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domingo, agosto 27, 2006 

NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS, MAS... - PARTE III

O PÚBLICO publicou (no passado dia 14 de Agosto) um artigo de opinião da autoria de Isabel do Carmo.
O texto não passou despercebido, pelas piores razões. Suscitou, nomeadamente, a publicação de uma crónica no Diário de Notícias, comentários (“posts”) em vários blogues e o envio de cartas e mensagens electrónicas ao provedor do jornal.

Isabel do Carmo escreve hoje no PÚBLICO um artigo intitulado ‘Resposta a Esther Mucznik’ com que não concordo nem com uma linha. Mas não é isso que vem ao caso, mas sim a bizarra nota da redacção que foi acrescentada no fim: ‘NR – O PÚBLICO não alterou a grafia deste texto, designadamente o facto da autora escrever Holocausto com caixa baixa.’
“Esta agora, então num artigo de opinião o seu autor não pode escrever ‘holocausto’ com minúscula? Usar maiúsculas ou minúsculas, aspas ou outros mecanismos com significado é parte indissociável da liberdade de opinião.
Não percebo por que razão escrever ‘holocausto’ em minúscula justifica uma nota da redacção, nem me parece que o Livro de Estilo (que não posso consultar agora, nem sei se se aplica) se sobreponha sobre a intencionalidade valorativa da opinião. De facto, independentemente do artigo de Isabel do Carmo, eu também escolheria escrever ‘holocausto’ e não Holocausto se tivesse percebido o sentido interpretativo e ideológico que lhe dá a redacção do PÚBLICO que de todo recuso - a transformação do holocausto numa identidade a-histórica impossível de interpretar fora do quadro de uma determinada leitura disfarçada de intangibilidade moral”, escreve, por exemplo, José Pacheco Pereira no blogue Abrupto.

Não vejo a necessidade da nota. Parece-me que constitui um ‘golpe baixo’ por parte da redacção do PÚBLICO.
Desagradou-me profundamente, e fez-me perder alguma da confiança que tinha no PÚBLICO”, constata o leitor cibernauta marku@...

A Nota da Redacção colocada no final do artigo de Isabel do Carmo é tão indecente e cavilosa que, acumulada a tantas posições indecentes e cavilosas do director (em caixa baixa), me levam a desistir de comprar o PÚBLICO – coisa que faço há anos sem conta, diariamente.
É demais! Depois de, na última coluna do Provedor, o director ter dito que o PÚBLICO não tinha posição no conflito do Médio Oriente, esta nota é um escarro! Adeus!”, acrescenta Rosalvo Almeida, um leitor do Porto.

Esta nota suscita-me diversas interrogações que coloco à consideração do provedor. Qual é a regra, relativamente à grafia, adoptada para os textos de opinião? Com que frequência é que a Redacção altera a grafia dos textos? Como se decide o que é erro, gralha ou intenção? O autor do texto é alguma vez contactado durante o processo de revisão? A opção por introduzir notas é responsabilidade exclusiva da redacção? É raro encontrar notas deste tipo no final de textos de opinião. O que justificou a necessidade da redacção neste caso? Não bastaria incluir a primeira metade da nota, deixando os julgamentos de intenções e as opiniões para o leitor? Em geral, não seria preferível tratar todos os textos de igual forma e estabelecer uma regra geral – ‘a grafia dos textos de opinião é/não é revista’?”, pergunta e sugere Sérgio Nunes, um leitor de Moledo do Minho.

Parece-me no mínimo deselegante a pequena nota redactorial no final do artigo de Isabel do Carmo. Que sentido ou pertinência tem aquela nota? É para mostrar distância da Redacção (convém colocar o temo em caixa alta!) relativamente ao conteúdo do artigo por ser demasiado polémico? Se é o caso, então, dado que em temas complexos quase todas as opiniões são polémicas, a Redacção deveria produzir notas semelhantes para a generalidade dos artigos. Será para nos avisar de que se trata de um artigo que menoriza o fenómeno do Holocausto? Tive o cuidado de ler o texto e não me pareceu que houvesse em lado nenhum essa intenção; de qualquer modo, parece-me que deverá ser sempre o leitor, por si, a chegar às suas conclusões (e, se assim o entender, responder de forma adequada). Infelizmente, o parágrafo destacado (incompleto) e a pequena nota contribuem juntos para uma leitura apressada e num determinado sentido do artigo de Isabel do Carmo”, considera Ricardo Pinto, um leitor de Coimbra.

Na sua edição de 14 de Agosto, o PÚBLICO publicava um artigo de opinião de Isabel do Carmo intitulado ‘Resposta a Esther Mucznik’ no qual a autora criticava a acção do Estado de Israel no Líbano, contestava com argumentos claros uma pretensa continuidade e direito histórico e territorial entre o actual Estado de Israel e as tribos de fé judaica que, entre outras, estavam na região. O artigo está assinado e corresponde ao ponto de vista da autora. Sobre o mesmo cada qual faz a sua opinião. O que me incomodou e parece inaceitável é a Nota da Redacção acrescentada no fim do artigo (creio que nunca vi uma semelhante), na qual se refere que: ‘O PÚBLICO não alterou a grafia deste texto, designadamente o facto da autora escrever Holocausto com caixa baixa.’
No texto da autora fala-se, de facto, do ‘...terror do holocausto...’; com a adjectivação de ‘terror’ a preceder e qualificar aquele.
A Nota da Redacção é torpe e insidiosa, não acrescenta qualquer informação relevante e parece crer insinuar que a autora faz parte do grupo dos que negam a existência ou importância do Holocausto (não me atrevo a não usar a caixa alta não queiram fazer passar isso por revisionismo histórico).
A Nota da Redacção é dispensável, não me parece ter justificação jornalística, sendo, pois, mal-intencionada. Além que, ao contrário do artigo, não está assinada. Será que toda a Redacção a considera necessária e a subscreve?
Não precisamos deste atestado de analfabetismo e ignorância que nos querem passar, como se cada um de nós não fosse capaz de ler, ter a sua opinião sobre o que leu e tirar as suas conclusões, e precisasse que um intermediário lhe ‘mastigue’ e explique os textos”, comenta José Pedro Godinho.

As dúvidas e as questões apresentadas são legítimas e, decididamente, importantes.

A análise deste caso prosseguirá, portanto, no próximo domingo.

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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