RE-PROMISCUIDADES
Patrick Dias da Cunha, administrador da Precision Portugal, escreveu ao director do PÚBLICO a queixar-se da crónica do Provedor publicada na passada semana.
Ponto por ponto a missiva da Precision e as respostas do Provedor:
"1. Quanto à natureza do texto de Margarida Pinto Correia (MPC), intitulado "O outro lado do Dakar", ele é, de forma inequívoca, uma crónica e não um texto publicitário."
A natureza dos textos é definida apenas em função de critérios editoriais que só dizem respeito ao PÚBLICO.
O que é questionado na crónica é o PÚBLICO e a publicidade não assinalada.
"1.1. O projecto apresentado ao Público pela Precision refere-se, de uma forma muito explícita, aos objectivos da reportagem e, em particular, às suas três vertentes: "A Precision irá produzir uma reportagem sobre o dia-a-dia de uma equipa e do ambiente que rodeia o Dakar, que incidirá a) nas peripécias diárias que um piloto e a respectiva equipa vivem neste tipo de competição, b) nas pequenas histórias que vão acontecendo na caravana que acompanha a prova, c) bem como na moldura de culturas, gentes e costumes dos países que a prova atravessa."
A Precision não pode produzir reportagens porquanto não é uma empresa de comunicação social e Margarida Pinto Correia já não exerce a profissão de jornalista.
"1.2. Em relação a MPC, não só a Precision lhe entregou o mesmo briefing, como lhe foi feito um pedido expresso, em princípio redundante, para não mencionar, em circunstância alguma, a actividade e os serviços da marca."
Se M.P.C. exercesse a profissão de jornalista, seria desnecessário entregar briefings e formular pedidos desse género. Não sendo M.P.C. jornalista, pode escrever o que quiser.
"(...) 2. Tendo em conta o esclarecimento dos leitores e, precisamente, o princípio fundamental de separação da informação e da publicidade, qual deve ser, então, o tratamento gráfico de um texto que, apesar de ser custeado por uma empresa, é, de forma inequívoca, uma crónica, e não é, portanto de forma também inequívoca, um texto publicitário?"
O facto de o texto ser custeado por uma empresa impede que o mesmo seja considerado um "produto" jornalístico.
"2.1. Parece-me que seria incorrecto assinalar os anúncios da coluna como "PUBLICIDADE", como sugere o Provedor, uma vez que, ao fazê-lo, o jornal estaria a induzir o leitor em erro quanto ao conteúdo da coluna, correndo o risco de ferir, precisamente, o princípio de separação entre informação e publicidade. Por isso a Precision fez questão que os textos de MPC fossem lidos de acordo com a sua verdadeira natureza, isto é, como crónicas genuínas. Caso o Público tivesse pretendido identificar as crónicas de MPC como "Publicidade", a empresa não estaria interessada no projecto, porque, de facto, as crónicas de MPC sobre "O outro lado do Dakar" não são, nem nunca pretenderam ser, propaganda comercial."
A única certeza é que o texto de M.P.C. não é jornalismo. E isso não é explicitado na coluna. À semelhança da publicidade da Precision.
"2.2. O Provedor também sugere separar os anúncios associados à coluna de MPC da respectiva crónica, e publicá-los em áreas diferentes do jornal. Isto sim seria, em meu entender, uma total falta de transparência."
O que o Provedor defende (com base no Livro de Estilo, cujo ponto 123 estipula: "deve evitar-se a inserção de publicidade a objectos ou acontecimentos nas mesmas áreas do jornal em que esses objectos ou acontecimentos forem tratados pela Redacção") é que a publicidade da Precision não devia aparecer nas páginas que tratavam o Dakar.
É uma regra discutível, mas é a que existe.
"(...) 2.4. Parece-me que este é o método mais rigoroso de comunicar a verdadeira natureza do texto e do projecto em causa e de, ao mesmo tempo, assegurar à empresa patrocinadora a rentabilização do seu investimento, conciliando de forma transparente os interesses em questão com os princípios fundamentais do jornalismo. Sou um leitor assíduo do PÚBLICO e já li com interesse reportagens assumidamente patrocinadas por marcas e assinadas por jornalistas do jornal. Não me fez confusão ver, recentemente, o logótipo de uma marca a encabeçar uma determinada reportagem, nem as referências pontuais que o jornalista faz, no meio do seu texto, ao nome da referida marca. Essas referências não desvirtuaram a natureza dessa reportagem nem a transformaram num texto publicitário. Quando a relação é transparente e o texto é, de forma inequívoca, uma crónica ou uma reportagem, todos - leitores, jornal e patrocinadores - teríamos a perder se o assinalássemos como "Publicidade". E se o jornal o fizesse estou em crer que muitas excelentes reportagens deixariam de ser realizadas."
As reportagens e as crónicas não servem para rentabilizar investimentos. A isso chama-se publicidade ou propaganda comercial (legítimas), mas não pode ser confundida com informação, a qual se rege por normas e princípios de independência.
O Provedor gostaria de ter conhecimento das referidas "reportagens assumidamente patrocinadas por marcas e assinadas por jornalistas".
"3. O princípio da separação entre informação e publicidade é um tema interessante e admito que possa ser sujeito a várias interpretações. É natural que um ou outro leitor tenha dúvidas sobre estas questões e considero que um Provedor pode contribuir de forma decisiva para o seu esclarecimento, desempenhando um papel importante num jornal de referência como o Público. Nos pontos 1. e 2. tive a preocupação de esclarecer o ponto de vista da Precision."
"(...) 4. Já no que respeita ao título "Promiscuidades", considero que o Provedor prestou um mau serviço aos leitores e ao jornal. Para além de ser ofensivo - para MPC, para a Precision e para o próprio jornal - o título é opinativo, influenciando logo à partida o leitor. Tratando-se de uma matéria que, segundo o Provedor, é controversa, não se deveria deixar ao leitor a liberdade de formar a sua própria opinião? Neste caso, o Provedor foi deveras infeliz, dando um mau exemplo ao fazer ele próprio com o título o que tanto é criticado nos jornais que não são de referência, e ferindo, assim, um dos princípios pelos quais tem a responsabilidade de zelar. Creio que um título sóbrio e neutro seria mais adequado quer às responsabilidades de um Provedor de um jornal de referência quer ao rigor que lhe deve ser exigido."
Os jornais e o jornalismo obedecem a regras e legislação específicas e o Provedor dos Leitores existe exactamente para dar a sua opinião, defendendo uma relação de transparência entre o PÚBLICO e os seus leitores.
O jornalismo serve para informar. A publicidade e a propaganda comercial servem para convencer. A mistura destes géneros chama-se promiscuidade.
PS - O texto integral da Precision está disponível no seguinte endereço web: www.publico.pt/provedor/cartas
Ponto por ponto a missiva da Precision e as respostas do Provedor:
"1. Quanto à natureza do texto de Margarida Pinto Correia (MPC), intitulado "O outro lado do Dakar", ele é, de forma inequívoca, uma crónica e não um texto publicitário."
A natureza dos textos é definida apenas em função de critérios editoriais que só dizem respeito ao PÚBLICO.
O que é questionado na crónica é o PÚBLICO e a publicidade não assinalada.
"1.1. O projecto apresentado ao Público pela Precision refere-se, de uma forma muito explícita, aos objectivos da reportagem e, em particular, às suas três vertentes: "A Precision irá produzir uma reportagem sobre o dia-a-dia de uma equipa e do ambiente que rodeia o Dakar, que incidirá a) nas peripécias diárias que um piloto e a respectiva equipa vivem neste tipo de competição, b) nas pequenas histórias que vão acontecendo na caravana que acompanha a prova, c) bem como na moldura de culturas, gentes e costumes dos países que a prova atravessa."
A Precision não pode produzir reportagens porquanto não é uma empresa de comunicação social e Margarida Pinto Correia já não exerce a profissão de jornalista.
"1.2. Em relação a MPC, não só a Precision lhe entregou o mesmo briefing, como lhe foi feito um pedido expresso, em princípio redundante, para não mencionar, em circunstância alguma, a actividade e os serviços da marca."
Se M.P.C. exercesse a profissão de jornalista, seria desnecessário entregar briefings e formular pedidos desse género. Não sendo M.P.C. jornalista, pode escrever o que quiser.
"(...) 2. Tendo em conta o esclarecimento dos leitores e, precisamente, o princípio fundamental de separação da informação e da publicidade, qual deve ser, então, o tratamento gráfico de um texto que, apesar de ser custeado por uma empresa, é, de forma inequívoca, uma crónica, e não é, portanto de forma também inequívoca, um texto publicitário?"
O facto de o texto ser custeado por uma empresa impede que o mesmo seja considerado um "produto" jornalístico.
"2.1. Parece-me que seria incorrecto assinalar os anúncios da coluna como "PUBLICIDADE", como sugere o Provedor, uma vez que, ao fazê-lo, o jornal estaria a induzir o leitor em erro quanto ao conteúdo da coluna, correndo o risco de ferir, precisamente, o princípio de separação entre informação e publicidade. Por isso a Precision fez questão que os textos de MPC fossem lidos de acordo com a sua verdadeira natureza, isto é, como crónicas genuínas. Caso o Público tivesse pretendido identificar as crónicas de MPC como "Publicidade", a empresa não estaria interessada no projecto, porque, de facto, as crónicas de MPC sobre "O outro lado do Dakar" não são, nem nunca pretenderam ser, propaganda comercial."
A única certeza é que o texto de M.P.C. não é jornalismo. E isso não é explicitado na coluna. À semelhança da publicidade da Precision.
"2.2. O Provedor também sugere separar os anúncios associados à coluna de MPC da respectiva crónica, e publicá-los em áreas diferentes do jornal. Isto sim seria, em meu entender, uma total falta de transparência."
O que o Provedor defende (com base no Livro de Estilo, cujo ponto 123 estipula: "deve evitar-se a inserção de publicidade a objectos ou acontecimentos nas mesmas áreas do jornal em que esses objectos ou acontecimentos forem tratados pela Redacção") é que a publicidade da Precision não devia aparecer nas páginas que tratavam o Dakar.
É uma regra discutível, mas é a que existe.
"(...) 2.4. Parece-me que este é o método mais rigoroso de comunicar a verdadeira natureza do texto e do projecto em causa e de, ao mesmo tempo, assegurar à empresa patrocinadora a rentabilização do seu investimento, conciliando de forma transparente os interesses em questão com os princípios fundamentais do jornalismo. Sou um leitor assíduo do PÚBLICO e já li com interesse reportagens assumidamente patrocinadas por marcas e assinadas por jornalistas do jornal. Não me fez confusão ver, recentemente, o logótipo de uma marca a encabeçar uma determinada reportagem, nem as referências pontuais que o jornalista faz, no meio do seu texto, ao nome da referida marca. Essas referências não desvirtuaram a natureza dessa reportagem nem a transformaram num texto publicitário. Quando a relação é transparente e o texto é, de forma inequívoca, uma crónica ou uma reportagem, todos - leitores, jornal e patrocinadores - teríamos a perder se o assinalássemos como "Publicidade". E se o jornal o fizesse estou em crer que muitas excelentes reportagens deixariam de ser realizadas."
As reportagens e as crónicas não servem para rentabilizar investimentos. A isso chama-se publicidade ou propaganda comercial (legítimas), mas não pode ser confundida com informação, a qual se rege por normas e princípios de independência.
O Provedor gostaria de ter conhecimento das referidas "reportagens assumidamente patrocinadas por marcas e assinadas por jornalistas".
"3. O princípio da separação entre informação e publicidade é um tema interessante e admito que possa ser sujeito a várias interpretações. É natural que um ou outro leitor tenha dúvidas sobre estas questões e considero que um Provedor pode contribuir de forma decisiva para o seu esclarecimento, desempenhando um papel importante num jornal de referência como o Público. Nos pontos 1. e 2. tive a preocupação de esclarecer o ponto de vista da Precision."
"(...) 4. Já no que respeita ao título "Promiscuidades", considero que o Provedor prestou um mau serviço aos leitores e ao jornal. Para além de ser ofensivo - para MPC, para a Precision e para o próprio jornal - o título é opinativo, influenciando logo à partida o leitor. Tratando-se de uma matéria que, segundo o Provedor, é controversa, não se deveria deixar ao leitor a liberdade de formar a sua própria opinião? Neste caso, o Provedor foi deveras infeliz, dando um mau exemplo ao fazer ele próprio com o título o que tanto é criticado nos jornais que não são de referência, e ferindo, assim, um dos princípios pelos quais tem a responsabilidade de zelar. Creio que um título sóbrio e neutro seria mais adequado quer às responsabilidades de um Provedor de um jornal de referência quer ao rigor que lhe deve ser exigido."
Os jornais e o jornalismo obedecem a regras e legislação específicas e o Provedor dos Leitores existe exactamente para dar a sua opinião, defendendo uma relação de transparência entre o PÚBLICO e os seus leitores.
O jornalismo serve para informar. A publicidade e a propaganda comercial servem para convencer. A mistura destes géneros chama-se promiscuidade.
PS - O texto integral da Precision está disponível no seguinte endereço web: www.publico.pt/provedor/cartas
A verdade é que esses textos de MPC apareceram sempre nas páginas das notícias do Dakar sem a referência PUB.
O Provedor levanta a lebre mas não a abate.
Posted by ZGarcia | 8:56 da manhã
Rui,
Parabéns pelo blog.
Importa que o Público abrace lugares de pioneirismo - um dos seus traços de carácter original.
Na sequência desta resposta tinha - também - muito interesse em conhecer esses outros casos de que fala o Sr. administrador da empresa em causa.
Presumo que ele saberá o que diz e, assim sendo, todos - jornalistas, leitores e empresas - beneficiariamos de uma discussão aberta sobre os eventuais casos.
Bom trabalho,
luis santos
Posted by vadio | 9:08 da manhã
Meus caros, está aberto mais um espaço de maturidade da nossa liberdade cívica. Um blog de um jornal, disponível para dar a oportuniade aos leitores de formatarem e fazerem lobbying, um poder muito para além da proporção dos 80 cêntimos que o jornal nos custa todos os dias ; ))))
Já agora gostaria de cumprimentar o Público por abrir a secção de Desporto de hoje com os 81 pontos de Kobe Bryant na partida contra os Toronto Raptors e não com futebol. Para um apreciador de diversas modalidades como eu só pode ser bom sinal ver que este marco histórico do Basket não passou despercebido. ; ))))
E na secção de Sociedade apreciei de forma destacada a notícia sobre "O escocês perseguido na Madeira por causa da fé". Na espuma acelerada dos dias é um prazer ler um artigo histórico que nos faz olhar para nós como povo ; )))
Já agora gostava de perguntar à redacção do Público pq é que chamam ás vítimas do Processo Casa Pia "alegadas vítimas". Foram feitas perícias que confirmaram o abuso sexual, só está em causa saber se foram ou não os arguidos em causa os perpetuadores dessas sevícias. Portanto, "alegadas vítimas" é uma expressão jornalisticamente incorrecta, pois os danos causados organicamente nos adolescentes e crianças foi verificado medicamente. Fica esta questão depois de ler a notícia na pag. 13 ; )))))
E da edição de hoje é tudo, um abraço a todos os que participarem neste cantinho.
Peter Maia
Posted by noiseformind | 12:57 da tarde
Muitas vezes têm acontecidos eventos e situações em que, LICENCIADOS EM ARQUITECTURA DISCRIMINADO PELA ORDEM DOS ARQUITECTOS QUE OS IMPEDEM DE EXERCER A PROFISSÃO, tentam dar conhecimento público da sua situação, e o Público geralmente nunca é imparcial, dando sempre a versão da Ordem dos Arquitectos e não uma independente ou as duas.
Posted by Anónimo | 12:28 da tarde
UMA PROVA DO QUE FALEI ATRÁS SOBRE A oRDEM DOS ARQUITECTOS E OS LICENCIADOS É QUE PARA SER PÚBLICADO O POST TEM DE SER PRIMEIRO " APRECIADO" E SÓ DEPOIS É QUE É AFIXADO.
tAMBÉM TÊM LÁPIS AZUL, OU A CÔR JÁ MUDOU?
Posted by Anónimo | 12:30 da tarde
o sr.Patrick Dias da Cunha, quando decidiu "patrocinar" as férias de M.P.C, pensou que estaria a comprar a credibilidade do Público e o serviço de uma ex- jornalista, para melhor branquear a publicidade à sua empresa. Afinal, se o seu objectivo não era a propaganda comercial, então porque decidiram comprar espaço publicitório? poderiam perfeitamente ter abdicado de qualquer referencia à sua marca e nome...
Posted by Anónimo | 5:06 da tarde
é tudo mas é uma cambada de gatunos. ó.
Posted by António A. Antunes | 5:08 da tarde
não tenho expectativas altas sobre o novo provedor;
veja-se a história doa anteriores, maxime o última J furtado: paupérrimo na sua missão
Posted by jjoyce | 7:00 da tarde