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quinta-feira, janeiro 19, 2006 

PROMISCUIDADES

Notícia, opinião ou publicidade encapotada?
"Nas páginas dedicadas ao Lisboa-Dakar", constata o leitor Gabriel Silva, "têm sido publicadas diariamente duas crónicas. Uma assinada pelo piloto Carlos Sousa, sendo bem visível na sua foto os logótipos da TMN e Galp. E uma outra de Margarida Pinto Correia, enquadrada com patrocínios da empresa Precision, a que acresce anúncio de 1/4 de página da mesma empresa."O leitor indaga: "Tais colunas de opinião são uma opção editorial do jornal ou um espaço publicitário pago pelos patrocinadores ali identificados? Os cronistas são pagos? Pelo jornal ou pelos patrocinadores, ou por ambos? Os cronistas de outras secções poderão vir a ter patrocínios?"
As perguntas são pertinentes.
José Manuel Fernandes, director do jornal, considera que "a cobertura do Dakar privilegia a componente jornalística, isto é, os textos noticiosos e as reportagens dos jornalistas do PÚBLICO, como é natural e nem outra coisa poderia acontecer. Aqueles textos são complementares e, servindo aos seus patrocinadores, também acrescentam valor ao que no conjunto o jornal oferece diariamente".

CARLOS SOUSA

Segundo Carlos Filipe, editor do Desporto, o piloto escreve "na condição de agente desportivo profissional/concorrente ao Rali Lisboa-Dakar" e "é claramente um texto de opinião".
O director confirma: "É uma espécie de diário da prova escrito na primeira pessoa. Sendo ele o principal corredor português, e sendo este tipo de diário uma forma habitual de tratar jornalisticamente uma prova como aquela, entendemos que era do interesse do jornal aceitar a oferta da Galp, mesmo estando cientes de que o Carlos Sousa surgiria da mesma forma que surgem todos os pilotos e que na sua fotografia se veriam os logótipos da Galp tal como se vêem em todas as fotos que publicamos do seu carro em prova."
De facto, o piloto é explicitamente identificado (segundo as disposições do Livro de Estilo) pelo nome, estatuto e vínculo profissional. Tal informação permite, portanto, aos leitores perceberem em que qualidade Carlos Sousa escreve a coluna.
José Manuel Fernandes, esclarece, por outro lado, que não há cronistas patrocinados "nem no desporto, nem em qualquer outra secção."
Mas a questão do leitor permanece válida em relação às marcas publicitadas.
"As menções ditas publicitárias assim não me parecem", observa o editor do Desporto. "Vejamos: o piloto está inscrito pela equipa Team Nissan Galp Energia. Assim está homologada a equipa, o piloto, profissional, enverga o seu "fato de trabalho". Algo que, actualmente, está convencionado em toda a actividade desportiva profissional. Nos dias que correm, é impossível dissociar uns de outros, ou seja, os profissionais da empresa que os patrocina, que acaba por ser a promotora do evento/actividade desportiva de alto rendimento. Não há forma de fazer essa distinção, quando a imagem da actividade desportiva chega ao consumidor/leitor sem correr o risco de se desvirtuar/manipular a imagem, o que, em meu ver seria grave. Por muito que não se goste, a publicidade invadiu todos os espaços e adquiriu os direitos dos eventos. Muito dificilmente a informação consegue separar um do outro, mesmo que se mova única e exclusivamente com o objectivo de informar."
O director do jornal vai mais longe: "Hoje é quase impossível noticiar eventos desportivos sem fazer referências a marcas. Em qualquer fotografia de um jogo de futebol aparecem, nas camisolas dos jogadores, os logótipos das empresas patrocinadoras. Até os jogos das selecções nacionais não estão imunes. Há equipas de ciclismo que têm o nome de marcas. Há provas desportivas que têm o nome de marcas. Etc., etc. E no desporto automóvel há publicidade por todo o lado. Os purismos são impossíveis, pois trata-se de uma indústria de entretenimento muito cara. Ou não noticiamos, ou assumimos que a publicidade faz parte da paisagem. O público leitor ou telespectador já sabe que é assim."
Os argumentos dos dois responsáveis editoriais do PÚBLICO são perfeitamente aceitáveis.

MARGARIDA PINTO CORREIA

A publicidade associada à crónica de Margarida Pinto Correia é mais controversa. Em que qualidade escreve a acompanhante do rali para o PÚBLICO?
De acordo com José Manuel Fernandes, "os textos da Margarida correspondem a um diário de tipo diferente, com um estilo mais próximo do jornalístico, mas como que integrados no espaço de um anúncio pago. Para diminuir confusões, tivemos mesmo o cuidado de acrescentar a indicação de que ela viaja paga pela Precision, o que até pode parecer redundante, mas pareceu-nos tornar o estatuto mais claro para os leitores."
É um princípio de resposta...
De acordo com a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, Margarida Pinto Correia não exerce a profissão neste momento.
"A coluna da Margarida foi proposta no quadro de uma troca de espaço publicitário com benefício financeiro para o jornal. Ela não é colunista do jornal, não é paga por nós e a apresentação gráfica da coluna também é diferente quer das colunas de opinião, quer das dos textos informativos (a cara dela, por exemplo, não foi sujeita ao tratamento gráfico habitual nas colunas de opinião)", explica José Manuel Fernandes.
O tratamento gráfico diferenciado não impediu a confusão entre informação e propaganda comercial. Os anúncios da coluna de MPC e o próprio Passatempo Precision, uma iniciativa legítima, mas meramente comercial (com recurso a chamadas de valor acrescentado), deviam ter sido assinalados como "PUBLICIDADE" e (de acordo com o Livro de Estilo) publicados noutra área do jornal.
O director do PÚBLICO acrescenta: "A publicidade não surge assinalada especificamente como tal, porque nos pareceu que a separação era graficamente clara, tal como prevê o Livro de Estilo. Só costumamos assinalar os espaços de publicidade com a palavra "publicidade" quando sentimos que pode existir essa confusão. É, naturalmente, um julgamento subjectivo."
O respeito do princípio de separação da informação e da publicidade deve sempre prevalecer sobre os julgamentos subjectivos.
O PÚBLICO podia começar a assinalar todos os anúncios (sem excepção) como "PUBLICIDADE", para evitar promiscuidades.

PS: Há leitores que formulam acusações ao PÚBLICO e aos seus jornalistas sem as fundamentar. Esta circunstância é, por vezes, agravada pelo recurso (sempre incómodo) ao anonimato. Para que o provedor possa pronunciar-se, precisa de factos concretos devidamente confirmados. E não tenho poder nem vocação para efectuar reportagens de investigação, designadamente, no seio do meu próprio jornal.

29 de Abril de 1992. Rodney King, nasceu negro e foi espancado por um grupo de polícias de raça branca. As câmaras mostraram as imagens e acendeu-se o rastilho para explodir o barril do ódio racial. Los Angeles tornou-se um inferno. Violência sem regras. Lojas pilhadas. A velha sirene do apartheid voltara a tocar.
Os cartoons do jornal dinamarquês foram apenas a gota de água num copo há muito a transbordar. Invasão do Afeganistão e do Iraque. A prisão norte-americana na base de Guantanamo, em Cuba, foi palco de barbárie e violação da carta dos Direitos Humanos e dos Tratados sobre prisioneiros de guerra. O orgulho ferido do Islão aproveitou a fragilidade de uma Dinamarca de brandos costumes para os líderes religiosos incitarem as massas, queimar bandeiras e ofender os símbolos nacionais do Ocidente e espalhar a violência, assaltando e queimando embaixadas e eliminando alguns cidadãos inocentes.
No mundo em que vivemos existem feridas que nunca foram saradas.
O “eixo do mal” desenhado por George W. Bush está algures no mapa. Religião, família e pátria constituem os vértices de um triângulo inseparável, onde são impenetráveis os valores da democracia, da liberdade de expressão, do direito da igualdade entre homens e mulheres ou a crença em outra religião.
O secularismo ocidental alicerçado no capitalismo selvagem construiu a lei da tolerância onde a sátira dos povos do oriente e a ridicularização da religião são coisas sem importância e onde ser gay até parece estar na moda.
Fazer explodir aviões nas torres gémeas ou saltar com um cinturão de granadas para dentro de um autocarro são considerados actos de terrorismo.
Enviar mísseis teleguiados e invadir um Estado soberano sob o pretexto da existência de armas químicas e biológicas e a instauração da democracia são actos de bravura e de protecção da paz mundial.
Se contarmos a mesma história no Islão, seremos queimados vivos e haverá uma festa pela morte de mais infiéis.
No caminho da reflexão aparecem sempre as palavras e acções de um homem - Jesus Cristo - que palmilhou as ruas de Jerusalém e da Palestina: “Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo’. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos”.

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