impressa é gerada automaticamente a partir dos textos enviados para paginação pelos jornalistas. Neste caso, tratou-se de um erro, já que se entende que todos os textos devem ser não só correctamente escritos à partida, como vistos e revistos pelos seus autores e editores antes de serem enviados para paginar. É evidente que neste caso isso não terá acontecido. O facto de o texto ter sido publicado sem erros na revista significa que houve uma intervenção posterior por parte do copy-desk de página. Essa revisão foi correcta, mas deveria ter acontecido numa fase anterior à que aconteceu, por respeito para com os leitores da edição online. Seja como for, o PÚBLICO deve uma desculpa aos seus leitores”, explicou José Vítor Malheiros.

A explicação é aceitável. O provedor considera que é urgente criar mecanismos que impossibilitem a repetição dos erros de português e das gralhas. O seu número é alarmante. E isso é tanto
mais preocupante quanto a Imprensa é (ou devia ser) o último reduto da promoção da língua.

“É com algum incómodo que reparo que, a cada novo dia, mais erros ortográficos ocorrem na edição do PÚBLICO. Ontem, por exemplo, detectei um erro de palmatória. Mas, das duas uma, ou a pessoa em causa disse mesmo aquilo ou o jornalista cometeu um erro ortográfico grave. Na página 38 da edição 5974 de 5 Agosto de 2006, ao centro, tem um artigo titulado ‘Caixa nega ilegalidade no arredondamento de juros’ de autoria do jornalista Pedro Ribeiro. Às tantas, no parágrafo nº 8 aparece, como declarações do Sr. António Júlio Almeida, o seguinte: ‘Depois seria uma questão de concorrência, a menos que os bancos funcionem em quartel’.(…)
Obviamente deveria estar escrito CARTEL que significa, entre outros, ‘convénio de industriais e comerciantes para dominar o mercado;’ Espero que desta forma se perceba se foi o entrevistado ou o entrevistador que cometeu o erro. E mesmo que tenha sido o entrevistado, não deveria estar escrito, claramente, que era uma citação, para evitar esta dúvida? É que estar entre aspas nem sempre significa uma citação, em minha opinião”, pergunta Jorge Laranjo.

Se o entrevistado se enganou (e disse “quartel”) o jornalista tinha a obrigação de o alertar
para o lapso. O jornalista devia, por outro lado, ter adoptado a formulação correcta quando reproduziu a afirmação.
O jornalista é, portanto, o principal responsável do erro. Os outros responsáveis são o editor e eventualmente o copydesk que deviam ter revisto o texto e não o fizeram.
“Estar entre aspas” é sempre uma citação.

“Sempre que leio a sua página, fico admirado como os leitores só se queixam dos erros ortográficos. Não que não sejam importantes. Claro que são. Mas a meu ver, são sobretudo o caldo de incultura que permite depois, algo bem mais grave.
E passo a explicar: a incultura permite aos mais astutos influenciar, e até ‘manipular’ opiniões, buscas noticiosas, etc. Este arrazoado, diz respeito, por exemplo, às notícias dadas e omitidas por esse jornal, sobre a doença e estado de coisas que se passam em Cuba nos últimos tempos.(…) Fosse Fidel pró Americano e acha que o ‘seu’ jornal teria o mesmo tratamento? Ou melhor fosse Fidel um daqueles governantes de extrema-direita amigo da Administração Bush, e acredita que o ‘seu’ jornal o trataria de modo semelhante?
O jornal PÚBLICO tem vindo a tratar de modo desonesto o que neste momento se passa na América Latina no que diz respeito aos países que se esforçam por sair da esfera sufocadora dos EUA. Já chamaram tudo a esses dirigentes: ‘Populistas’,’Ditadores’, etc.
O fenómeno é bem mais complexo, e toda a gente o sabe. Como não sou nem jornalista nem cronista, poupo-lhe tempo em explanações, mas quando esse jornal quiser estarei à disposição para explicar o fenómeno a que chamarei América Latina versus América Latrina. Gostaria de o ver mais preocupado com estes aspectos noticiosos, que leva já muitas das minhas amizades a inquirir como tenho ‘pachorra’ para ler um jornal dirigido deste modo”, escreve Rui Viana Jorge.

Inquiri o director do PÚBLICO.

1. Qual é a política editorial do Público relativamente à cobertura do Mundo?

“Noticiar a actualidade internacional de forma profunda e alargada, tendo por referência a melhor imprensa estrangeira com boas secções internacionais. A prioridade é a actualidade e a proximidade. Não há hierarquia regional pré-estabelecida, mas na América Latina consideramos, por exemplo, o Brasil mais ‘próximo’ de nós do que o Peru, por exemplo, em África Angola fica ‘mais perto’ do que... a República do Congo, por exemplo”, respondeu José Manuel Fernandes.

2. A cobertura da realidade da América Latina é a desejável?

“Na América Latina procuramos seguir mais de perto o Brasil, depois a Venezuela (por lá viverem muitos emigrantes portugueses) e a seguir destacamos os eventos mais importantes e as grandes tendências. De uma forma geral a cobertura é correcta, gostaríamos de, por exemplo, recorrer mais vezes a enviados especiais, mas isso não tem sido possível.”

3. Perspectivas?

“A perspectiva é a correcta, sendo que há mais do que uma ‘perspectiva’, por assim dizer, já que o olhar dos diferentes jornalistas pode variar dentro dos limites impostos pelos deveres de rigor e objectividade e das regras estabelecidas no Estatuto Editorial.”

4. Cuba: quais as respostas às perguntas do leitor?

“O leitor não clarifica se se refere ao noticiário se aos textos mais opinativos (análises, comentários, opiniões ou editoriais). No Estatuto Editorial do jornal considera que ‘a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta’. Em Cuba não existe ‘opinião pública informada’, e o regime não é nem uma democracia nem uma sociedade aberta. O noticiário não omite essa realidade, como não a omite quando se escreve sobre muitos regimes africanos, sobre a Arábia Saudita ou o Irão, sobre a Myanmar ou a Bielorrússia, e por aí adiante. O critério noticioso não é saber se são amigos ou não dos Estados Unidos, mas se são ou não democracias liberais.”

Os argumentos são legítimos. O provedor não tem competência para se pronunciar sobre as opções editoriais, mas tem o dever de dar voz às interrogações dos leitores. Foi isso que fez em nome da transparência.

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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