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domingo, julho 15, 2007 

PARA QUEM É, BACALHAU BASTA

O texto não assinado “Bebé mamute encontrado intacto no gelo da Sibéria” (11/07/2007) não passou despercebido. E entende-se.

“É-nos dito que os cientistas vão enviar o cadáver para o Japão para ser retirado ADN e esperma, tendo em vista revivar a espécie.
Nunca na minha curta vida (29 anos) li tanta asneira concentrada em tão poucos caracteres.
Em primeiro lugar porque a notícia começa logo com ‘É uma fêmea’ e, portanto, tirar esperma de uma fêmea será tarefa complicada. E depois mesmo que fosse um macho não seria através do esperma que seria possível criar novos mamutes porque o esperma contém apenas metade da informação do animal. Confirma-se a recente tendência do PÚBLICO para, nas notícias curtas, fazer traduções literais de notícias de agências noticiosas dando amplexo à asneira pré-existente. Vou ali comprar o Correio da Manhã e já volto (estou a brincar, obviamente...)”, escreve Pedro Maia, um leitor do Porto.

“Com esta é que o provedor desiste mesmo...”, escreve João Paulo Menezes no seu blogue “Blogouve-se (postais sobre jornalismo)”.
Rui Oliveira, um leitor do blogue, comenta:
“De facto, depois de ler a notícia, ri-me imenso. Mas, depois lembrei-me de ir ao sítio da BBC ver como estava escrita a notícia original (http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/6284214.stm). (...)
Resumo da notícia original mal feito (se por dificuldade de tradução, se por falha de compreensão do artigo não sei). (...)”
Gabriel, outro leitor do “Blogouve-se” acrescenta: “Há coisas fantásticas, não há?”

A Ciência e a História não podem ser tratadas de forma tão negligente nas páginas do PÚBLICO. É a credibilidade do jornal que está em causa.

“Errar é humano e compreendo perfeitamente que os erros da mais diversa ordem (factuais, de ortografia, de gramática, de pontuação, de redacção) que se insinuam com maior frequência do que seria desejável nos jornais, mesmo nos mais sérios e cuidadosos, são inevitáveis até certo ponto. Mas não podem deixar de ser notados os mais disparatados, mesmo que talvez não mais graves, como o que me fez rir ao ler uma frase na notícia trágica sobre o flagelo da tuberculose multirresistente. A frase é a seguinte: “Se a forma normal da tuberculose, que afecta, na maioria dos casos, os pulmões, é facilmente identificável com um simples telescópio, a tuberculose multirresistente requer investigação e laboratórios mais sofisticados…”. Há trocas de palavras assassinas”, escreve Júlio Freire de Andrade, um leitor de Lisboa.

Os reparos são pertinentes.

O autor do artigo
“OMS tem plano de dois anos para combater o flagelo da tuberculose multirresistente” (edição impressa de 23/06/2007) não confunde só “telescópio” com ‘microscópio’. O texto não assinado de 63 linhas não tem praticamente um único número correcto e contém, por outro lado, erros de Português.

1º ERRO
PÚBLICO:
“Organização Mundial de Saúde (OMS) quer lançar um plano de dois anos para combater o flagelo da tuberculose multirresistente que pode salvar a vida de cerca de 138 mil pessoas.”
O número do PÚBLICO é incorrecto.
A OMS indica apenas 134 mil casos (www.who.int/mediacentre/news/releases/2007/pr32/en/index.html).
O provedor sublinha que (ao contrário do que afirma o PÚBLICO) a OMS não
“quer lançar um plano”. A organização “lançou” uma operação (em inglês: “launched”). É ligeiramente diferente, mas o rigor é importante.

2º ERRO
PÚBLICO:
“Este tipo de tuberculose, com casos em 37 países, afecta 450 mil pessoas por ano e traduz-se, essencialmente, por uma resistência a certas terapias com antibióticos.”
O número do PÚBLICO é incorrecto. Não são “450 mil pessoas”, são 424 mil.
A OMS refere: “... There are an estimated 424 000 new cases”.
O provedor conclui que o PÚBLICO “reproduziu” o texto do ‘sítio’ da BBC (http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/6229406.stm). E como a BBC se enganou...
É importante acrescentar, por outro lado, que (segundo a OMS e ao contrário do que escreve o PÚBLICO) se trata de uma estimativa e não de um facto. A formulação correcta seria, portanto, “poderá afectar”. É mais um detalhe...
O provedor ignora a razão que levou o jornalista do PÚBLICO a optar pelo despacho da BBC apesar de o comunicado de imprensa da OMS (fonte primária da notícia) ter sido divulgado antes no próprio ‘sítio’ da organização. Uma das hipóteses é o “facilitismo” ou, por outras palavras, a “papinha feita”: informação tratada pela BBC...

3º ERRO
PÚBLICO:
“Para Margaret Chan, directora-geral da OMS, esta resistência é uma ameaça séria à segurança e estabilidade da saúde pública mundial.”
Margaret Chan e o próprio comunicado de imprensa da OMS referem uma “ameaça” (“threat”). Para o PÚBLICO “ameaça” corresponde a “ameaça séria”. É uma formulação abusiva que deturpa as palavras da directora-geral. É só um detalhe.

4º ERRO
PÚBLICO:
“Se a forma normal da tuberculose, que afecta, na maioria dos casos, os pulmões, é facilmente identificável com um simples telescópio...”
O PÚBLICO confundiu ‘microscópio’ com “telescópio”. É mais um pormenor...

5º ERRO
PÚBLICO:
“... alertou Paul Nunn, coordenador do plano da OMS ao site da BBC.”
A formulação “alertou... ao” é inadequada em Português. Falta, por outro lado, uma vírgula a seguir a “OMS”. Futilidades...

6º ERRO
PÚBLICO:
“Investigadores alertaram em 2006 para novas estirpes de tuberculose altamente resistente com base no estudo de um grupo de doentes da África do Sul, numa região com grande prevalência também de HIV. Esses doentes não respondiam a qualquer tipo de terapia. Em 53 casos, todos morreram, excepto um.”
A OMS dá outra versão da evolução dos acontecimentos, mas isso também é irrelevante, obviamente.

O provedor considera anormal haver tantos erros e tantas imprecisões nas páginas do PÚBLICO. E partilha as preocupações dos leitores. “Se encontrei estes erros sobre um assunto que conheço, qual a fidedignidade de notícias de assuntos que não domino?”, escrevia José Paulo Andrade, um leitor do Porto.
“O melhor jornal da paróquia” (segundo o leitor Orlando Simas) devia apostar no rigor e criar mecanismos para evitar o recurso ao “copianço” (com ou sem citação das fontes), pelo menos isso. É a credibilidade do PÚBLICO que, repito, está em causa. E isso não é coisa pouca para um jornal que se considera de referência...

O endereço electrónico do provedor é: provedor@publico.pt

De facto cada vez se encontram mais falhas, mais erros... ainda assim venho sempre expreitar, para ver se vejo um "PÚBLICO" na capa e não um simples P vermelho... enquanto há vida à esperança... Até lá terei que me contentar com outro jornal...

Este comentário foi removido pelo autor.

Bem, e para completar o modernismo do novo P, acabam-se as imagens algo magestosas dos belos "colaboradores" do publico, para virarem simples e banais fotografias... Mais um laço que se perde, mais morre a esperança de, um dia, ver desaparecer o terrivel P encarnado da capa... Lara R.

Uma nota. Em termos epidemiológicos não é correcto traduzir “new cases” por “pessoas afectadas por ano”. Ou seja, “pessoas afectadas por ano” inclui casos novos e casos já existentes. Enquanto que “casos novos” [“new cases”] são apenas os novos casos que apareceram nesse ano, não estando incluídos os já existentes. Assim, se o sítio da BBC indica 424 mil “new cases” isto significa que em cada ano há mais 424 mil casos relativamente ao ano anterior, sendo que o total de casos [“pessoas afectadas”] será sempre superior aos casos novos. Não procuro corrigir os valores, pois desconheço os dados, apenas sublinho esta particularidade técnica. Parabéns ao bom trabalho do Provedor.

É fantástico como gente que sabe tudo ainda precisa de ler jornais!

eugenio queiros

Caro Eugénio Queirós,
como os leitores "sabem tudo", os jornalistas podem ser desleixados, desatentos, preguiçosos, ignorantes, incapazes de traduzir um texto. Enfim, os jornalistas sãos uns coitadinhos nas mãos dos pérfidos leitores, que ainda por cima são chatos e reclamam por tudo e por nada.
A.Pereira

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