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domingo, março 19, 2006 

(IN)CONFIDÊNCIAS E LAPSOS

Primeiro, um esclarecimento que considero necessário.

Muito boa a ideia deste Domingo, fazendo interagir os leitores!
Espero que o feedback não cause muito ruído nos interesses instalados...
Espero que persista na útil e interessante direcção por que optou!,
escreve Armando Assunção.

A crónica não passou despercebida, motivou uma sugestão…

Depois de ler o artigo da passada semana (sobre a profícua e peculiar correspondência dos leitores) pergunto-me: será que as pessoas sabem qual a função de um provedor do leitor?
E se aceita a minha modesta sugestão, num próximo artigo poderia deixar um pouco mais claro qual a função do provedor, e também a importância do mesmo. Seria especialmente útil para quem se debruça sobre os temas da comunicação…,
propõe João Simão.

A "modesta" proposta é pertinente.
Os leitores continuam a enviar-me denúncias relacionadas com instituições ou empresas, ou simples (sic) desabafos do foro íntimo.
É a constatação de que muitos cidadãos ignoram a que porta bater, mas as mensagens devem ser dirigidas ao director do PÚBLICO.
É isso que acontece nos outros países. Na tradição da grande imprensa europeia, os cidadãos dirigem as suas queixas e reflexões sobre as instituições e a administração pública aos directores dos jornais.

A MISSÃO DO PROVEDOR

1. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
2. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
3. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
4. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.

LAPSOS

Lamento que a direcção do PÚBLICO tenha optado por chamar para primeira página (no passado domingo) o Schumacher algures na Europa e na Fórmula 1, em vez de destacar a medalha de bronze nos campeonatos do mundo de uma portuguesa, a Naide Gomes.
Pergunto-me porquê.
Estará o projecto PÚBLICO tão fechado sobre si próprio, no seu mundozinho, esquecendo-se de abrir, de arejar e de informar sobre o que é essencial?
Achará o projecto PÚBLICO que os Campeonatos do Mundo não passam de uns campeonatos de província e a medalha de bronze uma cena qualquer, sem interesse?
Ou sofrerá o PÚBLICO do mesmo mal que sofre o país, que é valorizar o que ‘corre mal cá dentro’, desvalorizando sistematicamente o que corre bem e o que nos faz bem?
Ou sofrerá o PÚBLICO de um qualquer mal português, esse mais recente, de que desporto é futebol (ponto final)?
Não acredito muito, mas... todas as hipóteses são possíveis... Será puro esquecimento? Grave para um projecto jornalístico.
Seria interessante, como leitora, perceber o que estará na base disto...
Até porque a coisa chega a roçar ‘a ofensa’ e o desprezo por anos de trabalho árduo para representar Portugal e ajudar a acabar com o ‘choradinho’ irritante de que Portugal nunca ganha medalhas.
O que torna a cena verdadeiramente insólita é a opção pelo Schumacher na primeira página... a propósito de quê?
, escreve a leitora Delta Sousa e Silva.

Solicitei um esclarecimento a José Manuel Fernandes, o director do jornal.

A leitora tem razão e a omissão da chamada de capa à medalha da Naide Gomes resultou de um lapso.
"A meio da tarde chegou a ser considerada a hipótese de colocar mesmo uma fotografia na capa do jornal com a atleta portuguesa, mas depois fez-se a opção de publicar uma imagem da cerimónia com que o PS assinalou um ano de Governo. Com esta troca, acabou por ficar esquecida a chamada para o feito da atleta portuguesa.
De uma forma geral, o PÚBLICO procura dar destaque a todas as modalidades desportivas e não só ao futebol. Temos a escrever sobre atletismo em concreto aquele que considero ser o melhor especialista português, Luís Lopes.
Ao contrário dos jornais desportivos, não ‘vivemos’ só de futebol e realizamos não só uma cobertura regular de modalidades mais populares e mais elitistas, como em períodos como os dos Jogos Olímpicos, damos por regra mais informação em mais páginas ao que aí se passa do que a imprensa desportiva.
Naquele dia a solução correcta devia ter sido a de incluir duas chamadas – a da Naide e da Fórmula 1 –, tal como, de resto, sucede na falsa capa interior que abre a área dedicada ao desporto nas edições de domingo e segunda-feira, aquelas em que, por regra, dedicamos mais espaço à informação desportiva”, respondeu o director.

A explicação é aceitável.
A proeza de Naide Gomes foi apesar de tudo noticiada com destaque no interior do jornal.

É importante sublinhar que não se pode, em nome do conceito de proximidade, realçar acontecimentos nacionais de somenos importância absoluta em detrimento de outros que são relevantes e mesmo determinantes para os portugueses no plano mundial.

Não tenho propriamente razões de queixa do PÚBLICO, mas angustia-me ver que não seja corrigida uma informação errada, que tem reflexos na disciplina que ensino: História.
Li, com muito interesse, o artigo ‘Homenagem tardia a uma mulher desassombrada’ (publicado no dia 26 de Fevereiro). Arajaryr Campos é a grande esquecida do ‘Caso Humberto Delgado’, um crime que ainda hoje é uma das acusações mais prementes ao regime salazarista.
O que, enquanto estudioso desse indesculpável crime e professor de História, me indignou foi a repetição de um erro que começa já a tornar-se insuportável: o de que o General e Arajaryr foram mortos em Los Malos Pasos, próximo de Villanueva del Fresno. Este erro (pasme-se!) já chegou até a alguns livros de História!
Basta consultar um livro sério de História, ou os livros sobre o tema Delgado que têm saído, desde os relatos do julgamento dos assassinos até a livros da filha, Iva Delgado, passando pelos livros de Jiménez Redondo, espanhol, que consultou os arquivos judiciais espanhóis, para se saber, com provas documentais, que o General foi morto junto à Ribeira de Olivença, em Los Almerines, bem como a sua secretária (Arajaryr, naturalmente). Ao que parece, com talvez alguma ingenuidade, os seus assassinos, que se faziam passar por opositores a Salazar, convenceram Delgado, que era membro do Grupo dos Amigos de Olivença, que o início do derrube do Estado Novo poderia começar em Olivença, o que mais seduziu e convenceu Delgado de que eles representavam importantes sectores oposicionistas.
Depois de abaterem o General e a brasileira, os carrascos levaram os corpos, durante a noite, para Los Malos Pasos, e aí, sim, os enterraram, após os desfigurarem com ácido.
Penso que será importante repor a verdade dos factos, pois os erros, à força de se repetirem, como tem sido o caso, acabam por parecer-se com verdades
, pede Carlos Eduardo da Cruz Luna, professor de Estremoz.

O leitor tem razão.
São José Almeida escreve que Humberto Delgado e a secretária foram assassinados “no lugar de Los Malos Pasos, perto da aldeia espanhola raiana de Vilanueva del Fresno”.
Segundo o livro “Uma Brasileira contra Salazar”(Livros Horizonte, pp. 102,103,104) os homicídios ocorreram “num local conhecido por Los Almerines”.

A Fundação Humberto Delgado (contactada pelo provedor) confirma esta informação.

É certamente um lapso da jornalista. A explicação poderá residir no facto de os corpos terem sido "levados para um local não muito longe, num carreiro chamado Los Malos Pasos, caminho de pastores e contrabandistas, perto da aldeia raiana de Villanueva del Fresno".

O PÚBLICO erra, mas reconhece os erros.

O Público não só erra, como omite. Porém, se a omissão é erro, espero que a mesma também seja reconhecida, conforme o Sr. Provedor diz que o Público faz. Refiro-me às declarações incendiárias de Hugo Chávez sobre Georges Bush. O Jornal distrai-nos hoje com declarações do presidente dos USA sobre a Bielorrússia, mas omite também as dele sobre Hugo Chávez, que provocaram a referida reacção. Será para proteger Chávez? "No lo creo"! Será que estamos perante mais um caso dos "caroons", mas às avessas? De facto, muito contente ficará o Prof. Freitas do Amaral, ao ver o Públicico, onde tão atacado foi, vir, por esta ínvia via, a dar-lhe razão.

Os Meus cumprimentos,

Amândio Nogueira,
Lisboa, 21 de Março de 2006

Caro Leitor,
O PÚBLICO não omitiu.
As declarações de Hugo Chavez foram noticiadas no jornal.
Eis o teor das mesmas: “Resposta ao Presidente dos Estados Unidos
Hugo Chavez chama "cobarde", "burro" e "bêbedo" a George W. Bush
20.03.2006 - 11h13 AP
O Presidente da Venezuela já respondeu ao seu homólogo dos Estados Unidos, George W. Bush, que na quinta-feira passada afirmou que Hugo Chavez é "um demagogo". Nas palavras do chefe de Estado venezuelano, Bush é "cobarde", "burro" e "bêbedo".
"Vou dizer-lhe uma coisa, 'sr. perigo': Você é um cobarde, sabia?", afirmou Hugo Chavez, referindo-se a George W. Bush. "Por que é que não vai para o Iraque comandar as suas Forças Armadas? É muito fácil comandá-las de tão longe", disse o Presidente venezuelano.
"Você é um burro, senhor Bush", continuou Chavez, em inglês, durante o seu programa semanal televisivo e radiofónico "Hello President".
"Você é um alcoólico, 'sr. perigo'. Ou melhor, é um bêbedo", afirmou ainda, referindo-se sempre ao Presidente dos Estados Unidos.
Na quinta-feira da semana passada, George W. Bush afirmou que, "na Venezuela, um demagogo cheio de dinheiro do petróleo está a pôr em perigo a democracia, procurando desestabilizar a região".
Há vários meses que as relações entre Washington e Caracas estão tensas. Vários responsáveis norte-americanos têm mostrado preocupação com a saúde da democracia venezuelana, enquanto que Chavez acusa os Estados Unidos de conspiração para o derrubar do poder e invadir o país.

Eis o link da referida notícia: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1251263&idCanal=0

Rui Araújo
Provedor do Leitor do jornal Público

COMPLEMENTO DE INFORMAÇÃO
Ao leitor só posso dizer que, quando não publicamos algum comentário ou declaração de uma figura pública (como Hugo Chávez ou George W. Bush) só há uma ou duas razões: porque as outras notícias do dia eram mais importantes ou/e porque, mesmo sendo importantes, a secção não tinha espaço.

Censura não há neste jornal desde que ele existe. A prová-lo estão a pluralidade de opiniões dos seus cronistas e a isenção que a Direcção exige aos seus jornalistas, frequentemente reconhecidas por numerosos leitores.


Margarida Santos Lopes

Editora secção Mundo

Eu referia-me ao Jornal, papel, não ao site.
E notícias mais importantes, que as de insultos de chefe de estado ao chefe de estado do país mais poderoso do mundo, há-as com certeza no público. Mas bastava apenas, talvez, ter tirado um anunciozinho, a bem da liberdade de informação que o Público defende, e bem! Mas também lá têm muitas notícias que não têm a enésima importância daquela. Não será bem o caso, mas veja-se só a dimensão dada à "fraude" nas eleições bielorussas, em que, de facto, os EUA estão muito, muito interessados. Basta ler o Público de hoje para percebê-lo.
Não vou mais longe e mantenho que o Jornal Público-Papel fez censura, até prova em contrário. Só voltarei ao assunto para apresentar as minhas desculpas, caso façam a solicitada prova.

Entretanto, Srª. Margarida Santos Lopes, não se amofine, que não me meti com a sua secção.

Os meus cumprimentos,
Amândio Nogueira
Lisboa

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Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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