domingo, novembro 25, 2007 

EM CONSCIÊNCIA

“O tema que me leva a escrever-lhe por certo não lhe escapou nem a si nem a inúmeros leitores. Refiro-me à legenda da fotografia da página 16 da edição da passada segunda-feira (19 de Novembro de 2007) a ilustrar, com enorme destaque, o artigo sobre a manifestação de Bruxelas em favor da unidade da Bélgica.
O texto ‘1 wallon + 1 flamande = 2 belges’ foi traduzido como ‘Uma Flandres e uma Valónia igual a duas Bélgicas’...
Uma boa tradução seria ‘um valão mais uma flamenga igual a dois belgas’.
O sentido do texto do cartaz foi, portanto, completamente adulterado, sendo traduzido por uma expressão que acaba por referir precisamente o contrário, não só do texto original, como do sentido político da própria manifestação.
Há traduções infelizes ou displicentes. Neste caso trata-se de uma tradução incompetente (...). É uma falha grave. É exigível responsabilidade e rigor em todas as profissões. Também na de jornalista”, escreve Carlos Lopes Gonçalves, um leitor de Lisboa.

“O PÚBLICO incute nos leitores uma ideia contrária à expressa na fotografia: duas comunidades linguísticas = uma Bélgica”, acrescenta Emanuel Aniceto.

Os leitores têm razão. A Bélgica discute a divisão do país. O PÚBLICO “resolve” o problema com uma simples legenda...

NOTA FINAL

“O papel do 'ombudsman' não é o de ser popular ou amado. A função do 'ombudsman' é de recuperar ou de manter o respeito dos leitores pelo seu jornal. Não é um objectivo completamente desinteressado. A longo prazo, o respeito é o único sentimento que levará o público a ler, a acreditar, a apoiar – e a comprar um jornal”, disse Charles W. Bailey, director do ‘Minneapolis Tribune’, ao empossar o primeiro provedor do leitor do seu jornal. A frase foi reproduzida, aqui (23 de Fevereiro de 1997), por Jorge Wemans, o primeiro provedor do PÚBLICO. Nada mudou desde então. Foi esse também o meu propósito, na medida em que procurei suscitar uma linha de esclarecimento e de diálogo permanente entre leitores e jornalistas, fazer do jornal uma obra aberta e interactiva, entre quem o escreve e quem o lê. Debateram-se questões específicas da prática jornalística, em nome do mesmo acréscimo de transparência que pedimos aos outros e da promoção de uma cultura de cidadania. E nunca me esqueci de que, apesar da competição, da pressão económica e da fragmentação do mercado, a liberdade de imprensa é um insubstituível esteio da democracia.
É de justiça sublinhar que contei sempre com o apoio da direcção, do Conselho Consultivo e de muitos jornalistas do PÚBLICO. A contribuição de milhares de leitores foi, por outro lado, decisiva. Sem eles, o desafio teria sido uma missão impossível.
Parto como cheguei, com imensas dúvidas sobre a articulação dos princípios com a prática do jornalismo e as poucas e mesmas certezas de sempre. Questionei, por exemplo, o plágio, a promiscuidade entre informação e publicidade, a condenação das pessoas na praça pública. Também denunciei a proliferação dos erros de Português. Cheguei a ser acusado de ser o ‘provedor dos pormenores’ e admito que nalguns casos assim foi, mas, ao contrário dos leitores que os apontaram, tenho consciência de que o jornalismo não é uma ciência exacta e um jornal não é uma enciclopédia.
Também eu, muitas vezes, fui vítima da pressão do tempo, da compressão do espaço, do cansaço, do humano cansaço. São factores que não justificam as falhas, mas permitem explicá-las. E se assim era no meu tempo de jovem repórter, pior é ainda hoje, porque maiores são os constrangimentos e as ameaças: a competição desenfreada, o desemprego, a contenção de custos e o impacto das novas tecnologias. O sistema pressiona o jornalista, esmaga o jornalismo. A informação era um serviço. Passou a ser mais uma mercadoria, é promovida como tal. Os cidadãos ficaram reduzidos a meros consumidores. A opção lógica é, portanto, dar-lhes o que querem, já que o freguês tem sempre razão. O ‘infotainment’ alastrou, invadiu as páginas dos jornais. É provável que a confusão de géneros acabe por fomentar a apatia. É uma perspectiva preocupante porquanto a democracia não depende só da eficácia das instituições e do desenvolvimento tecnológico, mas também e sobretudo dos cidadãos. E a informação é vital. É por isso que os jornalistas não podem ser acríticos, inofensivos, irresponsáveis e objectivos.
“Deves explicar que a tua voz é uma voz independente, porque é a independência do jornalismo associada à preocupação de verificar a informação que fazem com que o jornalismo valha a pena — sem as duas coisas, não pode existir uma real pretensão de credibilidade”, disse-me Bill Kovach, ex-jornalista do New York Times e do Atlanta Journal-Constitution, antes de eu aceitar ser provedor.
A premissa e a constatação do meu mestre na universidade Harvard permanecem válidas. E decididamente actuais. Aprendi com Bill a questionar-me, enquanto jornalista. E a questionar a profissão. “É crucial que os jornalistas definam claramente os valores e as responsabilidades comuns do jornalismo, na perspectiva da promoção da cidadania”. É, portanto, urgente repensar as regras sob pena de o jornalismo se tornar dispensável.

PS – Desejo a Joaquim Vieira, aos leitores e ao PÚBLICO as maiores felicidades.

domingo, novembro 11, 2007 

INTERNET E JORNALISMO

A pergunta (‘Achou este artigo interessante?’) apresentada no final das notícias do PÚBLICO on-line continua a suscitar interrogações.

“Sendo leitora assídua do PÚBLICO On-line, sugiro a alteração da frase ‘Achou este artigo interessante?’ que aparece sempre no fim de cada notícia. A razão desta sugestão prende-se com o facto de a sua formulação, por vezes, não se adequar ao assunto, por exemplo: na notícia ‘morreram 330 pessoas no Peru’ e, a seguir a dita pergunta. Não seria melhor perguntar: ‘Achou este artigo útil, com interesse’, etc.”, escreve Ana Cardoso Santos, uma leitora de Lisboa.

“Escrevo-lhe com uma questão simples que nem pretende ser uma crítica. Apenas algo que me intriga.
Nos artigos disponíveis na versão on-line do PÚBLICO, podemos encontrar a seguinte questão ‘Achou este artigo interessante?’, seguida de uma caixa para assinalar a hipótese ‘Sim’.
Não existe a possibilidade de dizer ‘Não’, nem qualquer outra.
O que me intriga aqui é qual a utilidade desta questão.
Porque apenas interessa quantos acham interessante?
Na área de ‘Feedback’ é explicado que a questão se destina à produção de estatísticas e tops de textos considerados interessantes.
E é isto que me intriga ainda mais, como se produzem estatísticas só com os votos de que achou interessante?
Se for do seu pelouro, por favor esclareça-me”, pede Manuel Ferro.

Solicitei, portanto, um esclarecimento a António Granado, editor do PÚBLICO on-line.

“‘A pergunta ‘achou este artigo interessante?’ permite-nos saber se o leitor achou o artigo interessante.
Há artigos onde os leitores assinalam muito poucas vezes essa opção, há outros que são assinalados larguíssimas centenas de vezes. Isto permite-nos saber, e também a todos os nossos leitores (uma vez que essas estatísticas são públicas e podem ser vistas no final de cada notícia), quais as notícias que mais interessaram os nossos leitores depois de as lerem. O que é diferente de saber quais as notícias que foram mais lidas.
Deveria a pergunta conter também a hipótese ‘não’? Ponderámos essa opção no início, mas entendemos que a quantidade de informação que poderia vir dessa resposta não justificava o possível ‘spam’ (respostas ‘não’ em série) que alguns artigos sobre temas mais sensíveis (clubísticos, partidários, etc.) poderia originar. Estamos a pensar novamente sobre este tema, depois de várias sugestões de leitores”, respondeu o editor.

O provedor considera que aquilo que está causa não é a possibilidade de os leitores responderem “sim” e “não”, mas a existência do próprio inquérito.
A pergunta “Achou este artigo interessante” é perversa no plano do jornalismo, porquanto os jornais podem optar por dar aos cidadãos aquilo que eles querem. A informação passaria a ser mais uma mercadoria, deixaria de ser um serviço. Nas sociedades democráticas, o “interesse do público” não pode substituir-se ao “interesse público”.

“Em diversos momentos enviei comentários a notícias publicadas no jornal on-line que não foram divulgados. Normalmente, os comentários que envio, procuram ser objectivos, não dirigidos a uma pessoa específica, evitando linguagem menos apropriada, mas criticando sem receio (ainda) aquilo que considero errado nas diversas áreas da sociedade portuguesa, destacando aqui a ineficiência e iniquidade da justiça e a improdutividade, numa perspectiva de retorno, do sector de investigação e do ensino superior. Mais, também denuncio o desempenho dos designados jornalistas, que actualmente não são mais do que estafetas, ou seja, são o veículo de transmissão do emissor para o receptor (leitor) sem lhe acrescentarem qualquer mais valia. Neste domínio sou, reconheço, um pouco relapso, já que as críticas são muito menos que as devidas.
Como comecei por informar, muitas das vezes os comentários não são publicados, o que me legitima concluir que há censura (política e outra) na redacção do jornal.
Estarei errado?”, pergunta Mário Alpalhão.

Pedi mais um esclarecimento ao editor do PÚBLICO on-line.

“O PÚBLICO não faz censura. Na nossa base de dados, que tem 142.526 comentários, encontrei 29 seus (1 foi publicado por duas vezes). Não existe qualquer comentário seu que tenha sido alguma vez reprovado.
As diferenças entre as horas de envio e publicação acontecem, como está explicado nos Critérios de Publicação de Comentários – http://www.publico.clix.pt/homepage/site/contactos/criterios/Comentariosartigos.asp, porque nem sempre há disponibilidade para ver as centenas de comentários que recebemos diariamente com a celeridade que desejaríamos.
Junto a lista completa dos títulos dos seus comentários com datas e horas exactas de envio e de publicação”, responde António Granado antes de acrescentar: “Devido à gravidade das acusações – as mais sérias que se podem fazer a um jornalista - agradeço que a minha resposta a esta queixa ao Provedor seja publicada na íntegra numa das próximas crónicas de domingo”.

O leitor não tem razão.
Não há comentários (nem artigos) objectivos.
Os “
designados jornalistas” são jornalistas. E os jornalistas sérios não são “estafetas” de ninguém nem de coisa alguma.
O leitor não pode falar em “censura”.
É importante referir, por outro lado, que se os comentários não tivessem sido publicados, o leitor continuaria a não ter legitimidade para acusar o PÚBLICO de “
censura (política ou outra)”. Os jornais publicam o que querem. E regem-se por critérios editoriais.
Só me resta concluir que o leitor formula processos de intenções gratuitos. É pena.



Eis a lista completa dos comentários do leitor que foram publicados:

Título: Inversão do ónus da prova
Data criação: 15-08-2007 13:49:00
Data aprovação: 15-08-2007 16:13:00

Inversão do ónus da prova
15-08-2007 0:05:00
15-08-2007 16:29:00

Cegueira
04-08-2007 1:08:00
04-08-2007 17:42:00

Impunidade
01-08-2007 12:06:00
01-08-2007 13:06:00

Com alguma razão. os grandes investimentos estão...
03-04-2007 23:55:00
04-04-2007 13:24:00

Está mesmo o Público interessado nos comentários...
10-03-2007 20:40:00
11-03-2007 14:15:00

Sempre foi para mim um mistério...
09-03-2007 9:51:00
09-03-2007 11:33:00

Depois de alguma informação e muita desinformação...
09-02-2007 0:31:00
09-02-2007 8:57:00

O país precisa de reformas
09-02-2007 0:07:00
09-02-2007 8:58:00

Não acredito que alguém tenha ficado surpreendido...
09-01-2007 15:18:00
09-01-2007 15:20:00

Uma medida que não podia ser mais acertada. Só pec...
13-12-2006 17:31:00
13-12-2006 17:41:00

August Pinochet nunca imaginou que poderia ser vít...
27-11-2006 22:59:00
27-11-2006 23:12:00

Suponho que mais uma vez um comentário meu não ser...
27-11-2006 22:18:00
27-11-2006 23:15:00

É pena que o Ministério da Cultura não disponha de...
21-11-2006 12:02:00
21-11-2006 14:12:00

NOJO... é ainda insuficiente para mostrar o meu...
21-11-2006 10:50:00
21-11-2006 14:12:00

No ensino, o problema principal não está ao nível...
20-11-2006 11:49:00
20-11-2006 13:11:00

Mesmo um país como o nosso, onde tudo é possível,...
16-11-2006 0:28:00
16-11-2006 0:42:00

Desconheço como funcionam os sub-sistemas focados...
15-11-2006 17:15:00
15-11-2006 18:08:00

Chega. Todos os portugueses, com excepção dos "jov...
31-10-2006 11:23:00
31-10-2006 13:01:00

Obscenidades. A Constituição da República Portuguesa...
23-10-2006 12:31:00
23-10-2006 13:03:00

Seria interessante fazer a experiência de colocar...
21-10-2006 14:12:00
21-10-2006 14:59:00

É curioso. O lançamento é um livro de Rui Cardo...
20-10-2006 1:30:00
20-10-2006 17:09:00

Portugal dispõe de cerca de 1000 Km de auto-estrad...
19-10-2006 12:31:00
19-10-2006 12:32:00

A memória é mesmo curta - Hugo Rego...
15-08-2006 22:53:00
16-08-2006 13:05:00

Prémio aos infractores
17-07-2006 19:28:00
17-07-2006 20:56:00

Democracia
22-06-2006 12:29:00
22-06-2006 14:19:00

Que fazer?
12-06-2006 1:58:00
12-06-2006 22:55:00

Tribunal afunda-se...
05-04-2006 12:51:00
05-04-2006 14:02:00

Subsídios do Estado insuficientes?
12-04-2004 20:14:00
13-04-2004 13:29:00

domingo, novembro 04, 2007 

NOTAS DISPERSAS

“Tinha a intenção de lhe escrever em finais de Julho, mas o anúncio das suas férias fez-me esperar cerca de um mês. Ainda bem, ou melhor, ainda mal que esperei, pois o fim do Verão trouxe dois reforços ao motivo da minha reclamação.
Começo pelo princípio. Em 28 de Julho de 2007, Luís Filipe Sebastião, em apreciação no ‘Fugas’ ao BMW 120D, escrevia um texto com o título ‘Vai uma corridinha no IC19?’. No desenvolvimento atirou pérolas do calibre que se segue: ‘(...) com os seus fogosos 177 cv, é o desportivo ideal para acelerar longe dos radares (...)’, ‘Para os atrevidotes kitados que gostam de cheirar a traseira alheia basta pisar a fundo e vê-los desaparecer pelo retrovisor’. Entretanto, em 25 de Agosto de 2007, Maria Lopes continuou o lançamento de pérolas. Sobre o BMW 335i Cabrio, e sob o título ‘Eu, pecadora, me confesso’, ditou de sua lavra: ‘Ao volante deste 335i, às malvas os limites de velocidade, a condução certinha, a poupança de combustível e a capa de menina bem comportada e mãe de família responsável!
Adiante, acrescentava: ‘E basta carregar no acelerador, que a caixa automática tudo resolve, suavemente.’ A seguir, elogia as ‘performances’ da máquina: ‘(...) fazendo escorregar o alcatrão sob as jantes como um cronómetro...’, etc.; ‘Cá na terra, fará valores mais próximos dos 14 litros (vá... 15.2 depois de alguns apertos no pedal da direita)’.
Em 1 de Setembro de 2007, a mesma senhora continua no tom que parece ser o seu. Com comiseração, sobre o Chrysler Sebring 2.0 CRD Limited, comenta: ‘São apenas 140 cv às 4000 rpm, e que têm que alavancar um peso de mais de 1600 quilos, o que não ajuda a pintar um quadro bonito na cidade. Em estradas campestres com curvas, o desempenho melhora, sobretudo se o condutor for pacato ou pelo menos cumprir as regras de trânsito.
Penso que, depois destes nacos de prosa, qualquer comentário será redundante – eles falam por si. Sinto dificuldade em fazer os comentários, pois se alguém deles precisa então dificilmente os entenderá. Convidar, num título, a uma corridinha no IC19?! Aprimorar o texto com proposta de aceleração longe dos radares?! Mandar às malvas os limites de velocidade?! E o mesmo para a condução certinha e a poupança de combustível?! Fazer sucessivas piscadelas de olho ao afundar do pedal direito?! Ter dó de 140 cv em cidade, cujo máximo legal é de 50km/h?! Olhar
condoidamente os ‘pacatos’ condutores ou, pelo menos, os que cumprem as regras de trânsito?!
Não sei o que diz, a este propósito, a lei portuguesa, mas talvez noutros países juízos deste tipo sejam considerados aliciamentos à transgressão, alguma dela do foro criminal.
Já agora, por que não mandar às malvas os limites de álcool no sangue? É que, tenho a certeza, com esses limites ultrapassados, os convites dos jornalistas teriam maior e mais entusiástica recepção, inclusive por parte dos pacatos condutores como eu. E se a ‘mãe de família
responsável
’ lhe vê morrer um fi lho numa corridinha no IC19 que mandou às malvas os limites de condução?
Senhor provedor, a presente [carta] vai longa, pelo que peço desculpa. Mas não me contive perante um estilo delinquente que, aliás, não é de agora no ‘Fugas’. Espero que, ao menos, possa contribuir para que o ‘PÚBLICO’ introduza regras neste tipo de comentário irresponsável e perigoso”, escreve A. Joaquim B. F. J. Costa.

O provedor ignorava a existência do verbo “alavancar”.
As expressões
Vai uma corridinha no IC19?eàs malvas os limites de velocidade”, por exemplo, são incorrectas. É opinião, não é jornalismo. A imprensa deve, por outro lado, promover uma cultura de cidadania. A estrada partilha-se, não se conquista (sobretudo num país como Portugal). É desnecessário epilogar.

SÃO JANEIRO
“O PÚBLICO conseguiu hoje atingir o máximo do delírio, da incompetência, da incultura. Numa notícia sobre uma deslocação de Bento XVI a Nápoles, a cidade do ‘milagre’ do sangue de ‘San Gennaro’, escreve-se que ‘O chefe da Igreja Católica almoçou com os dignitários participantes antes de se recolher, em oração, junto das relíquias de São Janeiro, patrono da cidade’.
Pobre São Januário, que mal fizeste para merecer isto?
”, pergunta João Vasconcelos Costa.

O leitor de Carcavelos tem razão.
O despacho da agência noticiosa Lusa referia
“... onde venerará as relíquias do patrono da cidade, São Genaro, regressando em seguida a Roma”.
É provável que o PÚBLICO tenha reproduzido um despacho em francês da Agência France Presse. O jornalista traduziu erradamenteSaint Janvier porSão Janeiro”.

SANÇÃO E DALILA
“Vários leitores têm chamado a atenção para os erros ortográficos no PÚBLICO. No de hoje (22/10/07), encontro (eventualmente) mais dois: pág. 8 P2, ‘Sanção e Dalila’ em vez de ‘Sansão e Dalila’ e, no editorial, pág. 42, ‘interdita’ como particípio passado, quando este verbo não terá
particípio passado irregular (não confirmei).
Concordo que seja utópico eliminar totalmente os erros ortográficos de um jornal. No entanto,
nalgumas áreas (títulos, editoriais) fica francamente mal eles existirem. Nos editoriais dos últimos meses recordo alguns, todos do mesmo género (palavras que existem em português, não sendo detectadas pelo corrector ortográfico, mas que não são as aplicáveis à situação): concelho/conselho; censo/senso; afecto/afectado; descriminar/discriminar.
O PÚBLICO deveria ter um revisor literário (um ser humano) para rever títulos e peças mais importantes e dar formação contínua. Alguns dos erros que apontei são muito frequentes, não só no PÚBLICO. A menos que considerem aceitável o nível de erros verificado face aos custos que a sua baixa implica”, escreve Bruno Dimas.

“Sanção e Dalila”: a formulação da legenda é incorrecta. É muito provável que se trate de uma gralha.
Interdita: O verbo interdizer, que significa o mesmo do que interditar (ou seja: proibir, vedar; impor uma proibição, um impedimento, uma interdição), tem como particípio passado interdito (in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa).
Já o particípio passado do verbo interditar é interditado.
A confusão do leitor está, pois, em julgar que na frase em análise se usou o adjectivo verbal interdito como particípio passado de interditar.


P.S.: Decidi cessar o mandato de provedor do leitor do PÚBLICO no próximo dia 25, um mês antes da data prevista. É uma opção pessoal.

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

domingo, outubro 28, 2007 

O OVO DA SERPENTE

A secção Blogues em Papel, do P2, intitulada “Vandalização de cemitério judaico” (9/10/2007) motivou uma reclamação.

“Venho apresentar o meu mais veemente protesto pelo facto de o PÚBLICO divulgar blogues racistas de extrema-direita que procuram confundir criminosos com pretos. O PÚBLICO reproduz o texto do blogue Lusitânea (http://cobracascavel007.blogspot.com): ‘Mais valor do que um morto português’.

É um artigo pouco dignificante que ultrapassa, decididamente, os limites do aceitável, mas... Agora, ao consultar o referido blogue, deparo-me com um artigo de teor racista, onde se lê explicitamente: ‘Enquanto que o estado, com os meus impostos subsidia uma longa lista de organizações que visam acolher, defender e integrar os descamisados do mundo, quase com ameaças a quem disso discordar, entre os quais vêm como a experiência demonstra, muitos criminosos e assassinos.’

Só posso concluir uma de duas coisas: ou o PÚBLICO alberga nos seus quadros indivíduos que incitam ao racismo, ou tem consigo incompetentes e desleixados. Como não acredito nesta segunda hipótese, sugiro que vejam bem quem têm a trabalhar convosco.

Deixo um pedido: por favor, leia o artigo intitulado ‘Portugal a cloaca do mundo’, que tenta dar a entender (implicitamente) que não deveríamos ter pretos entre nós, como se entre os brancos não houvesse criminosos. Verá que não há exagero da minha parte”, escreve N., um leitor de Santarém que solicitou o anonimato.

O Lusitânea contém essencialmente textos (repletos de erros de português e de gralhas) sobre política, criminalidade, propaganda do Partido Nacional Renovador (PNR) e fotografias de mulheres nuas.

Eis os objectivos do referido blogue
: “Bota-abaixo para tudo o que seja escumalha e abandalhador da NAÇÃO. Sem interesses particulares a defender. Apesar de tudo obscuro, não invejoso, defensor das hierarquias meritórias, sem loja, partido e até religião embora estatisticamente católico. Implacável para inimigos e cumpridor de promessas. De certa maneira adepto do olho por olho...

O perfil do autor anónimo do Lusitânea é esclarecedor:Adepto do portuguesismo baseado ÚNICAMENTE em laços sanguíneos. Portanto visceralmente contra o multiculturalismo baco originador do maior dos males da nossa história futura.

Solicitei, portanto, um esclarecimento a José Manuel Fernandes.

“Vale a pela, antes do mais, recordar a filosofia da secção Blogues em Papel. Ela não se destina a ‘divulgar blogues’, antes a seleccionar de entre os milhares de blogues que existem passagens reveladoras de todo o tipo de formas de pensar e de intervir nesse espaço de todos que é a blogosfera. Para o melhor e para o pior.

Por isso, todos os dias se escolhe um tema de actualidade e procura-se, nos blogues, o que foi escrito sobre ele.

No dia em questão o tema escolhido foi o da cerimónia que decorreu no cemitério israelita de Lisboa, cerimónia de repúdio pela sua profanação por grupos neonazis. O PÚBLICO deu a tal cerimónia grande relevo (que passou por lhe dedicar a foto de primeira página) e eu próprio, que estava encarregue do fecho daquela edição, desloquei-me ao local e, depois, escrevi um editorial sobre cujo sentido julgo ser difícil ter dúvidas.

Entre os diferentes extractos de posts editados no dia 9 de Outubro, encontrava-se o seguinte: ‘Tanto governante e político a desagravar uma indignidade criminosa que, contudo, temos que comparar com aqueles mortos excombatentes abandonados nos sertões africanos onde tudo é possível e onde ninguém se queixa. Portanto os nossos mortos são uma merda comparados com mortos judeus. Somos inferiores e quem o diz são os representantes e governantes eleitos pelos portugueses. Ao desvalorizarem, pelo abandono, os nossos mortos e se encarneiram neste tipo de desagravos só podemos concluir que deviam andar a governar noutras paragens...

O post fora retirado do blogue http://cobracascavel007.blogspot.com, e não seria necessário ler muitos outros textos desse blogue para se perceber que o seu autor, apesar da muita confusão que lhe deve ir na cabeça, ao revelar, no seu perfil, que os seus livros preferidos são os de Sun Tzu, Maquiavel, Clausewitz e António Sérgio (uf!), é seguramente um personagem de extrema-direita, ‘nacionalista’ como se apresenta, racista e anti-semita, como se deduz do que escreve.

Contudo, pessoas que pensam assim existem. Tanto existem que o cemitério judaico foi profanado. Ora, existindo, é necessário que se saiba isso mesmo: que existem, não são invenções. E que utilizam espaços como a blogosfera, para espalhar as suas ideias. Pessoalmente, acho-as detestáveis, mas isso nunca justificaria omiti-las. Como director do jornal, entendo que existe a obrigação de, ao revelar que existem, permitir que os leitores ajuízem. Isso é informar, não é propagandear. O jornal dá conta do que se escreveu, naquele dia, naquele blogue: informa. O mesmo jornal reflecte sobre o fenómeno em editorial: ajuda o leitor a pensar.

É assim que entendo o jornalismo e a liberdade de expressão: não se omite o que existe, mesmo que não apreciemos o que vemos, ouvimos ou lemos; não se omite o que se pensa, mesmo que não se pretenda endoutrinar ninguém, antes suscitar o debate, a reflexão e também a atenção relativamente a fenómenos extremistas. Mais: se fosse explorar até aos limites o que se escreve em cada um dos blogues citados naquele dia, encontraria facilmente muitas outras barbaridades, algumas de sinal oposto (dei-me a esse trabalho, para responder ao provedor). Mas, no PÚBLICO, se não publica uns e omite outros em função daquilo que pensamos: permite-se ao leitor ajuizar. Foi o que fez este leitor. Bem, a meu ver. Mais: e ainda bem que tomou conhecimento da existência daquele blogue, sobretudo se entende que as ideias nele defendidas são perigosas. Tem uma oportunidade de as combater, não impedindo-as de se exprimir, mas explicando como são terrivelmente erradas.

É assim que actuam os que acreditam na democracia e na liberdade: lutam pelas suas ideias em terreno aberto, não tentam amordaçar as ideias diferentes. Até porque isso é perigoso, como o passado sobejamente prova. É melhor saber onde está o ovo da serpente do que fingir que ele não existe...”, respondeu o director do PÚBLICO.

O Lusitânea confunde ideias e géneros. É, decididamente, um blogue anti-social. Os comentários apresentados não deixam margem para dúvidas:

Eu acho sinceramente que Portugal precisa urgentemente duma nova PIDE face à desagregação nacional e ao abandalhamento das instituições, o que a não ser feito vai mais tarde ser muito mais doloroso...

A malta do antigamente só está à espera do momento fatal do total desmoronamento desta bandalheira democrática... gays, lésbicas, aborto, anticlericalismo militante, desemprego, imigração descontrolada, nacionalização de qualquer bicho careta que aqui apareça.

É importante situar a divulgação do blogue Lusitânea no seu contexto: trata-se de uma secção específica (cuja existência é, talvez, questionável) do PÚBLICO onde são publicadas, prioritariamente, ideias contraditórias e, por vezes, antagónicas.

O Lusitânea é revelador do mal-estar profundo sentido por parte do tecido social português: espelha os temores dos que se sentem desprotegidos, marginalizados, excluídos, ou até, por vezes, defraudados, os cidadãos mais permeáveis às ideologias da frustração.
É possível que o leitor possa ter razão quanto à forma, mas quanto ao fundo um “outro valor mais elevado
se levanta”: o da liberdade de expressão, um dos pilares fundamentais das sociedades democráticas. E esse valor prevalece. Mesmo quando dá voz aos adversários da democracia, está a respeitar a essência dessa mesma democracia.
Assim sendo, os argumentos de José Manuel Fernandes são aqueles com os quais o provedor se identifica.

domingo, outubro 21, 2007 

NÚMEROS E CULTURA

“Com reserva, por receio de cometer injustiças, passo a referir algumas situações que considero menos apropriadas num jornal como o PÚBLICO:

1. Na edição de 5 de Outubro de 2007, página 19, podemos ler o título de uma notícia: ‘Iraque vai comprar 100 milhões de armas à China para equipar a polícia’. No início do texto somos confrontados com o seguinte: ‘O Iraque encomendou equipamento militar no valor de 100 milhões de dólares...

Noticiar que um país vai comprar 100 milhões de armas é algo que a poucos lembraria. Quantos polícias existirão no Iraque? Quantas armas seriam entregues a cada um? Um número tão elevado de armas não chamou a atenção do editor/revisor?

2. Edição de 6 de Outubro de 2007, página 4 do P2: Os diamantes e a globalização: ‘.... - e empresas de delapidação espalhadas por todo o mundo’.

Segundo o dicionário que tenho à mão, ‘delapidar’ significa, entre outras coisas ‘gastar sem regra; dissipar; esbanjar’. A palavra correcta que o autor/tradutor do texto devia utilizar seria ‘lapidação’, que significa ‘talhar e polir as facetas das pedras preciosas, ...’. Não tenho dúvidas de que muitas das empresas que se dedicam à exploração dos diamantes também delapidam as riquezas dos países onde actuam. Lapidar também significa matar à pedrada. Não se deseja tal sorte para o autor do texto.

3. Edição de 7 de Outubro, página 12 do P2: agradecendo o texto dedicado à biografia de Shakespeare, devo fazer um reparo relativamente ao critério de edição utilizado. Existe um título intermédio (‘108 plantas e 60 pássaros’) que corta o texto anterior, no qual se fala da casa onde viveu o dramaturgo e cujo teor continua depois deste corte gráfico. Creio que deveria ter sido colocado mais abaixo, antes do parágrafo que começa com ‘Por isso o mundo natural...’. Quanto aos pássaros não há, no texto restante, qualquer referência às espécies citados pelo autor Isabelino. Falta de espaço?

4. Por último e escrevendo de memória: na época estival (Agosto?), foi dedicado um artigo ao recentemente falecido barão de Rothschild, no qual se diz que o mesmo foi evacuado, durante a 2ª Guerra Mundial, a partir de Dunkirk. O autor da tradução, talvez por desconhecer a história do acontecimento em causa, ignorou que a evacuação da tropa inglesa e outros fugitivos, se efectuou em Dunquerque, cidade francesa. Quando li Dunkirk (grafia inglesa de Dunquerque?) pensei tratar-se de um topónimo irlandês...”, escreve José Maria Faria Martins, um leitor de Peso da Régua.

O leitor tem razão.
— “Iraque vai comprar 100 milhões de armas à China para equipar a polícia”: o título está mal formulado. Trata-se de 100 milhões de dólares, não de 100 milhões de armas.
— “empresas de delapidação espalhadas por todo o mundo”: a “chamada” incorrecta assemelha-se a uma gralha (que o PÚBLICO não detectou).
— “108 plantas e 60 pássaros”: não há qualquer referência a pássaros no texto publicado. É um mistério.
— “Dunkirk” é a formulação inglesa do francês “Dunkerque”, uma cidade situada a aproximadamente 300 quilómetros de Paris. O texto de Adam Bernstein (do jornal The Washington Post), publicado no dia 17 de Junho de 2007, foi mal traduzido, obviamente.

“Na página 11 do P2 de 31.7.2007 consta que a família Polanco tem a terceira maior fortuna de Espanha, avaliada em cerca de 2,2 milhões de euros.
Esta informação repete-se na 2ª coluna.
Saberá Anabela Campos quanto são 2,2 milhões de euros?”, pergunta bepiol@...

O leitor tem razão. Não são 2,2 milhões, mas 2.200 milhões (segundo a revista Forbes). E, por outro lado, não era a fortuna da família Polanco, mas a de Jesús de Polanco Gutiérrez. É um detalhe, mas no jornalismo o rigor e a precisão contam...

“Notei um pequeno ‘grande’ erro na notícia publicada (28 de Setembro de 2007) pelo jornalista Sérgio Aníbal com o título ‘Governo corta previsão para o investimento em 330 milhões de euros’.

O erro encontra-se no segundo parágrafo: ‘No relatório dos défices excessivos que será enviado a Bruxelas e que ontem foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o Governo corrigiu as suas anteriores estimativas, feitas em Março, para as contas públicas de 2007 (o único ano do reporte que ainda não é da responsabilidade do INE).’

Penso que a palavra ‘reporte’ não existe em português, apenas em brasileiro fruto do inglês ‘report’. Das duas uma, ou o jornalista Sérgio Aníbal é brasileiro ou ao traduzir uma referência encontrada em inglês traduziu incorrectamente ‘report’ para ‘reporte’ ao invés de ‘relatório’. Note-se que no início do parágrafo o jornalista utilizou a palavra correcta, portanto penso tratar-se de um lapso. Há que ter mais cuidado”, adverte Paulo Sebastião.

O leitor tem razão.

“Já tenho notado que os números não são o ‘forte’ dos jornalistas; mas na edição de hoje (9 de Outubro de 2007) o PÚBLICO ultrapassa os limites.

Na página 18 – Mundo – uma informação sobre Costa Rica indica que o resultado da consulta sobre o tratado do comércio livre teve o seguinte resultado: 51,8% sim, 48,42% não… Somando, chega-se a 100,22% total.

Na página 40 – Economia – as tabelas do Euronext Lisboa, estão baralhadas, enquanto no mercado cambial indicam o câmbio de 09.02.07. Boa informação!

Para acabar: na mesma página 40 sob o título Consórcio liderado por RBS assegura compra do ABN AMRO, sugeri que a jornalista Natália Faria entre em contacto com o banco alemão. Na realidade trata-se de um banco belga/holandês.

Um pouco mais cuidado na elaboração do jornal não ficava mal”, escreve Arie Somsen, um leitor de Oeiras.

O leitor tem razão, mas não deu conta dos erros todos.


1- COSTA RICA
O artigo “Costa Rica aprova tratado de comércio com os EUA” está cheio de erros e contém, por outro lado, gralhas.
— “51,8%” dos votos + “48,42%” = 100%?;
— “O tratado, já aprovada ...”;
— “... dará à Costa Rica acesso ao mercado norte-americano”. É uma afirmação falsa. Os EUA são o único país norte-americano signatário do TLC/CAFTA (http://tcc.export.gov/Trade_Agreements/All_Trade_Agreements/CentralAmericanFreeTA.asp);
— “Os críticos dizem que a competição que vai trazer pode arruinar a bem-sucedida economia do país e pôr em risco o sistema de segurança social...”
Quem são os críticos, já que o jornalista anónimo não menciona uma única fonte?; “... que a competição” + “que vai”? (existem formulações melhores em Português), “bem-sucedida economia” (opinião do jornalista numa notícia?).
2- EURONEXT LISBOA E MOEDA
O PÚBLICO apresentou erradamente na edição de 9 de Outubro de 2007 uma tabela cambial com oito meses (9 de Fevereiro), em vez de indicar a da véspera.
Arie Somsen não é a única pessoa a queixar-se dos erros relacionados com as cotações. Os problemas sucedem-se. E assemelham-se. Na passada quinta-feira, por exemplo, o leitor Mário Nunes escreveu ao provedor por causa da
“trapalhada, quase diária, que se verifica nas cotações da Euronext Lisboa fornecidas pelo PÚBLICO. Hoje, por exemplo, dia 18, é uma confusão entre variações de cotação, fecho, cotações de abertura, etc, etc., para além de a Ren nem figurar no PSI 20!”.
É importante haver mais rigor no tratamento da economia. O rigor e a exactidão são essenciais, em todas as páginas.

3- ABN AMRO
A jornalista Natália Faria escreve “... pelo banco alemão Fortis”. É mais um erro. Fortis não é um banco alemão. Em 1990, uma firma de seguros associou-se a um banco, ambos eram holandeses. Posteriormente, um banco belga entrou no negócio. Fortis tem, hoje, ‘sedes’ (“head offices”) em Bruxelas e Utreque. A história da instituição pode ser consultada no seguinte endereço electrónico: www.fortis.com/general/history.asp
A jornalista cometeu mais erros. Confundiu, por exemplo, o número de acções.
PÚBLICO: “... representam mais de 1590 acções ordinárias.”
Trata-se, na realidade, de 1.590 milhões de acções.

Única conclusão possível: é a credibilidade do jornal que está em causa. E isso não é coisa pouca...

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

domingo, outubro 14, 2007 

IN MEMORIAM

“Este protesto é pela desmemória (para não dizer outra coisa…) do ‘PÚBLICO’, que ignorou a morte de duas figuras há muito desaparecidas das atenções dos ‘media’, mas que em vida foram marcantes – e cada uma à sua medida.
Um foi o jornalista João Coito, seguramente um dos grandes jornalistas portugueses dos últimos 50 anos. Nem quero crer que o ‘esquecimento’ do ‘PÚBLICO’ (nem uma breve!...) se deva a razões ideológicas!...
Até porque no extremo ideológico contrário de João Coito se encontrava a outra omissão do PÚBLICO’, a médica Julieta Gandra, falecida nessa mesmo dia. Cuja ‘importância’ histórica está só nisto: incriminada pela PIDE em 1959 foi condenada no primeiro julgamento político do nacionalismo angolano moderno – condenação essa que mobilizou a atenção e a solidariedade internacional como uma das vítimas da ditadura salazarista. A ponto de Julieta Gandra haver sido adoptada pela Amnistia Internacional como prisioneira de consciência em 1964. Mário Soares seria o outro português a quem a organização dos direitos humanos concedeu o mesmo estatuto durante o salazarismo.
Eu sei, todos sabemos que foi um dia de duas outras mortes bem mais mais ‘mediáticas’ (e, atenção, merecedoras do destaque que lhes foi dado!). Mas, que diabo!, ninguém na Redacção do ‘PÚBLICO’ foi capaz de redigir duas linhas que fossem em memória de João Coito e Julieta Gandra?!...
Nem que fosse para noticiar a hora e o local dos respectivos funerais… Mais gente ficaria a saber e, seguramente, mais gente poderia ter-lhes prestado, pessoalmente, a homenagem merecida”, escreve José Mário Costa, leitor, ex-jornalista do PÚBLICO e um dos autores do Livro de Estilo do jornal, antes de acrescentar: “Segue este outro protesto do angolano Adolfo Maria. Talvez valesse a pena distribuí-lo por essa hoje tão desmemoriada Redacção do ‘PÚBLICO’”.

Eis o comentário de Adolfo Maria: “A MORTE DE JULIETA GANDRA NÃO FOI NOTÍCIA – Não foi notícia, na comunicação social portuguesa a morte de Julieta Gandra, a médica portuguesa incriminada pela PIDE em 1959 e condenada no primeiro julgamento político do nacionalismo angolano moderno, o chamado ‘processo dos Cinquenta’ onde a par de muitos militantes angolanos figuravam alguns portugueses como António Veloso, Calazans Duarte e Julieta Gandra, que foram deportados para cadeias em Portugal, tendo os angolanos sido deportados para Cabo Verde, onde ficaram internados no campo de concentração do Tarrafal que assim reabria as suas portas em 1960, agora para outros presos políticos, os angolanos.
O falecimento de Julieta Gandra não foi notícia para jornais, rádios ou televisões de Portugal. Apenas a SIC passou em rodapé uma breve informação. Outras pessoas, alguma de bem menor envergadura que J. Gandra preencheram o obituário da comunicação social portuguesa.
Nos anos 50 do século XX, Julieta Gandra, ginecologista (especialidade raríssima na Luanda de então) atendia no seu consultório da Baixa as clientes da sociedade colonial, tirando daí os seus proventos, e, nos musseques, atendia em modesto consultório, a preço simbólico, as mulheres desses bairros suburbanos. Simultaneamente participava em actividades do Cine-Clube e da Sociedade Cultural de Angola realizando também actividade política em organização clandestina do nacionalismo angolano. Por isso foi presa pela polícia do regime salazarista, condenada a pesada pena de prisão, internada em cadeias de Portugal. Quer nos interrogatórios da PIDE, quer nas cadeias, portou-se com uma dignidade exemplar. Em 1964 foi considerada a presa do ano pela Amnistia Internacional
Esta breve resenha da vida cívica de Julieta Gandra cabia em qualquer jornal ou bloco informativo de rádio ou televisão, mas os profissionais da comunicação social, sem brio nem remorsos, omitem uma curta e última referência a esta médica portuguesa que foi marco na luta pela liberdade da Mulher e dos Povos.”

Solicitei um esclarecimento ao director.

“Infelizmente nem sempre o espaço físico do jornal permite dar notícia de tudo. Nesse dia foi necessário mudar duas vezes a distribuição de publicidade no jornal (fazendo desaparecer, por exemplo, a fotografia das centrais) para conseguir arranjar mais espaço para as secções Portugal e Mundo. Houve opções a fazer e muita informação que fomos dando ao longo do dia no Última Hora não pode ser retomada na edição impressa.
No caso concreto dessas duas mortes não houve nenhuma falha de memória, pois os editores conheciam tanto João Coito como Julieta Gandra. Sem possibilidades de responder de forma adequada, no dia seguinte, a esses dois desaparecimentos, foi debatida a hipótese de encontrar quem escrevesse, nos dias seguintes, um obituário de qualidade. Trata-se de uma fórmula habitual na imprensa anglo-saxónica, que já adoptámos por mais de uma vez no P2, e que permite tratar a morte de figuras menos conhecidas do grande público sem as limitar a um curto registo em cima do acontecimento, antes acrescentando valor, mesmo que publicando os textos mais tarde, às semanas depois. No momento em que respondo ao Provedor não sei se já se encontrou alguém para realizar esses trabalhos”, respondeu José Manuel Fernandes.

As justificações estão dadas.
O director do PÚBLICO garante que
“não houve nenhuma falha de memória”. Os desaparecimentos não terão sido noticiados por falta de espaço.
Como não foi possível
“responder de forma adequada” no dia a seguir, “foi debatida a hipótese de encontrar quem escrevesse, nos dias seguintes”, acrescenta José Manuel Fernandes. Mas o “obituário de qualidade” previsto também não foi feito.
Conclusão: o PÚBLICO nada fez.
Só resta, portanto, ao provedor invocar o bom velho ditado português: “mais vale tarde do que nunca”...

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

domingo, outubro 07, 2007 

A ONDA DO DEIXA ANDAR

“Se tiver tempo e quiser documentar-se sobre uma reclamação que fiz por causa do texto que acompanha a fotografia de surf das páginas centrais do PÚBLICO de um dia destes (25 de Setembro de 2007, ndp), aconselho-o a dar um salto ao blogue mais visto pela comunidade portuguesa do surf (http://www.ondas.weblog.com.pt/) onde há um conjunto de comentários bem mais ácidos que o meu. Vale o que vale, mas também não lhe toma muito tempo”, escreve Henrique Pereira dos Santos, um leitor de Lisboa.

O provedor consultou, portanto, o referido blogue.

“Há uma velha anedota que diz que só acredita nos jornais quem nunca leu uma notícia sobre si próprio. A generalização pode parecer perniciosa, mas no fundo é verdadeira. E nem sequer vale a pena tentar entender quem são os culpados desta dura realidade. O lodo já inquinou totalmente as águas. Hoje em dia, os chamados Órgãos de Comunicação Social de referência, quer sejam jornais, televisões ou rádios, são nada mais do que empresas, cujo lucro advêm da venda de algo parecido com notícias. O PÚBLICO de hoje faz uma página central com uma foto de um surfista e com o seguinte texto não assinado:

Hossegor, à excepção dos surfistas e de quem passa férias naquela terra, não deve ser conhecida por mais ninguém. Agora, e até ao dia 30, é o centro do mundo para os melhores surfistas. Hossegor fica em França, na verdade no sul de França, perto de Biarritz e muito perto da fronteira com Espanha. Pelos vistos, tem boas ondas, proporcionadas pelo Mediterrâneo. No Quiksilver Pro France estão, por exemplo, Kelly Slater, Mick Fanning, Andy Irons e Tai Burrow, só para citar alguns. Portugal, como é um país com tradição de mar, também está representado por Tiago ‘Saca’ Pires. Todos estão lá para apanhar a melhor onda, para desafiar, para apanhar o melhor tubo. Um estranho bailado com as ondas que passou a fazer parte da paisagem de qualquer praia. Onde houver uma boa onda lá estará um surfista, pelo menos. E gente que gosta de ver quem se põe em cima de uma prancha, num estranho equilíbrio que termina sempre dentro de água. O mar sempre atraiu os homens. Sabia que os primeiros registos europeus, segundo a Wikipédia, chegam ao século XVIII? Nessa altura, fazia parte da cultura indígena do Havai. Hoje é um desporto e um negócio. E dá sempre belíssimas imagens. E vontade de experimentar aos que estão em terra.

Se o ridículo matasse, o pobre estagiário que escreveu estes miseráveis pedaços de prosa, mais o editor que não os reviu, mais o director que nem sabia que tal se passava, mais o dono da empresa que é dona do jornal que apenas manda que não se gaste mais do que x euros por mês na trapalhada toda, estavam todos mortos.

Avancemos para um pouco de semiótica:

‘Hossegor, à excepção dos surfistas e de quem passa férias naquela terra, não deve ser conhecida por mais ninguém’ (primeira demonstração de absoluta ignorância por parte do autor do texto, Hossegor é uma das mais conhecidas regiões de veraneio da França). ‘Agora, e até ao dia 30, é o centro do mundo para os melhores surfistas’ (não é nem o centro nem a periferia, é apenas mais uma paragem no movimentado e global ‘circuito da cerveja’). ‘Hossegor fica em França, na verdade no sul de França, perto de Biarritz e muito perto da fronteira com Espanha’ (até aqui tudo bem). ‘Pelos vistos, tem boas ondas, proporcionadas pelo Mediterrâneo’ (Mediterrâneo? Aqui o desvario atinge o limite máximo, o Mediterrâneo, meu amigo, fica do outro lado…). ‘No Quiksilver Pro France estão, por exemplo, Kelly Slater, Mick Fanning, Andy Irons e Tai’ (sic) ‘Burrow, só para citar alguns. Portugal, como é um país com tradição de mar’ (ou o que quer que isso signifique…), ‘também está representado por Tiago “Saca” Pires’ (não está, esteve nos trials, mas o Tiago perdeu e quem representou o multi-culturalismo nacional foi o luso-germânico Marlon Lipke, mas esse o ‘jornalista’ certamente nem faz ideia de quem seja…). ‘Todos estão lá para apanhar a melhor onda, para desafiar’ (???), ‘para apanhar o melhor tubo’ (liberdade poética…). ‘Um estranho bailado com as ondas que passou a fazer parte da paisagem de qualquer praia’ (libertinagem poética sob influência de demasiados episódios dos Morangos com Açúcar…). ‘Onde houver uma boa onda lá estará um surfista’ (plágio descarado do ONDAS?), ‘pelo menos’ (pelo menos? Pelo menos? Mas que raio é que este ‘pelo menos’ quer dizer???). ‘E gente que gosta de ver quem se põe em cima de uma prancha, num estranho equilíbrio que termina sempre dentro de água’ (duh, se não terminasse dentro de água terminava onde?). ‘O mar sempre atraiu os homens. Sabia que os primeiros registos europeus, segundo a Wikipédia’ (é sempre uma garantia de credibilidade citar a Wikipédia…), ‘chegam ao século XVIII? Nessa altura, fazia parte da cultura indígena do Havai. Hoje é um desporto e um negócio. E dá sempre belíssimas imagens’ (e maus textos…). ‘E vontade de experimentar aos que estão em terra’.
A mim dá-me vontade de pregar uma boa amona a estes jornalistas que nem sequer sabem ler os comunicados das agências, que não se esforçam por investigar um mínimo para os parágrafos que escrevem e aos editores deste jornais ditos sérios que não passam de folhas de couve armadas em influentes que distorcem e vilipendiam a realidade mais simples.
Assim vão as glórias do mundo”.

Eis alguns excertos dos comentários “bem mais ácidos”:

“A única coisa que se safa no artigo é a fotografia. lol”, escreve Sheesh Kabob.

“gosto particularmente da parte em que se fala de os primeiros registos europeus da atracção do homem pelo mar datarem do século XVIII (segundo a wikipedia, é claro). é q é isso que de facto lá está escrito. é espantoso como é q o PÚBLICO sistematicamente permite que sejam publicados disparates de todo o tamanho, neste caso numa dupla, sem que ninguém reveja, edite ou sequer pense um segundo sobre o q está escrito. Jornalismo de referência?”, escreve PAS.

“Pois bem...neste caso, este artigo do ‘fidedigno’ e ‘Honorável’ jornal o ‘PÚBLICO’, vai entrar no rol das maiores baboseiras JAMAIS escritas e veiculadas ao nobre desporto do príncipe Duke Kahanamoku!
O incauto jornalista (!!??) consegui trespassar em larga escala a barreira do ridículo, chegando a ser tragicómico na sua pérola jornalística!
O pináculo da peça foi quando ele fala no Mediterrâneo HAHAHAHAHHAHAHA!
Esta foi inequivocamente a maior aberração já lida por mim, nesses anos todos como fiel acompanhante da imprensa escrita, no que concerne ao nosso querido amado desporto!
Uma pérola sem igual que ficará nos anais do desporto, e que dificilmente vou esquecer-me...”, escreve Pontinha Star.

“É um artigo cheio de pormenores deliciosos, que li como se de um pedaço de comédia se tratasse!
É que até nos créditos que dão à fotografia foram capazes de escrever em vez de ASP – AFP.
É genial! Deve estar a trabalhar com o Herman José dentro de pouco tempo”, escreve Dias..

“Veremos o que acontece. O jornalismo de referência não se distingue do resto por não ter erros mas sim por procurar detectá-los e corrigi-los”, conclui o leitor Henrique Pereira dos Santos.

O jornal publicou um dia depois uma nota“O PÚBLICO errou”:
“Hossegor, a estância francesa de surf na região de Biarritz, fica próxima da fronteira espanhola mas é banhada pelo oceano Atlântico e não pelo Mediterrâneo, como ontem erradamente se escreveu na legenda da foto das páginas centrais.”
A “legenda” de 212 palavras contém erros factuais, incoerências, recurso à “fonte” wikipedia, etc.

O surf é só um desporto, mas é certo que estes erros são preocupantes. Podem deixar presumir que o conjunto das matérias noticiadas no jornal contém inúmeros erros. Ora, como se sabe, qualquer generalização é perigosa.
Quanto ao caso concreto em apreço, o provedor só pode concluir que o leitor tem razão. O PÚBLICO errou. E aquilo que está em causa – repito – não é apenas a localização geográfica de Hossegor...

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

  • Consulte o CV de Rui Araújo

Links

Um blog do PUBLICO.PT