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domingo, setembro 03, 2006 

NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS, MAS… - (CONCLUSÃO)

Foi a crónica de opinião que mais reacções suscitou nos meus oito meses como Provedor.

"Na edição do PÚBLICO de 14 de Agosto, no fim do seu texto, Isabel do Carmo escreve: ’E de tanto se querer confundir anti-sionista com anti-semita, pretende-se prender as consciências do horror do holocausto e tolhê-las no combate aos senhores da guerra de Israel?’
Em nenhuma parte do texto a autora diminui a importância do Holocausto e muito menos o nega. No entanto, o jornal sentiu-se na obrigação de escrever a seguinte nota: ‘O PÚBLICO não alterou a grafia deste texto, designadamente o facto da autora escrever Holocausto com caixa baixa.’
Primeiro as dúvidas: o jornal perguntou à autora do texto se queria mudar a grafia? Se sim, ela recusou? Se recusou, porque não fomos informados da recusa? Se não perguntou, porque optou por uma Nota de Redacção em vez de o fazer? Por fim: quantas vezes na sua história o PÚBLICO (ou outro jornal português) acrescentou notas de redacção a textos de opinião? Devo esclarecer que discordo de grande parte das posições que Isabel do Carmo produziu durante a guerra do Líbano. Acho que se envolveu num debate estéril e armadilhado. Mas esta Nota representa uma absoluta falta de respeito pela autora e, mais importante, pelos leitores. (…) Mais: a Nota parece ser mal intencionada. A irrelevância do problema não parece justificar o acto excepcional de acrescentar a Nota. Isabel do Carmo, ao falar do ‘horror do holocausto’, deixa clara a sua posição e dificilmente se poderia inferir da utilização da minúscula qualquer posição negacionista. (…)
Se a questão é apenas a grafia do
jornal, um reparo pessoal à articulista parecia mais sensato e educado.
Se a questão, como me parece, não é a grafia do jornal, estamos perante um caso muito mais grave. Substituímos a censura pelo comentário, em simultâneo, a textos de opinião dos quais se diverge, usando como subterfúgio pormenores técnicos. (…)”, escreve Daniel Oliveira, um leitor de Lisboa.

Não tendo eu a menor das simpatias pelo Hezbollah, ou movimentos semelhantes, sinto-me perfeitamente confortável para afirmar que é no mínimo questionável (…) a forma como a ‘Carta a Esther Mucznick’ de Isabel do Carmo é publicada no PÚBLICO. Há pequenos pormenores que dizem tanto.
Não faz sentido nenhum, a menos que exista um óbvio propósito manipulador, que se ponha em destaque, logo depois do título, uma frase, supostamente uma citação do texto, amputando-a de uma parte, não é verdade? Ora foi exactamente isso que aconteceu, no texto Isabel do Carmo escreve ‘O Hezbollah, goste-se ou não, é um partido organizado, tem deputados eleitos e foi a forma daquela população se organizar. Tem escolas, hospitais, assistência social. Não é uma organização terrorista e como tal não é considerada pela União Europeia’. O ‘subtítulo’ (Destaque) da Carta é exactamente o mesmo, só que desaparece, como
que por magia e sem que seja assinalado por um grafismo universalmente aceite – a saber (...) – o ‘goste-se ou não’. (…)
Mas não é tudo, há outra que também não é fácil de engolir. Aparece uma Nota da Redacção, no fim do texto (…). Ou sou eu que ando muito flor de estufa ou esta ‘pequena’ nota de inocente tem muito pouco e, digo eu, é extraordinariamente ofensiva para a autora.
Estratégias rafeiras deste estilo não ficam nada bem a um jornal que se quer de ‘referência”, esclarece Maria João Pires, uma leitora de Lisboa.

Solicitei esclarecimentos ao director sobre os cortes no Destaque e a Nota da Redacção.

O DESTAQUE
“Como por certo notará, os destaques da maioria, se não da totalidade, dos textos de opinião são excertos do texto ligeiramente reduzidos, já que o corpo de letra utilizado é maior. O mesmo sucedeu, por certo, com a frase destacada do texto de Isabel do Carmo: não cabendo toda, manteve-se o que fazia sentido e retirou-se a redundância. Não se alterou o sentido. Já agora acrescento que, para não cortar mais a entrada do texto de Isabel do Carmo, o seu corpo foi reduzido de 12 pontos para 11,5 pontos, o que até é contra as regras gráficas”, explicou José Manuel Fernandes.

O provedor considera a explicação aceitável.

A NOTA DA REDACÇÃO
“A Direcção Editorial do PÚBLICO foi uma vez advertida pelo Conselho Consultivo (CC) a propósito de um texto que contestava a verdade do Holocausto, tendo sido criticada, entre outras coisas, por admitir que nesse texto a palavra surgisse sem ser em maiúsculas. Uma vez que tal sucedia no texto de Isabel do Carmo e precisamente porque não queríamos alterar o seu conteúdo, entendemos avisar os leitores sobre quem era responsável pela grafia da palavra naquela forma.
É que escrever Holocausto com minúscula é extremamente ofensivo para muitos leitores, como constatámos quando editámos o texto referido atrás
”, respondeu o director (em nome da Direcção Editorial).

A explicação de José Manuel Fernandes não parece aceitável.

O director justifica a Nota da Redacção com uma advertência do CC (no seguimento da publicação de dois textos de Pedro Almeida, “professor e investigador licenciado em Filosofia”).
De acordo com a Direcção Editorial do PÚBLICO, “ao escrever a palavra Holocausto com caixa baixa e entre aspas, o autor colocava em causa a existência desse crime maior do século XX, algo que mesmo com a maior abertura de espírito não devíamos ter tolerado”.

O provedor considera que Isabel do Carmo devia ter sido contactada.

O PÚBLICO optou por associar implicitamente a cronista ao negacionismo.

Pedi mais um esclarecimento ao director.

“Uma vez que era fim-de-semana, altura em que é sempre difícil contactar o autor de um texto, e uma das últimas oportunidades para publicar o texto de Isabel do Carmo antes da próxima crónica de Esther Mucznik, foi decidido publicá-lo naqueles termos apesar dos problemas que sabíamos que colocaria face à recomendação do Conselho Consultivo e da tomada de posição da Direcção Editorial sobre a forma de grafar a palavra Holocausto. Optou-se por publicar o texto com aquela nota em nome do pluralismo de opiniões que habitualmente se exprimem no jornal”, indicou o director.

O provedor discorda.


1 – O PÚBLICO não tentou sequer contactar Isabel do Carmo.
2 – O PÚBLICO partiu erradamente do princípio que escrever holocausto com maiúscula ou minúscula implica uma valoração do Holocausto. Os substantivos próprios são escritos com maiúscula e os comuns com minúscula, independentemente das opções ideológicas.
3 – O PÚBLICO excluiu tratar-se de uma simples gralha apesar de o texto da cronista conter vários erros tipográficos: “Gobbels” (em vez de Goebbels), “grupos vários que se NR converter” (?), “Ester” (em vez de Esther), etc.
4 – O PÚBLICO devia evitar inserir Notas da Redacção (ou da Direcção?) nos artigos de opinião.

Inquiri, portanto, Isabel do Carmo.

“1 – O facto de a palavra Holocausto ter vindo escrita em caixa baixa, vulgo letra de abertura minúscula, foi evidentemente uma gralha de computador, como mais uma ou outra no texto, a que não foi dado significado, como aliás é impossível não acontecer.
2 – Isto só ganhou relevo dado haver uma Nota de Redacção em que é chamada a atenção sobre o meu uso da citada caixa baixa.
3 – Tal nota, situação perfeitamente anómala, funciona obviamente como manipulação, pois é óbvio que se destina a induzir o leitor a pensar que eu menorizo o Holocausto, transformando-o de substantivo próprio em substantivo comum. Quanto à importância e o respeito que me merece o Holocausto, que, repito, não atingiu só os judeus, nem sequer ponho a hipótese de o discutir.
4 – Felizmente que a prova do contrário está no meu artigo de opinião que deu origem à polémica, publicado a 2 de Agosto de 2006, com o título “Vemos, ouvimos e lemos”, onde está escrito a palavra Holocausto, com caixa alta. Bastava ir vê-lo. Ou telefonar-me. Teria sido bem mais correcto do que fazer esta, quanto a mim propositada, distorção.
5 – É também com idênticos resultados que interpreto como de manipulação e distorção deontologicamente inaceitáveis que no mesmo texto da minha autoria de 14 de Agosto aparece um subtítulo extraído do texto, em que deste são suprimidas as palavras que a seguir ponho em negro: “O Hezbollah, goste-se ou não, é um partido organizado, tem deputados eleitos e foi a forma daquela população se organizar. Tem escolas, hospitais, assistência social. Não é uma organização terrorista e como tal não é considerada pela União Europeia.”
Os efeitos da supressão destas palavras são óbvios.
6 – O confronto de ideias e a discussão pública nos meios de comunicação são saudáveis e necessários. Venham eles. As manipulações são jogo lateral. O que estava em discussão era outro assunto, não era o uso de caixa alta ou caixa baixa”, respondeu Isabel do Carmo.

O Destaque não deturpa o pensamento da cronista. Os cortes
“goste-se ou não” e “como tal não é considerada pela União Europeia” são irrelevantes.
A Nota da Redacção (ou da Direcção?) é totalmente despropositada.

O Hezbollah, é um partido organizado e tem deputados eleitos democraticamente. Tem escolas, hospitais, ministra assistência social. Não é uma organização terrorista e como tal não é considerada pela União Europeia.
quanto ao holo causto? que é isso? pessoalmente, horroriza-me tanto quanto o sofrimento dos animais, a extinção da flora e outros fenómenos. Mas até quando teremos de viver e a pagar por esta vitimização dos dsescendentes de Sião?

quem e esta isabel do c.... sera aquela que eu penso ?
'

Como leitor do Público (desde sempre) gostaria que a utilização deste orgão de comunicação social por parte do seu actual director acabasse.
A cena mais patética deste acto foi a pretensa polémica (ajuste de contas) que este senhor fez com um seu ex-camarada de extrema esquerda a propósito de um livro absolutamente irrelevante.

" O Hezbollah, goste-se ou não, é um partido organizado, tem deputados eleitos e foi a forma daquela população se organizar. Tem escolas, hospitais, assistência social. ..".


Isabel do Carmo

O partido Nazi também tinha deputados, também tinha escolas..,promovia o exercicio para os jovens..., etc etc.

Todas essas actividades não faziam dele partido respeitável.

Todos os partidos têm actividades que podem ser louváveis.

Não é isso que está em causa.
O que está em causa são as outras actividades.
No que se refere ao partido NAZI espancava opositores.
No que se refere ao Hezzbollah tem-se divertido a atirar misseis contra Israel desde 2000.
Israel retirou completamente do Libano em Maio de 2000 e o Hezzbollah continuou os seus ataques.

A 7 de Outubro de 2000 o Hezzbollah raptava 3 soldados Israelitas.

Depois irá lançar misseis contra Israel nos anos seguintes.

Referir as escolas do Hezzbollah ignorando os misseis é como dizer que o Partido nacional socialista organiza caminhadas na floresta e ignorar que as SA utilizem mocas contra os opositores.

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