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domingo, julho 09, 2006 

EM ABONO DO RIGOR

"O PÚBLICO de 23 de Junho de 2006, apresenta um artigo sobre o encerramento do Canal Viver (página 54). Nesse artigo é referido que parte da programação é «dobrada em português ou brasileiro».
Gostava de chamar a atenção para o facto de um programa falado em «
brasileiro » é, em primeiro lugar, falado em português. É possível dizer que se trata da variante brasileira da língua portuguesa, mas não é correcto dizer que o português é apenas o falar de Portugal. Este é apenas uma das variantes da língua portuguesa.
De acordo com o artigo 13.º da Constituição da República Federativa do Brasil, «
A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.».
Proponho, em situações semelhantes que se redija a frase como «a programação é dobrada em português (nas suas variantes europeia ou brasileira)”,
propõe José Branco.

A jornalista do PÚBLICO escreve que “parte da programação do Viver/Vivir é espanhola, sendo dobrada em português ou brasileiro”.
A formulação é incorrecta, mas não deixa de ser um preciosismo.



Estou redondamente enganado ou um tetraplégico caracteriza-se, no mínimo, pela paralisia de braços e pernas, como a própria raiz da palavra indica (tetra = quatro).
Como se explica a referência insistente a “
tetraplégicos” na tradução do texto incluído na secção de Cinema sobre o file “Murderball” (tradução de Cristina Silva) - suplemento “Y” de 9 Junho, páginas 30 e 31.
Acaso um tetraplégico terá capacidade de rodar as rodas de uma cadeira de rodas?
Paraplégico não seria mais adequado?
Agradeço que me esclareçam se estiver enganado ou que esclareçam quem, neste
caso, for mais apropriado esclarecer
”, pergunta Diogo Oleiro.

A pergunta do leitor é pertinente.
O texto “A vida à altura de uma cadeira de rodas” refere que “Tecnicamente, ser tetraplégico significa ter uma incapacidade em três ou quatro membros do corpo, por isso existe uma ampla variedade de funções”.


De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (8ª edição, Porto Editora) esta definição facultada por Ann Gerhart é incorrecta: “Tetraplegia: MEDICINA paralisia que atinge os quatro membros (Do gr. Tetrás, “número quatro” + plegé, “ferido; atingido”+-ia).”

O artigo indica, por outro lado, que há “tetraplégicos que jogam râguebi de cadeira de rodas” e as fotos que ilustram a prosa mostram atletas a “manusear” cadeiras de rodas.
É um erro de formulação.
O adjectivo correcto seria, portanto, paraplégico.



Na secção onde mostram uma foto diariamente, pode ler-se: ‘Bifes só em Inglês? “Estamos na América. Quando pedir, fale em Inglês. A frase é clara e polémica e está a ser utilizada em Filadélfia, nos Estados Unidos, pelo proprietário do Geno’s Steaks, que decidiu que apenas aceitará o pedido de um dos seus famosos bifes se o cliente o fizer na língua oficial do país. Caso contrário, recusa-se a receber qualquer encomenda.’
Esta informação está errada porque os Estados Unidos da América não possuem uma língua oficial. (conferir na Constituição dos EUA ou ver no site: http://www.usconstitution.net/const.html)”, comunica Paulo Lopes (Amesterdão).

O leitor da Holanda tem razão.
Eis mais dois endereços electrónicos com informação sobre a questão:

http://www.usconstitution.net/consttop_lang.html
http://ourworld.compuserve.com/homepages/jwcrawford/question.htm.


PÚBLICO 19 de Maio Pág 37. Título: ‘O Código Da Vinci desilude espectadores fiéis do livro de Brown’.
Espectadores do livro? E que tal leitores do filme?
Era suposto que a escolha dos títulos fosse mais cuidada.
..”, propõe Fernanda Neves Martins.

O título é confuso.
O reparo da leitora é pertinente.


As fotografias publicadas por um jornal devem ser tão rigorosas quanto um texto. Ora, na edição de 13 de Maio, a propósito da corrupção no futebol em Itália, é publicada uma fotografia onde aparecem três pessoas mas só duas (Antonio Giraudo e Luciano Moggi) estão a ser investigadas pelas autoridades daquele país. No meio destes aparece o treinador da Juventus, Fabio Capello, que, ao que parece, nada tem a ver com este caso de corrupção no futebol. No entanto, aos leitores que só passem de relance os olhos pela página 30 do jornal, Fabio Capello ficará ligado ao caso por mera sugestão de imagem, erradamente. Aqui, julgo, deveria haver um maior cuidado na publicação de fotografias que não houve.
Este caso, traz-me à memória uma outra situação em que envolvia o agora novamente mediático deputado Manuel Maria Carrilho que recentemente se veio queixar do tratamento ostensivo que certa imprensa lhe moveu. Ora, sem lhe querer dar razão, o facto é que houve uma primeira página do INIMIGO PÚBLICO em que colocaram numa montagem cómica as seguintes personalidades: Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, Ferreira Torres, Isaltino Morais e... Manuel Maria Carrilho. Todos, à excepção de Carrilho, estavam a contas com a Justiça! Isto também não me parece nada correcto, mesmo no INIMIGO PÚBLICO”,
afirma Pedro Carneiro, um leitor de Ermesinde.

O primeiro caso mencionado pelo leitor está relacionado com um artigo do PÚBLICO. É informação.
Pedi um esclarecimento a Carlos Filipe, editor da Secção Desporto.


“A foto em referência não poderia ser mais rigorosa:
1º É o registo fotográfico do dia;
2º Todos os retratados estão devidamente identificados;
3º Em lado algum na legenda é dito que Fabio Capello é corrupto ou está a ser investigado, mas apenas a Juventus ("está envolvida") num escândalo de corrupção;
4º Em lado algum do texto é dito que o mesmo Capello está a ser investigado;
5º Dizer-se que está em curso “processo de investigação” não quer dizer “processo de culpabilização”;
6º A imagem não quer sugerir rigorosamente nada, a não ser, apenas e só, que todos são agentes desportivos, no caso, da Juventus.
7º No PÚBLICO não se operam processos de “sugestão”
8º No PÚBLICO não se manipulam imagens, mesmo levando em conta leitores que apenas passem os olhos de relance pelas páginas”.

A explicação do editor do PÚBLICO é aceitável, apesar de as sugestões poderem ser interpretadas de forma errada.
Em relação ao INIMIGO PÚBLICO (Manuel Maria Carrilho e os outros) o
provedor não pode pronunciar-se porquanto o seu estatuto não o permite. E a opinião é livre.
Conclusão: é uma crónica sobre falhas, mas estas devem ser obrigatoriamente situadas no seu contexto. É o que farei numa próxima crónica.

Ser ou não "um preciosismo" é um julgamento de valor altamente subjectivo que deveria ser evitado pelo provedor.

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