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domingo, outubro 01, 2006 

O PAPA, MAOMÉ E O PRESIDENTE

"Há semanas, o provedor do leitor sugeriu, quanto a mim muito bem, que os leitores se pronunciassem mais sobre o conteúdo do jornal quanto às escolhas editoriais e às opções informativas e menos sobre questões de forma, como os erros de ortografia ou de sintaxe.
No entanto há por vezes questões que parecem de forma mas que adquirem grande importância por as notícias, por uma questão de redacção, de escolha de palavras ou até, como é o caso a que me vou referir, de tradução, falsearem de modo grave frases ou afirmações que estão na base de polémica. Por vezes uma só palavra pode ter enorme importância.
Vem isto a propósito das violentas reacções de repúdio suscitadas em alguns meios islâmicos às palavras proferidas pelo Papa no discurso proferido no passado dia 12 de Setembro na Universidade de Ratisbona, citando declarações proferidas em 1391 pelo imperador bizantino Manuel II Paleólogo. O acompanhamento do assunto feito pelo PÚBLICO merece o meu elogio, principalmente por incluir uma longa passagem do discurso, de modo a não tirar a frase mais criticada do seu contexto. No entanto tenho de assinalar que na frase principal desta citação se insinuou o que julgo um erro de tradução, que noutro caso poderia não ser grave, mas que neste caso faz enorme diferença. No texto publicado no PÚBLICO (dia 2006.09.16, página 3) lê-se, citando o Papa, que por sua vez cita o imperador: ‘Ele [Manuel II] diz: “Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava.’ Ora a palavra ‘demoníacas’ não corresponde ao que o Papa disse, de acordo com o texto divulgado pelo Vaticano no sítio citado pelo próprio PÚBLICO (…). A palavra dita pelo Papa foi ‘Schlechtes’, que não significa demoníacas, mas sim ‘mau, ruim, iníquo, miserável, perverso, falso’. A versão italiana contém a palavra ‘cattive’ e a inglesa ‘evil’, que têm o mesmo significado. Ora convenhamos, que embora a afirmação do Paleólogo não seja lisonjeira para Maomé, a palavra ‘demoníacas’ é muito mais forte e mexe com a própria noção religiosa do Demónio.
Não foi o PÚBLICO o único meio de comunicação a tornar, involuntariamente por certo, o discurso mais polémico. Ouvi num canal de televisão citar as declarações com a palavra ‘satânicas’, que equivale a ‘demoníacas’. Suponho que o equívoco vem de a versão mais utilizada pelos meios de comunicação ser a inglesa e ‘the Evil one’ poder significar o Demónio; no entanto ‘evil’ enquanto adjectivo não tem esse significado em nenhum dos dicionários que consultei”, escreve Júlio Freire de Andrade.

Na página 3, da edição do PÚBLICO de 16 do corrente mês e ano, transcrevem-se excertos do do texto do discurso do Papa Bento XVI na Universidade de Ratisbona, nomeadamente o seguinte: ‘Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava’.
No entanto, a consulta ao sítio (do Vaticano) indicado no próprio texto que antecede a transcrição dos excertos, revela um texto diferente, na versão em português aí publicada: ‘Mostra-me também o que Maomé trouxe de novo, e encontrarás apenas coisas más e desumanas, como a sua ordem de difundir através da espada a fé que ele pregava’.
Acresce que qualquer das outras versões publicadas no sítio referido, nomeadamente aquelas que me são mais familiares – a inglesa, a francesa ou a espanhola – não parecem justificar o emprego do termo ‘demoníacas’, de preferência ao termo ‘más’. (…)
Nas edições dos dias seguintes (não as consigo agora especificar), já o qualificativo ‘
demoníacas’ foi entretanto substituído por ‘más’, mas o facto é que nas transcrições seguintes não se chamou a atenção para a mudança.
Em matéria tão sensível quanto a tratada no destaque da edição de 16/9, não seria aconselhável um maior cuidado em não sobrecarregar o texto transcrito com conotações que o original não comporta?”,
sugere Maria de Fátima da Silva Brandão.

Eis a formulação em português adoptada, entretanto, pelo Vaticano: ‘Mostra-me também o que Maomé trouxe de novo, e encontrarás apenas coisas más e desumanas, como a sua ordem de difundir através da espada a fé que ele pregava’.

Pedi, portanto, um esclarecimento ao jornalista que reproduziu o discurso.

“Nos primeiros dias após o discurso em Ratisbona, o sítio do Vaticano na internet apenas tinha as versões alemã (língua em que o texto foi proferido), inglesa e italiana. Recorri à tradução em inglês. ‘The evil one’ tem também o significado de demónio. Só ao fim de vários dias apareceram traduções noutras línguas, permitindo confrontar o sentido de ‘Schlechtes’ – a palavra proferida pelo Papa. Admito por isso que a tradução não foi a melhor.
À margem da questão, devo dizer que as traduções que aparecem no sítio do Vaticano na internet são oficiosas e não devem ser vistas como a única versão possível. Até porque, mesmo entre as diferentes línguas há, por vezes, diferenças substanciais”, respondeu António Marujo.

O erro está justificado, mas não deixa de ser um erro. O provedor considera que o jornal devia
ter publicado um “O PÚBLICO ERROU” — independentemente das reacções que o referido discurso suscitou.

“As asneiras de mau Português continuam a afectar os textos publicados no PÚBLICO, com uma frequência alarmante.
Hoje, 20/9/06, em artigo de Fernanda Ribeiro e Leonete Botelho, vem a seguinte pérola: ‘
o Presidente da República indigitou ontem o juiz conselheiro (...) no cargo de procurador-geral da República’.
Erro de conteúdo: o Governo ‘indigita’ e o PR ‘nomeia’.
Erro de gramática: a regência é ‘indigitar para’ e não ‘indigitar em’. (…)”,
observa José
Frederico Soares, um leitor de Bruxelas.

O leitor tem razão.

Para a semana há mais.

Eu não fiz esse erro.
De facto fiz a tradução do discurso , mas não fiz o erro.
Em defesa dos jornalistas.
Embora eu mesmo não tenha feito o erro..,entendo os jornalistas que o fizeram. Os jornalistas não têm tempo para elaborar com cuidado..., aprofundar as noticias.
O jornalista tem de estar sempre a produzir.
E a verdade é que a diversidade de assuntos, numero de países que jornalista aborda é imensa.
É impossível o jornalista saber de tudo.
Só um super homem.
(Ou super mulher).
O Mercado português não tem dimensão para ter jornal com um numero suficiente de jornalistas para que se abordem com rigor, os assuntos.
Te-mos o jornalismo que o público quer e merece.
Sobre futebol não falta notícia.
Sobre o internacional..,temos o público que vende 40 mil e que portanto não se pode dar ao luxo de empregar muita gente.
Ou então o público tem que abrir vagas para trabalhadores não remunerados.
Aí está uma ideia interessante.

"Te-mos" os jornalistas que "merece-mos"."Alegremonos" de continuar a errar e a desculpabilizar os nossos erros

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