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domingo, maio 14, 2006 

GUERRAS

Há três anos atrás o director do PÚBLICO apoiou a invasão do Iraque baseado em informações falsas (mentiras). Existiam na altura relatórios feitos por peritos independentes (Hans Blix) que demonstravam que o Iraque não constituía um perigo para a Humanidade, porém o director do PÚBLICO preferiu ignorá-los e tomar como verdadeiro aquilo que era falso. Dessa forma manipulou a verdade, distorceu os factos e enganou os leitores.
Senti-me na altura (decerto como muitos leitores) ultrajado e indignado por o “o meu jornal” apoiar um crime contra a Humanidade recorrendo à mentira.
Três anos depois, o director do PÚBLICO, ao invés de assumir o erro e fazer um mea culpa, prefere a fuga em frente, continuando a defender o indefensável e a escrever coisas inacreditáveis como “o mundo e o Iraque estão melhores”.
Um país destruído e em guerra civil, carnificinas diárias, adesões em massa ao terrorismo, a ameaça de uma nova guerra mundial... − e perante este cenário arrepiante o director do PÚBLICO escreve candidamente que o mundo está melhor...
É demais! É insulto aos leitores, os quais são tratados como idiotas e acéfalos.
Perante tamanho desplante do director, deixo aqui o meu veemente protesto Sr. Provedor Rui Araújo
, escreve João Cerqueira de Viana do Castelo.

Os reparos do leitor são legítimos.
Solicitei um esclarecimento ao director.

“O PÚBLICO não apoiou ou deixou de apoiar a intervenção no Iraque. A posição editorial do jornal foi claramente expressa numa nota da Direcção Editorial publicada em Março de 2003 onde se escrevia, designadamente, que ‘como é sua tradição, o PÚBLICO não toma posição na crise iraquiana. Isso não impede que surjam posições claras nos editoriais que, assinados por um embro da direcção, reflectem a sua opinião individual. Essa opinião, ou opiniões, não condicionam nem a busca de objectividade e a exigência de rigor na informação, nem o pluralismo das opiniões e pontos de vista’”.
“O director do PÚBLICO apoiou a intervenção, explicou porquê e regressou ao tema no terceiro aniversário da intervenção. É um facto que tenho e tive opinião (vivo num país livre, trabalho num jornal livre e plural), não é um facto que tenha manipulado ou distorcido factos para enganar os leitores: fiz e faço leituras diferentes dos factos que as deste leitor”.
“Não é um facto que Hans Blix tivesse demonstrado que o Iraque não constituía um perigo para a Humanidade. É um facto que disse que não descobrira armas de destruição maciça (que ele próprio admitia existirem) tendo pedido mais tempo para saber se o Iraque constituía ou não um perigo para a Humanidade”.
“Poderia discutir as opiniões do leitor sobre o Iraque e o Mundo, como ele discute as minhas. Mas são opiniões, e neste jornal elas são livres. Antes, durante e depois daquela guerra. Por serem livres, plurais e contrastantes é que valorizam a inteligência dos leitores, que podem formar a sua opinião de forma não acéfala”, respondeu José Manuel Fernandes.

É uma opinião e o provedor não comenta opiniões.
O facto de não me pronunciar não significa que aprovo a posição adoptada pelo director, revela apenas que não tenho competência para o fazer. É o que determina o estatuto.


Numa altura em que está por dias a inclusão na agenda ministerial, para discussão, duma nova (?) política que, conforme já anunciado, não será mais que um prolongamento da anterior (“foi eficaz e permanece actual” no dizer do presidente do IDT - Instituto da Droga e da Toxicodependência) e, como tal, não irá fazer mais senão reassegurar o último lugar no ranking europeu, já há algum tempo pertença de Portugal no que concerne à prevalência do consumo de drogas, parece à Associação para um Portugal Livre de Drogas (APLD), que esta é a altura oportuna para relançar na sociedade portuguesa a discussão desta sempre tão premente como presente questão.
Para o efeito, parece a esta Associação que, como ponto de partida, seria oportuna a divulgação do relatório de Dezembro de 2004 do INA - Instituto Nacional de Administração, que avaliou a ENLCD - Estratégia Nacional de Luta contra a Droga, seguida no nosso país entre 1999 e 2004 e que, por motivos que escapam a esta Associação, não foi ainda devidamente publicitado.
Sendo uma realidade, como cita aquele relatório assinado por uma equipa de técnicos dirigidos pelo Prof. Valadares Tavares, que naquele intervalo de tempo se assistiu a um "desesperante agravamento da situação no que concerne à procura, à oferta e à reinserção social”, parece então urgente, não só tentar entender os motivos que levam os nossos governantes a insistir numa estratégia tão desoladoramente perdedora, como encetar quanto antes uma discussão aberta na sociedade portuguesa dos pressupostos de mudança a serem obrigatoriamente introduzidos, em ordem a reverter tão sombrio quadro
, propõe Manuel Pinto Coelho, presidente da direcção da APLD.

A proposta do leitor é razoável.
Pedi um esclarecimento a Catarina Gomes, a jornalista que tem escrito sobre esta matéria.


“A nova estratégia de luta contra a droga está há algum tempo para ser aprovada, assim que houver novas nesta frente o PÚBLICO fará disso notícia. Já se escreveu, no entanto, sobre a aprovação da estratégia europeia de luta contra a Sida, que servirá também de base ao documento português”.
“A cobertura da área da droga não se limita à vertente institucional e bem recentemente fez-se um trabalho sobre as novas tendências de consumo de droga em ambiente de dança e de problemas havidos na anterior direcção do Instituto da Droga e da Toxicodependência”.
“Quanto ao relatório de 2004, a que alude o leitor, ele foi devidamente divulgado - e com destaque - na altura da sua divulgação em conferência de imprensa, tendo-se dado nota das falhas e virtudes da estratégia anterior”.
“Em antecipação da actual estratégia foi uma notícia feita (da minha autoria) em que o actual presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência antecipou as linhas mestras desta nova estratégia”.
“Numa notícia, com chamada à primeira página, falou-se das duas principais metas: os toxicodependentes deverão poder passar a ser atendidos em centros de saúde e vai haver afinamentos na lei de descriminalização do consumo de droga”, disse a jornalista.

A explicação de Catarina Gomes é aceitável.
Ficamos, portanto, à espera do anúncio da nova estratégia que irá privilegiar a redução de danos ou a prevenção e o tratamento, opções opostas, mas que mereciam um debate público.

Caro Rui Araújo,
perante a carta do primeiro leitor, relativa às opiniões do director do jornal, não me parece que fosse de considerar que «Os reparos do leitor são legítimos.» E que houvesse necessidade de solicitar «um esclarecimento ao director».

A resposta do director é óbvia, decorrendo da natureza de um editorial, e, quanto a mim, bastaria o próprio provedor ter esclarecido o leitor sobre a matéria (definição/função de um editorial), sem entrar a entender os ditos «reparos» como «legítmos«.

É que o leitor nunca questiona nem poe em casa o direito de o director ter a sua opinião, nunca se nota que confunda uma opinião pessoal com o posicionamento do jornal. Apenas o questiona sobre a congruência/validade das mesmas.

Ora, parece-me descabido que o Provedor entenda como «legitimo» tal «reparo», pois que, como bem refere no final, apenas se tratava de opiniões do director e do leitor): «é uma opinião e o provedor não comenta opiniões». Mas fê-lo anteriormente ao solicitar um esclarecimento. Sobre «uma opinião».

Fica o reparo.....

Caro Gabriel,
Não lhe parece que “fosse de considerar que ‘Os reparos do leitor são legítimos’” até porque, escreve mais adiante, “nunca se nota que confunda uma opinião pessoal com o posicionamento do jornal”.
Permita-me citar uma frase do leitor: “Senti-me na altura (decerto como muitos leitores) ultrajado e indignado por o “o meu jornal” apoiar um crime contra a Humanidade recorrendo à mentira.”
Concluí que o leitor não questionou apenas a posição do director do Público, confundiu a opinião do director com o posicionamento do jornal (“ ultrajado e indignado por o “o meu jornal” apoiar um crime contra a Humanidade recorrendo à mentira”).
Fiz uma interpretação errada? Não o creio.
Alguns leitores continuam a considerar que os editoriais reflectem a posição do jornal. E é isso que sucede em inúmeros jornais por essa Europa fora. No Público isso não é verdade, mas – repito – não é óbvio para toda a gente. Daí considerar legítimo o comentário do leitor.
Os meus melhores cumprimentos,
Rui Araújo
Provedor do leitor do Público

Concordo com Rui Araujo. No momento em que o leitor diz que se sentiu enganado pelo jornal, tornou a carta digna de ser comentada e apresentada ao director do Público. Poderia comentar as opiniões de José Manuel Fernandes, mas como o espaço não é para o debate da guerra no Iraque, fico por aqui.
Um abraço

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