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domingo, novembro 19, 2006 

A FRASE A MAIS (PARTE II)

O leitor Miguel Sousa Tavares escreveu ao provedor por causa de um artigo publicado na edição de 25 de Outubro passado.
O provedor solicitou esclarecimentos às jornalistas Joana Gorjão Henriques e Bárbara Reis.
Eis a continuação da análise do caso.

PROVEDOR: As jornalistas que assinam o texto sobre MST não correm risco de estar a ‘amplificar e difundir uma calúnia’?
RESPOSTA DAS JORNALISTAS: Não. Isso poderia acontecer se tivéssemos publicado uma notícia apenas sobre a acusação no blogue.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: O problema é justamente o “apenas”. A acusação do blogue merecia no mínimo ser confirmada (designadamente através da comparação entre os dois textos). E as jornalistas não recortaram a “informação”. Aceitaram como verídicas as acusações anónimas. É uma atitude que o provedor define como pouco rigorosa e nada isenta.

PROVEDOR: Como justificam as jornalistas do PÚBLICO a afirmação: ‘Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais’?
RESPOSTA: Retirada do contexto como o fez MST na sua crónica no ‘Expresso’, esta frase pode ser usada para o que se quiser. Acontece que ela aparece no contexto da descrição do blogue, não se referindo aos livros, mas ao conteúdo do blogue.
Essa frase é a última de um parágrafo de 12 linhas que descrevem, sucintamente, o conteúdo do blogue. O parágrafo é o seguinte: O blogue, que diz ser não de um único autor mas de vários, abre com a frase: “Nem todos estamos na disposição para ser enganados. Quando compramos um livro, devemos exigir que ele seja autêntico.” E a seguir, faz oito transcrições de excertos de Equador seguidas de oito traduções de ‘Freedom at Midnight’, todos com indicação de páginas mas com muitos parêntesis que indicam que alguma coisa foi cortada, não se sabendo se muitas ou poucas palavras. Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais.
Ou seja, o PÚBLICO descreve o blogue e destaca dois factos:
A. A tese do blogue é a de plágio e, para defender essa tese, há no blogue “ideias parecidas e frases praticamente iguais”,
B. E há também “muitos parêntesis que indicam que alguma coisa foi cortada” pelos autores do blogue, escrevemos nós. Para sublinhar a importância do que estes parêntesis podem ter, acrescentamos ainda que não se sabe se os cortes foram de muitas ou de poucas palavras. “(...) todos com indicação de páginas mas com muitos parêntesis que indicam que alguma coisa foi cortada, não se sabendo se muitas ou poucas palavras.”

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: As palavras são sempre passíveis de múltiplas interpretações, mas no jornalismo os factos continuam a ser sagrados. Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques defendem que a frase “aparece no contexto da descrição do blogue, não se referindo aos livros, mas ao conteúdo do blogue”. Teriam publicitado, portanto, a tese caluniosa do blogue sem confirmar a veracidade das acusações. Seria grave do ponto de vista ético, mas a realidade é mais preocupante porquanto a frase (Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais) não é apresentada como uma citação — não está colocada entre aspas e nem sequer é referido de que se trata de uma afirmação produzida pelo(s) autor(es) do blogue. Antes transparece como um julgamento das jornalistas, o que é inaceitável.
O provedor questiona, por outro lado, o facto de o PÚBLICO ter publicado acusações formuladas num blogue anónimo (sic) sem ter previamente confrontado as mesmas com a realidade dos factos. É uma opção incorrecta do ponto de vista ético e deontológico.

PROVEDOR: Quais são as “muitas ideias parecidas”?
RESPOSTA: As descrições históricas. O que aliás fica dito no nosso texto pelo próprio Sousa Tavares: “Sousa Tavares diz que há coincidências entre as obras, que são três ou quatro personagens históricas e factos históricos, ‘o que é absolutamente banal’ já que ‘Equador’ é um romance histórico e portanto as fontes também o são”.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: A explicação parece — mais uma vez — inaceitável: “descrições históricas” não são “ideias”, são factos, ponto final. O Rei D. Carlos I gostava do mar, de pintar e de caçar perdizes e foi assassinado em Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1908...

PROVEDOR: Quais são as “frases praticamente iguais”?
RESPOSTA: A. — “Todos os dias, despachava vinte quilos de comida, incluindo três frangos com o chá das cinco”.
“His appetite was such that he could consume twenty pounds of food in the course of a strenuous day or a couple of chickens as a tea-time snack”.

B. — “Sua Exaltada Excelência haveria de morrer, prostrado à mais incurável das doenças: o tédio»
(...).“His was a malady that plagued not a few of his surfeited fellow rulers. It was boredom. He died of it» (…).
C. — “Sir Buphinder Sing, O Magnífico, sétimo marajá de Patiala, não era o mais rico, mas era seguramente o mais imponente dos príncipes indianos, com o seu metro e noventa de altura e os seus cento e quarenta quilos de peso.
“Sir Bhupinder Singh, the Magnificent, the seventh Maharaja of Patiala (...). With his six-foot-four-inch frame, his 300 pounds (…).

D. — «(...) matou o seu primeiro tigre aos 8 anos e nunca mais parou – aos 40 tinha morto mil e quatrocentos tigres, cujas peles revestiam por inteiro todas as divisões do seu palácio. (...)»
«(...) bagged his first tiger at eight. By the time he was 35, the skins of the tigers he’d killed, stitched together, provided the reception rooms of his palace with what amounted to wall to wall carpeting. (…) The Maharaja of Gwalior killed over 1400 tigers in his lifetime… (…)».

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: Na medida em que as jornalistas reconhecem que não leram o livro de Lapierre e Collins a fonte das citações só pode provir — mais uma vez — do blogue anónimo (entretanto desaparecido). Bárbara Reis e Joana Gorjão Henriques reconhecem, portanto, que o ex-blogue é uma fonte credível apesar de não terem confirmado a veracidade dos excertos. O provedor exclui peremptoriamente a hipótese de as duas jornalistas partilharem a opinião anónima do(s) autor(es) do blogue sem qualquer base factual que fundamente a mesma.

PROVEDOR: Joana Gorjão Henriques confirma os contactos com MST descritos pelo escritor? E o teor dos mesmos?
RESPOSTA: Não. Miguel Sousa Tavares, quando contactado por nós, não impôs qualquer condição para falar sobre o assunto, nem mesmo quando soube que não tínhamos lido “Freedom at Midnight” por estar fora do mercado. Quando perguntou se tínhamos lido “Freedom...” e lhe dissemos que não, MST emitiu uma opinião e disse que “os jornalistas deviam ler os dois livros e comparar”. Isso não é impor condições.
No fim da conversa telefónica, Miguel Sousa Tavares pediu aliás para ler a notícia antes de ser publicada. Dissemos que tal não era aceitável, mas propusemos voltar a falar mais tarde para lhe ler as citações que viessem a ser usadas no texto, o que foi aceite por MST.
E assim, como combinado, ligámos várias vezes a MST e, durante mais de uma hora, não conseguimos. MST não atendia. Mas esperámos. Passava das 21h quando MST nos telefonou e confirmou, connosco, as declarações que iríamos usar no texto a sair no dia seguinte.
E já agora, neste segundo contacto, o escritor foi informado de que tínhamos Equador à nossa frente.
Conclusão:
A tese de plágio é a tese do blogue, não a do PÚBLICO. A notícia do PÚBLICO não tem tese alguma.
Mas, não tendo a notícia do PÚBLICO tese alguma, faz duas coisas em relação ao conteúdo do blogue:
1. Chama a atenção para os parêntesis introduzidos nas citações reproduzidas no blogue – não se sabendo portanto se foram retiradas duas palavras ou 15 páginas entre uma determinada frase.
2. E coloca o editor de MST a alertar para a ambiguidade do início do blogue (os 2 parágrafos que resumem o início dos dois livros). MST refere-se extensamente – na carta a si enviada e no artigo do “Expresso”, ao facto de o blogue dizer que os dois livros “começam da mesma forma” e que basta ler “Equador” para ver que o seu livro “não começa assim”. É verdade.
Uma frase desse início do blogue vem na primeira pagina de “Equador” e a segunda parte da frase vem na pag. 15. Mas isso não é citação. Esse resumo é da autoria dos bloguistas.
E essa estratégia está desmacarada no nosso texto: “Embora estas frases iniciais do blogue não estejam entre aspas (como citação directa), António Lobato Faria, editor da Oficina do Livro (que publica Equador), diz que a intenção é que o leitor as leia como tal. Mais à frente, o(s) autor(es) põe(m) as citações de um e de outro livro, sendo que no segundo estão em inglês. “Só apresenta as 'provas’ quando as pessoas já foram manipuladas”, diz o editor”.
E por último, e repetindo-nos, a nossa notícia é sobre a acção judicial de MST, assunto que justificou um comunicado de imprensa da própria editora no dia 31.
A notícia é sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um anónimo que o acusa de plágio – editorialmente, é incontestável que isto é notícia.

COMENTÁRIO DO PROVEDOR: A jornalista Joana Gorjão Henriques agiu correctamente ao recusar facultar a Miguel Sousa Tavares o artigo antes da sua publicação.
A notícia — ao contrário do que afirmam as jornalistas do PÚBLICO —não se resume de forma alguma a um escritor que decidiu processar um anónimo que o acusa de plágio. A notícia contém afirmações não fundamentadas. Ao reproduzirem, por outro lado, as acusações de um anónimo (sem as confirmar!) escamotearam a calúnia e, do mesmo passo, importantizaram-na.
As jornalistas afirmam que “a tese de plágio é a tese do blogue, não a do PÚBLICO. A notícia do PÚBLICO não tem tese alguma”. Pode não ter, mas parece.
O PÚBLICO errou.

PS- Apesar de o site do PÚBLICO não permitir contactos electrónicos com o provedor (provedor@publico.pt) há mais de uma semana o tema do “plágio” suscitou alguns comentários, entre os quais 3 favoráveis à posição do provedor e 5 desfavoráveis.

A análise deste caso continua na próxima semana (já que as jornalistas em causa enviaram um protesto ao provedor).

Senhor Provedor,

Sigo a sua coluna, na net e no jornal, há bastante tempo e tenho concluído que:

1- é correctíssimo nos procedimentos (ouve sempre todas as partes, cita-as quase sempre na íntegra, segue o que diz o seu estatuto);
2- raramente entra em conflito com a redacção, só a admoesta em última instância e sempre com cuidado, não assumindo nunca na totalidade o que pensa, preferindo, as mais das vezes, saltar dos problemas particulares que lhe são apresentados para lucubrações filosóficas sobre os media.

Posto isto, quero dizer-lhe com frontalidade que não concordo minimamente com a forma como conduziu o assunto relativo à queixa de Sousa Tavares.

Claramente, pela primeira vez, está contra a redacção. Teimosamente contra, como nunca esteve. E isso é preocupante.

Utilizou, até, na apreciação da resposta das jornalistas visadas, palavras que não é costume utilizar: inaceitável, incorrecto, escamotear, importantizar (que o dicionário Houaiss nem corrobora), recortar, etc.

Da sua escrita transparece raiva, da sua análise transparece cegueira.

Fez um cerco à argumentação das jornalistas, em defesa de alguém de quem diz ser amigo.

Se é amigo do queixoso, acha que deveria ter apreciado a queixa? Eu acho que não.
Teria, pelo menos, evitado que a dúvida sobre a sua imparcialidade neste caso se instalasse em mim, tanto quanto pode ter-se instalado em outros leitores.

Carlos Franco, Lisboa

Exmo. Senhor,
Agradeço a mensagem electrónica que teve a amabilidade de me enviar.
1- A sua primeira afirmação só parcialmente corresponde à verdade. Reproduzo sempre na íntegra as declarações do director do jornal, editores e jornalistas do Público.
2- Também não é verdade que só raramente entro em conflito com a Redacção.
O leitor afirma, por outro lado, que não assumo "a totalidade" do que penso. Discordo.
Também não concordo quando escreve que prefiro "saltar dos problemas particulares" que me são apresentados "para lucubrações filosóficas sobre os media".
O jornalismo é uma profissão com regras específicas e um código ético e deontológico. A filosofia é irrelevante.
A principal frase que questiona é a seguinte: “Seria grave do ponto de vista ético, mas a realidade é mais preocupante porquanto a frase (‘Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais’) não é apresentada como uma citação — não está colocada entre aspas e nem sequer é referido de que se trata de uma afirmação produzida pelo(s) autor(es) do blogue. Antes transparece como um julgamento das jornalistas, o que é inaceitável.”
Assumo o que escrevi. É inaceitável o que as jornalistas do Público fizeram. Não considero que esta conclusão possa ser interpretada como “raiva” ou “cegueira”. É apenas a constatação de uma evidente falta de ética e de profissionalismo!
O facto de ser amigo de MST não me impede de forma alguma de analisar a queixa. MST não deixa de ter menos direitos por ser meu amigo. E eu, por outro lado, não misturo géneros...
O leitor tem toda a legitimidade para duvidar da minha imparcialidade, mas aquilo que está em causa são factos. E contra factos... as desculpas não servem de argumento.
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo

Sr. Provedor,

Tenho acompanhado a sua postura e devo afirmar que, de facto, o Senhor tem actuado com imparcialidade e procurando a justiça (seja lá o que isso for...).

Quanto á polémica em causa, parece-me que as jornalistas deveriam, no mínimo, ter lido o livro "Esta noite a liberdade". Aliás, nem compreendo como é que se é jornalista sem ter lido uma vintena de livros relacionados com a história recente. Mas enfim, é apenas um ponto de vista de alguém obscuro, que ainda considera um jornalista como pessoa muito culta, muito informada e muito séria.

Pessoalmente não gosto de MST, por o considerar algo arrogante e armado em vedeta intelectual do "bota-abaixo". Tenta imitar o pai mas, infelizmente, ainda tem muito que andar.

Quanto ao "Equador", e a meu íntimo ver como simples leitor, é longo, chato e previsível. Numa palavra: desinteressante. Penso que vendeu muito porque a comunicação social o promoveu descarada e exageradamente, e porque o Miguel ficou bem no retrato atrás - como o Truman Capote há uns anos.

Quanto à desculpa das jornalistas para justificarem e seu artigo, convenhamos que é muito esfarrapada...qualquer pessoa com o mínimo de bom-senso ter-se-ia precavido devidamente, e antes de publicar o texto deveraim ter consultado as páginas em causa do livro dito "plagiado", que se encontra em qualquer uma das 4 bibliotecas municipais. Também a meu singelo ver, não há plágio nenhum.

Enfim...são os jornalistas que vamos tendo. No entanto, e caso assim o desejem, posso emprestar o meu exemplar, para poderem constatar a terrível injustiça que produziram, pois é inequícoco que a imagem de MST ficou denegrida com a "notícia" do seu jornal.

E não venham cá com a conversa de que a notícia era a acção judicial...se o visado fosse um familiar de qualquer uma das jornalistas, elam não teraim escrito o que escreveram.

Lamento pelo Público e, quanto a si, Sr. Provedor, em quem confio democraticamente, vou ficar atento, pois tenho-o como uma pessoa de bem e corajosa e sendo este caso muito aborrecido, temo que alguém vá ficar zangado consigo.

Receba o apoio deste leitor. É simples e insignificante, mas freterno e verdadeiro.


cumps

PD

Tenho seguido atentamente o desenvolvimento deste caso.

Pergunto-me: se concluir que as jornalistas em questão não procederam segundo o código dentológico quais as consequências?

São despedidas? O Público indemniza de motu proprium MST?

Ou fica tudo em águas de bacalhau?
Se assim for a discussão torna-se estéril em termos práticos.
Paulo C Lopes da Silva

Ó Rui, pergunta ao Miguel porque é que ele não quer falar comigo... afinal, eu até fiz o trabalho que as duas jornalistas do "Público" não fizeram: comparei os dois livros... Está aqui, na "Focus":

http://paramimtantofaz.blogspot.com/2006/10/reportagem-que-faltava.html

Ex.mo Senhor Provedor do Leitor,

Hesitei antes de escrever o que segue e que se refere ao recente «caso» Sousa Tavares por me parecer evidente que dar o corpo ao manifesto não é o mesmo que pô-lo a jeito para suportar «pauladas». Digamos que em casos desta natureza agressiva, trauliteira, talvez a estratégia da fuga fosse a mais indicada. Ninguém no seu perfeito juízo, muito menos eu, se entrega, voluntariamente, a refregas com queixas-crime à mistura, sangue, suor e lágrimas. Poupo-me e poupem-me a esse dramático teatro porque disto mesmo se trata.

O meu nome é Fátima Rolo Duarte e chegou-me hoje pelo tradicional correio, veja bem, o recorte da página que assinou no passado dia 12 de Novembro. Não compro habitualmente «O Público» e não o assino online.

Não me surpreende o que acabo de ler em «A Frase Mais (Parte I)» porque desde o início me pareceu que a questão se prendia com o facto de jornalistas, bloggers, opinion makers, todos de uma forma geral (exceptuando os anónimos bloggers da discórdia e outros silenciosos anónimos como eu) não possuírem, no momento preciso do «motim» a bordo da modorrenta cultura lusa, o livro da polémica «Cette Nuit la Liberté» ou a versão inglesa «Freedom at Midnight». De facto, por motivos circunstanciais, sou bibliófila antes mesmo de ser bibliófaga, passe a metáfora.

Directa ao assunto: depois de percorrer o blog «Freedom to Copy» procurei o meu exemplar de «Cette Nuit La Liberté» e o «Equador». Dispus-me então a seguir as pistas lançadas pelo referido blog e não me foi necessário muito tempo para descobrir tal como o tinham feito o(s) blogger(s) anónimo(s), os traços literários de ambiente que, por osmose (?!) passaram das primeiras páginas de «Cette Nuit la Liberté» para «Equador». Até aqui nada de especial, tirando a constatação de alguma inépcia por parte de Sousa Tavares para se ultrapassar enquanto criador. Não considero grave que um escritor utilize em proveito próprio um bom livro de outro autor ou autores. Em alguns casos pode revelar-se particularmente útil. Prosseguindo na leitura comparada das duas obras eis-me chegada às fatídicas páginas onde o trabalho de Sousa Tavares assume contornos do maior descuido, penoso descuido. Refiro-me ao capítulo X onde se detectam, com efeito, os deslizes que vão do mais prosaico aproveitamento ao disparate completo. Não são assim tantos como isso os exemplos de trasladação. Continuo a achá-los mais patéticos que graves. Enquanto criadora, o plágio nem sequer é assunto que me interesse e o anonimato não me serve como tema porque feita a leitura dos dois livros me pareceu, desde logo, matéria lateral embora não deixe de ser assunto. Veja o Provedor Rui Araújo que escrever: «'Koh-i-nor', o fantástico diamante de duzentos e oitenta carates que fora a Jóia da Coroa do Império Moghul da Índia» (Equador, pag. 245) e encontrar na página 249 de «Cette Nuit La Liberté»: «le 'Koh-i-Noor' - 'La Montagne de Lumière', un fabuleux diamant de 280 carats qui avait été le joyau du trésor des empereurs mogols» é mais um «facto histórico» a juntar a todos os outros que salpicam, pata aqui, pata acolá, algumas páginas de «Equador» e que coincidem, pata aqui, pata acolá, com os factos históricos de «Cette Nuit La Liberté» dando de barato que a tradução nem sequer é má mas apenas distraída. Substituir o facto histórico «Altesse Exaltée» («Cette Nuit La Liberté, pág. 247) que Lapierre e Collins grafam entre aspas, como mandam as regras, pelo «facto histórico» «Sua Exaltada Excelência» (aspas minhas, inexistentes em «Equador»); («Equador», pág. 246) é, certamente, mera coincidência que não me tira o sono e ora me faz sorrir, ora me arranca sonoras gargalhadas pois parece evidente que há mais «liberdade» poética em «Equador» que entrega minuciosa, académica até, ao que, na defesa de Sousa Tavares por Sousa Tavares é «facto histórico». Assumisse Sousa Tavares o seu gosto pelo sampling, a sua condição de escritor hip-hop e «pump up the volume» (entre aspas).

Entenda o Provedor Rui Araújo que antes de não me levar a sério permito-me, por esse mesmo motivo, rir de mim tal como espero que os outros o saibam fazer em causa própria. Serve este mergulho na perplexidade para lhe explicar o óbvio? De modo algum. Vejo a «coisa» do ponto de vista humorístico. O que já não me parece assunto para rir é o que se prende com o tratamento jornalístico do caso. E aqui encontro matéria mais que suficiente para fazer da comunicação social a notícia antes e depois da notícia.

Não lhe roubo mais tempo. É com muita pena que assisto ao descambar progressivo do jornalismo em Portugal servido por condutores (de) ligeiros e com que cartas de condução? Foi o que li nas suas palavras embora a sua presença me pareça sinal de alguma esperança.

Melhores cumprimentos

Fátima Rolo Duarte

O Sr. Provedor está a tentar defender MST desviando a questão para o modo de actuação das jornalistas em vez de se cingir ao que é realmente importante: MST copiou ou não partes do outro livro e se copiou, são notas biográficas ou não. Deveria ser uma questão muito simples de resolver.

RESPOSTA DO PROVEDOR

A leitora considera que "que é realmente importante" saber se "MST copiou ou não partes do outro livro e se copiou, são notas biográficas ou não".
E tem toda a razão, mas deve fazer a pergunta às jornalistas do PÚBLICO, não ao provedor.
Compete às jornalistas efectuar essa investigação. E escrever notícias.
O provedor tem outra missão.
Eis algumas competências do provedor:

1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;

2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;

3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;

4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.

5. Manter uma coluna semanal nas páginas do jornal sobre as matérias da sua competência;

6. Em todas as comunicações, internas ou públicas, que digam respeito a noticias editadas no PÚBLICO o Provedor é obrigado a ouvir o(s) jornalista(s) responsáveis por estas e a divulgar as opiniões recolhidas.


Permita-me acrescentar que as jornalistas afirmaram ao provedor que a sua notícia era sobre a queixa (apesar das acusações não fundamentadas que formularam)e não sobre a existência ou não de plágio...

A leitora acredita que "deveria ser uma questão muito simples de resolver".
Concordo. Bastaria comparar as obras... mas isso é algo que compete às jornalistas fazer. E até agora não fizeram. É uma opção editorial que ultrapassa as competências do provedor cuja missão - insisto - não é escrever notícias.

A leitora afirma que "O Sr. Provedor está a tentar defender MST desviando a questão para o modo de actuação das jornalistas..."
O provedor não está a tentar defender MST. Se há alguém para defender neste caso são as jornalistas...
O provedor apenas constatou o desrespeito de algumas regras básicas do jornalismo e da ética que rege a profissão.
Os boatos investigam-se. E as jornalistas do PÚBLICO não o fizeram.
Um blogue anónimo não pode ser considerado uma fonte credível. Jamais.
O provedor considera, portanto, que o PÚBLICO errou.

"Um blogue anónimo não pode ser considerado uma fonte credível. Jamais."

Em primeiro lugar: o que é um blog anónimo? Aquele que não tem assinatura com nome reconhecível?
Em segundo lugar: o que é uma fonte credível?
Aquela que merece credibilidade? E quem é que a afere? O jornalista ou o público que o lê?
E se for aquele, como tudo indica, como se sindica o poder do jornalista, em crebibilizar umas fontes e descredibilizar outras?

Quando as fontes são anónimas, por exemplo nos casos em que se entregam aos jornalistas documentos de processos penais em segredo de justiça ou se entregam coisas ainda piores, como sejam informações falsas e manipuladoras, sem que o jornalista se aperceba, em que ficamos em matéria de credibilidade?

E se um(a) jornalista for useiro(a) e vezeiro(a) nesse estilo prático de fazer jornalismo, o Provedor do Leitor ( digo no singular, porque normalmente, o Provedor responde à interpelação de um leitor), que pode fazer?
Ficar na expectativa de ser "activada" a sua reacção?

Sao muitas perguntas, concedo.

Mas sempre que leio generalizações sobre o anonimato, como se isso fosse crime de lesa personalidade, fico atento e com apetência a questionar.
Como sei que o Provedor será paciente, fica aqui mais uma intervenção, com cumprimentos anónimos. Mas...se eu disser que escrevo no blog da Grande Loja, continuo a ser mesmo assim anónimo?
Sem credibilidade?

Cumprimentos reforçados, então.
José.

RESPOSTA DO PROVEDOR

O leitor questiona temas importantes e actuais :
- Internet(e influência das novas tecnologias no jornalismo)
- Fontes
- Jornalismo de investigação
O leitor pergunta-me: "Mas...se eu disser que escrevo no blog da Grande Loja, continuo a ser mesmo assim anónimo? Sem credibilidade?"
Considero que o facto de A ou B - identificados ou não - escreverem num blogue não significa que são necessariamente credíveis. E isso não exclui de forma alguma - jamais - a necessidade de o jornalista confirmar a veracidade dos factos narrados.
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo

PS- Para que não restem dúvidas: o provedor considera que não existem fontes totalmente credíveis - identificadas ou não.

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Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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