« Página inicial | PARA QUEM É, BACALHAU BASTA » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 46 » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 45 » | A LOTARIA DA INFORMAÇÃO (I) » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 44 » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 43 » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 42 » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 41 » | "7 HORRORES DE PORTUGAL" - COMENTÁRIO 40 » | “O PÚBLICO VOLTOU A ERRAR” » 

domingo, julho 22, 2007 

MORCELA E MILES DAVIS

A crónica do provedor publicada na passada semana suscitou um comentário assaz inesperado...

“Gostava de fazer aqui uma proposta que me surgiu como uma espécie de ‘Momentary Lapse of Reason’, mas felizmente sem drogas pelo meio, apenas umas tiras de presunto, uma morcela assada em aguardente bagaceira e um jarro de sangria.
Com tanta asneirada que anda pelo jornal em termos de tradução de despachos de agências noticiosas pq não começar a ‘distribuir trabalho’ pelos leitores? Se não há dinheiro para pagar a revisores pq não passar a coisa para os leitores?
Eu e muito boa gente estamos on-line o dia todo. Poderíamos receber a notícia da agência, ou até já a tradução de um jornalista. Parece-me óbvio que o PÚBLICO tem leitores mais do que capazes de analisar e responder rapidamente a erros colocados em papel, pq não fazer uma ‘task force’ preventiva quando eles ainda fermentam na Redacção?
Um leitor diz um conjunto de temas em que se sinta à vontade, enviam-lhe uma determinada notícia para ele traduzir e reduzir e depois ele responde em x tempo indicando as fontes. Sempre era uma forma de muitos leitores (a começar por mim que sou um chato) pararem de carpir pelos ataques à qualidade do jornal.
Teríamos, portanto, o acesso de um jornalista a um conjunto de despachos de agências noticiosas. Depois a verificação dos leitores que estivessem on-line e disponíveis para tratar dela e o envio para eles da dita notícia em bruto. O leitor reduzia-a e analisava um conjunto de fontes do resultado final reduzido que depois seriam entregues ao jornalista-encarregado. Isto tinha a vantagem de acabar com aquela estafada desculpa de que há falta de tempo e que se estava com pouco pessoal para fechar a edição, tão comum que por aí se lê. Desta forma pode-se alargar imenso a Redacção do jornal sem aumentar custos (se bem que um jantarzinho de quando em vez não ficava mal, nem que fosse darem-nos os ingredientes e nós tratávamos de confeccioná-lo) e acabar de vez com a ‘gap’ (fosso) que existe entre os jornalistas profissionais e os pesquisadores que muitos leitores são. É que muitas vezes uma simples busca pelo Google podia prevenir imensos problemas. Caso este ‘fact-check’ resultasse em pequenas notícias podia ser depois alargado às grandes e mais complexas peças de jornalista. E aí já tinham de sortear um BMW M5 entre nós. Mas isto já será se calhar esticar o orçamento...
Mas que sei eu? Que pode saber alguém de 29 anos? Muito pouco. Mas assim como a minha idade não inviabiliza a qualidade desta morcela também não inviabilizará a qualidade da minha ideia. O PÚBLICO garantia uma rede de colaboradores com provas dadas e nós leitores passamos de gente rancorosa a rir (e a rir imenso, ultimamente) de fora do problema para parte da solução.
E com estas palavras a noite caiu em Melgaço. E aí vai um pouco de Miles Davis para o Provedor ouvir”, escreve Pedro Maia, um leitor do Porto.

Solicitei um comentário ao director.

“Suponho que os meus avós, que muitas vezes foram de férias para Melgaço, nunca terão tido a oportunidade de ver a noite cair ao som de Miles Davis, mas sei que, tal como o leitor, sempre foram fiéis leitores de jornais num tempo em que pouco mais havia como fonte de informação. E se retomo a nota final da sua crónica com esta nota entre a nostalgia de um tempo que já passou e a consciência de que vivemos um tempo novo é porque, mesmo sem morcela nem sangria, vejo na sua mensagem tanto a ironia como a oportunidade. Estranho? Talvez não.
A ironia sobre a ‘asneirada’ pode ter, aqui e além, razão, até porque ninguém é perfeito, nem o rio Minho que deve ter no seu horizonte. O que sugere como método de trabalho parte do princípio, errado, de que o trabalho do jornalista é atamancar uns telexes de agências, melhor ou pior traduzidos, e partir para uns copos no bar mais próximo. A primeira parte, se excluirmos o atamancar, tem o seu quê de verdade: nos jornais utilizam-se os despachos das agências como na televisão se utilizam as imagens enviadas de todo o mundo pelas... agências. É assim, e ainda bem, desde que o senhor Havas e o senhor Reuters começaram a proporcionar este tipo de serviço. Há, contudo, peças de agência melhores do que outras, e entre os vários milhares que chegam por dia apenas uma pequena parte é aproveitada. Se os jornalistas fossem dispensáveis, a mesa onde pousa o seu copo e dispõe as suas tiras de presunto estariam cheias de montes de papéis sem ordem aparente, escritos nos quatro cantos do planeta, e levaria o dia inteiro só a escolher o que valia a pena ler. Teria tanto trabalho e consumiria tanto tempo para conseguir desfrutar da informação de que necessita como se tivesse de fazer a sua morcela desde o início, ou ir colher as uvas, pisá-las, deixar o vinho amadurecer e, por fim, juntar-lhe o necessário para um boa sangria. Cada um desses passos deve ser bem feito, como saberá apreciar pelo resultado final, mas regressar à ‘acumulação primitiva’ da informação não é solução para os males de o PÚBLICO por vezes padece, e que nem tentarei explicar.
Mas se esse regresso ao passado seria despropositado e inútil, o que me interessa na sua Melgaço é a maquineta de onde enviou a mensagem. É através dela que me fala, a mim, via Provedor, mas também aos leitores. Não lhe deve servir para fazer o que deve ser o trabalho do jornalista, mas pode servir, era bom que servisse, para fazer o trabalho que o jornalista não pode fazer: fazer de si, porventura abusando da sua disponibilidade, parte dos muitos olhos e ouvidos a que gostaríamos de estar abertos, não apenas para que nos fale de um seu dia de férias (suponho), mas que nos faça chegar realidades que por mais atentos que possamos estar nunca atingiremos. Queremos, e estamos a trabalhar para isso, que os leitores sejam olhos e ouvidos do seu jornal. Não mais jornalistas ou serviçais, mas antenas que um dia nos espetam uma farpa (e a que mais me dói é estar aqui a escrever noite dentro e sem nenhuma morcela para petiscar...) e nos outros nos trazem informações, opiniões, pedaços da realidade invisíveis e que podem, e devem, permitir não só uma interactividade entre a minha pessoa, na cadeira do director, e o seu humor, mas o ponto de encontro de muitas sensibilidades diferentes.
Não lhe respondi? Não respondi ao Provedor? Acho que sim, que respondi: o nosso papel de jornalistas é o de separar a boa da má informação e não asneirar. Falhamos se falharmos nesse papel de distinguir o essencial do acessório de apontar ao leitor onde está a informação mais relevante e os temas mais interessantes. Isto sabendo que os leitores, enviando uma carta ou escrevendo num blogue, sem serem jornalistas, podem ser a nossa ‘rede’. A rede que facilita a circulação das ideias e das informações, não aquela para que se oferece e apenas serve, o que mesmo assim não seria coisa pouca, para amparar o trapezista desastrado”, respondeu José Manuel Fernandes.

A resposta parece-me convincente, será do Miles Davis?
O provedor está mesmo a precisar de férias...

Post-scriptum – No primeiro semestre deste ano um leitor elogiou um(a) jornalista. Pareceu-me importante publicar esse depoimento por uma questão de justiça. E de transparência. Também há excelentes profissionais no PÚBLICO.
“No passado dia 1 de Julho, na página 18 do Primeiro Caderno, o PÚBLICO trazia uma notícia intitulada ‘Ministro japonês justifica bomba atómica de 1945’.
Decidi escrever-lhe porque considero que a notícia, apesar de não estar assinada, está redigida de uma forma que considero exemplar e que já não é comum encontrar.
De facto, o texto começa por um parágrafo em que o essencial da posição do ministro é enunciado, segue-se um segundo parágrafo onde é apresentado o essencial da posição dos que discordam do ministro e, finalmente, um último parágrafo onde é resumido o que se passou em 1945 e que está na origem da actual controvérsia, sem comentários e sem tomar partido.
E tudo isto em três pequenos parágrafos, de forma clara, concisa e completa; é uma beleza!”, escreve Eugénio de Sousa, um leitor de Lisboa.

De acordo com o Livro de Estilo “todos os textos são assinados” e “os textos baseados em notícias de outros órgãos de comunicação devem mencionar de forma inequívoca a sua origem”, mas isso nem sempre sucede nas páginas do PÚBLICO. E, aparentemente, nem os bons (as boas) jornalistas respeitam sempre esta regra. É pena.

O endereço electrónico do provedor é:
provedor@publico.pt

Infelizmente até o provedor do Público falha. Desta vez o senhor jornalista Rui Araújo parece ter esquecido os compromisso que assumiu perante leitores e colegas. O papel de um provedor dos leitores consiste em responder às dúvidas que se colocam quanto à veracidade, correcção e deontologia do que se escreve e lê num jornal. Não consiste em ser um mero comentador, uma mera caixa de ressonância de cartas de leitores. Naturalmente, essa é uma atitude que se quer corajosa e, sobretudo, construtiva; não gratuita e escarninha. Infelizmente não foi esse o caso da carta "Morcela e Miles Davis" do Senhor Pedro Maia que o provedor, a meu ver lamentavelmente, escolheu para publicar e se deu ao trabalho de comentar.
Fala-se ai de tiras de presunto, morcela assada, aguardente bagaceira, jarros de sangria, e Miles Davis. Tudo isso passaria por pretensamente irónico, chique e sem importância, não estivesse o texto semeado de bocas ferinas sobre o suposto "mau trabalho" da equipa do Público.
Creio que não se justifica que o provedor se entreguee à tarefa de publicar estas simples opiniões sem fundamento.
Sim, sem fundamento: a menos que se perceba de quê e de quem se está a falar, publicar frases como: "com tanta asneirada que anda pelo jornal..." ou "Nós leitores passamos por gente rancorosa a rir e a rir imenso, ultimamente...; publicar comentários assim, dizia eu, pode passar por falta de ética e deontologia. O que é, com o se sabe, imperdoável nas páginas de um jornal.
A que é que se refere o Senhor Pedro Maia? Digam-me porque não entendi e nada se encontra no seu texto que me possa elucidar.
É claro que nada disto teria importância caso não estivesse em jogo o trabalho dos outros que nessa carta é profundamente escarnecido.
Qual foi a razão para insultar assim a equipa de jornalistas do Público ao se escrever e publicar essa carta? Desconheço mas não foi altruísta certamente.

RESPOSTA DO PROVEDOR
Estimado Leitor,
Agradeço o comentário electrónico que teve a amabilidade de me enviar.
Permita-me esclarecer o seguinte:
1- O provedor tem inúmeras dúvidas e comete erros, como toda a gente.
2- O provedor não olvidou o compromisso assumido perante os Leitores, pelo contrário: deu e vai continuar a dar voz aos leitores.
3- Escreve o Leitor Carlos Santos: “O papel de um provedor dos leitores consiste em responder às dúvidas que se colocam quanto à veracidade, correcção e deontologia do que se escreve e lê num jornal. Não consiste em ser um mero comentador, uma mera caixa de ressonância de cartas de leitores.”
Eis as competências exactas do provedor (segundo o Estatuto do PÚBLICO):
“A. Avaliar a pertinência das queixas, sugestões e críticas dos leitores, produzindo as recomendações internas que delas decorrerem;
B. Esclarecer os leitores sobre os métodos usados e os factos relevantes envolvendo a edição de notícias que suscitem perplexidade junto do público;
C. Investigar as condições que levaram à publicação de notícias ofensivas dos direitos dos leitores;
D. Transmitir aos leitores, à Redacção ou à Direcção do PÚBLICO a sua reflexão sobre eventuais desrespeitos pelas normas deontológicas que ocorram no jornal.
E. Manter uma coluna semanal nas páginas do jornal sobre as matérias da sua competência;
F. Em todas as comunicações, internas ou públicas, que digam respeito a noticias editadas no PÚBLICO o Provedor é obrigado a ouvir o(s) jornalista(s) responsáveis por estas e a divulgar as opiniões recolhidas.”
A primeira preocupação do provedor é, portanto, dar voz às perguntas e aos reparos dos Leitores! É uma forma de tornar mais transparente a relação entre quem lê e quem faz este jornal. É a opção do actual provedor, paciência!
O provedor é uma “mera caixa de ressonância de cartas de leitores”?
O provedor já questionou o plágio, a confusão entre informação e propaganda, a incompetência, etc. nas páginas do PÚBLICO, - questões denunciadas, aliás, pelos Leitores. O provedor assume, portanto, ser essa caixa de ressonância. É o provedor dos Leitores, não é o provedor dos Jornalistas. E a sua lealdade é para com os Leitores, não para com os Jornalistas!
O provedor não tem, por outro lado, especial respeito por “coitadinhos” e incompetentes.
O Jornalismo é uma profissão com regras.
O “amadorismo”, o “facilitismo” e a complacência (o "nacional porreirismo") não levam a parte alguma.
5- Escreve o Leitor Carlos Santos: “Naturalmente, essa é uma atitude que se quer corajosa e, sobretudo, construtiva; não gratuita e escarninha.”
O provedor recusa processos de intenções não fundamentados.
O provedor pergunta: quantos provedores em Portugal denunciaram casos notórios de plágio, confusão deliberada entre Informação e Propaganda, etc.?
6- Escreve o Leitor Carlos Santos: “... não estivesse o texto semeado de bocas ferinas sobre o suposto ‘mau trabalho’da equipa do Público.”
Se o Leitor fosse jornalista, o provedor diria que se trata de uma patética reacção corporativista...
O “mau trabalho” de alguns jornalistas do PÚBLICO é uma realidade. Omiti-la é um erro grave.
7- Escreve o Leitor Carlos Santos: “... a menos que se perceba de quê e de quem se está a falar, publicar frases como: ‘com tanta asneirada que anda pelo jornal’. (...)A que é que se refere o Senhor Pedro Maia? Digam-me porque não entendi e nada se encontra no seu texto que me possa elucidar.”
O Leitor não leu, aparentemente, o princípio da última crónica do provedor.
Tomo a liberdade de lhe recordar apenas a primeira frase: “A crónica do provedor publicada na passada semana suscitou um comentário assaz inesperado...”
O que está em causa é o tratamento negligente da Ciência (à semelhança do tratamento da História) nas páginas do PÚBLICO. O problema foi tratado na crónica de 15 de Julho. Um jornalista do PÚBLICO anunciou, por exemplo, que os cientistas iam retirar esperma a uma fêmea. O Leitor que questionou a “asneirada” é precisamente o Leitor (Pedro Maia) da crónica desta semana.
O provedor considera que o PÚBLICO ainda é o melhor jornal diário português, mas isso só significa isso mesmo.
8- Escreve o Leitor Carlos Santos: “Qual foi a razão para insultar assim a equipa de jornalistas do Público ao se escrever e publicar essa carta? Desconheço mas não foi altruísta certamente.”
O Leitor Carlos Santos é mais papista que o Papa. A Direcção e os maus Jornalistas do PÚBLICO não se queixaram.
Permita-me formular outra pergunta: denunciar atropelos éticos, deontológicos e erros crassos (negligência, ignorância, etc.) é insultar alguém?
Quanto ao altruísmo... O provedor não se pronuncia sobre sentimentos...
O Jornalismo é uma técnica que obedece a regras.
Os melhores cumprimentos,
Rui Araújo
Provedor do Leitor do PÚBLICO

Caro Rui Araújo

Até que enfim!!!!!!

Nesta última Sua crónica, muito bem conseguida, voltamos a contar com a mais que necessária participação do director JMF, e com a assunção dos “erros “ do Público, e até de assumir a correcção interna dos mesmos, sempre que possível, mas também o contributo persistente dos leitores, com o Público, de uma forma diferente de fora, algo que eu sempre considerei como muito necessário, que foi seguido, até determinada altura.

Parece, uma boa mudança de atitude!!!!!!!!!!!!!!!!! Será um bom recomeço?

Julgo, posso estar errado, que perante muitas críticas, e eu na minha pequenez tenho-lhe feito muitas....está a resultar.

Sempre ao Seu lado, sempre independente, sempre preciso, sempre corrrecto, cada vez mais indispensável, parabéns, com melhores cumprimentos do

Augusto Küttner de Magalhães
Porto

Pode ser que, finalmente, o Público inicie um retorno às origens, ainda que lento.

Por mim, "divorciei-me" do jornal em Abril, depois de um "casamento" de 15 anos.

O populismo que a remodelação gráfica trouxe foi a gota de água que fez transbordar o copo, em cima de tanto desrespeito pelo leitor.

Alguns milhares de leitores a menos depois, pode ser que corrijam a mão... Embora duvide que esta equipa directiva o faça.

Cumprimentos

Carlos Fonseca
Altura

Enviar um comentário

Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

  • Consulte o CV de Rui Araújo

Links

Um blog do PUBLICO.PT