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domingo, março 26, 2006 

CALINADAS

Esta notícia de 16 linhas publicada (27 de Fevereiro) na secção “Sociedade” não passou despercebida: “A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão, em Madrid e em Valência, de 36 romenos suspeitos de estarem por detrás de uma rede de prostituição particularmente violenta. Os detidos forçariam as jovens órfãs da Roménia a prostituir-se em Espanha. As jovens seriam obrigadas a desnudar-se parcialmente em pleno Inverno, não podiam recusar a utilização de preservativo nos actos sexuais, trabalhavam 12 horas por dia sem interrupção. Na sequência da operação policial, 25 prostitutas foram ‘libertadas’. (…)”

Uma leitora de Lisboa ficou indignada com esta “breve” e escreveu ao provedor: Trabalham?
Ser violada sistematicamente é trabalho? Ou uma mulher obrigada a prostituir-se não pode ser considerada como uma mulher violada? Porque a prostituição é uma profissão?!!!!

Que falta de cuidado com as palavras!
Que falta de cuidado com a vida e sofrimento alheios!!!,
diz a leitora que pede o anonimato.

De facto, a notícia (não assinada) do PÚBLICO contém alguns erros. E suscitou-me o seguinte comentário:

1. A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão – escreve o/a jornalista.
E os factos relevantes (a essência da própria notícia) ocorreram quando? – pergunto, mas lemos o texto e ficamos sem saber.

2. A polícia espanhola anunciou na sexta-feira a prisão.
A Polícia não prende, detém.
Só a autoridade judicial pode transformar uma detenção em prisão.
O rigor é importante.

3. Não podiam recusar a utilização de preservativo.
Os criminosos estavam preocupados com a SIDA (sic)… ou seria precisamente o contrário?

4. Trabalhavam 12 horas por dia.
Jovens órfãs obrigadas a prostituir-se (com recurso à violência) não “trabalhavam”…

5. 25 prostitutas foram ‘libertadas’.
Afinal, foram libertadas ou não? As aspas não fazem, aqui, sentido.

Estou cá, de novo. Desta feita, não por via das vírgulas, assunto a que V. Ex.ª. se referiu na intervenção semanal, na edição do passado Domingo, dando-me razão, o que, desde já, agradeço.
É comum ler-se no PÚBLICO a expressão ‘cerca de’, quanto se expressa determinada quantidade.
Ora, aquela expressão deverá ser usada quando a dita quantidade não está, concreta e objectivamente, determinada.
Todavia, nem sempre assim acontece. Atente-se na notícia da pág. 3 da edição de 15 de Março de 2006
Fusão exige corte de mais de 2000 postos de trabalho’.
No final da 1ª. coluna lê-se: “O
BCP tem actualmente cerca de 909 balcões...”.
Então, terá para aí 908,5; 909,5 (!!!). Não sendo um número ‘redondo’, nunca poderá ser empregue a expressão referida.
E já agora, também a palavra ‘actualmente’ deveria estar entre vírgulas
...,
escreve José Rito.

As críticas do leitor são pertinentes.
É desnecessário complementar os reparos formulados.

Chamou-me a atenção pelo desleixo e aparente ausência de qualquer revisão um texto (publicado no passado Domingo) sobre a visita a Lisboa do dirigente da Aliança Patriótica Iraquiana, Abdul Jaber Al-Kubasi - julgo que seja este o nome.
A dúvida sobre o nome do visitante justifica-se porque ele aparece escrito no artigo de três formas diferentes:
- Abdul Jaber Al-Kubasy (uma vez apenas);
- Abdul Jaber Al-Bukasy (duas vezes, incluindo
na legenda da fotografia);
- Abdul Jaber Al-Busaky (três vezes).
Também de uma das entidades promotoras da visita, o Tribunal Mundial sobre o Iraque, se diz que foi representada por Manuel Barroso, quando o seu representante era, na verdade, Manuel Raposo.
O conteúdo do artigo é, em termos gerais, correcto e é pena que não tenha merecido uma edição mais atenta por parte do PÚBLICO
, diz Elsa Silva.

O provedor reconhece que os reparos da leitora são importantes.
O texto, escrito por uma jornalista estagiária, foi revisto por um responsável da Redacção.

Paulo Ferreira, o subdirector responsável da revisão do texto em causa, explica: “Há, de facto, dúvidas sobre a forma correcta de escrever o nome do dirigente dessa organização, que são reforçadas quando se pretende esclarecê-las cruzando várias fontes. A leitora sugere Abdul Jaber Al-Kubasi. Mas o e-mail do Tribunal Iraque enviado para as redacções a anunciar a sessão escrevia Abdel Jaber Al-Kubaysi, tal como o próprio site da organização. Ainda em português, o Avante tem preferido Abdul Jabbar al-Kubaysi. Mau é, de facto, que versões diferentes apareçam no mesmo texto.
No trabalho de edição, feito por mim, falhou a uniformização gráfica quando parece existir, pelo menos, uma relativa unanimidade em ‘Kubaysi’. Quanto ao nome do representante do Tribunal Iraque, ele foi escrito na convicção de o termos ouvido correctamente, quando os intervenientes foram publicamente apresentados no início da sessão.

Sabemos agora que houve confusão entre Barroso e Raposo. De resto, já depois de ter chegado à redacção, a autora da notícia telefonou a Domingos Lopes, da CGTP-IN e envolvido na organização, com o objectivo de confirmar alguns dados, nomes de intervenientes incluídos.
E se não sentiu necessidade de confirmar esse nome é porque, infelizmente, não teve dúvidas do que ouviu. A proximidade sonora entre as duas palavras é uma boa pista para explicar o erro
”, responde Paulo Ferreira.

O provedor considera que a explicação do subdirector é aceitável.
O provedor considera, por outro lado, que este incidente sublinha a importância que reveste o enquadramento dos jornalistas estagiários. E a revisão dos textos por copydesks.

Perguntei, portanto, ao chefe de Redacção António Granado qual era a política do jornal em matéria de estágios.
O PÚBLICO recebe como estagiários alunos do último ano das principais licenciaturas de Comunicação e Jornalismo do país e também formandos do curso geral do Cenjor.
Estes estágios resultam de protocolos assinados entre o jornal e as instituições de onde provêm os alunos ao longo dos últimos 15 anos.
A selecção dos estagiários é feita pelas instituições, à excepção dos estagiários da fotografia, que são escolhidos após análise de portfolio feita pelo editor da secção.
Durante o tempo que passam no jornal, os estagiários trabalham sob a supervisão de um editor e produzem textos de tamanho e responsabilidade variável, assinando-os com o seu nome.
Os estagiários da fotografia assinam também os seus próprios trabalhos. Como se trata de um estágio curricular, os alunos recebem, durante o período que estão no jornal, um subsídio de alimentação e de transporte.
No PÚBLICO, os estágios curriculares duram três meses e nunca são prolongados. No final, os estagiários produzem normalmente um relatório de estágio que é avaliado pela instituição de onde provêm. Algumas licenciaturas solicitam ao editor responsável pelo estágio uma avaliação do trabalho do seu aluno, o que é feito através de um formulário enviado pelas instituições, onde constam diferentes parâmetros.
A experiência do PÚBLICO com os estagiários que recebe das instituições com quem tem protocolos tem sido bastante positiva. A grande maioria mostra dominar as técnicas básicas de escrita, conhecer os preceitos deontológicos que norteiam a profissão e ter vontade de abraçar a profissão.
Como é evidente, o PÚBLICO não integra nos seus quadros a grande maioria dos alunos que aqui fazem estágio curricular. De qualquer forma, são muitos os nossos actuais jornalistas que aqui começaram por fazer um estágio curricular”, e
xplicou ao provedor o responsável dos estágios.

O provedor constata que inúmeros estágios de jornalismo, por esse país fora, se resumem à exploração dos jovens. É uma vergonha. Há estagiários a trabalhar sem qualquer enquadramento e, por vezes, sem auferir um tostão.
Não é agora o caso do PÚBLICO, mas é o que sucede ainda hoje em muitas empresas portuguesas (incluindo algumas de dimensão nacional), salvo raras e honrosas excepções.
As empresas podem aproveitar o trabalho dos jornalistas estagiários (detentores de carteira profissional), mas têm a obrigação de os pagar.

É uma questão de justiça e de credibilidade.

Levantou-se aqui uma questão muito “interessante”. Os estágios e a carteira profissional. Mais ainda, o acesso à profissão de jornalista. Não sendo essa a função do provedor do leitor, gostaria, pelo menos a título pessoal de saber qual a posição do Provedor do Leitor do Público, ou até mesmo do Jornal Público (sabendo que estou a pedir de mais) quanto ao quem pode ser jornalista?
Isto é, defende a ideia de uma “ordem” dos jornalistas formada apenas por licenciados dentro da área do jornalismo e da comunicação? Por exemplo.
E quanto aos estagiários? Eles são uma mais valia para o jornal, ou o jornal para os estagiários? (Não referi de propósito a hipótese de ser uma relação recíproca de mesmo nível.)

Caro João Simão,
1- O acesso à profissão de jornalista está regulamentado (Estatuto do Jornalista - Lei n.º 1/99 de 13 de Janeiro - que pode ser consultada no site: www.ccpj.pt/legisdata/LgLei1de99de13deJaneiro.htm)
2- Defendo (a título pessoal) uma formação académica séria (literária, técnica, etc.).
Uma coisa é estudar jornalismo e outra coisa é tirar um curso de "Comunicação Social" (que dá para tudo: publicidade, marketing, relações públicas, entretenimento, etc.).
3- Defendo (a título pessoal) a existência de uma Comissão da Carteira (que funcione realmente).
4- Os estagiários (etapa decisiva na carreira) representam uma mais valia para o jornal, mas é necessário haver enquadramento (apesar de haver cada vez menos memória e cada vez menos referências nas Redacções do país).

Para ser honesta, mais do que as calinadas, chocou-me o distanciamento ao conteúdo e ao tema do artigo. Para todos os efeitos estamos a falar de vítimas de violência, de usurpação de direitos humanos, o que exige mais cuidado nas palavras usadas. A ser verdade o que está na base do artigo, aquelas mulheres estão a ser violentadas. Não estão a trabalhar, não faz sentido que sejam os homens a não querer usar perservativos porque elas é que, sem querer, estão expostas a todo o tipo de doenças e danos.... há que ter mais cuidado na escolha das palavras e na forma em como se escreve.

«...e, por vezes, sem auferir um tostão.
Não é agora o caso do PÚBLICO, mas é o que sucede ainda hoje em muitas empresas portuguesas (incluindo algumas de dimensão nacional),...»
Dever ser significativo esse subsídio de alimentação e transporte para deixar o PÚBLICO assim orgulhoso. PARABÉNS!

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

RESPOSTA DO PROVEDOR DO PÚBLICO
O leitor bloguista "aquiq" conclui: (...)"Deve ser significativo esse subsídio de alimentação e transporte para deixar o PÚBLICO assim orgulhoso. PARABÉNS!"

Eu nunca disse que o PÚBLICO tinha razões para estar "orgulhoso.

O que escrevi foi: "O provedor constata que inúmeros estágios de jornalismo, por esse país fora, se resumem à exploração dos jovens. É uma vergonha. Há estagiários a trabalhar sem qualquer enquadramento e, por vezes, sem auferir um tostão.
Não é agora o caso do PÚBLICO, mas é o que sucede ainda hoje em muitas empresas portuguesas (incluindo algumas de dimensão nacional), salvo raras e honrosas excepções.
As empresas podem aproveitar o trabalho dos jornalistas estagiários (detentores de carteira profissional), mas têm a obrigação de os pagar.
É uma questão de justiça e de credibilidade."

No PÚBLICO há algum enquadramento e os estagiários recebem "agora" qualquer coisa (algo que não sucedia no passado). É insuficiente, obviamente.
Mas digo também (como já teve oportunidade de constatar na conclusão da minha crónica que citei e passo a repetir) que "As empresas podem aproveitar o trabalho dos jornalistas estagiários (detentores de carteira profissional), mas têm a obrigação de os pagar.
É uma questão de justiça e de credibilidade."
Acho que para bom entendedor estas palavras bastam.
Defendo que os estagiários devem ser enquadrados e que o seu trabalho (caso possuam carteira profissional) deve ser remunerado.
Permita-me terminar com uma pergunta: porque razão abordei esta questão na sua opinião? Acha que foi para agradar aos patrões da Imprensa (Público incluído)?

Cumprimentos,
Rui Araújo
Provedor do leitor do Público

Os media portugueses, em geral, têm dado importância significativa à deportação de portugueses do Canadá, que estavam em situação ilegal e pediram asilo por motivos humanitários ou políticos (sim, porque, pelos vistos, Portugal é uma ditadura sanguinária), enquanto que as expulsões sucessivas de imigrante ilegais no nosso país, que se têm intensificado, merecem meia dúzia de linhas, sempre apenas com a versão das autoridades.
Será que só os portugueses ilegais é que sofrem dramas pessoais, têm famílias para sustentar, são explorados e mesmo assim pagam os seus impostos? Os que para cá vieram não?
Porque razão o Público ignorou as declarações do alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, nas quais ele acusou Portugal de ter “dois pesos e duas medidas” relativamente à emigração e nada ter noticiado sobre os sonhos e os dramas humanos dos 234 imigrantes brasileiros que receberam ordens de expulsão, ao mesmo tempo que o país chorava a expulsão de ilegais lusos?

Sou finalista de um curso de jornalismo e deparo-me agora com a realidade dos estágios não remunerados.
Na minha opinião não podemos apontar o dedo apenas às empresas de media. Os próprios estagiários devem fazer valer os seus direitos. Mas num mercado de trabalho tão saturado há quem se sujeite a tudo na perseguição de um sonho, até a eternos estágios não remunerados.
Abrem-se precedentes, deixando de fora quem não quer ou não pode aceitar trabalhar nessas condições.
Para além disso, temos de relembrar qual é a função primordial de um estágio curricular: fornecer mão-de-obra "escrava" ou complementar a formação académica? Em quantos sítios ainda existe de facto um jornalista sénior que acompanhe de perto o trabalho do estagiário?
Para quem tem sede de aprender jornalismo na sua vertente empírica esta situação é muito frustrante e devia merecer uma maior atenção por parte de todos os interessados.

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Sobre o blog

  • O blogue do Provedor do Leitor do PÚBLICO foi criado para facilitar a expressão dos sentimentos e das opiniões dos leitores sobre o PÚBLICO e para alargar as formas de contacto com o Provedor.

    Este blogue não pretende substituir as cartas e os e-mails que constituem a base do trabalho do Provedor e que permitem um contacto mais pessoal, mas sim constituir um espaço de debate, aberto aos leitores. À Direcção do PÚBLICO e aos seus jornalistas em torno das questões levantadas pelo Provedor.

    Serão, aqui, publicados semanalmente os textos do Provedor do Leitor do PÚBLICO e espera-se que eles suscitem reacções. O Provedor não se pode comprometer a responder a todos os comentários nem a arbitrar todas as discussões que aqui tiverem lugar. Mas ele seguirá atentamente tudo o que for aqui publicado.

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